Masmorra do Desejo Brasileira

Autor(a): Alonso Allen & Zunnichi


Volume Único

Capítulo 4: Javalis e uma Garotinha Elfa

Nas profundezas de uma das poucas florestas próxima de Doveport, vozes que pareciam humanas se misturavam a urros animalescos. O eco causado pela mata dificultava saber de onde vinham, mas para qualquer residente das imediações sua origem só poderia ser uma: o covil dos homens-javali.

Dentro dessa úmida e profunda caverna andavam alguns dos piores e mais desprezíveis seres do continente Lorun. Eles eram os monstros no topo da cadeia alimentar nesta região. 

Com a voracidade inata dos animais e com a malícia da qual os humanos, qualquer coisa no caminho dos homens-javali seria destruída ou devorada da pior forma.

Seu líder, Kamo Kronner, estava na parte mais profunda da caverna e se deliciava com as fêmeas sequestradas pelo bando. Quando enfim se sentiu minimamente satisfeito com a perversidade, rumou para a parte mais ampla da toca — onde seus aliados se reuniam.

Os homens-javali bebiam e comiam como verdadeiros animais. Seus focinhos eram compridos e grossos, com um par presas maiores que pontas de lança. Vestiam armaduras imundas, manchadas, arranhadas e amassadas por conflitos.

— É hoje, camaradas! — gritou o líder, fazendo a caverna inteira tremer. — Iremos saquear aquela maldita cidade! Levaremos toda a bebida. Toda a comida. E todas as fêmeas! 

Os monstros balançaram suas armas para cima e urraram em resposta.

— Este é nosso primeiro passo… NOSSO PRIMEIRO PASSO PARA SERMOS OS MAIORES DO MUNDO!

Os urros aumentaram junto da motivação perversa do bando. Eles enfim marcharam para fora da caverna, derrubando árvores e matando qualquer criatura que cruzasse o caminho.

À frente do exército, o líder agitava sua grande clava em antecipação a vitória. Com um gesto de mãos, lacaios trouxeram seu artefato de batalha: um elmo metálico com um par de chifres protuberantes.

Em seu focinho, exibia um sorriso perverso. Sua mente só conseguia pensar na bebida e nas fêmeas que tomaria para si quando destruíssem a cidade.

☆ ☆ ★ ☆ ☆

Alice não conseguiu dormir de nenhuma maneira. Ela se revirava na cama, perturbada pelo pensamento de mais cedo. Para ocupar a mente, decidiu cair de cabeça na loja e nas recompensas adquiridas ao longo do dia anterior. A primeira coisa era o robe. 

É muito útil para usar meus milagres… mas… por que os patrocinadores tiveram que enviar uma roupa dessas? Deixou a roupa de lado e em seguida foi para o livro de habilidade: Cântico Constrangido. 

O nome criou uma série de receios, mas o abriu mesmo assim. Quando o conhecimento da habilidade preencheu a mente, corou de vergonha.

 

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Cântico Constrangido

Tipo: Passivo

Descrição: Toda vez que entoar uma magia, no meio do cântico a sacerdotisa deve falar algo constrangedor, aumentando a efetividade de qualquer feitiço em 50%. Isso salvará vidas, sabia?

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Algo… constrangedor… Se vergonha matasse, eu teria morrido dezenas de vezes a essa altura. Balançou a cabeça, dispersando descrição da habilidade e então observando a mensagem de uma das entidades: a Fofoqueira. 

Ela só devia tocar no ombro de alguém que gostasse… bom, depois de tudo o que aconteceu e levando em conta o horário, era algo fácil que podia resolver. 

Levantou-se da cama devagarinho e foi na direção de Alexsander, então tocou no ombro dele e voltou à cama com o coração batendo muito rápido. Ao menos havia feito.

Agora era a vez da entidade que mais a ajudou, Ojou-sama. A primeira coisa a se estranhar era sobre o tal item amaldiçoado de antes, o que Alice não acreditou nem um tiquinho — pelo tanto de ajuda recebida pela entidade, mesmo que tenha sido extremamente vergonhoso, ela ainda conseguiu feitos que facilitaram muito a viagem. 

