Volume Único
Capítulo 7: A Masmorra das Planícies
Doía, doía muito, doía mais que o fogo do inferno consumindo sua alma. Era aquele pesadelo de novo, era aquela cena de casas sendo incineradas por chamas, era aquela paisagem caótica com dezenas de coisas acontecendo ao mesmo tempo, era o sofrimento se repetindo mais uma vez para transtornar sua mente.
Os monstros derrubaram os muros de madeira, gritos ecoaram por cima de sua cabeça, e ele colocou seu pé dentro da casa. Na parede estava o corpo escorado de sua irmã, sangrando pela cabeça, marcada por manchas roxas em meio as roupas rasgadas de seu corpo. Mesmo que o caos reinasse ao seu redor, não ouviu nada, os sons pareceram se distanciar conforme seus passos o aproximaram da garota.
Ele a tocou, estava fria, a respiração fraca puxou os últimos segundos de ar, os olhos perderam o brilho. O que aconteceu após aquilo foi uma chacina provocada por uma lâmina furiosa que dilacerou os monstros um por um, até não sobrar nenhum em seu caminho. Naquela mesma batalha, ele ganhou as cicatrizes de seu rosto.
Seu corpo pesava, a raiva aos poucos se desvaneceu e o sol apareceu no horizonte. Olhou para suas mãos encharcadas de sangue, perguntando-se como tudo se transformou naquilo. Seu melhor amigo pegou em seu ombro, tirando-o dos devaneios.
— Alexsander, largue a espada — disse, com a mão erguida. — Eu sei que é difícil, mas você precisa se controlar…
— Quem… quem foi o maldito que fez aquilo?
— Hah… não sei, o guarda da torre também desapareceu depois que os monstros atacaram.
O homem apertou o cabo e rangeu os dentes. Aquele maldito, não tinha mais ninguém que olhava para sua irmã da mesma forma além dele. Alexsander afundou os pés na terra e seguiu na direção da entrada da vila, onde a multidão se reuniu.
O guarda estava de volta, lançando desculpas para se safar da raiva sem limites dos aldeões, só que isso não impediu alguém de atacá-lo. A espada perfurou a armadura de couro por baixo da roupa, porém o guarda sacou uma faca e rasgou uma parte do rosto do atacante, do lado do olho direito.
O vermelho inundou a vista de Alexsander, ele entrou num estado imerso de raiva, e assim sua mente embaçou, mandando-o para a escuridão. A mulher de chifres apareceu, sentada em meio ao vácuo negro e com o rosto apoiado nas mãos.
— Você é realmente alguém merecedor de pena…
Suando e com a respiração ofegante, Alexsander abriu os olhos. Esse era um pesadelo recorrente, apesar da mulher ao final ainda ser algo recente e que ele não entendia direito.
O interior da barraca parecia mais frio do que quando tinha ido dormir. Levantou levemente o tronco para cima, porém sentiu uma grande fraqueza no corpo que fez suas costas caírem. Sua cabeça latejava e suas articulações doíam como se tivesse lutado até o limite na noite anterior.
Tentou achar uma explicação para o que sentia, até que lembrou de algo. Jamais deveria ter feito pouco caso do aviso da noite anterior.
— “A mazela lhe acomete”… Parece que a proteção não impede algo que foi feito antes — constatou Alexsander.
O guerreiro abriu a entrada da barraca e se arrastou para fora. Suas pernas estavam fracas, ele mal se mantinha em pé.
Minerva, que estava preparando a comida e cuidando das chamas na fogueira, soltou um berro ao ver a aparência de Alexsander.
— Que porra aconteceu com a sua cara!? — O punk balançou a colher de pau na direção do homem e virou a cabeça para o lado. — Lohan, você precisa vir aqui!
— Por que essa reação, eu não estou… — Alexsander tossiu com força — ...tão ruim.
— Até parece! Tu tá mais pálido que um cadáver na água. — Ele encostou as costas da mão na testa do guerreiro, que não tinha forças para impedir. — Tsc. Tá com febre, e das fortes!
O mago se aproximou a passos rápidos. Por algum motivo, mesmo depois que o Sol apareceu, o efeito da poção ainda não tinha acabado, e ele permanecia no corpo de uma criança.
