Masmorra do Desejo Brasileira

Autor(a): Alonso Allen & Zunnichi


Volume Único

Capítulo 6: Patrocinados e Bem-Aventurados

Cruzando os famosos campos de flores do continente Lorun, havia um grupo de cinco aventureiros. Um homem com cicatrizes profundas no rosto andava à frente de todos, segurando um pergaminho com indicações grosseiras, mas precisas o suficiente a respeito do caminho.

— Deve ter uma encruzilhada adiante — falou ao grupo que seguia atrás dele.

Após caminharem mais, chegaram na bifurcação, e no meio dela havia um monumento de pedra. Estava esverdeado e desgastado pela ação do tempo, sua forma era semelhante a de um homem com aparência nobre que apoiava ambas as mãos em uma espada e que possuía uma coroa na cabeça.

Do lado direito da figura, uma placa de madeira levava escrito “Mausoléu dos Reis”. Do lado esquerdo, outra placa exibia “Masmorra das Planícies”. Também havia algo escrito em uma pequena placa metálica aos pés da figura, mas o desgaste tornou-a ilegível.

Alexsander suspirou e segurou sua espada peixe-espada antes de analisar novamente o mapa. As placas pareciam corretas, então o grupo seguiu pelo caminho da esquerda.

Contudo, poucos passos foram dados antes de um enorme baú despencar do céu.

 

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Vários patrocinadores estão contentes com seus progressos. Inúmeros presentes lhes foram dados.

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A tranca se abriu, revelando blocos coloridos na parte interior. Cada bloco tinha uma magia como a da bolsa de Alice, armazenando os itens em outra dimensão. Além disso, uma barreira mágica estava presente, permitindo que somente o presenteado pudesse obter seu conteúdo. 

O bloco rosa era para Alice, ela foi a primeira a verificar o conteúdo que recebeu. Uma sequência de telas apareceram diante dela pelo Artefato de Encadeamento.

 

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A Fofoqueira lhe enviou uma mensagem

Adorei sua resposta. Era bem ele que eu imaginava mesmo. Aqui, um presentinho para conquistar seus objetivos.

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Você recebeu o livro de habilidade Ajudinha da Deusa do Amor de A Fofoqueira

Descrição: O usuário é passivamente muito charmoso. Isso lhe permite ser mais efetiva em qualquer situação que envolva uma conversa com outras pessoas, tornando sua voz cativante, sua aparência irresistível e seu cheiro de uma doçura extrema. Em combate, inimigos com Resistência menor que sua Sabedoria serão forçado a andar com metade de sua velocidade em sua direção.

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Deus da Insanidade-Kyun lhe enviou itens

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1x Vinho

Descrição: Dizem que a bebida sempre fica melhor quando estamos acompanhados de alguém querido. Às vezes é bom para estreitar relações.

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1x Hidromel

Descrição: Uma bebida obtida pela fermentação do mel. Ótimo para conseguir se soltar um pouco.

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— U-uau…! Isso é realmente muito bom! Agradeço, entidades! — Ela abriu um sorrisinho, porém não conseguiu conter as bochechas vermelhas de vergonha conforme lia as mensagem. — Só por favor não pensem errado… ainda mais me entregando essas coisas também, Insanidade-Kyun-sama. 

 

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Ojou-sama lhe enviou uma mensagem

Como prometido, irei te dar o presente, já que cumpriu a condição estabelecida. Cuidado com conhecidos do passado, a redenção nem sempre vem da mesma forma para todos.

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Ojou-sama lhe enviou um item especial

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Shorts para Saia 

Tipo: Item

Atributos: +20 de sabedoria

Descrição: Este é um item especial utilizado por Ojou-sama quando era mais nova como forma de encorajar o uso de saias. Este é um item de proteção que impede o molestamento até a sua declaração para com seu par romântico, momento em mostrará sua verdadeira forma.

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Aquilo fez seu rosto corar ainda mais. Ela guardou o item dentro da bolsa antes que os demais pudessem olhá-lo. Também utilizou imediatamente o livro de habilidade, não via nada demais naquilo, ser um pouco mais bonita ou cativante faria mais bem do que mau.

Em seguida foi a vez de Paulo Horse se aproximar do baú. Ele esticou a mão até um bloco da mesma cor de sua pele.

 

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Ojou-sama lhe enviou um item

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Chapéu de Tigre

Atributos: +20 sabedoria

Descrição: O chapéu de um pegador.