Além de confiar na entidade, já havia conhecido pessoas com aquela habilidade que fora presenteada, que seriam outros sacerdotes do Templo da Deusa. Por isso, sem medo algum, abriu o livro da habilidade Purificar.

 

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Purificar

Tipo: Ativo

Descrição: Retira maldições da alma, cura venenos e toxinas.

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Sabia! Ele não pode ser mal se deu uma habilidade tão útil a mim! 

Sorriu, sua intuição não poderia estar mais certa. A última coisa a se verificar eram os itens dentro da bolsa sem fundo. Tirou tudo de lá e separou cada um, a primeira foi um par de anéis.

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Anel de Atributo +1 sabedoria

Anel de Atributo +1 força.

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O de sabedoria é perfeito pra mim, mas pra quem eu entrego esse segundo? Espera, por que eles estão combinando…? Seriam anéis de compromisso?!? Não, eu não posso entregar isso pra outra pessoa assim tão casualmente! Guardarei o segundo por agora, é o melhor a se fazer.

De resto eram os sacos de dormir e as poções. Baseado no atributo que elas influenciavam, Alice separou uma para cada um de seus amigos na seguinte ordem: a de Força seria para Lohan, pois ele era fraco que doía; a de Resistência para Alexsander; e as duas de destreza para Minerva e o senhor Horse. 

Quanto aos sacos de dormir, apenas manteria guardado na mochila por enquanto. Dois não eram suficientes para todos, mas pelo menos ajudariam durante a viagem.

Suspirou, o sono ainda não havia chegado, então optou por abrir a loja e verificar o que podia fazer com a quantia estonteante de moedas guardadas.

Não queria gastar muito, logo pegou só três itens que pudessem melhorar um pouco a performance do grupo, que seriam: o Cajado de Fogo para Lohan, as Sandálias Leves para Minerva e o Escudo com Brasão Apagado para Alexsander. 

Estava em dúvida do que comprar para o monge, logo deixou a escolha para outro momento. Ao todo foram 80 moedas, uma quantia boa o bastante.

Escondeu os itens dentro da bolsa sem fundo, amanhã entregaria todos assim que acordassem e partissem para a próxima aventura. 

No meio de tudo isso, uma nova janela apareceu diante de seus olhos.

 

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Você recebeu o livro de habilidade Superchat de Ojou-sama.

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Ojou-sama lhe enviou uma mensagem

Buahahahaha 

Se precisar de ajuda, pode usar a habilidade que eu te entreguei. Quando suas moedas acabarem, te enviarei mais.

Continue com o bom trabalho e receberás mais recompensas.

Buahahahaha 

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Vou vê-lo agora! Alice pegou o livro e o leu, sendo novamente bombardeada de conhecimento.

 

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Superchat

Tipo: Ativo

 

Descrição: Você pode fazer uma pergunta para Ojou-sama ou A Fofoqueira. Cada palavra na mensagem lhe custa 1 moeda. Ela pode responder utilizando 1 palavra por moeda gasta na sua pergunta. A resposta estará limitada à capacidade da entidade de responder as perguntas.

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Eu devia usar isso agora. Só que…  o que eu deveria perguntar exatamente? 

Enquanto pensava, uma mesa semi-transparente surgiu diante dos dedos dela. Com diversas letras diferentes gravadas em pequenos botões.  

Alice respirou fundo e apertou os botões. Perguntando a primeira coisa que veio à sua cabeça.

 

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Superchat

Você gastou 30 moedas

Mensagem enviada: 

Ojou-Sama, eu sou agradecida por todos os presentes que deu, mas, depois do que a outra entidade me disse, eu preciso perguntar: Você realmente me deu um item amaldiçoado?