— Me chamou por… — Antes de terminar a frase, o mago olhou para o rosto do guerreiro. — …Você definitivamente não está bem.
O ladino olhou de soslaio para Ashley, que estava sentada do outro lado do acampamento e falou: — Confere se não jogaram uma magia nele.
Lohan estreitou os olhos. — O que você está querendo dizer com isso?
— Não quero dizer nada. Mas é bom saber a origem do estado atual do grandão.
O elfo concentrou a mana nos olhos, analisando o fluxo da energia de Alexsander. Contudo, apesar do aspecto destruído do homem no momento, não havia nenhum indício do efeito de uma magia em seu corpo.
— Não é de origem mágica. Deve ser uma doença.
O guerreiro se sentou na terra, não tinha mais forças para ficar de pé
— O artefato me mostrou que… uma entidade fez alguma coisa.
— Vamos chamar a Alice, talvez ela tenha algum milagre útil para te ajudar.
Depois que trouxeram a sacerdotisa, ela analisou Alexsander. Sua habilidade Purificar retirava maldições e toxinas venenosas; porém não podia fazer nada contra uma doença.
Como o guerreiro estava sem condições de caminhar, muito menos de entrar em uma batalha, o grupo interrompeu sua jornada momentaneamente.
Alucinando e sem conseguir sair da barraca, Alexsander virou refém de seus pesadelos durante o dia e a noite seguinte. Uma memória ficou gravada em sua mente após esse evento: não iria ignorar tão casualmente o pedido de uma entidade… mesmo que fosse algo questionável.
☆ ☆ ★ ☆ ☆
Um dia depois, quando o Sol nasceu outra vez, Alexsander abriu os olhos. Sentiu seu corpo mais leve, a respiração estava mais fácil e a febre havia baixado.
Ele saiu da barraca com facilidade, como se o mal estar anterior fosse apenas uma ilusão.
Parado em frente à barraca, meditando em uma posição típica para um monge guerreiro, estava Paulo Horse. Ao notar que Alexsander estava ali, cumprimentou.
— Vejo que você venceu sobre o mal que lhe jogaram, companheiro. — Um sorriso subversivo estava estampado em seu rosto. Talvez estivesse mais feliz pelos planos da entidade terem fracassado do que por Alexsander estar melhor, talvez.
Assim que o monge terminou de falar, uma mensagem apareceu em seu artefato. A provocação era clara.
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Entidade das Maldições, Nehtek lhe enviou uma mensagem
Se importa com esses novos sacrifícios, Horse? Então, vou te lembrar: Novas pessoas significam novos perigos. Vou me deleitar quando seus sentidos falharem dessa vez, monge.
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Paulo encarou a janela semi transparente emitida pelo artefato. Sua expressão se contorceu em ódio por um momento.
Em seguida, o monge inspirou até encher os pulmões e depois espirou vagarosamente. Seu rosto se acalmou, e um sorriso provocativo tomou o lugar de sua calmaria.
— Dessa vez você não terá o que quer, entidade demoníaca. — Ele flexionou os braços e apertou os punhos. — Eu não sou mais o mesmo daquela época.
Alexsander levantou uma sobrancelha e questionou o monge sobre o que ele tinha recebido. O homem moreno, porém, apenas disse para não se preocupar.
Em seguida, a meia-elfa loira se aproximou dos dois e perguntou: — Você se sente melhor, Alexsander?
O guerreiro estalou os dedos da mão e confirmou: — Me sinto muito bem. Poderia partir uma rocha em duas.
— Entendo… que bom!
Enquanto Alice pensava em convidar Alexsander para beber os itens que havia recebido antes, uma janela apareceu diante dela.
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Ojou-sama lhe enviou uma mensagem
Vou te mandar um artefato, é uma bússola antiga minha, deve te ajudar em sua jornada...
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A resposta de Ojou-sama veio junto de uma pequena bússola escura com um ponteiro vermelho. O objeto flutuou até sua mão e uma tela com sua descrição foi exibida.
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Bússola de Ameaças
Descrição: Esse artefato aponta na direção da criatura mais próxima emitindo sede de sangue ao portador.
