Volume Único
Capítulo 3: Um homem chamado Paulo Horse
— Me desculpem por isso, mas se puderem me ajudar seria um grande alívio.
Alexsander sacou a espada da cintura e o escudo das costas, colocando-se ao lado do homem moreno.
Seguindo o guerreiro, os demais aventureiros se posicionaram para o confronto. Não demorou para que os outros monstros saíssem da mata.
— São quatro hobgoblins contra nós cinco… — murmurou Alexsander, enquanto o monge misterioso, que estava com um semblante calmo mesmo diante de monstros tão grandes quanto ele. — Alice, ajuda o Minerva e o Lohan com os dois da esquerda!
Assim que o guerreiro gritou as instruções, o homem moreno deu um salto para frente.
— Toma essa! — O punho do monge acertou o tacape de um dos monstros, obliterando-o.
As lascas de madeira voaram, preenchendo o rosto animalesco da criatura de espanto. O guerreiro passou por baixo do braço estendido de seu companheiro e o defendeu de uma pancada do outro goblin.
Em seguida retaliou com um corte limpo que deslizou pelo braço da criatura, porém isso não diminuiu a sede de sangue que o monstro exibia.
Enquanto isso, logo atrás deles, um hobgoblin saltou na direção de Minerva, sendo parado no último momento por raízes que emergiram do chão e seguraram-no pelas pernas.
O ladino recuou com um salto para trás, evitando o ataque do segundo inimigo. Por cima do ombro, viu Lohan com um círculo mágico flutuando na frente de seu cajado.
O mago conjurou um círculo mágico vermelho, acumulando partículas de fogo no centro do feitiço. Uma bola flamejante ganhou forma, porém não seria o bastante.
— Alice, use uma habilidade para fortalecer a magia, rápido!
A clériga levantou a carta para o alto em meio a tremores, emitindo uma forte energia que cobriu Lohan. Usando um terço de sua mana, aumentou o atributo de inteligência do mago em mais dez pontos. O aumento considerável teve um efeito imediato na magia do elfo.
A esfera, que praticamente dobrou de tamanho e calor, disparou na direção do hobgoblin preso nas vinhas, explodindo em um mar de chamas assim que tocou o alvo.
— Mi-minha Deusa! — Alice se surpreendeu com o poder do ataque quando viu o monstrengo completamente carbonizado.
— Não é hora de surpresas, garota! — gritou o ladino, esquivando-se por um triz da espada enferrujada do inimigo. — Eu também tô com problemas aqui, se você não tá vendo!
Lohan e Alice trocaram de foco e passaram a dar suporte para Minerva. O mago conjurou a magia de Vinhas Selvagens outra vez, mas o hobgoblin desviou — viu o que aconteceu com o companheiro antes, então não seria pego nessa armadilha.
Com um corte vertical, o monstro golpeou na direção do ladino, que desviou com um passo para o lado. Aproveitando a brecha, Minerva cortou ambos os pulsos do monstro com suas adagas, se afastando alguns metros logo em seguida.
— Vou usar a Benção da Deusa outra vez — proclamou Alice.
Quando a menina levantou a carta de tarô, o mago a impediu: — Não seja apressada! Sua tarefa não é só usar milagres, também precisa saber quando é o momento certo de usar.
— Ma-mas ele está lutando…
— Ele pode lidar com isso sozinho. — A tranquilidade no olhar do mago acalmou a sacerdotisa. — Depois daqueles cortes, o hobgoblin não vai conseguir golpear direito.
Enquanto isso, do outro lado da clareira, Alexsander e o monge estavam de costas um para o outro, cada um de frente para um hobgoblin diferente.
Ambos os inimigos avançaram em sincronia, o guerreiro só pôde se defender daquele ataque rápido e feroz. Os olhos dos monstros estavam sedentos de sangue, vermelhos de ira, e suas bocas espumavam como se estivessem possuídos por um demônio.
Alexsander olhou para trás por um breve instante. Seu companheiro de batalha estava lidando tranquilamente com o outro monstro, no entanto, não podia se deixar levar pela confiança cega. Quanto antes se livrassem de pelo menos um deles, mais fácil seria.