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Poucos segundos depois, bem mais rápido do que Alice esperava, uma resposta chegou:

 

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Superchat

Mensagem recebida: 

Não, eu não teria o porquê fazer isto. Era apenas uma roupa antiga minha. Vou enviar uma armadura nova para você, fique a vontade para usar quando achar necessário.

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Em seguida, uma notificação foi recebida pelo artefato de encadeamento de Alice.

 

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Ojou-sama lhe enviou uma armadura

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Armadura de Adrielle

Tipo: Armadura

Atributos: +20 destreza

Descrição: A armadura utilizada pela paladina Adrielle durante a libertação do templo.

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O conjunto de peças metálicas caíram do teto. Por sorte, bem em cima da cama, evitando um estrondoso barulho no quarto. Alice pegou as luvas e estranhou o peso, eram leves demais para uma armadura de metal, assim como todas as outras partes. 

No entanto, aquilo era mais que uma prova de confiança de que Ojou-sama não lhe desejava mal, jogando toda a suspeita para o Deus Esor. 

A entidade poderia muito bem ser maligna, como Nehtek, que amaldiçoou Paulo Horse. Além disso, até então nenhum outro patrocinador teve tanto contato com eles quanto Esor. 

Esse, contudo, era um mistério para ser resolvido mais tarde. Alice juntou tudo e guardou na bolsa sem fundo. Um pouco menos tensa, se deitou para tentar dormir.

Assim que estava novamente na cama, olhou para Alexsander do outro lado do quarto.O homem estava se contorcendo na cama. Seu rosto exibia uma expressão de agonia, como se sofresse. 

Ele deve estar tendo um pesadelo… 

Na mente do guerreiro, uma mulher de pele avermelhada estava diante dele. Com as mãos, ela cobria o rosto. O choro ressoava pelo vazio do pesadelo, como se dezenas de pessoas sofressem ao mesmo tempo.

Estava claro para o homem que aquilo não era o mundo real, mas sentiu-se impelido a perguntar: — Quem é você? Por que chora?

Momentaneamente, o som foi interrompido. Tirando as mãos da frente do rosto, a mulher encarou o guerreiro. Suas íris eram amarelas e suas pupilas eram estreitas, animalescas. Um par de chifres negros saltava de sua testa e ia para trás, se unindo ao cabelo preto.

Sua expressão era de angústia, quando ela suplicou: — Me ajude. 

— Aaaah!! — gritou o guerreiro, agora em sua cama. 

Os lençóis estavam encharcados de suor e sua respiração estava ofegante. Sentiu-se cansado, como se estivesse treinando há muito tempo. Ao lado do homem, Alice o encarava com olhos preocupados.

— Vo-você está bem? — Ele entrelaçando suas mãos na dele

— Sim, foi só um… sonho estranho. 

Antes que a sacerdotisa pudesse responder alguma coisa para o companheiro, o monge de pele escura abriu a porta do quarto com pressa.

— Companheiros, parece que temos um problema… Ah, desculpe interromper, mas é importante… Estarei esperando do lado de fora da estalagem. 

Tão rápido quanto abriu, Paulo fechou a porta. Quando os dois olharam para suas mãos, um silêncio constrangedor preencheu o ambiente. 

Alice deu um pulo para trás, se desculpando pelo mal entendido. Alexsander por outro lado, estava com a mente em outro mundo, pensando no sonho que teve, então nem se importou.

— Irei me trocar no saguão, fique à vontade para se vestir no quarto. — O guerreiro pegou suas roupas e armas e atravessou pela porta. 

Vendo isso, Alice reclamou em sua mente: Você poderia ter ficado pelo menos com um pouco de vergonha… 

Quando Alice terminou de se trocar, foi para o lado de fora do Descanso do Gato Morto, onde o monge e o guerreiro já conversavam. No momento que a notaram, Horse se virou na direção dela.

— Me desculpe por antes. Alexsander já me explicou que eu entendi errado. 

Ela encarou o guerreiro, que tinha um semblante sério e distante, era como se falassem de outra pessoa.

— Agora que você está aqui, irei direto ao ponto — falou Horse. — Nosso companheiro mago foi amaldiçoado por um patrocinador!

— Que-que tipo de maldição?!

— Bem… é melhor você ver por conta própria.

O monge pediu para que esperassem um pouco. Sem demorar muito, apontou para Minerva, que acabara de sair de uma loja próxima. Ao lado dele caminhava uma menininha elfa de cabelo loiro longo, usando um conjunto de roupas super fofas e com um pirulito gigante nas mãos.

A expressão da garotinha era uma vermelhidão sem fim de raiva. Ela parecia discutir com o ladino de cabelo verde.

— Demos sorte de conseguir uma roupa do seu tamanho, hein — falou Minerva.

— Não fale mais nada.

— Você até ganhou um doce. 

— Silêncio! Isso é tudo culpa sua!

— Qual é. — O ladino esquivou de uma pirulitada. — Eu só ia conferir o preço da poção no mercado!

— A última vez que você foi “conferir” o preço de algo, vendeu a raiz de mandrágora sem me perguntar, e agora não me avisou sobre essa poção e olhe o que aconteceu!

— Ela não parava de gritar!! Você também estava de saco cheio. Eu também não tenho culpa de você ter sido xereta!

— Ora, seeuu!!!

Alice estranhou a cena e se perguntou quem era aquela criancinha. Aproximou-se dos dois e, na tentativa de amenizar o problema, agachou-se e puxou o bracinho da garota.

— Não faça isso, é muito feio bater nos mais velhos, menina… 

— Hã? — A elfinha levantou a sobrancelha. — O que você tá falando, Alice? Eu sou o mais velho de todos vocês!

— Mais velho…?

— Essa é a maldição que eu falei antes — disse Paulo Horse, com um aceno de mão. — Nosso amigo foi transformado em uma garotinha depois de ter bebido uma poção!

— Quer dizer que… — Alexsander abriu bem os olhos, encarando a criança na frente dele. — O Lohan agora é uma… menininha? 

Lohan bateu os pés no chão, o que só reforçava sua aparência infantil, e reclamou: — Parem com isso, eu tenho mais de trezentos anos!!

— Sim, claro — Alexsander coçou a bochecha e encarou o ladino, que exibia um sorriso de quem claramente estava se divertindo com a situação. — Minerva, poderia contar o que aconteceu? 

— Bem, eu… — O punk coçou a garganta. — Por onde começo? 

— Foi o seguinte — interrompeu Lohan. — Esse sem-vergonha pegou um dos itens foi entregue pelo Deus das Aventuras, uma poção. Hoje de manhã acordei e vi ele saindo com a poção. 

— Eu disse que ia…

— Não me interrompa, estou relatando os fatos aqui — reclamou a criancinha élfica. — Como conheço bem esse ladino astuto, tratei de pegar de volta. 

— Mas… você bebeu ela por quê? — perguntou Alice.

As bochechas de Lohan ficaram vermelhas de vergonha. Unido com sua aparência atual, sua aura de sabedoria e intelecto costumeira agora era quase nula.

— Minha ideia era analisar os efeitos… a descrição do item não era suficientemente clara, dizia apenas “transforma a aparência de quem tomou para uma versão melhorada.”

Nesse momento, Lohan fez uma pausa e o ladino que estava ao lado parou de rir. Os dois companheiros de longa-data exibiam semblantes sérios.

— Eu pensei que poderia conseguir conhecimentos sobre aquilo que busco. 

Paulo Horse cruzou os braços e apertou os punhos e comentou: — Essas entidades doentes gostam de brincar com nossos sonhos e desejos mais profundos… 

— Enfim, retirei a tampa para coletar uma pequena fração do conteúdo… Assim que fiz isso, o feitiço no frasco se alastrou como fumaça ao meu redor e fiquei desse jeito.  

— Entendo… — Assentiu o guerreiro — … Então você ficará assim agora?

— Por sorte não, o efeito deve se dissipar em dois dias — comentou Lohan garotinha, enquanto fazia o gesto costumeiro de arrumar seus óculos, eles, porém, não estavam em seu rosto agora. — Curiosamente, minha visão ficou melhor.

— Eu vejo isso como uma vitória — provocou Minerva. 

O mago em corpo de menininha encarou furiosamente o ladino. Porém sua expressão, que deveria ser amedrontadora, era no máximo engraçada.

— Imagino que você não consiga lutar assim… pelo jeito vamos ter que esperar mais um pouco na cidade.

Alexsander estava com um rosto sério. Havia sido alertado que a viagem poderia demorar mais devido aos monstros no caminho, mas eles sequer iniciaram o trajeto para a masmorra das planícies e já havia acontecido tanta coisa.

— Pe-pessoal, talvez não seja o melhor momento — falou Alice. — Mas eu comprei algumas coisas para… distribuir para vocês.

— Agora que você comentou, de onde veio essa armadura espalhafatosa que você está vestindo? — perguntou o ladino.

— Eu recebi algumas coisas antes da Ojou-Sama, ela realmente é muito boa comigo. Apesar de parecer pesada, ela é bem leve e dá vinte pontos em destreza.

— Uma armadura que parece pesada, mas na verdade aumenta a velocidade ao invés da defesa? — Minerva olhou Lohan com o canto do olho antes de continuar. — Esses patrocinadores gostam de cada coisa estranha…

— Realmente parece imponente — comentou o monge. — Mas ainda prefiro a anterior. Essa oculta demais os músculos!

— Sou obrigado a concordar. A outra é muito mais… interessante — complementou o ladino.

— Isso não é da nossa conta. — interrompeu Alexsander, devolvendo a palavra para Alice. — O que você queria nos dar?

— Eu…É… Espera um pouquinho.

Apesar da armadura, a sacerdotisa facilmente puxou uma mochila de couro amarrada em suas costas. Soltando a corda que fechava a bolsa, pegou o primeiro item de dentro: um par de sandálias.

 

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Sandálias leves

Tipo: Item

Atributos: +2 de destreza

Descrição: Um calçado leve que aumenta a velocidade do usuário.

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Entregou-as para o ladino, que exibiu um largo sorriso de alegria no rosto.

— Isso é para mim!? Você é a melhor, Alicezinha❣︎ 

Em seguida, puxou um escudo bem maior do que a própria mochila, atraindo olhares dos transeuntes que caminhavam pela rua. Com um rosto tímido, deu nas mãos de Alexsander. 

 

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Escudo com Brasão Apagado

Tipo: Arma

Atributos: +10 de resistência

Descrição: Um escudo de metal. Parece ter pertencido a alguém famoso. Um feitiço protege das armadilhas mentais e purifica a mente do usuário.

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O guerreiro olhou para a descrição do objeto, que por si só já era muito poderoso, e depois encarou Alice. 

— Eu não posso aceitar… Você não deveria gastar seu dinheiro com os outros assim.

— Por favor, aceite. — Ela expressou um sorriso caloroso. — Somos um grupo. Eu te dei porque quis, não se sinta em dívida.

O homem sentiu seu coração aquecer um pouco. Hesitou um pouco, mas por fim aceitou. Será que todos os sacerdotes são assim? O templo deve ser um bom lugar, pensou.

Com o escudo entregue, puxou mais uma coisa. Um longo cajado feito de rochas avermelhadas, na ponta uma gema emitia uma luz pulsante da cor do sangue.

— Esse é… para você — Ela se aproximou de Lohan e abaixou um pouco, para ficar da mesma altura do mago transformado em garotinha. 

 

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Cajado de Fogo

Tipo: Arma

Atributos: +15 de inteligência

Descrição: Um cajado forjado em um vulcão. A natureza da mana no local de criação garante um aumento de poder em qualquer magia de fogo.

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— Isso… — Lohan pegou o item que Alice ofereceu e imediatamente sentiu o poder da mana de fogo imbuída no artefato. — É incrível. Eu não tenho como agradecer, Alice. 