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— Ah, isso parece muito útil. — Ela abriu a bússola e viu o ponteiro mirar para a mesma direção que seguiam. — Para lá? Não devia ter outro inimigo mais perto? Que estranho.
— Recebeu outro item daquela entidade? — questionou Alexsander.
— Si-sim, parece que aponta para a criatura mais perigosa para quem segura.
Ela exibiu o objeto para os dois, que constataram o óbvio: a bússola estava apontando para a masmorra.
Essas entidades podem oferecer várias coisas, mas de um hora para outra, se você não fizer o que eles querem, podem te prejudicar na mesma intensidade. Os pensamentos de Alexsander estavam mais profundos, suas experiências recentes lhe ensinaram que os patrocinadores nem sempre seriam bondosos.
Contudo, ele decidiu não falar nada… por enquanto.
— Vamos seguir adiante assim que comermos — definiu o guerreiro.
O grupo comeu e depois reuniu as coisas espalhadas pelo lugar. Ainda teriam bastante tempo com luz do Sol para se moverem, mas seria bom iniciarem a jornada antes de ficar muito quente.
Quase tudo já estava pronto e os itens mais volumosos foram armazenados na bolsa sem fundo.
— Só um instante, eu… preciso ir ao banheiro — disse Lohan.
O elfo se esgueirou entre as árvores e, quando teve certeza que ninguém estava vendo, retirou dois itens do inventário.
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Tabardo de Aredhel
Atributos: +5 Resistência, +5 Sabedoria e +10 Inteligência
Descrição: O capote de laterais nuas que uma vez a princesa-élfica Aredhel usou para acompanhar o maior dos conquistadores de masmorras. Apesar de pura, adorava os olhos cheios de tentações dos outros.
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Shimapan
Atributos: +20 de Mana
Descrição: Uma calcinha listrada de verde-e-branco que emana a mais pura energia proveniente da natureza.
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Lohan relembrou quando recebeu os itens, sua cabeça tinha passado o último dia pensando sobre isso. A mensagem mais bizarra, e talvez a mais importante, que recebeu desde que se tornou um aventureiro.
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Seu pedido ao Deus das Aventuras teve uma resposta
Elfo ingênuo... Viveu esses séculos para não saber seus limites? Se eu te desse o que pediu, você nem sequer mostraria uma mínima e minúscula fração do poder real. Porém, como lembrança de nosso primeiro contato, te darei duas formas de alcançar esse seu desejo tão guloso pela magia original. Faça sua escolha:
Desafio da Perda:
A magia original só é alcançada quando o usuário quebra sua velha visão e entendimento do mundo e suas leis naturais. Para alcançar o que deseja, mostre o quão determinado está para tocar a mana mais pura. Perca aquilo que viveu junto desde sempre.
Troque seu sexo original e perceba o mundo pela visão feminina.
Você aceita?
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— Foi um bom acordo apesar de tudo… Além do mais, o que esse Esor me deu é realmente valioso.
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Você retirou o livro de habilidade Foco Arcano do inventário.
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Foco Arcano
A quantia de mana recolhida para magias é melhor usada, fazendo com que a próxima magia seja 20% mais forte. Pode ser usado sem custo uma vez por dia.
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Ficar nesse corpo em troca da garantia de poder… é uma troca que vale a pena.
O elfo equipou ambos os itens e retornou para o grupo. O primeiro a comentar sobre a roupa nova de Lohan foi Minerva.
— Outro equipamento que exibe muita pele, hein.
— Os atributos são bem melhores que aquelas roupas que compramos na cidade, então foi a troca mais sensata a ser feita.
Alice encarou a vestimenta do elfo e deu um olhar de quem sabia como era a sensação de receber algo estranho e exibicionista. A aparência do vestido era nobre, porém mostrava muita pele.
— Por sinal, companheiro elfo, você já não deveria ter voltado ao normal?
— Eu acho que assim fica até melhor, a aparência atual é um bom contraste para a personalidade rabugenta dele — provocou Minerva.
