Masmorra do Desejo Brasileira

Autor(a): Alonso Allen & Zunnichi


Volume Único

Capítulo 19: Wyvern Robô

Um rugido ensurdecedor causou um tremor por toda a masmorra. Os aventureiros, que tinham acabado de sair do salão em que a sereia alada estava, começaram a correr. Os pilares e canos se desmontaram com o barulho e caíram por todos os lados.

— Que merda, por que isso sempre acontece com a gente?! — gritou Minerva, que estava correndo na frente para salvar sua vida.

— Es-esperem por mim! — falou Arthur, enquanto tentava acelerar seu passo.

Ele não precisou, Alexsander o pegou pelo braço e o carregou nos ombros como uma ovelha, além de também levar consigo numa das mãos a pequena Lohan, que era pequena demais para seguir o ritmo dos demais.

Estalactites e peças de metal caíram do teto, criando um efeito dominó que gerou uma avalanche de destroços. Lohan, no instante que viu a grande parede de neve se aproximar, foi obrigado a puxar seu cajado e disparar uma enorme bola de fogo com toda a mana que lhe restava. Mesmo que não contribuísse com seu próprio voto, era isso ou morrer.

A comoção parou, permitindo que os aventureiros respirassem por um breve momento e o som de suas respirações ecoasse naquele lugar escuro. O líder largou os pesos com cuidado, temendo que ambos pudessem se partir caso fosse bruto.

— Estamos a salvo. Obrigado, Lohan. — Acenou com a cabeça, aprovando a ação do mago.

— Não foi nada… — respondeu em um tom baixo, olhando para a passagem agora bloqueada pelo excesso de neve. — Droga, não temos como voltar de jeito nenhum. E agora?

— É uma pena mesmo… — Arthur levantou e indicou a passagem que sobrara com a cabeça. — O melhor agora é sairmos daqui o mais rápido possível. Não podemos ficar muito tempo parados. Se estivermos presos dentro da terra, o oxigênio logo acabará, e será pior ainda se aqui houver algum tipo de gás tóxico.

— A princesinha falastrona tem razão. — O ladino logo deu de ombros e suspirou, indo a frente antes de todos. — Eu vou conferir o que tem adiante, vou aproveitar que está escuro para não ser detectado. Vejo vocês logo logo!

Minerva se jogou contra a escuridão e num piscar de olhos desapareceu, sem dar janela para outra alma pensante questionar o que estava prestes a fazer. Um suspiro pesado saiu, era o de Lohan, que mais uma vez via seu amigo agindo como se pudesse fazer qualquer coisa.

Tanto o líder quanto a clériga repararam na insatisfação estampada na cara da elfinha, mas decidiram não comentar. O grupo se aprofundou pelo corredor de metal, escutando seus passos ecoarem em batidas rítmicas, ao mesmo tempo que temiam que até as paredes pudessem engoli-los. 

No entanto, tudo o que viram foi uma luz que cresceu na distância. Eles logo sacaram suas armas, temendo que fosse um monstro, até que o ladino reapareceu com as mãos erguidas para cima.

— Ei, ei! Sou eu, gente, não precisa desse olhar assassino como se quisessem me apunhalar!

— Acho que seria uma boa ideia fazer isso — comentou Bárbara, com um sorrisinho lascivo no rosto.

— Garota maluca… — Revirou os olhos, abaixando as mãos. — Bom, não tem nenhum monstro, mas vocês nem vão acreditar… Estamos perto de uma saída para o lado de fora, mas é numa encosta da montanha. 

— E essa luz, o que ela é? — questionou Alexsander. 

— É um tipo de tocha gigante no topo de uma torre de metal, acho que é fogo.

— Uma tocha? — Lohan levantou a sobrancelha. — Deve ser a caldeira dos anões! Temos que ver de perto, agora!

— A curiosidade matou o gato, queridinha — provocou Bárbara.

— Pode estar relacionado com a história que ouvimos, Alexsander. — Lohan tinha um olhar de cachorro pidão enquanto falava. — Precisamos pelo menos conferir! 

O líder pensou por um tempo, mas assentiu sem esforço. Tem uma saída logo ali e o boss está morto, o que de ruim poderia acontecer?

Após isso, o grupo seguiu em direção a luz. O brilho logo se transformou num clarão, que trocou o ambiente monótono e antigo das cidades anãs por um lugar aberto, frio e com um grande globo verde incomodando os olhos de todos.

