Masmorra do Desejo Brasileira

Autor(a): Alonso Allen & Zunnichi


Volume Único

Capítulo 22: O Velho Louco

Existe alguém que liga para um velho andando pelas estradas? Nunca tem, como nunca houve, e também como não sei para onde estou indo. Caminho por todos os lugares e todas as direções, mas faz mesmo diferença pensar nisso? Não sinto nada de qualquer jeito. O que eu estava falando? Já esqueci.

Às vezes me pego nessas situações estranhas… tem uma pessoa próxima a mim, acho. Não, tem definitivamente pessoas por perto. Elas foram para que lugar? Para cima, para baixo? Quem dera o conhecimento que ocasionalmente salta na minha cabeça fosse de alguma utilidade agora, mas não é como se saber o interior de uma pedra fosse usável.

A única coisa que não posso permitir é que toquem o livro. Jamais, nunca pegarão esse livro! De resto, pouco importa… que estranho, as luzes dessas pessoas são diferentes das demais. Não são pequenas e de pouco brilho como as outras, elas resplandecem; e ironicamente se parecem um degradê que vai do preto mais profundo ao branco limpo. Bem, quase limpo… há toques sombrios nessa luz.

Hahahahaha! Esses paspalhos, cada coisa que eles tem é mais engraçada que a outra. Consideram-se sofisticados, complexos, quando na verdade são bem superficiais. Acho que vou incomodá-los um pouco com o que vi… não deve fazer algum mal.

— Você… — chamo com minha falsa atuação de voz sábia, assim como faço todas as vezes, e aponto para o que tem uma alma mista em cores. — Você é um cara realmente problemático, não é? Do tipo que procuraria uma briga à toa para descontar a raiva que está sentindo.

— Quem diabos é você? — pergunta o rapaz, com uma voz máscula. 

Aposto que é um daqueles com cérebro de músculos. Não respondo, e consigo sentir o tremular na sua alma. Ele se irritou, com certeza teve raiva de que falei e não respondi. O barulho de uma espada sendo sacada. Hoh, como se uma coisinha dessa fosse lá me afetar direito.

— Lohan, pare, tem algo de estranho nele — diz outra pessoa, uma menininha, a julgar pelo tom. — Vamos só seguir em frente, é o melhor agora. Não sinto que ele é uma pessoa normal, e você não está no melhor estado pra lutar agora.

Um pouco impressionante. Alguém nova assim sabendo com quem está lidando? Irônico. Parece até que viveu muito mais para dizer esse tipo de coisa, além do mais, crianças não são nem um pouco cautelosas. 

 

☆ ☆ ★ ☆ ☆

 

— Eu não gosto que ele está indo na nossa frente — disse Lohan, vendo o velho enfaixado muitos passos adiante. — É como se ele soubesse para onde estamos indo.

— Mesmo que seja assim, ainda conseguimos derrotá-lo fácil — respondeu Alexsander, analisando a postura do idoso e de ombros relaxados, era como se seu instinto de guerreiro não funcionasse na presença dele. — Não há nenhuma ameaça nele, e mais, esse senhor não tem estatura para sequer levantar uma espada de maneira eficiente.

— Ora, não subestime ele! Magia pode fazer maravilhas, então se esse cara for na realidade um tipo de mago, podemos estar fritos!

Aquilo tinha seu grau de verdade, no entanto a mente analítica do líder funcionava de outra forma. Talvez por causa do manto nobre, que lhe dava muitos pontos de inteligência, enxergava as coisas de uma forma muito mais estratégica que antes, vendo cada aspecto físico de uma pessoa e uma parte da “pressão” que ela exalava.

A maioria das lutas era decidida no primeiro golpe, então se uma pessoa não conseguisse dá-lo, ela poderia perder num piscar de olhos. O caso do velho, por outro lado, não condizia nada com suas paranóias e expectativas sobre um inimigo comum. Sua presença era invisível de acordo com os instintos de Alexsander e seu corpo pouco desenvolvido refletia falta de treino e refino… no entanto, ele ainda tinha uma pulga atrás da orelha.