Lohan tossiu envergonhado, e inventou uma desculpa. “Talvez o efeito dure mais que o esperado”. O grupo sentiu que havia algo errado, mas ignoraram — cabia apenas a ele se preocupar com seu próprio corpo.
— Independente da sua aparência, eu te darei meu apoio, Lohan! — proferiu Ashley.
Puxa-saco do caralho, pensou Minerva. Ele odiava o jeito como aquela mulher se comportava com Lohan. Não era normal ser assim.
Alexsander olhou para seus colegas e começou a andar. Os demais seguiram atrás.
A caminhada foi rápida e sem impedimentos, não havia monstro algum no caminho.
— Chegaremos hoje mesmo se continuar assim — comentou Alexsander.
— Mas é estranho, deveríamos ter passado pelo território de várias criaturas nesse meio-tempo… A minha previsão era de mais alguns dias pelo tempo perdido em combate.
Lohan coçava o queixo, apesar da falta da barba, e Minerva provocou ele novamente.
— Tudo tem uma primeira vez. É o que dizem, errar é algo que até mesmo elfos fazem.
A elfa ficou com as bochechas vermelhas, enfurecida por ter errado no alerta que deu na guilda logo que conheceu o guerreiro. Uma mancha em sua reputação como sábio.
Porém, a mulher de cabelos castanhos que seguia logo atrás apontou algo que não poderia passar em branco.
— Eu encontrei alguns indícios de combate por onde passamos. Alguém deve ter se livrado dos monstros no caminho antes de passarmos.
— Isso explicaria a ausência deles — assentiu Alexsander.
— Você diz isso, mas um grupo teria deixado muitas evidências para trás — contestou o ladino. — Quer dizer que uma única pessoa se livrou de todas as criaturas ao redor da trilha pra masmorra?
Ashley botou um sorriso no rosto e explicou: — Com destreza o bastante não seria impossível cruzar esse caminho, escapando do olhar dos monstros e matando somente aqueles próximos demais.
— Eu tenho quase trinta pontos em destreza e não me arriscaria fazendo isso.
— Talvez essa pessoa seja mais rápida que você — provocou ela.
— Parece um cenário muito específico, uma suposição ao invés de algo realista.
— Ache o que quiser, as evidências dizem isso.
Paulo Horse fez uma cara pensativa enquanto ouvia a discussão e depois interveio na conversa: — Uma vez conheci alguém que conseguiria fazer isso.
O grupo inteiro prestou atenção no homem moreno, principalmente Minerva. O ladino deu um sorriso convencido e se aproximou.
— Mas então, grandão, como eu me sairia comparado com ele?
— Você também é muito rápido, então… — constatou Horse.
— Claro que sou.
— Meio braço. — O monge esticou o braço.
— Em uma corrida?
— Em um ataque simultâneo. Você esticaria o braço até a metade antes de ser atingido.
Ashley parecia feliz ouvindo isso. Sua mente conseguia imaginar perfeitamente o ladino sendo derrotado e humilhado no seu melhor atributo, um sorriso honesto apareceu em seu rosto.
— Então uma pessoa tão rápida assim existe nesse mundo — comentou Alexsander.
Minerva não parecia convencido, perguntando: — E quem seria esse?
Paulo pensou um pouco antes de responder.
— Não me recordo seu nome, alguma coisa Kurt talvez. Mas lembro que ele era o príncipe de algum reino.
— Um pri-príncipe!? — assustou-se Alice. — Você conheceu alguém tão importante assim?
O monge não parecia se importar. Ele não era da realeza, mas tinha unificado quase todas as tribos Ragardas sob seu controle antes de sofrer a maldição. Suas posições não eram muito diferentes.
Na verdade, era possível dizer que Paulo teria uma posição social mais alta até que um príncipe se não tivesse ido embora de sua terra natal.
— Eu andei por muitos lugares. Conheci muitas pessoas. Vi muitas coisas.
O grupo continuou conversando, até que avistaram uma construção que se destacava nos vastos campos da paisagem. Minerva pegou sua luneta e observou melhor.
— Só pode ser a Masmorra das Planícies. Realmente chegamos bem rápido.