A caldeira se destacava na borda de um penhasco, demonstrando sua estrutura férrea titânica e uma sobrenatural aura de antiguidade, enquanto os traços do passado eram revelados por meio de suas escrituras e estátuas gigantes que sustentavam o peso da máquina.

A neve, no entanto, manchava a caldeira. Não havia fogo, o metal estava tão gelado quanto os rios congelados que desciam pela costa da montanha, e sua luz era o único resquício de algum dia ter existido. Um novo rugido quebrou o gelo das águas, liberando uma torrente que levou consigo as rochas da encosta ladeira abaixo.

Eles correram na direção da caldeira e viram silhuetas do que parecia ser um outro grupo. 

— Goétio seu desgraçadooo! — reclamou um bardo desesperado. — Quando voltarmos para casa, você será decapitado em praça pública!

— Eu fiz tudo certinho, vossa alteza. — Um homem careca repleto de graxa disse, sem parar de correr. — Eu juro que fiz tudo como aquele anão disse. 

— Ele será decapitado ao seu lado!

— Não é hora para discussão, continuem correndo. — Um cavaleiro de barba ruiva interrompeu o assunto. — Não temos como enfrentar essa coisa com nossa força.

— Eu não quero morrer sem me casar — reclamou uma monja dentre o grupo. — Flávio, por você eu largo a vida no monastério. 

O bardo fez uma expressão estranha. — Me recuso! Este era um segredo, mas minha missão pessoal é amar todas as beldades do mundo!!

Alexsander logo descobriu quem eram, mas os viu por um curto período de tempo, já que um monstro que seguia logo atrás lançou uma cortina de ar com a batida de suas asas, e de tão forte, todos saíram voando. 

— Segurem-se! — gritou o líder, segurando o escudo diante do grupo.

Todos se amontoaram atrás do guerreiro, empurrando suas costas para enfrentar a força do vento.

— Povo maluco falando de casamento nessa situação... — O ladino reclamou enquanto empurrava Alexsander — Lohan, que merda de criatura é essa daí!?

Como se não bastasse, mais um imprevisto ocorreu.

 

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Benção da fofoqueira

Você descobriu um segredo. 

A habilidade foi ativada.

[ Sorteando o efeito aplicado ]

[ Sorteando o tempo do efeito ]

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— Merda! Merda! Essa habilidade ativa até pra uma coisa idiota dessas!?!?

— Do que você está reclamando aí atrás? — Alexsander estava quase no limite para enfrentar a força daquele tufão. — Foco no monstro na nossa frente!

 

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Benção da fofoqueira

Efeito sorteado: Ataque da Víbora

Descrição: Todos os seus ataques envenenam o alvo atingido.

Tempo sorteado: 10 horas.

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— Dale, caralho! Finalmente um efeito bom. — O ladino sacou seu par de adagas. — Bora derrubar essa coisa!

A tempestade artificial foi interrompida e, com exceção de Bárbara e Arthur, todos assumiram uma postura de combate.

— Tá muito escuro pra ter certeza… — Lohan estava com a espada emprestada por Alexsander em mãos, mas pensou em puxar o cajado e iluminar o ambiente.

— Deixa comigo! — Arthur Guerra apontou sua bengala para o teto, agora sem estalactites de gelo devido ao impacto do vento. Diversas chamas voaram em todas as direções, se prendendo nas paredes e no teto ao redor. 

— Tô achando que esse menino aí ajuda mais que um certo mago… — provocou Minerva.

— Cala a boca, Minerva! Deixa eu me concentrar. 

Enquanto os dois se provocavam, Alice apontou o óbvio: — Ge-gente, esse monstro… é todo de metal?!

Alexsander agora era inteligente o suficiente para compreender o que estava diante deles. — Deve ser uma criação dos anões, aqueles caras devem ter “acordado” isso.

— Um Wyvern artificial! — Lohan estava com curiosidade estampada em seu rosto. — Eu nunca tinha ouvido falar nisso.

Ao ouvir isso, Minerva encarou o desafio diante deles e abaixou as armas.

— Vocês estão me dizendo… estão me dizendo que o veneno não funciona?

Wryyyyyy

O robô soltou um grito metálico.

— Lohan, segura ele! 

— Mas, mas e a minha esgrima…

— Você não tem força suficiente pra usar uma espada em algo feito todo de metal.