Pessoas idosas andando por aí eram de duas uma: senis ou mestres em alguma coisa. Esse ponto era o que o guerreiro procurava, no que aquele senhor podia ser muito bom. Esgrima ou uso de armas não era o caso, magia também não, pois não carregava artifícios mágicos… então o que poderia ser?

Enquanto procurava, os aventureiros avistaram na distância do deserto um grupo de orcs, todos armados como um bando de ladrões. O maior, que por sinal era o mais feio, usava uma armadura de couro leve e uma espada de pedra gigantesca.

Minerva viu isso como uma oportunidade de experimentar melhor sua arma em inimigos frescos, pois ainda estava frustrado com sua performance desde que recebeu a adaga. 

Lohan, que reparou no sorriso maroto de seu amigo, abriu a boca para falar: — Não está pensando em ir para cima deles, não é?

— Eu quero, mas dessa vez quero tentar sozinho… — Duas adagas giraram entre os dedos do ladino, uma amaldiçoada e a outra normal. — Além disso, se eu não fizer, esses orcs vão agir igual goblins capturando moças indefesas, lembra?

Lohan emudeceu. Sua mente reviveu a criatura que encontraram na primeira região, o porco gigante que causou tanto nojo a sua mente. O silêncio dele também era uma resposta, bastou Minerva olhar para trás e também receber um aceno de confirmação do líder.

No entanto, antes de sequer partir para cima, Alexsander pegou em seu ombro e apontou na direção do velho. O guerreiro queria saber o que diabos o velhote iria fazer enquanto estava andando claramente na direção do perigo, por isso quis um pouco de paciência por parte do outro.

Não aconteceu absolutamente nada. O velho, ao invés de ser notado e massacrado pelos monstros, apenas passou entre o grupo igual vento. Alexsander estranhou essa reação, era claro que o homem não era invisível, do contrário nem sequer o veriam.

O pior veio no momento seguinte. Quando o senhor atravessou o grupo, ele pegou uma pedra e jogou para trás, chamando a atenção dos orcs na direção dos aventureiros. Qualquer chance de derrotá-los furtivamente sumiu.

Um rugido ecoou dos monstros, seguido por uma rápida arrancada de Minerva, empurrando a areia para trás e sujando todos os seus amigos por acidente. O estresse viria somente depois, agora era hora de uma dose de adrenalina excessiva.

Os olhos dele lançaram um pequeno brilho, a habilidade de análise se ativou. Os círculos mágicos, que mais serviam como um tipo de lente, giraram repetidas vezes até não terem mais utilidade para o ladino.

“A destreza deles é de 15, menor que a minha. O problema tá na força de 25, um tapa e eu já perco uns ossos no processo.”

O martelo primeiro orc se elevou e desceu num movimento diagonal limpo, mas o corpo de Minerva deslizou igual manteiga, chutando parte da areia para o lado e usando a habilidade Reflexos para facilitar mais sua esquiva. Como se não bastasse, uma de suas mãos arremessou areia nos olhos, fazendo-o atacar aleatoriamente numa reação de medo.

Com um já distraído, o ladino se concentrou no segundo do grupo, um orc cheio de cicatrizes armado com uma maça estrelada. Não foi muito difícil esquivar dos golpes com um jogo de pés rápidos, mas seu ataque acertou em cheio Minerva, logo em cima da cabeça. O ataque arrancou seu crânio do lugar, lançando vísceras e um olho solto para longe.

A cena fora tão brutal que a criatura rugiu de felicidade, mas era uma mera brincadeira de criança. Num piscar de olhos, linhas roxas apareceram no seu corpo, explodindo em chamas roxas que carbonizaram do tronco para cima.

Aquele corpo despedaçado desapareceu. O verdadeiro Minerva estava logo à frente do orc morto, inteirinho da cabeça aos pés, e com um sorriso sapeca tão grande que ele mesmo tinha pena de enganar uma alma tão inocente. Enganação era uma habilidade satisfatória de se usar quando queria brincar com os outros.

— Fácil igual tirar doce do Lohan! 