Quando se aproximaram o suficiente, constaram o tamanho real do lugar. Era enorme, feito de pedra negra lisa e sem traços de ter sido construído por pessoas, mas certamente algo que não era natural.
Na frente de um grande portão, uma construção de madeira, quase imperceptível diante da imensidão da que estava atrás.
Um homem vestindo uma armadura prateada gritou em alto e bom tom para o grupo: — Viajantes não podem passar deste ponto sem uma permissão.
Assim que deu a ordem, uma dúzia de homens vestindo armaduras iguais saiu da cabana e tomou posição diante do portão da masmorra.
Prontamente, Alexsander tomou a dianteira e se aproximou do cavaleiro à frente. O militar tinha um rosto sério e em momento algum sua mão deixou o cabo da espada em sua cintura.
O guerreiro se apresentou e puxou o pergaminho de dentro de sua roupa, oferecendo ao homem diante dele. Após confirmar que era autêntico, o militar pediu para que aguardasse um instante.
Ele entrou no quartel atrás dele, enquanto os demais cavaleiros continuaram parados diante da entrada. Alice parecia um pouco nervosa diante daqueles homens, porém a calma do restante do grupo a acalmou.
Retornando, agora sem o documento e com uma grande bola de vidro, o cavaleiro explicou: — Para adentrar na masmorra, preciso que me digam qual filial da guilda possui a inscrição do seu grupo.
— Pode contatar a de Doveport.
O homem emitiu mana para o artefato e a bola brilhou. Em seguida, o objeto exibiu o rosto de uma mulher com cabelo grisalho.
— Bom dia, Sir Taylor. Em que posso ajudar? — A voz da mulher foi emitida pela orbe.
— Preciso que verifique a inscrição de um grupo. — O homem encarou o bando. — Busque por Alexsander.
— Ora, ora, mais um grupo? Aguarde um instante.
Através da orbe de cristal, era possível ver a senhora colocando um par de óculos no rosto e procurando a informação em uma grande pilha de papéis. Após uma rápida espera, ela falou novamente.
— Encontrei um grupo com cinco pessoas. Constam os nomes: Alexsander, Alice, Lohan, Minerva e Paulo.
O oficial encarou o grupo e verificou que tinha uma pessoa a mais.
— Por gentileza, me comprovem seus nomes através do artefato.
Os cinco membros do grupo exibiram suas informações para o militar, que cerrou o olhar ao notar os valores dos atributos dos indivíduos diante dele.
O homem continuou com o olhar sério, mas fez um gesto para os homens atrás dele. Os cavaleiros se aproximaram da grande porta de madeira da masmorra e a empurraram, permitindo a passagem.
Assim como o restante da estrutura, a porta era enorme, com dez vezes o tamanho dos homens que a empurravam. Para serem capazes de abrir a passagem, certamente seus atributos não eram algo a se envergonhar.
— Entendo, vocês estão autorizados a entrar na masmorra. Suas habilidades devem ser suficientes para que voltem vivos também. — O oficial apontou para Ashley, que sequer exibiu seus atributos. — Com exceção daquela, que não consta nas informações da guilda.
— Tudo bem, Sir Taylor. Eu realmente não estou inscrita neste grupo. — Ela sorriu educadamente para o guarda. — Apenas nos encontramos por coincidência no caminho. Eu tenho uma autorização individual também.
Minerva soltou uma risada ao ouvir isso, depois perguntou ao guarda: — Essa porta vai estar aberta quando nós voltarmos?
— Ao completar a masmorra, a marca irá permitir o retorno e abrir os portões para vocês. Mantemos fechado apenas para evitar incidentes. As pessoas são idiotas e acham que podem desafiar a masmorra mesmo que lhes falte força.
— A possibilidade de ter qualquer desejo realizado realmente é tentadora — comentou Horse.
Lohan assentiu, e virou-se para a amiga de cabelo castanho. — Encontrou sua permissão?
— Eu entro depois de vocês — disse Ashley, investigando sua bolsa. — Não estou encontrando minha autorização e não quero atrasá-los…
— Podemos esperar — falou Lohan, dando um passinho para trás. — E também seria o melhor a…
— Não, por favor, eu insisto. Se eu por acaso tiver perdido, vocês levarão mais tempo ainda para ir à próxima masmorra. Não se preocupe comigo, eu ficarei segura.