Aceitando o inevitável, o mago guardou a espada, puxou o cajado e conjurou suas vinhas selvagens.

Raízes brotaram do piso e se prenderam nas pernas metálicas do Wyvern. 

Aproveitando a deixa, Minerva avançou, golpeando com suas adagas no lugar que seriam os tendões de um ser vivo normal. 

Plim! Tin!

Contudo, não teve efeito nenhum.

— Merda! Só arranhou. Se continuar assim, vou perder o fio das adagas e morrer antes de atravessar essa armadura. 

O robô moveu a cauda, atingindo Minerva na lateral. O ladino saltou junto do golpe, evitando um dano maior, mas a situação ainda era ruim.

Ao mesmo tempo, a necromante gótica saiu de fininho, se escondendo atrás de uma pilha de metal, longe do monstro robótico.

— Onde pensa que vai?! — gritou Alice.

— Não tem corpo nenhum por perto pra invocar os mortos. Mas, se você quiser se matar, eu te trago dos mortos pra lutar de novo! Sim! Ótima ideia, vá e se mate!

— Ignore ela, Alice. Foco! — O guerreiro investiu enquanto gritava, atingindo com o sabre de aracne na cauda que havia atingido o companheiro. 

A lâmina cortou a superfície, e algumas faíscas saltaram no local da “ferida”. A espada, entretanto, ficou presa no oponente. Imediatamente, o monstro se desvencilhou das plantas de Lohan, arrastando Alexsander enquanto se movia.

Arthur tremeu assim que viu os olhos brilhantes, desprovidos de vida, encarando ele. — Isso não é bom.

Uma voz robótica ecoou pelas paredes incendiadas e anunciou o próximo passo da luta.

 

Ativando modo de batalha contra grupo

Alvos prioritários identificados: Conjuradores

Iniciando procedimentos para eliminar a linha de trás.

 

Minerva ainda estava se recompondo do golpe, mas invocou sua habilidade Enganação, criando um clone que se meteu entre o Wyvern e seus companheiros. 

Pulando de um lado para o outro, o clone distraiu o oponente por um instante, dando tempo para Alexsander desvencilhar-se. 

O guerreiro avançou com seu escudo, atingindo a perna do monstro, afetando o equilíbrio dela. A diferença de tamanho era gritante, mas a criatura–robô tinha a desvantagem de ter apenas duas pernas suportando todo seu peso. 

— Alice, Lohan, de novo!

— Certo! — gritaram o mago e a clériga.

Alice puxou sua carta e pediu pela Benção da Deusa, aumentando a magia de Lohan em mais dez pontos. Em seguida, o mago conjurou outra vez suas Vinhas Selvagens.

Com a força das raízes aumentadas e o desequilíbrio causado pelo golpe de Alexsander, o Wyvern metálico ficou preso em uma posição estranha. 

Com o tempo ganho, o guerreiro percebeu uma diferença na estrutura em certos pontos. Justamente nas conexões que permitem os movimentos. 

Sem deixar escapar essa oportunidade, mirou atrás do joelho. Cravou sua lâmina, que perfurou mais do que na outra vez. Faíscas voaram e ele cobriu os olhos com o escudo. 

— Boa! — gritou Minerva — agora eu também já sei onde mirar.

O ladino e o guerreiro focaram nas juntas do grande corpo do monstro, enquanto esse debatia suas asas para tentar contra-atacar. Se aquilo poderia voar ou não, o grupo não tinha interesse em esperar para descobrir. 

— Estou quase partindo a perna direita, mantenha ele preso! — gritou Alexsander.

O monstro, porém, mudou seu comportamento assim que a maré da batalha começou a pender para os aventureiros.

 

Ativando modo de batalha irregular

Alvo prioritário alterado: Guerreiro

Iniciando procedimentos para eliminar a linha da frente

 

— Cuidado! — gritou Minerva, mas já era tarde.

As enormes asas do monstro atingiram o solo, empurrando o corpo inteiro para cima. As  vinhas não suportaram tanta pressão e se partiram. 

Alex saltou para longe das asas, evitando ser atingido pelos membros. Contudo, ficou diante da boca do monstro. 

O pescoço do robô se esticou, parecia uma cobra, e atacou o guerreiro. Sem ter como desviar, o homem colocou o escudo diante dele. 

Com uma pressão gigantesca, o Wyvern abocanhou Alexsander.

— Na-não! — Alice gritou, queria correr, mas foi impedida por Arthur. — Me solta, me larga!

— Olhe com atenção, moça! 

Assim como o garoto de olhos castanhos disse, a clériga olhou novamente.

Alexsander estava dentro da boca do robô, mas não estava morto ou ferido. Seu grande escudo impediu o monstro de fechar completamente a mandíbula.

O wyvern balançou de um lado para o outro, mas o guerreiro estava firme. Percebendo que  isso não teria efeito, a criatura começou a correr para longe — levando o homem dentro da boca. 

— Está fugindo! — Minerva apontou para a saída

— Não! — Lohan guardou o cajado e puxou a grandiosa espada-peixe-espada. — Ele quer arremessar o Alexsander do penhasco!

O grupo começou a correr, mas o monstro era mais veloz, apenas Minerva conseguia acompanhar sua velocidade. 

— Alicezinha, aumenta minha força. —gritou o ladino. — Vou tentar dar o golpe final naquilo!

A clériga concordou e começou a rezar, porém foi impedida por Lohan.

— Suas adagas não são longas o suficiente!

O ladino se revoltou — Que droga, Lohan, ele vai jogar o grandão lá pra baixo! — Mas era verdade. — O que faremos?

— Troque meu buff por destreza, Alice! — gritou o mago — Tudo em destreza! 

Esbugalhando os olhos, Minerva reclamou: — Mesmo com essa espada, você só tem 8 pontos de força! Não vai conseguir passar por aquele metal.

Com confiança no olhar, a elfinha não disse nada. Seu olhar falava tudo: confie em mim.

 A sacerdotisa não tinha certeza do que aconteceria, mas confiou no pedido. Era a única chance de salvar Alexsander. 

Uma aura dourada surgiu e acertou a elfa, garantindo 24 pontos de destreza para Lohan. Mais rápido do que nunca, disparou em direção ao monstro que já estava ao lado do penhasco. 

Eu nunca testei na prática, mas agora é tudo ou nada!

A diminuta elfa saltou, mirando na conexão entre o pescoço e a cabeça da criatura. A lâmina de sua espada em formato de peixe estava a poucos centímetros do monstro.

Lohan sabia muito bem que não teria a força necessária para perfurar aquele metal. Mas, neste momento, ele entendeu o que a entidade falou. Ele entendeu porque não progredia como queria na arte da espada.

Diferente de Alexsander, que era um guerreiro puro, com um corpo treinado ao longo de vários anos, Lohan era destreinado e frágil. Sua esgrima não poderia ser comparada a um mestre. 

Contudo, o elfo tinha algo que os outros não tinham: muitas décadas de estudo arcano, junto de atributos de inteligência e mana gigantescos.

 

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Ativando a habilidade Foco Arcano 

Sua próxima magia será 30% mais forte.

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A lâmina de Lohan brilhou com a mana que rodopiava ao redor, tornando-se vermelha incandescente.

— Essa é a espada de um mago!

 

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Você desenvolveu uma nova habilidade: Lâmina Arcana

Descrição: Sua magia reforça sua esgrima. Consumindo mana ao longo do tempo, seu atributo de inteligência será somado à sua força.

Valor atual: 43

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O corpo de Lohan tremia, estava no limite pelo aumento forçado nos atributos. Contudo, em momento algum perdeu o foco. Seu movimento era perfeito.

A ponta da espada encostou no pescoço do Wyvern, derretendo o metal como se fosse uma faca quente perfurando um bloco de manteiga.

Faíscas e chamas voaram para todos os lados. Fragmentos de metal foram arremessados em toda a direção, a Lâmina Arcana destruiu completamente o oponente. Os olhos da criatura perderam o brilho, sua cabeça se desprendeu do pescoço e o corpo se tornou uma marionete sem cordas. 

O golpe foi perfeito, porém, devido ao poder utilizado, Lohan perdeu o equilíbrio ao aterrissar, caindo no desfiladeiro.

— Lohan! — gritou Minerva, na ponta do penhasco, vendo o amigo cair.

Uma sombra correu ao seu lado, era de Alexsander, que havia pulado sem pensar duas vezes. Estava com o sabre sacado, esticando sua mão para agarrar o braço de Lohan. Assim que o pegou, fincou sua arma contra a parede, arrastando-a para baixo numa tentativa fútil de desacelerar a queda.

Seu braço não aguentou a pressão, fazendo-o soltar e ver o chão crescer. Tudo o que podia fazer aquela altura era girar e colocar Lohan para cima, para ao menos salvá-lo da morte certa. Porém, no último instante, pouco antes de colidir contra o chão, uma parede branca apareceu logo abaixo deles. A batida não era tão dura quanto pedra, mas ainda machucou e muito as costas de Alexsander, que apertou os dentes para segurar o grito de dor.

— Aí… merda… minhas costas… — Ele deitou a cabeça e soltou a elfinha. 

— Huuu… o que aconteceu? — perguntou Lohan, tonto e com a cabeça girando, até que enfim seus olhos se ajustaram e viu que estava deitado sobre seu amigo. — Alexsander! Por que você está aqui com uma cara de que tá com pedras no rim? O que aconteceu?

O líder não conseguiu segurar a risada, pela primeira vez sentiu tanta graça quanto nunca, o que serviu para assustar tanto Lohan quanto o restante dos companheiros lá em cima. Aquela era a primeira vez que a expressão séria e por vezes cética dele se desmanchou.

Alexsander deu um tapinha na cabeça da elfinha, sentando-se e abrindo um largo sorriso, o que a fez quase sentir vontade de chorar de tanto medo, pensando que ele teria enlouquecido depois de bater a cabeça no chão. 

— Você é mesmo o mago mais idiota que já conheci, Lohan! — falou, com a mão apoiada na testa dele. — Nem se importou com o que aconteceu consigo mesmo depois de fazer aquela doideira lá em cima… e ainda lutou com garra… você realmente mudou bastante, sabia?

Assim, naquele pequeno momento, um certo orgulho surgiu na pequena elfinha, que entendera o que ele queria dizer. Havia alcançado o nível que almejava, de enfrentar monstros mais fortes sem magia, de se tornar independente das artes arcanas. Uma grande melhoria que fazia até mesmo o elfo mais rabugento sorrir e rir da situação. 

Enquanto isso, lá em cima, Alice observava os dois com certo alívio. No entanto, sua atenção também estava em outra pessoa, alguém de cabelo espetado que reuniu seus demais colegas e estava pronto para sair. Ele parecia querer fugir de uma fera, a própria Alice, que, logo que colocou seus olhos neles, lançou uma intenção raivosa e gélida semelhante à morte. 

— Flávio Kurtus… — disse a voz diabólica, que estava muito longe da fina e majestosa persona. — Ah, Flávio Kurtus, eu realmente queria conversar com você, de verdade. 

Enquanto isso, Flávio Kurtus sentiu algo encolher ao ponto de que não passava nem um fio. Eram palavras mais frias que o ar, assassinas como o gume afiado de uma adaga. Ele sabia que mulheres tinham tal poder, mas nunca esperou se deparar com um tão latente. Tentou acompanhar os demais que andavam mais a frente, ignorando o que acontecia, mas isso só fez a aura aumentar.

— Não me escutou? — Uma barreira branca se levantou na frente dele, impedindo-o de continuar. — Estou lhe chamando. Por que me ignora? 

— Ah, Alicezinha, eu não te ouvi! — Flávio se virou e soltou um sorriso trêmulo. — Faz bastante tempo, muito mesmo, não é?

— Não banque o idiota. — Ela deu um passo de cada vez, fazendo até a terra chacoalhar com cada passo. — Eu ainda não esqueci o que você fez, e vim ter uma conversa com você antes de vê-lo pela última vez. 

— O-ora, Alice querida, é cla-claro que podemos conversar, né…? Né?

E assim, a clériga soltou sua besta interna, uma criatura sobrenatural que consumiu cada pedaço de Flávio Kurtus com golpes destruidores e gritos que saíram dos portões do inferno. Aquilo só foi possível porque Alexsander não estava por perto, dando apenas palco para Arthur Guerra, Bárbara e Minerva assistirem o show de horrores de camarote. 

Foi uma longa sessão de tortura, proporcionada por uma santa com um coração cheio de rancor, e com certeza aquilo foi o pior que Alice já causou a alguém em toda sua vida. Ao final, tudo o que sobrara foi um corpo desolado no meio da neve e o choque dos que observaram de perto. E assim, a luta entre o grupo e o Boss da masmorra, terminou.

 

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