Masmorra do Desejo Brasileira

Autor(a): Alonso Allen & Zunnichi


Volume Único

Capítulo 5: Salvando Doveport

Alexsander continuava tonto por conta do golpe do líder dos homens-javali, mas não podia se dar ao luxo de esperar até estar em perfeitas condições. Paulo Horse e Minerva estavam fazendo o melhor para lidar com os outros oponentes.

— Vamos ajudar os outros. — Ele firmou a pegada em seu escudo e no sabre de aracne. — Lohan e Alice, quantos feitiços e milagres ainda podem usar? 

O mago respondeu de forma envergonhada: — Como eu usei duas bolas de fogo naquele porco antes… consigo usar apenas mais um feitiço. 

— E-eu ainda tenho bastante mana, posso usar… 4 milagres — respondeu Alice.

— Certo… Então vamos!

Logo o trio se juntou a dupla. Paulo Horse estava ferido, o cheiro de seu sangue se espalhava pelo ambiente como um miasma aos inimigos.

Os monstros entraram em um estado de fúria anormal. Atacavam com uma brutalidade e força que faziam o chão tremer, apesar de não serem comparáveis ao poder do líder.

O ladino tomou distância, mas era impossível manter o ritmo a todo momento. Depois de um salto para trás para recuperar o fôlego, um livro se materializou em suas mãos: tinha uma capa amarela com um símbolo de adaga no centro.

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Você recebeu o livro de habilidade Reflexos de Ancião-Javali

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— Bem na hora!

Ele abriu o livro com uma mão e sentiu sua cabeça doer. Aprender uma habilidade nova enquanto evitava ser atingido por um homem-javali levou seu cérebro ao limite. 

— Finalmente decidiram me ajudar, né? Então eu vou retribuir o favor!

Minerva ficou leve como uma pena, e a arma gigantesca de seu oponente agora parecia vir em câmera lenta na sua direção. Ele desviou em movimentos rápidos e fluídos, como se fosse uma folha ao vento.

Não demorou para que uma energia divina pegasse seu corpo, o que terminou a luta num piscar de olhos. Bastou o ladino sumir de vista que sua adaga perfurou o pescoço do porcão, fazendo-o cair com toda força na terra.

Ele olhou para trás e viu Alice, porém se decepcionou por ela estar com uma armadura completa de placas. A garota percebeu isso e estranhou.

— O que foi? Tem algo em mim…?

— Não, nada, esquece. — Suspirou, virando-se para a outra parte do grupo. — Bora logo terminar isso.

Paulo Horse e Alexsander andavam lado a lado contra o último grupo de homens-javali. Enquanto os punhos do monge quebravam as armaduras de ferro, o sabre do guerreiro dilacerada a carne como se fosse papel. 

De um a um eles caíram, até que Lohan com seu cajado invocou uma última bola de fogo que varreu os monstros que tentaram escapar. Enfim, tudo se acalmou e os aventureiros puderam tomar um pouco de ar após a batalha. 

Quando todos estavam descansando, uma mensagem foi emitida no Artefato de Encadeamento de cada um.

 

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O Deus das Aventuras e Tesouros, Esor, recompensa os aventureiros.

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Uma janela surgiu para Minerva.

 

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Você recebeu 60 moedas.

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— Isso aí! Valeu, deus das aventuras, eu tava muito duro mesmo!

Em seguida, foi a vez de Paulo Horse.

 

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Gatázias de Seth

Tipo: Arma

Atributos: +5 de sabedoria e +5 de destreza.

Descrição: Uma vez o Rei das Miragens forjou essas manoplas e deu para seu mais fiel discípulo. Perdida sob as areias do seu antigo reino, essas garras ilusórias encontraram seu novo portador.

Efeitos:

☆ Cria um clone de areia do portador que suporta um golpe antes de desaparecer.

☆ Pode não aumentar a força do usuário, mas inflige o status de loucura em quem acertar.