Uma larga flecha voou em sua direção, precisando de um minuto de atenção do ladino para não ter verdadeiramente uma parte do corpo arrancada. Agachando-se no último instante, ele correu na direção do arqueiro assim que a flecha passou por cima do seu moicano, mas o inimigo preparou outra flecha para soltar.

Minerva jogou sua adaga amaldiçoada em linha reta, pegando bem no braço do monstro, que por descuido disparou por acidente e atingiu seu colega cego mais atrás. Era uma pena que tanto azar caísse sobre esses carinhas, mas o destino agia assim.

Ele chegou a tempo, pegando sua adaga cravada e arrastando ao longo do braço, intensificando a pequena fagulha de chamas que antes se concentrou no ponto atingido. Não demorou para que o arqueiro fosse consumido pelo fogo, restando somente um orc, o mais feio de todos e o mais cheio de cicatrizes: o líder.

Minerva pensou em lamber sua faca para dar algum sustinho naquele gigante, mas ao lembrar do que aconteceu com seus inimigos, descartou a ideia. Com um largo sorriso no rosto, seu corpo se dobrou e avançou na direção do líder. A adaga comum voou na direção do líder, que rapidamente bloqueou com sua espada gigante de pedra.

Um erro, já que aquela não era a amaldiçoada. A lâmina passou nos dedos da luva e rapidamente traçou uma linha ao longo da perna do orc, que gemeu de dor conforme a queimação em seu corpo aumentou. 

O monstrengo se agachou, mas sua espada seguiu na horizontal com um corte limpo que apenas atingiu o ar. Minerva estava acima, sua adaga amaldiçoada caindo com toda força em cima do crânio do orc, enfim tirando sua vida.

Ao final do embate, quando Minerva terminou de explodir suas chamas infernais na cabeça do líder, um báu subiu do meio do chão. Àquela altura não era novidade encontrar coisas assim brotando esporadicamente de qualquer lugar, seja do céu ou de uma lama.

Se duvidar, o ladino pensava até em obter um objeto mágico detector de metais e andar com ele no bolso para procurar itens assim, pois era meio absurdo acharem coisas assim no meio do nada, como se tivesse sido enterrado de propósito. 

Ao abrirem o baú, a primeira coisa aparente foi um livro de habilidade esverdeado. Havia o símbolo de uma mão no meio, e quem acabou pegando foi Alice, pois nenhuma outra pessoa conseguiu sequer pôr as mãos nele. Junto, veio três poções de cura, que ela agradeceu profundamente pela oferta.

Já que o livro pelo visto era seu, não faria mal usá-lo. Ela encostou no corpo e no instante seguinte folheou as páginas em branco, adquirindo um novo conhecimento por causa disso.

 

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Roubar

Rouba um item qualquer de uma criatura. Uso de uma vez por dia

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— O-o que?! Mas isso é errado, muito errado!

— O que foi, Alicezinha? — perguntou o ladino, revistando a maioria dos itens lá dentro. — Por acaso te deram outra habilidade obscena?

— Sim, de-deram outra! Agora eu posso roubar os outros, e eu não farei isso de nenhuma for-forma!

“As entidades não gostam de mim. Elas preferem que a Alice roube ao invés de mim… que fui feito e treinei anos pra isso…” 

Enquanto Minerva se doía pela natureza sádica das entidades, viu Lohan tirar um chapéu lá de dentro, que tinha um grande olho vermelho e uma boca na base feita de dentes afiados, além de pernas de aranha que montavam um tipo de teia por baixo. 

Seja lá quem foi a mente de um design tão único de um item, ele se sentiu no dever de investigar aquela coisa. Depois de puxar rapidinho das mãos da elfinha, colocou-o na cabeça, gerando a tela de informações do item.

 

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Chapéu de bruxo

 

Cria um link mental com alvos escolhidos os fazendo pode se comunicar telepaticamente um com o outro.

Pessoas conectadas ao link mental podem gastar 10 moedas de sua carteira pessoal para aumentar um atributo de qualquer um de seus status base por uma hora e o aumento é proporcional ao custo dado.

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— Uhhh, olha que belezinha!!! — disse, olhando os efeitos do chapéu. — Isso seria valiosíssimo pro mercado negro, tá maluco! Coisas relacionadas a telepatia são dificílimas de achar, com isso daria pra enfiar um esquadrão inteiro de assassinos num lugar e eles se comunicarem entre si sem problema nenhum!

— Hu-hum… então não se-seria perigoso, Minerva? — perguntou Alice, apertando seu cajado e internamente rezando para as vítimas de assassinato. — Digo, isso não poderia tirar muitas vidas? 

— Ah, Alicezinha, você ainda sabe muito pouco sobre o mundo sombrio debaixo do nariz de todo mundo… — Ele suspirou e colocou o chapéu na cabeça. — Como eu fiquei, hãã?

— Es-estiloso, eu acho…

— Ridículo, eu tenho certeza — retrucou Barbara, sem contar a língua.

— Ai ai, Barbara e seu senso de moda horrível. Você tava usando trapos quando nos vimos pela segunda vez, então nem vem. 

Por fim, a única outra coisa que sobrou foi um livro no fundo do baú.

— Um livro para aumentar a força… — Lohan analisou a capa grossa vermelha, com o símbolo de uma pata de ursa no meio. Isso não serve pra mim.

— Vai ficar encarando isso por quanto tempo? — falou Minerva, pegando o livro enquanto seu amigo elfo estava distraído. — Ohhh… isso seria bom pra caramba pra mim! Ou será que eu deveria vender?

— Ei, larga! Seria mais inteligente entregar para o Alexsander, ele quem usa principalmente esse atributo!

— Seji menas, Lohan. — Ele segurou a cabeça da elfinha para impedir que chegasse perto. — Eu e até a Alice faríamos melhor uso. Ele já tem bastante força, entregar mais é o mesmo que dar dinheiro pra gente rica… e eu odeio gente rica!

— Então você sugere, Minerva, ô grande cérebro malandro?

— Hm… Usa aí.

Minerva repassou o livro para as mãos de seu amigo elfo, pela primeira vez em muito tempo abandonando sua natureza de roubar ou vender as coisas.

— Tu vai fazer melhor uso, esqueceu que agora começou a lutar na linha de frente?

— Certeza? Eu ainda sou um mago, sabia?

— Tenho certeza. Usa logo antes que eu mude de ideia.

O ladino jogou o livro e Lohan o abraçou, mas a relutância de utilizá-lo ainda se mantinha. Respirou fundo, seus olhos se concentraram na capa e ele enfim abriu as páginas de uma vez.

 

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Força de Urso

Aumenta passivamente o atributo força em 5 pontos.

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A habilidade Força de Urso evoluiu para Força de Formiga.

Seu desenvolvimento físico foi impulsionado grandemente.

Aumenta passivamente o atributo força em 5 10 pontos.

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Lohan imediatamente sentiu seus músculos aumentarem de tamanho, mesmo que por uma fração pequena. De alguma forma ele se sentia leve, e a espada golfinho quando empunhada tinha o peso de um graveto minúsculo. 

A elfinha se sentiu compelida por aquele poder. Essa é a sensação de ter a força do Alexsander? Que incrível… 

Lohan então observou o líder, que se mantinha estático de braços cruzados ao lado de Barbara. Sua atenção e olhos não estavam voltados aos membros do grupo, e sim ao senhorzinho que passou rego pelos monstros como se nem existisse.

Alexsander demonstrou seu semblante pensativo, como sempre fazia quando precisava analisar uma série de fatores num campo de batalha. Ele queria entender como o velho cego não foi notado, e porque ele parecia ser algo tão pequeno naquela luta.

Enquanto Minerva e Barbara brigavam com moda, Lohan se encantava com a própria força e uma Alice desnorteada tentava entender o motivo de receber uma habilidade tão profana, Alexsander somente andou em linha reta, atraindo seus companheiros para o lugar que deveriam ir: a entrada da Masmorra, a caverna infernal do vulcão de Avernos.

 

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