Empurrou o escudo contra o rosto do monstro e então saltou para trás, conseguindo a tempo defender o homem moreno das garras do segundo hobgoblin, enquanto o outro ficou por um momento atordoado pela pancada.
Com a brecha causada pelo ataque bloqueado por Alexsander, o monge finalizou o monstro com um soco de baixo para cima. O impacto foi tão grande que o monstro voou para longe, com a mandíbula completamente destruída.
— Eu estava precisando disso… É sempre bom evitar a ferrugem nos músculos!
— Estamos indo bem na luta, mas não se deixe levar…
Com o escudo, o guerreiro se protegeu do porrete do hobgoblin que desceu em sua direção. O impacto foi pesado, com os pés de Alexsander afundando na terra.
Esses hobgoblins parecem mais fortes que o normal.
O monge moreno aproveitou a janela para se aproximar e deu uma rasteira no monstro, derrubando-o no chão. Alexsander seguiu logo atrás, esticando seu braço esquerdo e cravando a espada diretamente no coração do monstro caído.
Afogando-se em sangue e sem conseguir levantar, a criatura morreu logo em seguida.
O líder respirou fundo e balançou a espada para limpar o excesso de sangue, mudando sua atenção para seus companheiros, mais especificamente Minerva, que degolava a garganta do último hobgoblin vivo.
— Bom trabalho. Essa deu para suar um pouco — comentou o ladino, limpando o sangue de suas adagas nos trapos que os hobgoblins chamavam de roupas.
— Parece que todos estão bem... — Alexsander cravou a espada no chão e se sentou na grama. — Vamos fazer uma pausa antes de continuar.
Em seguida, diversas janelas apareceram para os quatro aventureiros do grupo.
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Deus das Aventuras e Tesouros, Esor enviou uma mensagem
Por terem vencerem a primeira etapa dessa aventura, decidi proteger a sacerdotisa do equipamento amaldiçoado. Recebam seus prêmios.
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Deus das Aventuras e Tesouros, Esor enviou itens especiais
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Túnica Verdejante
Atributos: +15 de Resistência
Descrição: Possui um efeito que camufla a pessoa com o ambiente.
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Poção do Sem-Culhão
Descrição: Transforma a aparência de quem tomou para uma versão melhorada.
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Apune enviou itens especiais
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Espada Peixe-Espada
Atributos: +5 de Força | +10 de inteligência
Descrição: É uma espada de aço em formato de peixe-espada. A lâmina em si é pequena, a empunhadura é robusta e pesada, mas os atributos são razoáveis.
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Pirulito Gigante
Atributos: +10 destreza e +10 de resistência
Descrição: Outrora pertenceu à grande maga Kendra. O formato remete a uma memória distante…
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Um báu despencou do céu e abriu sozinho. Dentro dele havia: uma capa verde, um frasco de vidro com um líquido rosa, um pirulito colorido comicamente gigante e uma lâmina de aço com o formato de um peixe-espada.
Parece que eles estão sendo patrocinados pelas entidades, pensou o monge que assistia em silêncio.
Os aventureiros se debruçaram sobre os itens no baú e começaram a discutir sobre quem ficaria com o quê.
— A capa é minha! — Minerva tirou o manto e colocou em si, sentindo todo o estilo, ou talvez fosse o feitiço imbuído, irradiar daquela peça de roupa. — Huuuu… até pareço um vilão com isso!
— Acho que a espada é para mim… — Alexsander pegou o peixe-espada de aço e, assim que seus dedos tocaram no cabo, algo em sua mente mudou. — Oooh… oooooh!!! Agora eu entendo… Então é por isso que aquela palavra significa “partir em dois”.
O mago observou o companheiro, refletindo sobre que tipo de patrocinador adiciona o atributo de inteligência — que auxilia a compreender conceitos e aumentar a força de magias — na espada de um guerreiro.
— Bom… eu ficarei com isso… Eu acho? — Lohan pegou o pirulito gigante, mas aquilo era tão idiota que parecia mais sensato ficar com seu velho cajado. — Alguém quer trocar comigo? Minerva?
O ladino acenou em negação.
— Alice?
A clériga fez o mesmo.
— Droga! Essa coisa… essa coisa é grudenta!? — Lohan esfregou a mão em sua roupa, tentando se livrar da sensação pegajosa — E quem diabos foi Kendra?