— Não foi na-nada… — O brilho nos olhos de Lohan ao receber o presente deixaram sua aparência ainda mais fofa. A sacerdotisa queria dar um braço e apertar suas bochechas, mas se controlou. 

— E ele não é grudento! — A elfa agitou seu novo cajado no ar de alegria.

— O pirulito combinava mais com essa sua aparência atual.

— Vou testar o poder do fogo no seu moicano, Minerva. 

Enquanto uma menina de dez anos apontava o cajado na direção do ladino, uma luz avermelhada brilhou da gema mágica incrustada na ponta da arma.

— Ca-calma, era brincadeirinha, Lohan.

Em seguida, a Sacerdotisa entregou também as poções que ganhou no dia anterior. Minerva e Alexsander tomaram logo em seguida, não teriam porque esperar para aumentar seus atributos.

Lohan, por outro lado, ficou receoso diante de outra poção. Após muita insistência, convenceram ele a tomar o frasco que aumentaria sua força.

Depois que os três receberam os itens e aumentos de atributo, Alice se voltou para o monge.

— Eu não sabia o que poderia te ajudar, então só tenho isso para você, senhor Horse, me desculpe. — Ela entregou o frasco de destreza

O monge deu um largo sorriso, exibindo seus dentes brancos, e tranquilizou Alice: — Não se preocupe com isso, poder acompanhar vocês na masmorra já é um presente para mim. 

Enquanto os outros comemoravam, Alexsander refletia em silêncio. 

Nós recebemos itens novos, aumento de atributos e até um companheiro novo. Depois que o efeito da maldição do Lohan passar… Talvez poderemos chegar na primeira Masmorra antes do previsto.

Ao mesmo tempo. diante de Minerva, uma tela que somente ele poderia ver apareceu.

 

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A Fofoqueira lhe enviou uma mensagem

Contar um segredinho pra você… Tem uma garota por essas bandas que não gosta muito de você. Você é fofinho, então vou te proteger por ora.

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Tem alguém que não gosta de mim até entre as entidades!? E eu sou… fofinho? Bem, não tem porque pensar, afinal, presentes são presentes!

Em seguida, um livro grosso com capa de couro caiu do céu em suas mãos e outra mensagem apareceu.

 

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Você recebeu o livro de habilidade Benção da Fofoqueira.

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— Ae, caralho! Ganhei uma habilidade especial. Vou logo abrir o livro.

— Idiota, não abra ainda! — gritou Lohan. 

Porém foi tarde demais. O ladino já estava sob efeito do item e as páginas do livro se moviam sozinhas. Poucos segundos depois, uma expressão de arrependimento estava estampada em sua cara.

Vendo isso, todos ficaram preocupados. Estavam preocupados se era outra maldição de um patrocinador. 

— É uma habilidade passiva baseada na sorte — comentou o ladino.

— Droga… esse é o tipo mais difícil de lidar. 

— Como funciona? — perguntou Alexsander.

Minerva botou a mão no queixo, procurando as palavras mais fáceis de explicar.

— Hmmm… é como se fosse uma aposta com dados. Existem dez efeitos diferentes, positivos e negativos. E o efeito varia de duas à doze horas, dependendo do resultado. 

A sacerdotisa se surpreendeu, já havia recebido várias coisas e sabia como era dificil ficar pensando nisso.

 — De-dez efeitos diferentes em… uma única habilidade?! 

— Qual é a condição que a ativa? — questionou Paulo Horse.

Minerva fez uma cara enfezada, era isso que estava o incomodando mais sobre a habilidade: — Descobrir o segredo de alguém. 

Lohan começou a rir e a apontar o dedo para o amigo.

— Um ladino que não pode descobrir segredos sem ativar uma habilidade aleatória. Parabéns pelo presente!

Enquanto ria descontroladamente com a voz estridente de uma menininha, um aviso apareceu para o mago e um pequeno livro caiu no chão à sua frente.

 

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O Deus das Aventuras e Tesouros, Esor lhe enviou um item especial.