A elfinha ia argumentar, porém Minerva pôs a mão em seu ombro e apontou com a cabeça para a porta que os guardas estavam. Ela desistiu e suspirou, dando um aceno de despedida para Ashley antes do grupo passar pela porta.
Assim que entraram, a luz do ambiente desapareceu. Alexsander acendeu sua tocha, iluminando as sombras e então avistou um corredor à frente deles, com braseiros apagados ao longo da parede.
Ele incendiou os braseiros para que o grupo tivesse uma vista limpa do lugar. Após um tempo de caminhada, depararam-se com um espaço aberto em que a luz não chegava, além do formato do corredor ter se transformado em paredes deformadas e um chão irregular.
O som de goteira ecoou pelas paredes, cada um dos aventureiros ficava mais apreensivo conforme se aprofundavam na masmorra, até encontrarem uma sala larga que remontava a mesma estrutura do corredor de antes.
O lado de dentro estava iluminado, e no centro havia um tipo de planta enraizada do chão ao teto. Minerva entrou primeiro, estranhando aquela coisa.
— Eita, onde já se viu um negócio desse crescendo dentro de uma caverna…
A coisa repentinamente se mexeu, um espinho voou de seu corpo na direção do Ladino, que se esquivou virando a cabeça para o lado e em seguida saltou para trás para manter distância.
— Que merda! Não pode ficar um dia sem paz mesmo!
A planta desabrochou, seu corpo mostrou uma grande boca feita de folhas vermelhas e várias vinhas que pareciam chicotes. Os aventureiros aplicaram a estratégia que praticaram há dias — Alexsander e Paulo Horse na linha de frente, Minerva no meio e Lohan e Alice atrás.
Infelizmente esse plano não funcionou. Criaturas humanoides de musgo surgiram da parede, cercando o grupo. A primeira a agir foi a garotinha, que apontou seu cajado de fogo na planta carnívora gigante e carregou uma magia de chamas.
— Não fiquem no meio do caminho!
O monstro, no entanto, lançou uma vinha na direção de Lohan. Alexsander chegou a tempo de impedir o ataque, porém a magia de Lohan não pôde ser segurada por mais tempo, sendo disparada em outra direção para evitar acertar o grupo.
A bola de fogo voou numa direção aleatória, atingindo uma parede e arremessando lascas de pedra para todos os lados. O teto largou destroços contra o chão, esmagando alguns dos monstros de musgo e por um segundo ameaçando a vida dos demais integrantes.
Paulo Horse conseguiu defletir os destroços e proteger Alice e Minerva do rebote do ataque. O monstro planta, porém, ainda permanecia vivo.
Em meio ao caos de pedregulhos caindo, Alexsander disparou correndo na direção da criatura, com seu Sabre de Aracne na mão esquerda e o grande escudo metálico na direita.
— Alice, aumente minha força!
Alice escutou o chamado e conjurou o milagre. O poder do guerreiro aumentou de maneira alarmante, seus músculos ganharam veias e seu corpo explodiu em energia.
O monstro planta executou um ataque desesperado em direção ao guerreiro. Alexsander desviou com um pulo e seu sabre desceu sobre o monstro, dividindo a criatura em duas metades.
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Inimigos bissectados: (1/1)
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Eu até tinha esquecido disso.
Apesar do imprevisto, o grupo venceu sem grandes dificuldades. Seguindo adiante, mais alguns monstros musgos apareceram pelo caminho, porém eles não eram um desafio.
Após algum tempo, pararam em uma encruzilhada. Havia dois caminhos para seguir, Alexsander olhou para ambos. Contudo, a escuridão engoliu a luz de sua tocha, não era possível distinguir alguma coisa.
De repente, um grito agudo ecoou das profundezas dos corredores. Todos sentiram calafrios com a sede de sangue avassaladora que acompanhou o som — porém independente da escolha, qualquer um dos lados levaria para algum problema.
Agora só restava escolher um dos caminhos.
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Por conta da pascoa, decidimos fazer uma arte especial para Alice em comemoração.
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