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Com certo receio, Paulo Horse colocou o par de manoplas nas mãos. Elas lembravam um tigre do deserto, um grande felino que caçava grandes bestas na sua terra natal. Acenou com a cabeça em agradecimento, testando com breve socos no ar sua recém-adquirida arma.

— São bem poderosas…

— Realmente são, caro Horse. — Lohan soltou um sorriso e começou a caminhar na direção dele. — Você com essas coisas vai destruir qualquer…

Antes de chegar nele, tropeçou numa pedra e bateu com a cara no chão. 

— Vo-você está bem?!

— Aí… meu nariz… — Levantou-se devagar com uma das mãos no rosto e os olhos lacrimejando. — Por que isso aconteceu comigo justo agora?

 

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O Ancião-Javali lança sua influência sobre as cordas do destino. O azar espreita pelo seu futuro.

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— O que!?! Não pode… Ah, como eu fui burro! Era óbvio que alguém me amaldiçoaria se o matasse daquela forma! Eu devia ter me controlado melhor…

— Você está com azar…? Seria melhor sair daqui, senão pode acontecer algo…

— Hah… não tem outra forma mesmo. Vou torcer pra vocês conseguirem ajudar os outros, já que meu corpo e esse azar não me ajudará em coisa alguma.

Lohan caminhou ao lado de Minerva, que por algum motivo decidiu acompanhá-lo. Pouco a pouco as chamas baixaram, deixando que os aldeões pudessem ver o estrago da luta. Era um cenário triste — casas desabadas, cadáveres, sangue pelo chão e um cheiro podre no ar.

O grupo tentou ao máximo ajudar para amenizar os danos, mas o estrago estava feito. Tudo o que podiam fazer era evitar que tudo piorou.

 

☆ ☆ ★ ☆ ☆

 

Passaram algumas horas desde o ocorrido, o grupo inteiro continuou dividido. Alice curou os feridos, Alexsander e Paulo Horse colaboraram para remover os destroços e entulhos. 

Minerva e a garotinha elfa chamada Lohan não podiam fazer tanta coisa, então permaneceram distantes da atmosfera sufocante de melancolia daquele lugar.

Ficar do lado de seu melhor amigo na forma de menininha era uma situação extremamente esquisita, mas o punk tentou ignorar o assunto. 

Contudo, quando Minerva conseguiu ignorar o fato, Lohan fez o impensável: pegou um pirulito do bolso. 

— Ei… não é bom comer doces antes da refeição, garotinha — soltou o maior, apontando para o pirulito.

— Vai se foder, Minerva. — O mago o encarou com um ódio extremamente fofo. — Graças àqueles javalis, não deu para almoçar, e eu só tenho essa porcaria de doce comigo.

Depois de provocar Lohan, o ladino lembrou do grande estrondo e da explosão de chamas que viu no meio da batalha. A única pessoa que podia fazer isso era ele, já que era o único mago poderoso o bastante presente em Doveport no momento.

Curioso, perguntou sobre como seu amigo adquiriu um poder tão esmagador de uma hora para a outra. 

— A Alice usou a benção da Deusa junto de uma nova habilidade de patrocinador… — respondeu, coçando o queixo por instinto de seu antigo corpo. — Foi a primeira vez que tive controle sobre tanto poder.

— Cara, que inveja. Chegou no nível da sua mestra então?  

Lohan ficou com um semblante apático.

— Não. Definitivamente não. Ela ainda é muito mais poderosa do que eu sou agora.

— Entendo. Por sinal, o que ela fez para ativar essa habilidade nova?

— Hmm… ela disse que usou uma calcinha de coelhinho até os quinze anos.

— Hahahaha é bem a cara dela…

 

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Benção da fofoqueira

Você descobriu um segredo. 

A habilidade foi ativada.

[ Sorteando o efeito aplicado ]

[ Sorteando o tempo do efeito ]

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O ladino encarou a janela com atenção. Era a primeira vez que a skill seria ativada e a antecipação do resultado apertava seu peito. Existiam ao todo dez possibilidades na habilidade e estava tudo na mão do acaso.

Os efeitos variavam enormemente entre eles. Seus títulos eram: Fúria, Monstro de Tentáculos, Fursona, Criança Interior, Bêbado, Troca de Corpo, Transformação em Objeto, Ataque da Víbora, Armadura de Portal e Sensível.

— Minerva, para onde você está olhando?

 

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Benção da fofoqueira

Efeito sorteado: Criança Interior

Descrição: Você se transformará em uma versão infantil e fofa de si mesmo. Todos os seus atributos serão diminuídos em 5 pontos. Inimigos não atacarão a não ser que sejam atacados previamente. Essa aparência também lhe faz ser subestimado, permitindo agir antes de seus oponentes.

Tempo sorteado: 10 horas

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Merda. Logo em seguida, seu corpo inteiro brilhou em uma luz esverdeada. Seus músculos e ossos se contorceram por dentro, enquanto o ambiente ao redor parecia cada vez maior.

Quando a luz diminuiu, as roupas do ladino já não serviam mais nele. O punk tentou ajeitar as vestimentas enroladas em seu corpo, enquanto Lohan se aproximou dele calmamente.

A elfa loira encarou o jovem Minerva com olhos sérios, mas isso não durou muito e logo em seguida soltou uma gargalhada que parecia presa há muito tempo.

— HAHAHAHHAHAHHAHA! — Apontou os dois indicadores enquanto se contorcia rindo. — Você também! HAHAHAHAH. Depois de me provocar tanto, teve o mesmo fim!!

— Droga! Droga! Droga! Isso é tudo porque você me contou sobre a merda da calcinha de coelho!

— Bem. Fei. To. 

Minerva quis discutir com o mago, mas sua visão começou a embaçar e ele caiu de joelhos no chão.

— Lohan… eu não estou me sentindo bem.

A expressão de deboche do elfo sumiu de seu rosto quando o companheiro disse isso de forma tão séria. Ele se abaixou e perguntou detalhes sobre a habilidade.

A causa do mal-estar não estava propriamente na transformação, mas no efeito secundário da habilidade de perder 5 pontos em todos os atributos. O ponto principal era: Minerva tinha menos de cinco pontos em dois atributos, Sabedoria e Mana.

Os valores indicados pelo artefato de Encadeamento são meras traduções feitas para melhor visualização e compreensão por parte do usuário. Ter a mana zerada traria grande exaustão e era um fenômeno comum para praticantes de magia e sacerdotes.

Contudo, ficar com esse atributo abaixo de zero — ou seja, ultrapassar os limites do corpo — traria um efeito colateral chamado de reversão de mana.

O mundo sempre busca o equilíbrio. Quando ficamos com menos mana do que o ambiente ao redor, ficamos sem proteção natural e ela invade nosso corpo. Neste exato momento, Minerva estava sofrendo os efeitos colaterais da Reversão de Mana.

— Lohan… eu estou com frio.  

— Fique sentado e espere um pouco. Eu irei chamar a Alice. 

Com toda a velocidade que podia ter, o mago trouxe a sacerdotisa para o local onde Lohan estava desfalecido. Para poupar tempo, explicara tudo no caminho. 

— Suba cinco pontos em mana, Alice!

— Ce-certo! — Rapidamente a sacerdotisa conjurou o milagre Benção da Deusa, fornecendo instantaneamente a mana que Minerva havia perdido.

Seu rosto, que estava pálido, recuperou a cor. Seus olhos ganharam brilho novamente e ele respirou profundamente.

— Uufa. Eu pensei que fosse morrer.

— Como você se sente? — ela perguntou e em seguida se virou para Lohan. — Devo… aumentar algum outro atributo também?

Antes de responder, Lohan analisou o ladino de cima a baixo.

— Acredito que não. Sabedoria é relevante apenas para quem usa milagres, não deve ter nenhum grande efeito. — O mago entregou seu antigo cajado ao companheiro. — Pegue isso antes que o buff da Alice acabe. Vai te dar mais 6 de mana, mais do que suficiente para impedir os efeitos colaterais da habilidade.

Agora que Minerva não corria mais risco de vida, a menina podia finalmente falar: — Minerva, vo-você está muito… FOFO. 

Enquanto a clériga se aproximava, ele protestou: — Sai fora, Alice… Não me aperta, me solta!

— Hahahaha! — riu Lohan. — É como dizem, o castigo vem à galope.

— Que droga… 

Depois de ser salvo, eles voltou para a estalagem do gato Erwin. O efeito passaria em apenas dez horas e já estava anoitecendo, então não valeria a pena comprar uma roupa nova. 

Decidiu que iria apenas atirar as roupas que agora estavam muito grandes nele em algum canto do quarto e ir dormir. Sua primeira experiência com a habilidade havia sido traumática.

Quando o ladino foi embora, um pequeno objeto metálico apareceu no chão à frente de Lohan e uma mensagem foi exibida.

 

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O Sucateiro lhe entregou um item

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Lampião

Tipo: Item

Descrição: Resistente ao vento e à água. Guia seu caminho na escuridão.

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— Parece um lampião normal. Ótimo — falou o mago, que se abaixou e pegou o objeto. — Essas entidades são sempre tão problemáticas… Precisamos tomar cuidado.

— Você não confia em nenhum dos patrocinadores que te ajudou? 

— Eu só confiei em uma pessoa nestes trezentos anos... Mas nosso relacionamento com as entidades nunca foi uma questão de confiança. 

— O que você quer dizer com isso?

— Existe um fenômeno na natureza chamado mutualismo. Em que existe uma relação entre duas espécies, onde uma se beneficia da outra.

O mago olhou para o céu estrelado. Antigamente, observar o brilho dos astros distantes era uma das coisas que mais gostava de fazer. A curiosidade sempre foi parte de sua personalidade, mas já fazia tempo que seu foco mudou para apenas uma coisa.

— Enquanto eu tiver algo a ganhar que me deixe mais perto de alcançar meu desejo, irei aceitar algumas das consequências desse envolvimento.

Alice estava desconcertada. Havia um sentimento de tristeza profunda em Lohan, parecido com o que sentia em Alexsander. 

—  Isso é perigoso… Você tem certeza que vale a pena se arriscar assim?

O mago exibiu um sorriso triste, e falou como se recitasse um mantra: —  Nossa vida vale a pena somente quando nós encontramos algo pelo qual vale a pena morrer. 

Dessa forma, a conversa dos dois se encerrou. Retornaram em silêncio para a estalagem. 

O grupo inteiro estava cansado, então os cinco comeram e depois dormiram sem dificuldade. 

 

☆ ☆ ★ ☆ ☆

 

Alexsander se contorcia em sua cama, preso num sonho sombrio e frio. Uma mulher de pele vermelha chorava soluçando diante dele, abraçada nas próprias pernas e encolhida no meio de uma imensa escuridão. Novamente não havia nada ali além dos dois.

— Eu não te conheço. — falou Alexsander, parado perto dela. — Por que aparece nos meus sonhos?

O soluço choroso cessou e ela levantou a cabeça, seus olhos felinos e seus chifres animalescos novamente destoavam do seu comportamento sofrível… humano.

— Você precisa me ajudar.

Irritado, gritou: — O que você quer de mim?!

— Não confie em Charles Cooper.

Ao final da frase, a mulher desapareceu. Agora sozinho na imensidão vazia e escura em sua mente, Alexsander em seguida acordou.

Ao abrir os olhos, viu o teto de madeira da estalagem. Com pressa, levantou da cama. Pela segunda vez teve esse pesadelo estranho e pela segunda vez sentiu-se cansado ao acordar.

A memória era clara, mas não deixava de ser confusa. 

— Quem é Charles Cooper? — perguntou para si mesmo.

— Ah… bom-bom dia. Você acordou cedo hoje.

— Bom dia, Alice.

— Você… me perguntou alguma coisa antes?

Alexsander negou com a cabeça.

— Apenas… pensando alto. 