— Nã-não precisa ficar triste assim — confortou Alice, com um sorrisinho meigo. — Podemos encontrar algo me…
Repentinamente, as roupas da sacerdotisa se rasgaram sozinhas. Alice explodiu em um vermelho ardente, observando impotente os pedaços da roupa voando com o vento
Em respeito à ela, Alexsander focou seu olhar no chão, enquanto Minerva apreciou cada segundo da visão. Lohan, por outro lado, ficou se perguntando o que tinha demais naquilo.
— O-o que está acontecendo!? A mi-minha roupa!!
— Isso parece interferência de uma entidade…
Enquanto Alice estava encolhida em uma posição estranha, escondendo os seios com uma mão e a virilha com a outra, uma janela flutuante apareceu diante de seus olhos.
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O Deus das Aventuras e Tesouros, Esor lhe enviou um item especial.
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Robe da Fé Perdida
Tipo: Armadura
Atributos: +10 destreza | +10 sabedoria
Descrição: Vinda da antiga Santa Heloise, apóstola da Deusa. A veste mais pura entre as puras.
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Você recebeu o livro de habilidade Cântico Constrangido de Deus das Aventuras e Tesouros, Esor.
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— Da… da Santa Heloise?! Ei, parem de olhar para mim!
Por respeito à menina, o mago agarrou o ladino pelo pescoço e o tirou de perto, dando espaço para Alice se vestir.
Contudo, quando ela voltou, Minerva não conseguiu deixar de assobiar para aquele novo paraíso de curvas e pele amostra, era até mesmo mais reveladora que a antiga roupa e ainda por cima tinha um grande destaque para os seios.
— Huuu… caramba, essa santa devia ser muito danadinha pra usar isso.
— Nã-não diga esse ti-ti-tipo de coisa! — Alice levantou as mãos para o alto, furiosa e envergonhada. — Ela foi a mais santa de todas! Seu vo-voto de silêncio durou tanto que todos a consideram a maior exemplar da igreja!
— Você falando assim fica difícil de acreditar… — comentou Alexsander, ainda sem coragem para olhá-la.
— Para mim não parece nada demais — falou Lohan, arrumando os óculos no rosto.
— Para mim também não — disse o homem moreno, com uma mão no queixo. — Mas vejo bem o objetivo dessa roupa… enaltecer os músculos das coxas e dos quadris, ao mesmo tempo que demonstra os músculos mais importantes e poderosos do corpo: as costas!
— Hah… por que só eu tenho que passar isso? — A garota abaixou a cabeça, sentindo que o mundo era um lugar sem esperança para ela.
— Existem disputas entre as próprias entidades… — comentou o mago, com seu clássico tom cético. — Até aventureiros poderosos podem perecer se forem pegos no meio desses conflitos. O Deus das Aventuras mencionou impedir uma maldição, mas você também tem a proteção dos patrocinadores, o que só torna esse movimento de destruir um item muito suspeito…
Alice ficou nervosa, não entendia o que estava acontecendo. Sua opinião permanecia a mesma, não havia o menor motivo para que fosse amaldiçoada assim.
— Ma-mas, Ojou-Sama me deu tantas coisas. Ela… ela não teria colocado uma maldição naquela roupa.
Vendo isso, o monge se aproximou da sacerdotisa. Apesar de não passar uma aura de perigo e ter lutado ao lado deles, ainda não sabiam quem ele era direito, então analisaram seus movimentos com cuidado.
— Mantenha-se firme, jovenzinha. Não se deixe abalar. — O homem botou uma das mãos sobre o pequeno ombro da meio-elfo. — Não importa o que essas entidades façam, você deve sempre seguir em frente!
Algo fazia parecer que as palavras daquele homem carregavam uma história maior
— Tem… tem razão. Meu objetivo continua o mesmo. Obrigada, senhor… — A sacerdotisa ficou com as bochechas vermelhas ao notar. — Ah, nós… nós não sabemos o seu nome.
— Ah, me perdoem pela falta de educação. — O homem recolheu a mão e deu um largo sorriso para o grupo. — Eu me chamo Paulo Horse.
Em seguida, o ladino se aproximou e levantou a mão para chamar atenção, passando a indicar o resto dos companheiros com gestos.
— Eu me chamo Minerva, o mago é o Lohan, o mal-encarado é o Alexsander e a gracinha muito bem vestida é a Alice.
— Vo-você…! por quê desse comentário?! — A sacerdotisa escondeu os seios e ficou de cabeça baixa, remoendo-se de vergonha.
— Estou só brincando, não precisa ficar assim — Depois de rir um pouco da menina, virou-se novamente para Paulo e continuou: — Mas esse seu sobrenome é incomum… você não é daqui, né?
— Pelas roupas… deve ser de uma das tribos do continente de Marspersa.
Paulo sorriu e concordou: — Está certo, sou de Ragardas. E por lá, nós recebemos o sobrenome por mérito. Recebi o meu quando me tornei mais rápido que os cavalos selvagens do deserto.
O grupo ainda se lembrava da velocidade com que o homem matou um dos monstros logo no início. Dizer aquilo era tão fácil de acreditar quanto esperar que o Sol fosse nascer no horizonte no dia seguinte.
— Você está bem longe de casa, grandão — falou Minerva. — O que te trouxe até esse ninho de hobgoblins no meio da floresta?
O homem fez uma cara fechada, estava claro que não queria comentar sobre o assunto.
— É uma longa história… Mas, em resumo, vim até aqui em busca de uma cura.
O ladino deu vários passos para trás, se escondendo atrás de Lohan.
— Ei, maldito! — xingou Minerva. — Não vá me dizer só agora que tem uma doença contagiosa!
O homem riu outra vez e respondeu o punk assustado: — Apesar de ser perigosa para aqueles que estão ao redor, não é contagioso. Se trata de uma maldição.
Ouvindo isso, Alice interrompeu: — Se for uma maldição, eu… Eu posso tentar ajudar!
— Nem gaste sua mana tentando, sacerdotisa. Essa é uma maldição que vai muito além de suas capacidades.
Alice estufou as bochechas e usou seu artefato de encadeamento para mostrar os atributos.
— Ve-veja os meus status se não acredita em mim!
Paulo Horse ficou surpreso. Trinta e nove pontos em sabedoria não eram pouca coisa, porém… ainda não seriam o bastante para lidar com o estigma que carregava.
— Você realmente está com uns atributos bem altos, mas a maldição que eu carrego foi dada por um patrocinador.
— Uma entidade amaldiçoou você!? — berrou Lohan.
O elfo arrogante se orgulhava de ter visto muito e aprendido mais ainda em suas décadas de estudo, mas essa era a primeira vez que soube de uma maldição dada por uma Entidade Superior.
— Então você se transforma em uma criatura meio-lobo e devora pessoas em noites de lua cheia ou algo parecido? — perguntou Minerva.
O homem riu com a pergunta idiota.
— Você já viram seus efeitos. — Apontou para os monstros mortos perto deles. — Minha presença atrai monstros. E, quando eu sangro ou deixo a ira me consumir, eles ficam mais fortes e violentos.
— Isso é coisa séria… — disse Minerva, saindo detrás do seu escudo elfo. — Se me permite a pergunta, o que você fez para um patrocinador te dar isso?
O sorriso no rosto do homem se abateu e ele encarou o céu azul
— Já faz muito tempo...
Vendo que o assunto traria fortes sentimentos a tona, o guerreiro amenizou a situação.
— Não precisa continuar se for difícil… — Alexsander censurou o ladino com o olhar. — E nos desculpe, o nosso companheiro tem a péssima mania de fazer perguntas demais.
— Ei, ei. Não precisava levar pro coração! Eu só queria saber como o nosso amigo chegou até aqui, bem onde o item nos falou para ir.
O mago coçou a barbicha e concordou: — Realmente seria coincidência demais encontrar alguém assim…
Alexsander, que estava segurando o cabo do peixe-espada, entendeu onde queriam chegar.
— Eu não sou aventureiro, não carrego esse artefato que vocês usam… — falou Horse. — Mas existe uma entidade que se comunica comigo
— A mes-mesma que… te deu o estigma?
O homem apertou os punhos, mas se manteve calmo enquanto respondia: — Sim. Ele se intitula como “Entidade das Maldições, Nehtek”.
O mago arregalou os olhos, novamente outra coisa que nunca ouviu falar em lugar nenhum.
— Foi essa Entidade que te disse para vir aqui hoje?
Paulo Horse assentiu. Ele revelou que o patrocinador maldito disse ter uma poção que diminuía o cheiro do sangue de quem tomasse. Bastava adentrar no território dos terríveis hobgoblins e tomar.
Parecia fácil, então tentou a sorte. Infelizmente, era apenas mais uma mentira. Muitas entidades brincavam com as pessoas como se fossem meros brinquedos, mandando-os ao paraíso e depois atirando-os ao inferno se desejassem.
Agora que não havia mais um motivo para estar ali, Paulo decidiu seguir sua jornada. A cidade portuária de Doveport seria um bom local para iniciar outra jornada, já que quase não havia monstros naquela região para serem atraídos pela maldição.
— Estamos voltando para lá agora mesmo — falou Alexsander. — Parece que estaremos juntos por enquanto.
— Eu agradeço o convite, mas seria mais seguro para vocês irem sozinhos. Eu posso esperar aqui enquanto vocês saem antes.
— Eu…eu me sentiria mal em deixar alguém sozinho no meio da floresta, senhor Horse.
— O tempo com luz é apenas o suficiente para fazer o caminho de volta — completou Lohan.
O homem sorriu, vendo que não os faria mudar de ideia, então concordou em ir junto deles.
No meio do caminho, quando saíram da floresta e voltaram para as planícies, suas sombras já estavam cumpridas no chão — sinal de que o dia estava se encerrando.
Diferente da floresta, não seriam atacados de surpresa em um campo aberto. Isso foi reforçado quando Minerva emitiu um aviso ao grupo.
— Tem alguma coisa se movendo ali na frente.
À frente do grupo havia um enorme campo cheio de bolotas coloridas que deslizavam e rolavam de um lado para o outro. Eles observaram de longe, eram tantos slimes que seria impossível forçar uma passagem entre as gosminhas.
— Estamos realmente numa situação complexa… — falou Lohan, analisando o cenário com seu pirulito gigante no ombro. — Tenho uma ideia: slimes são muito fracos contra fogo, então que tal atrairmos todos a um lugar e assim eu os finalizo com minha magia?
— Pa-parece muito in-inteligente, senhor Lohan!
— Senhor…? Eu não sou velho assim — murmurou, perdendo sua expressão séria e inteligente. — Tenho só 311 anos.
O grupo concordou, porém precisavam de uma isca para executar o plano, alguém que fosse muito ágil e que pudesse se esquivar com facilidade de vários inimigos. Uma pessoa que pudesse se infiltrar nas linhas inimigas e ainda sair dali ileso.
Todos olharam na direção do ladino de moicano. Ele estranhou a maneira que o encaravam, inclinando a cabeça para o lado e fazendo uma carranca feia no processo.
— O que que foi? Tem algo no meu rosto?
— Não… é só que precisamos da sua ajuda agora — disse Alexsander, com a espada peixe-espada na mão. — Você é o melhor para executar o plano de Lohan, é o mais rápido de nós.
— Sério?! Mas por que o Horse não pode ir no meu lugar, ou quem sabe você, que é mais forte?
— Porque você é o mais rápido, é lógico!
— Pelo amor… — suspirou, estreitando os olhos na direção do guerreiro. — Preferia quando você era mais burro.
Minerva usou sua capa e habilidade de Furtividade, sumindo da vista de todos. As folhas se mexeram, indicando que fora embora antes de sequer terem a chance de falar qualquer coisa a mais.
Esgueirou-se entre as várias melecas, até encontrar uma posição com espaço livre para correr. Bateu no próprio rosto, retirando sua camuflagem e aparecendo no meio deles.
— AHHHHHHHH!!!
O grito sugou toda a força de seus pulmões. Os slimes seguiram se mexendo como se não tivessem escutado nada, e Minerva sentiu tanta vergonha que quis afundar sua cabeça na terra.
Pegou uma de suas adagas e cortou a gosma mais próxima em duas, o que só fez o número de inimigos aumentar, mas atraiu todos com aquela atitude ofensiva. Fugiu o máximo que pôde dos slimes, seguindo na suposta direção onde seus amigos estavam.