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— Nossa, que artefato interessante — Pôs o chapéu na cabeça. — Coube direitinho em mim… mas o que é um pegador? O que ele pega? Bem, tanto faz. O que vocês acharam?

Todos levantaram as mãos em sinal de aprovação. Paulo Horse nunca tinha ficado tão elegante assim, aquele chapéu acentuou os seus aspectos másculos e o tornou um homem com a aura de um modelo.

— Hmmm, esse ítem… — Paulo flexionou os músculos do braço e observou a mana fluir — Eu também me sinto mais conectado com os espíritos. Por enquanto irei mantê-lo.

Em seguida, Minerva se aproximou. Havia um bloco da cor amarela.

 

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O Ancião-Javali lhe entregou um item

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1x Luneta

Descrição: Um artefato de metal e lentes vítreas. Permite ver além. 

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— Oh, legal… — Ele testou o objeto apontando-o para Lohan. — Olha só, dá pra ver todas as suas rugas de estresse com isso aqui!

— Ei! — A elfinha esticou os braços e tentou pegar a luneta das mãos de Minerva. — Para de implicar comigo e me deixa ver!

— É meu, solta! 

— Vocês dois, parem! — falou Alice, surgindo como intermediadora. — Lohan, isso foi algo que o patrocinador deu para ele. Se você continuar com isso, pode ser que ele também lhe cause mal.

A garotinha fez uma careta feia e largou a luneta, cruzando os braços de raivinha, enquanto Minerva abriu um sorriso de satisfação diante daquela vitória. Em seguida, uma mensagem foi exibida para o ladino.

 

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Katoptrízo lhe enviou uma mensagem

Prove-se digno até o beirar da transição e receberá uma bolada. Do contrário, não garantirei proteção contra a sombra de seu passado.

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Proteção contra uma sombra do passado? Do que esse patrocinador está falando?

Sem entender bem, ele deu de ombros. No momento não lembrava o que se referia exatamente, exceto se fosse aquilo

Era a vez do bloco de Lohan. Lá dentro tinha um livro de habilidade, e juntamente dele apareceu uma mensagem.

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Você recebeu o livro de habilidade Pacto das Aventuras

Descrição: Se o usuário busca tesouros, dá-lo-ei através de um desafio. O nosso mutualismo será bem simples: vença a minha aventura e eu darei algo que o ajude a ter o que deseja no final.

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O Deus das Aventuras e Tesouros, Esor, lhe enviou uma mensagem

Não existe almoço grátis, não acha, elfo? Me entretenha e eu darei até mesmo os livros mais proibidos do seu plano de existência. Para aceitar, receberá uma maldição tão profunda que nem se esfarelar sua alma em milhões de pedaços poderá fugir. 

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Por último ficou Alexsander, que preferiu deixar o restante do grupo pegar seus respectivos presentes antes dele. O guerreiro levou o braço esquerdo ao último bloco, que emitia uma luz vermelha como sangue. 

 

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O Rei Solitário lhe enviou um item especial

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Óculos do Moralista

Tipo: Item de uso único

Descrição: Um óculos criado por um alquimista depravado. Faz as vestes das pessoas sumirem das vistas, enxergando-as pelas roupas de baixo. Também permite enxergar através de paredes.

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O Rei Solitário lhe enviou uma mensagem

Use esse óculos por um dia inteiro, mas não conte aos outros o seu efeito. À noite, escolha quem tem a bunda mais bonita do seu bando. Se assim fizer, ganhará um item.

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Alexsander ficou parado, pensando sobre essa mensagem esquisita diante dele. Como assim escolher a bunda mais bonita? Que merda é essa!? O Rei Solitário havia enviado uma boa espada para ele anteriormente, mas agora revelou um lado desconhecido de sua personalidade. 

Decidiu que não faria uma coisa imoral e sem propósito como essa e guardou os óculos no bolso de seu jaquetão. Mesmo que a promessa de receber um item fosse tentadora, fazer isso não condizia com sua moral.

Contudo, assim que tomou sua decisão, o Artefato de Encadeamento piscou em seu pulso. Um senso de perigo pairou sobre sua mente. 

 

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O Rei Solitário demonstra seu descontentamento pelo descaso ao pedido.
A mazela lhe acomete.

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A mensagem causou certo receio em Alexsander. Lohan e Horse já haviam sido atacados pelas entidades, agora finalmente foi a vez dele. Sem ter muito o que fazer sobre isso, torceu para que não o prejudicasse tanto e voltou a conferir tudo que lhe pertencia que ainda estava dentro do baú. 

Dessa vez, agarrou dois objetos. Um era retangular e leve, o outro parecia algo enrolado dentro de um saco. Quando puxou, viu do que se tratava.

 

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Você recebeu o livro de habilidade Investida de Deus da Insanidade-kyun

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Antes mesmo de conferir o próximo artefato, Alexsander aprendeu a nova habilidade. O conhecimento preencheu seus músculos, como se tivesse treinado até a exaustão diversas vezes. 

 

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Investida

Tipo: Ativo (Impossível ativar no momento)

Descrição: Executa um avanço em linha reta. Você se torna imparável e empurra qualquer coisa que tenha menos resistência do que o dobro de sua força no momento. Obtida pela raiva profunda de ter perdido o Doce Ímpeto.

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Deus da Insanidade-kyun lhe enviou um item

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Barraca  

Descrição: Te protege das intempéries. Também permite ter privacidade quando precisar conversar com alguém. 

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Essa foi a primeira vez que Alexsander recebeu uma habilidade, então ficou surpreso com o aviso sobre ser impossível utilizá-la. Decidiu que perguntaria à Lohan em seguida. Quanto à barraca, definitivamente foi um presente muito útil e que usaria logo.

O bloco vermelho no báu continuava brilhando, sinal de que ainda havia mais coisas para ele. O homem introduziu a mão no espaço interdimensional e recebeu as próximas mensagens.

 

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Atleta lhe enviou itens especiais

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Armadura do Nobre Sem Nome

Atributos: +20 inteligência.

Descrição: Uma armadura leve com gola alta, feita com tecidos finos e sofisticados. Acompanha um óculos elegante preso à armadura por uma fina corrente

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Você recebeu o livro de habilidade Corte Rápido.

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Atleta lhe enviou uma mensagem

Nobre Guerreiro, Venho por meio deste te ajudar com o que eu posso…
Te darei esta minha antiga roupa e o pouco de proteção que me resta...
Espalhe a palavra.

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Alexsander ficou espantado com a quantidade de itens entregue por uma entidade que nunca tinha interagido com o grupo antes. As habilidades e equipamentos certamente seriam úteis, mas a coisa que mais se destacava era a última.

 

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Proteção do Patrocinador

 

Você despertou o interesse de uma Entidade Superior.

Atleta lançou uma benção sobre você. Sua alma e seu destino estarão protegidos por um tempo.

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Proteção do patrocinador… Acho que não preciso mais me preocupar com aquilo então. Ele cruzou os braços, intrigado pelos novos itens e pelo que o grupo recebeu. 

— Vamos fazer uma pequena pausa para conferir o que ganhamos e montar um acampamento provisório. Continuamos a andar em seguida.

O grupo concordou, assim eles montaram acampamento em uma clareira próxima. 

Alice se afastou um pouco para vestir seu novo item e ler o livro da habilidade Ajudinha da Deusa do Amor.

Depois de desequipar parte de sua armadura, vestiu os shorts. Contudo, começou a se sentir extremamente desconfortável, não pela roupa, mas por outra coisa.

Um senso de perigo apitou em sua mente. Por entre os galhos da floresta pensou ter visto de relance um par de olhos brilhando, só que quando olhou outra vez, não havia nada ali.

Ela se sentia como uma presa sendo observada por um caçador. Os pelos de seu corpo se eriçaram em resposta ao calafrio que a atacou. 

Ela se arrumou o mais rápido possível e decidiu usar a skill Superchat para enviar uma mensagem à Ojou-sama.

 

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Superchat

Você gastou 20 moedas

Mensagem enviada: 

Ojou-sama, sinto que tem alguém ou alguma coisa me seguindo. Você poderia me enviar um item por precaução?

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No meio do acampamento, Alexsander havia terminado de montar a barraca que recebeu.  Quando estava dobrada, ele não tinha certeza se caberia nela, mas teve uma surpresa positiva. É bem espaçosa do lado de dentro… cabem tranquilamente duas pessoas nela. 

Ele aproveitou e entrou para vestir a armadura nova. Era estranhamente leve se comparada com seu jaquetão de couro endurecido. Tinha uma aparência elegante e refinada que destoava de suas feições brutas e cicatrizes profundas.

Em seguida, pegou o livro da habilidade Corte Rápido e abriu a capa, aprendendo o conteúdo imediatamente.