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Livro de História do Mundo

Tipo: Item

Descrição: Um livro escrito há mais de 500 anos. Traz informações sobre um evento esquecido.

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— Um livro de história! — gritou animado, mas em seguida perdeu a alegria. — Mas pode ser outra armadilha…

— Ontem receberam várias coisas e hoje outra vez. O que vocês fizeram para chamar tanta atenção?

Após a pergunta de Paulo, Alexsander ficou pensativo. Também não fazia ideia do porquê aquele grupo receber tantas coisas, boas e ruins, dos patrocinadores.

— Alice, guarde isso por enquanto — disse Lohan, oferecendo o livro misterioso para a mulher. — Não quero arriscar receber uma segunda maldição enquanto não me livro dessa.

— É uma sábia decisão, caro mago. Podemos lidar com tudo que jogarem na gente — concordou o monge. — Mas é melhor evitar ter mais problemas sempre que possível.

Em seguida, foi a vez de Alexsander receber uma mensagem. 

 

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Deus dos Tesouros e Aventuras, Esor lhe enviou uma mensagem

Aventureiros, protejam a cidade contra os Javalis Devassos, que buscam as mais belas fêmeas e as melhores bebidas.

Tesouros esperam-lhes.

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— Ei, gente… o Deus dos Tesouros e Aventuras enviou outra mensagem.

Antes que seus amigos pudessem perguntar sobre o que se tratava, pessoas começaram a gritar nas ruas. 

Há muito tempo a população da cidade se esqueceu dos perigos que os monstros representavam, então o pânico se iniciou imediatamente.

As pessoas correndo pelas ruas, os gritos de terror. Fumaça surgiu visível no horizonte, em breve o fogo também se espalharia.

Alexsander viu tudo isso de onde estava, enquanto seus aliados corriam para ajudar os aldeões que se desesperavam por suas vidas.

Ele ficou paralisado, escutando casas sendo derrubadas por martelos e machados ao longe. Seus companheiros chamavam seu nome, mas ele não estava ouvindo.

Sua cabeça ficou cheia daquelas vozes, misturando o passado e o presente numa cacofonia demoníaca, e logo ele viu aquela mesma garota de chifres chorando em meio ao caos. Era como se ela estivesse e não estivesse lá, um fantasma.

Uma pancada o atingiu e arremessou seu corpo pelos ares, batendo contra as paredes de uma casa. Via apenas uma silhueta esquisita no canto. De repente, perdeu a consciência.

Instantes depois recobrou a consciência, a fumaça estava o deixando sem ar. Ele se levantou para sair dali, mas quando recobrou sua percepção completamente, reconheceu o que era a silhueta de antes.

Era a garota que havia curado a ferida em sua mão. Agora perfurada por uma estaca no peito e torcida de um jeito desumano, sangue escorria pela boca e pelos olhos. 

Por sorte não soltou o escudo dado por Alice quando foi arremessado, então sacou a espada e se preparou para a batalha. Seus olhos emitiam fúria e cada parte de seu corpo explodia numa ira sobrenatural.

Ele encarou um dos diversos homens-javalis ao redor e trincou os dentes, partindo para cima dele com uma expressão ameaçadora no rosto. Com um movimento carregado de fúria, balançou sua espada, decapitando a criatura em um único golpe.

A lâmina deslizou por cada porco em seu caminho, dilacerando a carne deles e abrindo um caminho de sangue e tripas, até que um grande monstro apareceu.

Ele era musculoso e carregava uma clava nas costas, tendo um elmo com dois chifres no topo da cabeça. Era o líder daquela horda de monstros.

Alexsander avançou, movido por um instinto de batalha cego. Sua fúria o deixou insensível à dor, mas tornou seus movimentos brutos e previsíveis, então seu golpe foi facilmente detido por um soco desferido pela criatura.

O contra-golpe do monstro arremessou Alexsander longe, deixando uma pequena cratera na calçada onde caiu.

O guerreiro cuspiu sangue, mesmo bloqueando com o escudo, não conseguiu conter todo o dano. Vermelho escorria pela sua cabeça e pingava no chão.

Enquanto ele tentava se levantar outra vez, apoiado no Sabre de Aracne, uma aura verde tomou conta de seu corpo, renovando suas energias e lentamente curando as feridas. 

Ele enfim se pôs de pé, mas cambaleou pelo dano sofrido. Quando estava quase caindo de novo, Alice o segurou.

— Você foi idiota demais de avançar sozinho — falou uma garotinha elfa, que se colocou à frente dos dois. — Não aja sem pensar, irá morrer antes de todos se continuar assim. 

Lohan encarou o porco gigante com desdém. O líder dos homens-javali lambuzou os próprios lábios e riu do guerreiro ainda grogue pelo seu golpe.

Ele apoiou a clava no chão, fazendo a terra tremer. Quando encarou o grupo, focou seu olhar no mago transformado e gritou: — Huahahahaha! Uma garota elfa! Hoje é meu dia de sorte, nunca experimentei uma antes! — Sua voz reverberou pelas casas destruídas. — Fique grata, pois eu, Kamo Kronner, irei tirar sua pureza, elfinha!

Aquela frase fez uma veia saltar na testa da menina. Ela apertou seu cajado com força, formando uma pequena bola de fogo na ponta de seu cajado.

— Alice… pedirei um simples favor: me ajude a derrubar esse porco em só um golpe…

O monstro claramente era muito forte, o guerreiro com trinta pontos de resistência mal se aguentava em pé após um único soco. Se aquela clava atingisse qualquer um deles, seria uma sentença de morte.

Vou precisar usar aquela habilidade junto, pensou a sacerdotisa.

— Ce-certo! É… eu… eu usei uma calcinha de coelhinho até os quinze anos!

 

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Cântico Constrangido

O efeito da habilidade Benção da Deusa foi aumentado

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Usando um terço de sua reserva de mana e ativando a habilidade, Alice aumentou o atributo de inteligência de Lohan para 40 pontos — quase o dobro do que tinha antes. 

O milagre de Alice imbuiu o cajado e os círculos mágicos vermelhos ao redor de Lohan. A bola de fogo do mago quadruplicou de tamanho.

O calor das chamas agrediu violentamente todos do grupo. Mas o feitiço ainda não estava finalizado, o mago condensou a mana em uma esfera muito menor, que mudou para a cor azul. A área de dano do feitiço seria reduzida, mas seu poder em um alvo único seria muito maior.

O homem-javali correu na direção da pequena elfa, porém não foi rápido o suficiente para evitar aquele ataque mortal. A esfera disparou numa velocidade surreal, atingindo o homem-javali fatalmente.

O calor do contato derreteu a armadura do monstro e atravessou sua carne. Uma explosão seguiu logo após. Quando as chamas e a fumaça se dissiparam, apenas os pés do monstro restaram no meio da rua.

As cinzas foram varridas pelo vento, mas Lohan ainda não estava satisfeito com o resultado. Por garantia, ou por ódio, lançou uma segunda bola de fogo para que nenhum resto mortal que comprovasse a existência daquela criatura sobrasse.

Feito isso, olhou para o abatido Alexsander, depois para Minerva e Horse, que lidavam com outros monstros ao redor.

— Levante sua cabeça, Alexsander — disse a garotinha. — Ainda há gente que precisa ser salva aqui.

O guerreiro ergueu a cabeça e assentiu. Em seguida, correu para os outros dois, deixando uma Alice envergonhada e uma pequena elfa para trás.

— Alice, você precisava mesmo falar aquilo?

— Eh? Era… era a mi-minha habilidade! Vo-você pediu pra eu dar o máximo de mim!

— Hah, bem, não importa. Vamos lá ajudá-los.

— E-eu só usava porque foi presente! 

— Vamos esquecer isso…

A sacerdotisa acenou com a cabeça e seguiu a pequena elfa-maga, arrependendo-se de ter dito aquilo. Na próxima vez eu vou só usar mais mana…

 

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