Volume Único
Capítulo 18: A Masmorra de Gelo e Aço
Após o encontro inesperado e as confusões na noite anterior, o grupo se resolveu, principalmente devido à Alexsander, e seguiu adiante. Ainda restavam algumas horas até o pico do Sol quando encontraram algo.
— Vejo uma estrutura adiante. Deve ser a tal cidade de Frostholm — falou Minerva.
Os aventureiros pararam em frente a um aro de gelo, sustentado por pilastras de metal enferrujado. Do lado de dentro, uma dupla de cavaleiros protegia uma porta de aço, que possuía diversos símbolos desenhados.
Alexsander seguiu em frente e tirou sua permissão de dentro do casaco, era um processo extremamente semelhante ao do continente anterior.
— Vocês podem passar.
Os cavaleiros abriram a passagem. Um deles apertou um botão que estava na posição que ocupava, o clique metálico fez a porta se abrir. O grupo passou pelos dois e se depararam com uma grande caixa de madeira suspensa no ar, com barras de metal no lugar das paredes e um teto pontiagudo acima.
Para mais uma surpresa do grupo, havia um goblin do lado de dentro, vestindo o que parecia um uniforme vermelho. Usava um chapeuzinho quadrado e estava sentado em um banquinho ao lado de um painel com vários botões.
Eles se entreolharam e permaneceram no mesmo lugar, decifrando o que deveriam fazer e onde estava a entrada da masmorra.
— Entrem na gaiola. O goblin usará o mecanismo para descer o elevador — alertou um guarda. — É seguro… geralmente.
— Geralmente?! — Lohan notou que a ferrugem cobria inteiramente os cabos metálicos que sustentavam a jaula no ar. — Parece que ninguém usa isso há milênios e tem um goblin operando! Um goblin!!
— Pare de chorar — retrucou Alexsander, pegando-o pela banda do casaco e o arrastando para dentro. — Estamos com pressa, lembre-se.
Um por um, todos entraram na plataforma. Depois de um resmungo indecifrável do goblin fardado, ele apertou alguns botões, fazendo a corda de aço se mover e a plataforma descer lentamente.
Era possível enxergar o ambiente de fora através das barras, havia dois grandes paredões de gelo nas laterais. Estalactites se penduravam acima, necessitando apenas de um pequeno empurrãozinho para cair sobre qualquer um que estivesse abaixo, enquanto pedras luminosas presas às paredes criavam arco-íris dentro dos blocos de gelo.
A plataforma bateu no chão. O goblin resmungou e indicou a abertura frontal do elevador com a cabeça, logo todos saíram. A sensação enervante de permanecer naquela jaula em movimento trouxe certos incômodos. Tocar a terra firme — ou neve firme. — era melhor do que aquilo.
Eles encararam o que havia à frente, uma grande catacumba repleta de canos de metal amarelado e gelo. Era outro desafio, mas dessa vez, escondido por um grande maquinário que ninguém conhecia.
— Ok, agora é que começa a brincadeira! — falou Minerva, imediatamente colocando a mão na boca por conta de seu tom. — Bem… primeiro, não gritem e nem pensem em bater com muita força nas paredes. Isso vale especialmente pra você, Lohan, nada de magia de fogo explodindo tudo!
— Imagino que deve ser por causa da neve e do gelo… — comentou Alexsander, encostando a mão enluvada num estilhaço congelado. — Mas matar monstros será mais difícil assim. O que faremos?
— Ca-ham, daí que entra a minha informante. — O ladino soltou um sorriso esperto e colocou as mãos na cintura, demonstrando toda sua postura sabichona. — De acordo com ela, não existem monstros nesse andar, ou pelo menos nunca foi relatado algum. O problema aparece quando formos mais fundo… então, sigam-me os bons!
O grupo inteiro estranhou aquilo, mas mesmo assim seguiram-no pelo caminho frio. Enquanto andavam, Minerva gesticulava com as mãos e explicava tudo o que havia descoberto, que estavam em ruínas anãs tão antigas que nem se sabia quando foi a última vez que os anões pentearam suas barbas por lá.