 

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Corte Rápido

Tipo: Ativo (Impossível ativar no momento)

Descrição: Executa uma sequência ultra-rápida de golpes com uma arma cortante.

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Novamente a informação de ser impossível ativar estava estampada na mensagem. Contudo, agora Alexsander entendia o motivo. O aumento do atributo inteligência não lhe era tão útil em combate, já que ele não usava magias, mas a melhorava na compreensão das coisas ainda o auxiliava a analisar o mundo ao redor.

O aumento drástico de vinte pontos o fez notar o óbvio: ele não tinha mana o suficiente para ativar as habilidades. 

As habilidades que eu adquiri sozinho não dependiam de mana, por isso eu consegui aprender sozinho. Mas, mesmo que eu tenha recebido elas, nesse caso ainda não poderei usar.

O livro desapareceu no ar e Alexsander reclamou internamente. Recebi duas habilidades, mas não posso usar. Parece que eu dei um passo adiante apenas para dar dois para trás. 

Após compreender isso, tomou nota mental de que iria atrás de artefatos que aumentassem sua mana para resolver essa deficiência. Apesar de ter entendido perfeitamente essa parte, aumentar o atributo de inteligência não fazia milagre. Mesmo após segurar a espada peixe-espada, com o atributo em 32, não conseguiu descobrir um detalhe.

Espalhe a palavra… O que será que essa entidade desconhecida quis dizer com isso?

Enquanto Alexsander pensava, Minerva usava sua luneta para vasculhar os arredores. Ele parecia com um pirata em busca de algum tesouro numa ilha, ou no meio de uma planície nesse caso. 

Infelizmente não tinha nada para ser visto, sobrando apenas a brincadeira de apontar para o rosto de Lohan e provocar a elfinha.

Ele tentou de todas as formas fazê-lo parar, mas sua falta de altura e força não ajudavam em nada.

— Para com essa merda! Você só está fazendo isso por conta da minha altura!

— Ah, qualé, baixinha. Ninguém mandou ser xereta e meter o nariz onde não devia.

Minerva continuou provocando, até que viu alguma coisa com o canto do olho. Um brilho no horizonte chamou a atenção e ele apontou a luneta naquela direção.

Pouco a pouco, uma silhueta emergia ao longe, se tornando cada vez maior — vinha na direção deles. 

O rosto do punk perdeu a cor. Seu queixo caiu e ele parou de respirar por um instante. Parecia que estava vendo uma assombração.

— Ei, Lohan… Eu acho que estou vendo coisas. 

O ladino colocou a luneta no olho da garotinha ao lado e a virou na direção da silhueta. Quando sua vista se acostumou, a surpresa também tomou conta de seu rosto. 

— Não… não tem como. Deve ser outra pessoa! 

— É igual a ela, Lohan.

Conforme a pessoa se aproximava, não havia como negar mais.

— Cabelo castanho… roupas nobres… é ela. Minerva, ela está bem ali.

— Quem…? — perguntou Paulo Horse, de sobrancelhas erguidas.

A pessoa surgiu, era uma mulher de cabelo longo e com roupas aristocráticas caras. Ela tinha um ar empoderado e que exalava carisma. Uma donzela da mais alta classe que passava a aura de que teria lábia o bastante para convencer um rei de qualquer coisa.

Quem estivesse por perto dela seria imediatamente encantado por sua aparência… exceto, é claro, se a odiasse, como era o caso de Minerva. O ladino franziu o cenho ao vê-la, nunca imaginaria que a encontraria de novo e muito menos desejava saber como foram encontrados.

— … Olha só quem apareceu. — Ele demonstrou um sorriso de deboche. — Pensei que você tinha morrido, Ashley.

— Não morri. — A feição da mulher se transformou em algo apático assim que pôs os olhos em Minerva. — Eu aposto que você ainda continua fazendo aquelas mesmas coisas de antes… faz muito tempo desde a última vez que nos vimos, só que eu perdôo o que você fez. Onde está Lohan?

Você não me engana, sua maluca manipuladora. Minerva cruzou os braços e respondeu: — Vai saber, neeem sei onde ele tá. Só eu e meu grupo de aventureiros. Me diz logo o que tu quer, escutar a inveja de uma mina surtada não é minha praia, sabia?

— Surtada? — Cerrou os punhos, contendo uma fúria repentina.. — Não sou, muito pelo contrário, sou plenamente sã. Agora me diga, onde ele está?

— Ué… você é cega? Ele tá bem ali. — Apontou para a garotinha embasbacada no canto.

Ashley fitou a menininha. Ela era toda fofinha, tinha o cabelo loiro e os olhos esverdeados de Lohan, inclusive tinha um tipo de energia que era também muito igual a dele — podia até imaginar que seria a filha dele, isso se não conhecesse a personalidade elfo.

— Eu pareço ser idiota para você?

Minerva ergueu o queixo.

— Você é a pessoa inteligente mais idiota que eu conheço.

— O que você…!?

— Ashley! — chamou a garotinha, agora puxando as roupas dela. — Pare, por favor!

A mulher se sentiu tentada a dar um soco em Minerva, porém teve que se conterpor conta da presença de uma pequena elfinha. Tinha plena vontade para esganá-lo, uma pena que foi atraída para aqueles olhinhos grandes e redondos da garotinha agarrada na sua perna.

Ashley estava pressionada demais para ir além, então só deu um passo para trás e respirou fundo. 

— Certo, já que você diz que ela é o Lohan, então prove.

— Você é uma encantadora especializada em ilusões — disse Lohan —, que esteve conosco há três anos atrás, mas nos separamos após… aquilo acontecer.

Ela arregalou os olhos de espanto. Não teria como aquele ladino que odiava ela ter contado qualquer coisa para outra pessoa.

— Você é mesmo o Lohan… Mas o que aconteceu com seu corpo? 

Ele suspirou e explicou: — É o efeito temporário de uma poção que bebi. 

Concordando com a cabeça, Ashley deu uma volta ao redor da elfa, analisando-a completamente. 

— Eu preferia antes, mas já que ainda é você… Talvez possa me acostumar. 

Ele baixou a cabeça ao relembrar do ocorrido, depois olhou para cima e encarou Ashley.

— Por que você nunca veio atrás da gente?

Ela piscou e desviou o olhar. — Eu… estava com vergonha. Me senti culpada por tudo que aconteceu.

A pequena elfa sorriu e agradeceu: — Independente de tudo, fico feliz que você esteja viva.

A nobre se abaixou e deu um abraço apertado em Lohan. 

— É por isso que eu te amo.

— Vou ir pegar lenha… — Minerva cansou de assistir tudo isso e se afastou dos dois. 

Enquanto os dois conversavam, Alexsander se aproximou.

— Quem é essa? 

A mulher encarou o homem em sua nova armadura e pensou: Esses tecidos parecem bem caros, mas ele tem cicatrizes demais para o padrão da nobreza… Um cavaleiro que se tornou baronete talvez?

— Essa é uma antiga amiga… Nos aventuramos juntos por um tempo — explicou a garotinha, que em seguida se virou para ela novamente. — Como você soube que estávamos aqui? 

Ela deu um largo sorriso e sussurrou: — Claro que eu saberia para onde você estava indo.

O guerreiro estreitou os olhos. O prefeito pode ter dito algo, mas ainda seria difícil nos alcançar tão rápido.

Ashley se aproximou de Alexsander e puxou a ponta de sua capa enquanto flexionava um pouco as pernas — era o gesto de cortesia das mulheres nobres. 

— Desculpe interromper, Sir. Você permitiria que eu me unisse ao Lohan… aos meus antigos colegas mais uma vez em sua aventura?

O homem se surpreendeu com a educação, além do tratamento equivocado. Ele não sabia se ela queria agradá-lo ou se confundiu alguma coisa.

— Nós estamos indo para a masmorra. — Ele afiou o olhar. — Não é exatamente um passeio pelas planícies. 

A mulher manteve um sorriso educado no rosto.  

— Na verdade, eu também estou indo para lá… — Ela gesticulou e puxou um pergaminho fechado de dentro de suas roupas. — Apesar do que eu disse, não esperava encontrar o Lohan aqui.

O mago virou-se para a mulher e perguntou: — Você está atrás do desejo também?

— Existe algo que eu preciso. — Ela riu. — E o desejo é a maneira mais fácil de conseguir isso.

— Entendo… muitas coisas devem ter acontecido desde aquilo.

— Já que estamos indo para o mesmo lugar… Podemos ir juntos — ela disse.

Alexsander coçou o queixo e ponderou, mas não havia motivo para recusar no momento.

— Bem, se você é amiga deles, não teria porquê recusar. 

O guerreiro observou a interação dos dois e resolveu dar algum tempo a eles. Ainda restava algum tempo de Sol, mas não era um problema tão grande pausar a caminhada por enquanto. Após conversarem sem ver o tempo passar, enfim ficou noite.

Lohan se sentou em uma pedra perto da fogueira. Seus olhos pararam nos seus companheiros, cada um deles se afundava mais e mais no sono. As únicas exceções eram Paulo Horse, que meditava na grama, e Ashley, que o olhava com um sorrisinho de criança no rosto.

A elfinha suspirou, vendo seu corpo e suas perninhas finas. Aquilo era tão chato e irritante, estava farto.

— Amanhã meu corpo volta ao normal e poderemos aumentar a velocidade de caminhada... Essas pernas tornam tudo mais difícil. 

— Se quiser, eu posso te carregar o quanto quiser… — falou a mulher, enrolando os cachos nos dedos.

— Não, por favor, nunca… Ah, lembrei de uma coisa!

Lohan retirou de sua roupinha um livro de capa grossa. Se algum dia houve alguma inscrição no couro do objeto, já havia sumido completamente há muito tempo. 

— Vou compartilhar o conteúdo do livro que recebi. Tive um tempo na viagem para ter certeza de que não é amaldiçoado… Então escutem.

O livro não era encantado, diferente daqueles de habilidade, então restava ler da forma convencional. Seu conteúdo, entretanto, estava severamente comprometido, restando poucas páginas compreensíveis após tantos séculos.

 

Séculos atrás, registros apontam a chegada de um ser de fora do nosso plano astral. Ele trouxe consigo o dispositivo atualmente nomeado Artefato de Encadeamento, que permitiu às pessoas se comunicarem com as entidades além-mundo. 

Junto das entidades também vieram os desastres — labirintos colossais apareceram em diferentes pontos do planeta. Dentro deles, habitavam monstros e armadilhas.

Quando os primeiros corajosos e aptos venceram os desafios de uma masmorra, uma marca lhes foi atribuída. A surpresa, no entanto, veio aos curiosos que entraram em seguida: o labirinto continuava repleto de perigos. 

Minhas pesquisas indicam que a casualidade não segue o fluxo natural dentro das masmorras. Pude observar em um dos poucos que derrotou a segunda masmorra, outra marca fora adicionada por cima — perceptível apenas com magia de análise muitíssimo refinada.

Àquele que completasse os cinco desafios, seria dado o que desejasse. 

Motivados para obter qualquer coisa no mundo, indivíduos de todos os lugares se reuniram para desafiar estas masmorras. Incontáveis guerreiros pereceram diante das calamidades dos labirintos artificiais.

Ninguém, entretanto, retornou após desafiar a quinta masmorra. 

O plano, ao que parece, nunca foi ajudar… [o restante do conteúdo não é legível]

 

Assim que tentou decifrar o restante, aproximou o livro da luz da fogueira, porém ele escorregou de suas mãos e caiu direto nas chamas. Lohan entrou em desespero e tentou tirá-lo de lá, mas já era tarde. 

Deve ser o efeito da má-sorte que jogaram em mim… Perder um artefato desses é um pecado para toda a comunidade de pesquisadores.

Lohan percebeu que todos caíram no sono. Uma veia saltou da sua testa, não tinha como eles serem tão desatentos e ficassem entediados assim com a história do livro. No final não podia fazer nada além de suspirar e usar o saco de dormir para descansar. 

O sono não veio, a elfinha rolou de um lado para o outro sem poder dormir. Descontente, levantou de novo e foi na direção da bolsa sem fundo de Alice, de onde tirou o livro de habilidade do Pacto do Aventureiro. Leu-o, ganhando uma expressão de surpresa e ao mesmo tempo de espanto em seu semblante.

Aquela habilidade não era algo normal, na verdade era semelhante a uma armadilha disfarçada de acordo. Eu não devia confiar nisso… mas… eu necessito do máximo de conhecimento e poder agora. Mesmo que custe caro, eu vou descobrir como… mestra. 

Ele respirou fundo, e então aceitou as condições da habilidade. Sua virilha repentinamente esquentou, o calor deu origem a uma marca em formato de coração, com um segundo coração interno e duas asas abertas para ambos os lados.

Lohan segurou seu choro de menininha o máximo que pôde, então viu um pequeno bloco flutuante à sua frente.

 

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Deseja fazer um pedido ao Deus das Aventuras?

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Lohan mudou sua expressão. Um olhar convicto estava estampado em seu rosto. 

— Me dê uma magia. A mais poderosa possível.

E assim o pacto entre o mago elfo e a poderosa entidade foi selado.

 

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