Novamente o silêncio pairou no cômodo. Sem falarem nada, saíram do quarto. Era impressionante como a estalagem permaneceu de pé após os ataques — o motivo era simples: a magia protegeu o lugar.

Enquanto diversas residências foram derrubadas pelos homens-javali, o Descanso do Gato Morto continuou em perfeitas condições — apesar de sua aparência padrão não ser muito bonita. Antes de Doveport ser uma cidade “segura” de monstros, Erwin recebia clientes todos os dias.

Uma pessoa que precisa aguentar a pressão de ser atacada enquanto dorme quase todas as noites certamente gostaria de descansar em um lugar em que não precisaria se preocupar com isso.

Alguns veteranos diziam que a cidade cresceu por causa do porto. Outros disseram que o porto cresceu por causa da cidade. Também haviam aqueles que diziam que ambos só surgiram depois da pousada. 

Independente do que fosse, Erwin raramente comentava sobre a origem da estalagem. “Águas passadas não movem moinhos”, esse era o ditado favorito do gato.

Depois que o grupo inteiro se reuniu e comeu o café-da-manhã, o gato discutia com Paulo Horse.

— Eu já falei, humano... Aqueles aventureiros certamente não irão mais voltar… Farei uma exceção e deixarei você ficar com um quarto no outro andar.

— Já disse que não há necessidade, senhor Erwin. Em meu treinamento aprendi a dormir sentado, sempre pronto para qualquer perigo. Não se incomode comigo.

— Dormir no meio da entrada é estranho, isso vai incomodar os outros hóspedes! — protesteu o gato negro.

— Hahaha, mas foi você que disse que eles não iriam mais voltar... Então não tem ninguém para se incomodar comigo.

— Você que sabe. — O felino revirou os olhos e sumiu como fumaça.

Em seguida, alguém bateu na porta. Como Erwin acabara de sair, o monge abriu a porta.

Um homem encapuzado estava parado na frente da porta. Ele carregava um pergaminho em sua mão.

— O que deseja? — perguntou sorridente.

O indivíduo misterioso desenrolou o papel e leu em voz alta: — Aos prezados, Alice, Alexsander, Minerva, Lohan e Paulo. Vocês estão convidados para uma reunião com o prefeito de Doveport. Hoje, antes do meio-dia. — Ele fechou o pergaminho e continuou: — Sigam pela estrada do porto e virem à direita na rua do mercado da cidade, dois quarteirões depois é a prefeitura.

O monge elevou uma sobrancelha, desconfiando dal pessoa. 

— Sobre o que se trata essa conversa? 

— É sobre suas recompensas por ajudar na proteção da cidade. 

Depois que terminou de falar, o encapuzado virou as costas e foi embora.

Que sujeito antipático, pensou Horse. Em seguida, chamou o grupo e avisou sobre a reunião. 

A princípio não demonstraram muito interesse, mas quando a palavra “recompensa” foi citada, todos aceitaram ir… Principalmente Minerva, que apressou o grupo para ir o mais rápido possível.

Seguiram o caminho indicado e pararam diante de um prédio branco, com três andares de altura, completamente feito de pedra branca. Apesar de vários pontos da cidade estarem destruídos e com marcas da batalha de ontem, a zona ao redor da prefeitura estava intacta.

A segurança aqui certamente era maior que nas outras áreas. Como sempre, aqueles que deveriam ser responsáveis pela segurança dos outros se preocupam primeiro com eles mesmos, constatou Alexsander.

Ao baterem na porta, um mordomo os atendeu.

— Vocês devem ser os aventureiros que protegeram a região portuária. Me sigam, por gentileza — disse ele, guiando-os para um salão no segundo andar.

O mordomo abriu duas grandes portas de madeira e andou até o lado de um homem que aguardava sentado em frente a uma mesa retangular. Cochichou algo em seu ouvido e depois se retirou.

Os aventureiros se sentaram nas cadeiras dispostas nas laterais da mesa e o mordomo saiu, fechando a porta atrás dele.

— Bem-vindos, grandes aventureiros. Espero que tenham descansado. Eu sou o prefeito desta próspera cidade. Vos convidei aqui hoje para prestar meus agradecimentos e, claro, recompensar o digníssimo trabalho de vocês na proteção da cidade. 

Alexsander, Minerva e Paulo Horse se sentiram oprimidos pela atmosfera do político. Não por ter uma aura maligna ou por ser forte, mas… por falar de um jeito difícil. 

— É nosso trabalho proteger a população e caçar monstros — falou Lohan, quebrando o silêncio por parte do grupo. — Claro, nós somos aventureiros, prestamos esse serviço em troca das bonificações pré-definidas nas recompensas.

Como esperado desse mago arrogante. Mesmo que tenha a aparência de uma menininha fofa, ele sabe como falar, pensou o guerreiro.

O prefeito se surpreendeu com a forma que uma garotinha o respondeu. Mas ao olhar suas orelhas pontudas e seu cabelo loiro, sua surpresa diminuiu. Uma elfa pura… apesar da aparência, pode ter mais de cem anos.

— Geralmente, em situações assim, a guilda emite uma recompensa logo após. — Lohan olhou para o monge ao lado dele. — Contudo, meu amigo aqui esteve na guilda mais cedo e nenhuma publicação havia sido emitida.

Paulo Horse concordou com a cabeça. Assim que o sol nasceu, ele conferiu os arredores e verificou as informações na sede da guilda de aventureiros.

O prefeito manteve a mesma expressão de antes e cruzou as mãos sobre a mesa. 

— Naturalmente, em Doveport a minha política é de resolver tudo diretamente, quanto menos intermediários melhor. 

Pegando uma folha que estava dentro de uma gaveta, o prefeito conferiu algumas informações. 

— Confirmados que o grupo de vocês derrotou dez soldados dos homens-javali. Além disso, venceram o líder do bando, Kamo Kronner. 

— Parece que vocês fizeram o dever de casa — comentou Minerva.

O prefeito sorriu e concordou de forma altiva: — Uma cidade eficiente precisa de um prefeito eficiente no comando… Dito isso.

Levantando da cadeira em que estava, o homem bateu palma duas vezes. As portas se abriram e funcionários carregando uma caixa entraram na sala. Com um gesto do político, eles deixaram o engradado em cima da mesa.

— Aí dentro estão mantimentos suficientes para um grupo de dez pessoas ir de Doveport até a Masmorra das Planícies. Como vocês estão em cinco, deve sobrar para sua jornada até a próxima masmorra também.  

Os cinco se entreolharam. Alexsander estava especialmente surpreso.

— Como você sabia disso? Não contamos para nenhuma pessoa da cidade.

O prefeito sorriu e deu de ombros.

— É apenas natural que um prefeito saiba aquilo que se passa dentro da própria cidade. 

Lohan cruzou os braços e ajustou sua postura na cadeira antes de perguntar: — Você está dizendo que vai nos dar cem porções de comida como pagamento?

— São cento e vinte, na verdade — corrigiu o homem.

— Ce-cento e vinte!? Isso dá umas… umas seiscentas moedas — disse Alice, com um olhar de espanto e preocupação.

— Deve dar algo próximo disso na loja do Artefato, mas isso é apenas para aventureiros em situações de necessidade — interrompeu Minerva. — Pobre nenhum conseguiria sobreviver se precisasse gastar cinco moedas de ouro todos os dias somente para comer.

Os demais concordaram com a explicação, enquanto Alice ficou vermelha e abaixou o rosto. Eu gastei aquilo tudo em comida na loja sem necessidade daquela vez… que vergonha!

— O valor exato não importa também — disse o prefeito. — Esses suprimentos foram dados pelos mercadores. Os homens-javali roubariam tudo que pudessem carregar e queimaram tudo aquilo que não conseguissem levar .se não fossem impedidos por vocês.

— Isso é apenas um agradecimento por parte da população? Compreendo, então… — A pequena elfa fitou o homem. 

Tirando um saco de couro do bolso e atirando sobre a mesa, o político falou: — Dez moedas por cada soldado, mais vinte moedas pelo líder. Total de cento e vinte moedas como pagamento pelos serviços.

Com um salto ágil e feroz, o ladino se colocou sobre a mesa e agarrou a bolsa de moedas de ouro. 

— Caralho! É disso que eu to falando. 

O punk abriu o saco e contou todas as moedas, confirmando o total de cento e vinte em poucos segundos. Em seguida, dividiu em quatro partes quase iguais.

— Vinte e quatro moedas para cada um de vocês — disse empurrando a parte de Alexsander, Alice e Lohan. — E quarenta e oito para mim;

— Mas… e o senhor Horse? — questionou Alice.

Alexsander franziu o cenho e reclamou: — Seu bandido, vai mesmo roubar o homem? 

Por outro lado, o monge em questão apenas riu.

— Hahaha, está tudo bem, companheiros. O acordo era de passar minha parte para ele.

Minerva possuía um brilho maligno nos olhos, enquanto repetia: — Isso mesmo, Alexsander. Ele concordou. Foi o acordo! 

O guerreiro limpou apertou as pálpebras com a ponta dos dedos, sentiu que estavam sujos depois do que acabou de ver. Ele ignorou o assunto e seguiu com a conversa.

— Iremos aceitar as recompensas — Encarou para a sacerdotisa. — Alice, por favor guarde tudo na sua bolsa mágica.

A clériga concordou e começou a transferir as rações do engradado na mesa para sua mochila sem fundo. 

— Bem, era isso que queria tratar com vocês. — O homem andou até a porta e disse algo para o mordomo que trouxera eles até ali. — Tenho assuntos urgentes a tratar, então não poderei conversar mais. Desejo boa sorte e uma rápida jornada até a masmorra.

Sem deixar que ninguém falasse mais nada, o homem sumiu no corredor. 

Quando Alice terminou de guardar os alimentos em sua bolsa, o funcionário novamente começou a guiar o grupo.

No caminho, Lohan e Alexsander trocaram sussurros. Era um pouco difícil devido a diferença de altura atual entre os dois, mas o mordomo não parecia ouvir nada.

— Isso é muito suspeito. Eles tinham informações demais sobre nós em tão pouco tempo — comentou Alexsander.

A menina elfa concordou: — Suas atitudes eram suspeitas também. Até mesmo as palavras escolhidas reforçaram isso.

— O que você acha?

— Eles nos desejaram uma boa e rápida viagem, além disso deram suprimentos para que possamos iniciar o percurso... 

— Agora que você disse… o prefeito falou “deve sobrar para sua jornada até a próxima masmorra.”

— Apesar de proteger a cidade, não desejam nosso retorno. Ou seja, nos querem longe daqui. 

Quando finalmente chegaram na porta, o mordomo agradeceu: — Obrigado pela ajuda, aventureiros. Que as estrelas iluminem seus caminhos. 

— Antes de irmos, tem uma coisa que eu gostaria de perguntar.

O mordomo manteve uma expressão séria.

— Se estiver ao meu alcance.

— Eu vi uma placa no caminho — mentiu. — Dizia Charles Cooper… quem seria?

O mordomo exibiu um sorriso debochado, como se fosse uma pergunta idiota.

— Esse é o prefeito.

Alexsander sentiu como se algo na sua cabeça se conectasse. Ele agradeceu e o grupo fez seu caminho de volta para a estalagem.

O guerreiro pensou sobre tudo que tinha acontecido, mas a conclusão ainda era a mesma.

Seu objetivo ainda era o mesmo.

— Vamos iniciar nossa viagem para a masmorra ainda hoje — disse de forma assertiva.

— Já era hora! — falou Minerva.

— Temos suprimentos e equipamentos novos. É o momento perfeito para partir — concordou o monge.

Os aventureiros se despediram de forma breve das pessoas que ajudaram antes e informaram para Erwin que estavam de partida. O gato desejou boa sorte ao grupo e pediu que eles voltassem no futuro. 

Finalmente poderiam começar a jornada de verdade. 

 

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