Andando por alguns metros, chegaram em uma porta quebrada com uma luz mortiça piscando de uma rocha acima. Em seguida, uma voz foi emitida por um cristal na parede.
Informe Credencial de Segurança
Sem credencial válida. Acionando mecanismos de defesa.
…
Energia insuficiente para acionar mecanismos. Abortando ação.
— Hmmm… parece que esse problema já veio resolvido. Desse jeito, essa masmorra vai ser mais fácil que a outra! — falou Minerva.
— Cuidado com o que diz — censurou Alexsander. — Nunca se sabe o que pode acontecer.
Mecanismo de Emergência ativado
Acionando saída para intrusos
…
O chão abriu, levando os seis por um tobogã cheio de gritos e descendo até as profundezas da caverna. Eles saíram de cara com um amontoado de neve, que em parte amorteceu a queda, mas Minerva saiu todo quebrado por ser acertado por todos os seus aliados.
Assim, olharam para onde estavam. Um novo corredor iluminado por caixinhas brancas estava à frente.
— Que lugar estranho… — disse Arthur Guerra, ao mesmo tempo que suas mãos passavam pelo metal rabiscado das paredes. — Tem inscrições por todos os lugares, mas são feitas diretamente no metal e usam caracteres que não reconheço, mas também vêm juntas de imagens desenhadas. Quando se consegue produzir uma língua própria, normalmente quer dizer que a civilização já é avançada, mas se eles conseguem até ferir aço com tanta facilidade, é um sinal de que tem algo a mais do que isso.
— Obrigado pela aula, princesa — respondeu Minerva, batendo as botas pelo corredor e escutando os ecos de seus passos. — Eu queria era encontrar um tipo de riqueza… Ei, princesa, tem como descobrir se um desses símbolos tem uma passagem secreta?
— Não acho que isso seja possível para uma civilização antiga, a menos que estivéssemos falando de ficção científica.
— Blah, blah, blah, muito termo complicado pra só dizer que não sabe.
Depois de atravessarem o corredor, o grupo se viu diante de uma ampla sala, com teto alto e com uma escadaria espiral que subia, acompanhada de canos de ferro amarelado que estavam dentro das paredes. Eles, sem muito a perder, enfrentaram os degraus e chegaram no próximo andar, que era como o centro de um grande labirinto.
Para todas as quatro direções tinha uma ponte, o que só dificultava mais a exploração pela masmorra. Alexsander tinha começado a se estressar, pois apenas caminhavam e só encontravam mais chão para passar.
— Eu sinceramente vou enlouquecer… — Franziu o cenho e apertou os punhos, claro, fazia sentido um guerreiro daquele porte estar mais interessado em batalhas que mistérios.
— Há, agora é minha deixa! — falou uma necromante muito convencida e com um largo sorriso no rosto. — Observe e morra de inveja, Alice. Voltem da morte e sirvam a mim. Meus servos, levantem-se!
Círculos negros cresceram no piso, materializando um esquadrão de esqueletos, no entanto, eles eram bem baixinhos e com um crânio imenso. Eles levantaram as mãos para atacar, até Barbara retrucar com: — Vocês filhos da puta não ousem fazer nada, se não eu irei jogá-los de volta de onde vieram!
Muito entristecidos, os esqueletos abaixaram a cabeça e seguiram as ordens da tirânica necromante, dividindo-se para cada passagem. Os aventureiros então se sentaram no centro das pontes e esperaram, era algo tão sereno que seria possível tirar um cochilo.
Um único grupo retornou às pressas, e isso foi mais que o suficiente para atrair problemas. Três monstros fortes e revestidos de metal surgiram da passagem, eles tinham pelos brancos e uma face de aço semelhante a de um animal.
O grupo inteiro se levantou e sacaram suas armas.
— Entrem em formação, como combinamos antes! — gritou o líder, mais a frente no grupo e ao lado de Barbara.
A necromante, por sua vez, conjurou mais mortos-vivos e usou sua mesma desculpa para colocá-los contra as máquinas. Uma pena que não foi muito efetivo, pois um mero golpe fez os mortos-vivos se despedaçarem e seus pedaços caírem.
Ela continuou invocando mais e mais, como uma forma de contenção, enquanto Arthur Guerra deslacrou seu grimório e trouxe uma torrente de chamas que passou por cima de todos. O fogo incinerou o que tinha no caminho, fazendo tudo tremer conforme as brasas se mexiam.
Porém, uma mão limpou o caminho das labaredas e revelou a face de um yeti. Alexsander prontamente bloqueou o golpe que vinha de cima com o escudo e ao mesmo tempo Minerva saiu de sua retaguarda e passou por baixo das pernas da máquina rasgando tudo com sua nova adaga.
Um fogo vermelho emergiu dos cortes e explodiu, fazendo até o metal derreter.
— Ahá! Toma essa!
Então, foi a vez dos demais, e a adaga cortou todos como manteiga e deixou que um fogo obscuro consumisse cada um, ao ponto que não sobrou nada além de cinzas. Foi tão rápido que ninguém se deu conta do que aconteceu direito, isso até verem Minerva com o pé em cima da carcaça derretida de um dos yetis, todo pomposo e com um enorme sorriso.
— Viram isso? Eu não preciso mais daquela adaga velha, isso que é poder de verdade!
Esse idiota… ele acha mesmo que vai poder usar esse poder sombrio sem consequência?, pensou Lohan, observando-o escorregar sobre o metal e girar a adaga entre os dedos como se fosse uma criança.
Todos os yetis foram derrotados, e com o caminho livre, eles exploraram o que tinha à frente. Impressionantemente, não demorou para avistarem uma alta porta de cristal, que por algum motivo estava aberta. Mesmo que receosos, passaram pela porta e entraram num quarto escuro.
Olharam para cima, e lá havia uma criatura com o dobro do tamanho de um ser humano comum estava presa entre barras de aço. Seu semblante era triste, mas mesmo as tristeza não escondia a beleza que tinha. Era uma aparência digna de princesa.
Tal beleza quase, quase, escondia o fato de ser uma sereia alada. Uma cauda de enguia e um par de asas roxas estavam confinadas pela prisão em que se encontrava.
— Uma sereia real! — Lohan estava de queixo caído. — É a primeira vez que eu encontro uma tão grande.
— Deve ser o chefe dessa masmorra… mas está presa entre essas barras. — Alice parecia incomodada.
— Parece que os anões fizeram essa estrutura para aprisionar o chefe. — Lohan analisou. — Então é por isso que dizem ser tão fácil concluir essa masmorra.
Arthur se aproximou um pouco, estava curioso sobre a criatura diante dele. Contudo, foi impedido por Lohan.
— Tenha cuidado, ainda é um monstro perigoso.
Alice, Alexsander, Arthur, Barbara, Lohan e Minerva observaram em silêncio por um tempo. Até que alguém disse o óbvio.
— Vamos matar isso logo e receber a insígnia de conclusão!
Alexsander observou por um momento, mas não sentia que era correto matar um ser vivo que estava indefeso e não representava ameaça. Notando isso, o ladino deu um passo adiante.
— Deixa pra mim.
O punk de moicano verde sacou uma de suas adagas e arremessou com precisão no meio dos olhos da sereia. A criatura se transformou instantaneamente. Sua beleza desapareceu em um piscar de olhos, quando uma boca de lampreia cheia de dentes surgiu e sua pele tornou-se verde — repleta de escamas.
— Urgh… é a primeira vez que uma coisa tão bonita fica tão feia tão rápido — Minerva e todo o restante estava enojado e assustado com a cena. Depois que a criatura parou de se contorcer e finalmente morreu; o ladino puxou o fio preso na arma, limpou a lâmina e guardou novamente.
A elfinha de cabelo loiro começou a falar: — Parece que estamos resolvidos por aqui. O que faremos agora, Alexsander?
Olhando ao redor, o guerreiro falou diretamente: — Vamos seguir com o plano. Precisamos ao menos tentar resolver esse problema. Não esqueça que estamos lutando contra o tempo para completar isso antes do grupo daquele sujeito.
☆ ☆ ★ ