Masmorra do Desejo Brasileira

Autor(a): Alonso Allen & Zunnichi


Volume Único

Capítulo 25: A Masmorra no Céu

Fazia uma semana desde a parada na cidade. O restante da população havia em parte se acostumado ao castelo convenientemente tapando o sol no meio das nuvens, o céu fechado também era algo que não reclamavam, pois passar menos calor em cima das dunas de areia era uma benção.

No entanto, os aventureiros não encontraram uma forma de chegar lá em cima. Em suas memórias, a forma mais plausível de alcançá-la seria por meio de uma máquina voadora, tal como o wyvern autômato no continente gelado. 

Outra coisa que também analisaram foi o mecanismo complexo do vulcão, imaginando que aquela energia da lava seria capaz de propulsionar a estrutura ali em cima e de alguma forma levá-los ao castelo, mas isso também se provou ser somente uma teoria maluca.

Foram tão longe e agora pareciam presos por não conseguirem subir aos céus. Quer dizer, Alice conseguia, mas provavelmente só conseguiria levar Lohan nos braços se dependesse da sua força. Ela, por outro lado, não queria ter que enfrentar a masmorra sem todos os seus amigos — Barbara sendo a exceção a essa regra.

Um destino trágico ao grupo, derrotaram os chefes, enfrentaram inúmeros perigos desde o começo da aventura, e agora tinham que apenas observar a última masmorra pairar diante de seus olhos sem nunca terem seu desejo.

— E aí, o que a gente faz agora? — perguntou Minerva, sentado com as pernas cruzadas por cima da mesa da taverna. — Vamos cada um pro seu lugar? Vendemos nossos itens ou contratamos um nobre com um aparelho voador para chegar na masmorra? Já falo que só o escudo do Alexsander deve valer uma nota preta com essas pedras preciosas…

— Não — declarou Lohan, em pé na cadeira e com o queixo encostado na mesa. — Viemos muito longe, não tem como voltar agora. Eu me recuso a voltar… especialmente nessa forma, meus colegas da escola mágica não podem me ver assim!

— Be-bem, senhor Lohan, não é tão ruim… — confortou Alice, passando a mão no cabelo dourado do elfo. — As ga-garotas da escola mágica po-podem gostar de te ver fo-fofo assim.

— Poisé, vão querer te vestir igual uma boneca! Kwahahaha! 

— Cala boca, Minerva! — Lohan tratou de bater no seu ombro, derrubando-o da cadeira por esquecer de sua força.

Enquanto isso, Alexsander tomava hidromel numa caneca e pensava com sua mente pouco nublada pelo álcool e gosto doce do mel. Nesse impasse, nem o manto nobre que aumentava seus pontos de inteligência eram capazes de achar uma solução. Não havia tecnologia que permitia vôo, mas magia podia ser uma opção viável.

Ele acariciou a placa dourada do escudo e ponderou, ao mesmo tempo que seus companheiros discutiam sobre como deveriam vestir Lohan para o encontro de magos daqui alguns meses. Vender o escudo talvez daria certo, quem sabe achariam um mago que conjuraria um encantamento que os levassem lá para cima.

No entanto, mesmo essa escolha tinha seus perigos. Como estavam demorando demais para ir a masmorra, era esperado que alguém viesse investigar o ocorrido, e no caso acionaram a cavalaria real, os guerreiros responsáveis por cuidar da família real e de assuntos perigosos do estado.

Dois dias atrás, um conjunto de cavaleiros parou em Skalp para um descanso, no dia seguinte eles voaram em direção a masmorra e desde então permaneceram lá. Se por um acaso usassem um mago para enviá-los ali, o pedido seria barrado e nada mudaria, ao mesmo tempo que se revelassem suas posições como os detentores da marca que invocaram a última masmorra, alguns problemas recairiam sobre seus companheiros.

Alice talvez se encontrasse com as pessoas do templo e receberia sua punição por fuga, Minerva teria como ser culpado por crimes que cometeu, Barbara seria morta pelo uso de magia proibida, Lohan talvez fosse levado como corpo de estudo para operações de mudança física por meio de magia, e por fim, Alexsander provavelmente seria alvejado por sua herança plebeu e inveja dos nobres que desejavam estar em seu lugar.

Um suspiro longo fugiu de sua boca, assustando os demais. Estava pensando muito, imerso numa teia de possibilidades que não o trariam a canto nenhum. Ergueu os olhos, seus companheiros o encaravam de maneira meio preocupada, como se não quisesse ouvir tanto barulho de um homem tão quieto.

— E… Está tudo bem, A-Alexsander? — perguntou a clériga, pegando na mão dele por baixo da mesa.

— Sim. Eu só estou pensando mais do que deveria…

— Ei, grandalhão, pensar demais enruga o cérebro e a testa. Olha pro Lohan, voltou a ter corpo de criança, mas tem um monte de ruga na testa. Se duvidar, ele vai envelhecer mais rápido agora!

— Minerva, por que você só não fecha o bico?! 

Aquilo tirou uma risada curta do líder. Estava mais leve ao lado das atitudes infantis e simples dos outros, talvez estivesse mesmo indo longe demais na linha de raciocínio e só precisavam enfrentar a masmorra. 

Ele arrumou sua postura na cadeira, tomou mais um gole de hidromel e então lembrou de uma coisa repentinamente. — Agora que pensei… onde está a Barbara?

— Aquela doida? Também queria saber — falou Minerva, jogando-se um pouco para trás de forma que se apoiasse em dois pés da cadeira. — Ela disse que queria fazer um ritual, ou foi essa desculpa que deu… Bom, não duvido que ela esteja mesmo fazendo isso.

Um ritual… Ela é uma necromante, é normal fazer e saber dessas coisas, mas por que a essa hora do dia?, pensou o líder, achando ilógico fazer isso logo durante o dia. No entanto, a resposta para isso veio mais rápido do que o imaginado.

Um tremor assolou a cidade, os olhos dos aventureiros na taverna rolaram em desespero. O terremoto não era normal, era forte, muito mais do que qualquer um da cidade havia experienciado em anos vivendo ali. Pior ainda, não era só o chão que tremia, mas o vulcão também.

Alexsander chutou sua cadeira para trás e correu para fora. Uma superstição veio a cabeça, mas não poderia acreditar que era mesmo realidade tal coisa. A morte do elemental se deu devido a um grande espinho feito de ossos, que o empalou e arrastou para as profundezas do abismo. Ele não queria saber o que estava debaixo do lago de lava petrificado, mas a falta de contato com Barbara nos últimos dias e esse terremoto queriam dizer alguma coisa.

Ele foi para o lado de fora e seus olhos caíram no vulcão, os residentes de Skalp fizeram a mesma coisa, mas com um desespero. Luzes piscavam do topo, seguido por um pilar de luz negra que fez lava escondida por baixo da camada de obsidiana escorrer para as alturas, e de repente, um tremor ainda mais forte fez o líquido quente escorrer pelas bordas. Se pudesse fazer uma analogia, era semelhante a um copo vazando água depois de estar muito cheio.

No entanto, o que saiu da boca do vulcão trouxe um questionamento sério a sanidade de Barbara. Asas de ossos apareceram, uma batida de vento jogou uma saraivada derrubou dunas ao longe, e então aquela criatura emergiu das profundezas de sua cova, um ser que vivia centenas de milhares de anos e era reconhecido por sua majestosidade, orgulho e interesse em objetos brilhantes.

No entanto, aquele espécime não se assemelhava aos seus irmãos. Sem escamas, sem peles, nem mesmo um traço de vida existia, um dracolich assim como as lendas diziam. A criatura pousou a uma distância considerável de Skalp, forçando Alexsander a recolher seus equipamentos e correr na direção do monstro recém-revivido.

Com o escudo numa das mãos e o sabre na outra, ele não tardou para se aproximar. Atrás, seus companheiros acompanharam, mas com certeza estavam mais preocupados com a própria vida e a dos outros na cidade do que saber como aquele ser levantou das cinzas. Um vestido preto em cima das costas do monstro se destacou, junto de um cabelo preto profundo que caia pelas costas.

Era Barbara, deitada confortavelmente como se estivesse numa cama de luxo.

— Eu demorei menos do que deveria, mas isso deve servir — ela comentou depois de esticar a cabeça um pouco para fora de sua cama improvisada. — Subam logo. Sabem o quão difícil é manter a coisa gigante aqui funcionando?

— Você realmente não para de nos surpreender — falou Alexsander, meio admirado pela ousadia de trazer um dragão de volta a vida. — Bom, não é como se tivéssemos outra escolha, né?

Ele subiu pela asa abaixada, seguido por cada um de seus amigos. Alice seguiu por último, com uma expressão desconcertada e enojada por usarem um método tão chulo. Mais tarde, quando pudessem, ela e Barbara teriam uma longa conversinha pessoal.

O dragão alçou vôo quando o grupo se apoiou nas suas costas, rumo a fortaleza no céu. Os cavaleiros e magos se assustaram pela presença de um morto-vivo gigante vindo em sua direção, por sorte Alexsander sinalizou diversas vezes com as mãos para não atacarem, e por estarem junto de uma sacerdotisa, os guardas não fizeram nada.

O dracolich parou perto da plataforma da entrada da masmorra, onde os aventureiros foram deixados, no entanto os cavaleiros permaneciam com a guarda alta e muito apreensivos em relação a repentina aparição dessas pessoas. 

Alexsander levantou a mão para os outros esperarem um tempo. Justamente agora deveria usar sua recomendação, que não hesitou de tirar de dentro da mochila espacial que Alice levava, tirando o pergaminho de lá de dentro e revelando-o aos homens parados na entrada.

Todos arregalaram os olhos. Era a permissão de Conde Philip Edmund II, um dos nobres mais influentes e se duvidassem o irmão perdido do rei, se por um acaso tivessem tal irmandade. Enfim, eles abriram caminho, com a mão estendida, as três marcas no braço de Alexsander lançaram um feixe de luz na direção do portão da masmorra.

O portão branco teve suas dobradiças destrancadas, os grandes blocos metálicos se arrastaram pelo chão e revelaram o lado de dentro. Ele deu um passo em frente, seguido por cada um de seus companheiros, até que a porta repentinamente fechou atrás deles com um baque altíssimo.

Eles estavam por conta própria agora. Uma longa escadaria escalava até onde os olhos não podiam mais ver, rumo a uma altura acima do nível das nuvens. O último desafio da aventura havia começado.

 

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