No meio do caminho, deixou de sentir o chão, e, antes mesmo de perceber, caiu em queda livre num buraco. De repente, sentiu algo agarrando sua capa e puxando-o para cima. Minerva foi lançado no ar pelo e então caiu de bunda na grama, meio tonto pelo vôo.
— Aí, minha cabeça… — Sua visão turva se ajustou, vendo assim seus demais companheiros. — Ei, vocês fizeram alguma coisa, não foi?! Que negócio foi aquele mais cedo? Eu tava literalmente sem chão!
— Foi uma ideia de Alexsander… — explicou Lohan, tirando a sujeira do pirulito. — Assim que você saiu ele pediu ao senhor Horse cavar um buraco com um ataque no mesmo lugar que estávamos, assim poderíamos jogar todos os slimes lá dentro e matá-los de uma vez.
— E por que vocês não contaram nada?! Eu podia ter morrido!
— Porque sabíamos que se contássemos você discordaria e fugiria. — O mago suspirou e deu uma batida com a outra parte do pirulito na cabeça do ladino. — Além disso, Alexsander só fez isso porque reconheceu o uso dessa coisa… bem inteligente, devo dizer.
— Não foi nada demais — respondeu o guerreiro, ainda com seu peixe-espada na mão.
Lohan pegou seu cajado guardado e olhou para o poço de slimes. Eles estavam começando a rastejar de volta para superfície, então logo chamou Alice para fortalecer sua magia novamente, assim como fizeram contra os hobgoblins.
A bola de fogo teve um efeito arrasador, evaporando as gosmas em questão de segundos e levantando uma torrente de chamas para o alto. Assim que o fogo apagou, os aventureiros retornaram à sua caminhada.
— Com você nós formamos uma equipe muito balanceada, monge — falou Lohan.
O homem de pele escura riu e agradeceu: — Obrigado, companheiro. Vocês também são bem fortes. Certamente terão sucesso em suas aventuras.
— Eu espero que sim.
— Por sinal… — Paulo coçou o queixo antes de continuar — Eu não cheguei a perguntar, mas qual o objetivo de vocês como grupo?
Alexsander exibiu um rosto confiante ao responder: — Nós estamos em busca de completar a Masmorra do Desejo.
O monge, até agora confiante e sorridente, exibiu uma expressão de espanto pela primeira vez desde que se conheceram.
— Vocês… já tem uma permissão de entrada?
— Ouvi que elas são bem difíceis de conseguir — comentou Minerva, dando um tapinha no ombro de Alexsander. — Mas o bonitão aqui tem uma permissão oficial.
Paulo Horse estremeceu. Não havia poção alguma no local, mas agora havia uma oportunidade de se livrar completamente da maldição que o afligiu por tantos anos.
— Ei… eu sei que isso pode parecer estranho, mas…
— Ficou interessado no desejo não é mesmo? — sibilou o ladino de moicano verde. Ele chegou perto do monge e apoiou um dos braços em seu ombro. — Se você abrir mão da sua parte nos tesouros eu apoio a sua entrada.
— Combinado!
— Ei, ladino, o que você está fazendo? — reclamou Alexsander.
Lohan levou a mão ao rosto e reclamou: — E lá vai ele fazendo isso outra vez.
Apesar das brincadeiras de Minerva, o grupo não discordou totalmente. Estava claro que o monge era muito forte e poderia contribuir com o grupo, mesmo com a maldição.
Os olhos de seus companheiros fitavam Alexsander, buscando sua decisão de aprovação ou não. O guerreiro refletiu por um breve momento.
— Por mim tudo bem. Ele só precisa fazer a inscrição na guilda local.
— Prometo que não irei desapontá-los, companheiros!
A cidade já estava no horizonte. Antes de chegarem, Minerva e Alexsander viram as convenientes telas dos patrocinadores.
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O Rei Solitário lhe entrega armas
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Sabre de Aracne
Atributos: +15 Força
Descrição: Uma espada forjada a partir da quelícera de uma aranha gigante de outro mundo.
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Adaga da Caveira
Atributos:+15 Destreza
Descrição: Uma adaga silenciosa. Especialmente útil para degolar monstros pequenos.
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O Rei solitário lhe enviou uma mensagem
Não confiem cegamente nos patrocinadores. Nem todos querem ajudá-los.
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— Pode deixar, chefe, eu sou macaco velho nesse lance. — O ladino deu um sorrisinho debochado, agradecendo a adaga com um aceno de cabeça.
Hum… um sabre… Alexsander analisou aquela arma afiada e ficou em dúvida se devia trocar ou não. Se for pelo lado mais lógico… eu devia guardar o peixe em situações que exigem meu raciocínio e usar a que ganhei agora em lutas. Farei assim mesmo.
No entanto, para a surpresa do guerreiro, uma nova mensagem surgiu, acompanhada de um item que se materializou em sua mão.
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O Deus da Insanidade-kyun lhe enviou uma mensagem
Guerreiro, sei muito bem que a jornada para a vitória pode ser difícil. Mas, quando estiver em perigo, lembre-se: Com cuidado e jeito, chega-se ao sexo com qualquer sujeito.
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Anel do Doce Ímpeto
Atributo: +1 inteligência
Descrição: Omitida antes do vínculo.
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Quem manda esse tipo de mensagem?! Não pretendo fazer tal coisa… mas agradeço o anel.
Quando colocou o objeto no dedo, sentiu como se agulhas penetrassem em sua carne. Em seguida, parecia que o anel havia se fundido com a carne de sua mão. Depois disso, a descrição do item foi alterada.
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O anel fica preso no dedo do usuário após ser colocado. Agora, sempre que o usuário vencer uma luta enquanto estiver usando o anel, ele será convidado a meter dois dedos no buraco mais próximo que o próprio anel determinar. Cada dedada será convertida em pontos para outro item aleatório do usuário.
O não cumprimento da dedada resulta em punição, que pode ser tanto leve quanto forte o bastante para causar a morte.
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Isso parece mais uma maldição do que um bônus de item.
Ao mesmo tempo, Alice recebeu uma mensagem.
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A Fofoqueira lhe enviou uma mensagem
"Muitos garotos bonitos nesse grupo… Qual você acha mais fofo? Toque no ombro do que gosta mais. Se eu curtir sua resposta, te darei algo legal."
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Isso… sobre o que é isso? Alice ficou constrangida e agradeceu que mais ninguém via aquela mensagem. O que eu deveria fazer?
Eles enfim chegaram à Doverport outra vez, muito cansados da longa viagem. Naquela hora todos se separaram, Alexsander escolheu dar uma volta pela cidade antes de voltar para o Descanso do Gato Morto, Paulo faria sua inscrição como aventureiro, Minerva atualizaria a documentação do grupo junto de Lohan e Alice descansaria em seu quarto na estalagem.
Faltava pouco para o dia acabar, mas a casualidade parecia querer brincar mais e mais com a pobre sacerdotisa que afundou sua cabeça contra o travesseiro. Mal passara uma semana e todos os patrocinadores tinham sido tão… estranhos.
Ela agradecia do fundo do coração pela ajuda, mas as roupas que pediram para usar, a skill esquisita ganha anteriormente e a quantidade de moedas em seu artefato destoava da realidade. Era quase como se tivesse algo de errado.
O novo traje havia feito suas coxas ficarem sujas de terra e lama pela falta de proteção, então ficou bastante tempo se limpando na banheira da estalagem.
Instantes antes de sair do banho, uma mensagem apareceu… Era daquela mesma entidade, de novo.
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Ojou-sama lhe enviou uma mensagem
Hehehehe…
Aproveite bem os itens que eu lhe dei...
Vi o que a "Fofoqueira" te disse, se conseguir ir ao próximo passo, te darei algo ainda melhor...
Buahahahaha!
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Você recebeu o livro de habilidade Purificar de Ojou-sama
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Você recebeu uma Bolsa Sem Fundo cheia de itens.
2 Sacos de dormir
2 Anéis de atributo
1 Poção de Aprimoramento de Força
1 Poção de Aprimoramento de Resistência
2 Poções de Aprimoramento de Destreza
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— Eu não mereço tudo isso…
A bolsa caiu do lado de fora da banheira. Alice afundou um pouco mais seu corpo, vendo as bolhas da água de sabão subirem.
— Se o Alexsander recebesse essas coisas, então talvez a aventura fosse mais fácil pra ele, né? Ou se o senhor Horse tivesse recebido a ajuda dos patrocinadores, ele não teria uma maldição tão terrível…
Ela teve vontade de chorar por conta do coração fraco. Era tão injusto, parecia desumano que homens tão gentis sofressem mesmo sem ter feito nada. Uma raiva pegou o peito de Alice, ela se levantou da banheira e ergueu as mãos para o alto.
— Eu vou ajudá-los! Se os patrocinadores estão me dando tanta coisa assim, eu não posso usar apenas para o meu próprio bem!
Alice ficou a noite em pé investigando a loja, vendo o que seria melhor para seus aliados. Enquanto isso, no lado de fora da estalagem, Alexsander andava pelas ruas da vila. Era um lugar pequeno, o ar do mar era fresco e as crianças brincando por aí davam uma certa nostalgia.
Mas havia uma coisa estranha naquela paisagem. Havia uma pessoinha bem baixinha no canto de um beco, escorada atrás de um barril e encarando-o de longe.
O que aconteceu em seguida se desenrolou num piscar de olhos. Aquele homenzinho saltou em sua direção e arrancou o anel preso em seu dedo, fazendo sua pele ser rasgada no ato.
— Meu anel! — Ele virou para o duende e correu atrás dele, mas o baixinho era rápido demais. — Devolva meu anel, maldito! Não posso perder algo tão importante de um patrocinador!!
— Seu anelzinho é meu! — Essas foram as últimas palavras do duende antes dele desaparecer como purpurina no ar.
Alexsander parou de se mexer e apoiou as mãos nos joelhos, ofegante. Estava muito irritado, aquele maldito duende roubou o precioso item que um dos poucos patrocinadores deram a ele. Xingou o ar e respirou fundo, sua mão sangrava horrores e pingava na grama.
Enquanto assoprava para diminuir a dor, uma garota se aproximou dele e pôs as mãos próximas à ferida. Lançando uma luz esverdeada que sarou o machucado. O guerreiro a encarou, recuando sua mão no instante em que a cicatriz desapareceu.
— Obrigado…
— Por nada, moço! — Ela abriu um largo sorriso. — Ajudar o próximo é algo que todos nessa cidade sempre devem fazer!
— Realmente? Então… tem algo que eu possa fazer para retribuir o favor?
— Hum… vê o meu pai ali? — Apontou para um senhor que batia numa pedra larga com uma picareta. — Ele está tentando quebrar aquela pedra porque ela tapou nosso fosso. Mas já está escuro… Consegue ajudar?
Alexsander acenou com a cabeça e se apressou para ajudar o homem. Sequer se introduziu, apenas puxou as mangas e pediu ao senhor alguns pregos e um martelo. Ele posicionou o primeiro prego na rocha e martelou com força, criando um pequeno buraco no lugar.
O guerreiro repetiu o processo três vezes, mirando os pregos sempre centralizados com a rocha. Na última martelada, uma grande rachadura se estendeu por toda a pedra e ela se abriu em duas partes, que caíram para os lados.
O fosso era profundo, mas, entre as pedras mais altas, crescia uma pequena flor bela e frágil, com um caule fino e marcado por poeira.
É uma flor-da-paz… Ela adorava essas pétalas brancas.
— Muito obrigada pela ajuda, moço! — agradeceu a menina.
— Não há de que… Eu que agradeço a ajuda com a ferida.
Alexsander pegou a pequena flor consigo e saiu dali, retornando para a estalagem com uma expressão difícil de decifrar. Abriu a porta do quarto e viu que Alice se mantinha deitada na cama, olhando para um quadro no artefato em seu pulso
A sacerdotisa abriu a boca para falar, mas, quando viu a expressão de Alexsander, preferiu se manter quieta. A coragem que acumulara antes desapareceu do nada, e a última coisa que viu foi ele colocando uma pequena flor branca em um vaso vazio perto da janela.
Alice sentiu pena. Algo estava errado, ela sabia disso, só que seu corpo a impediu de dizer qualquer coisa. Ela abaixou a cabeça, esperando-o dormir para realizar uma prece no meio da noite, desejando à Deusa apenas que aquele homem pudesse encontrar alguma salvação para sair de sua miséria.
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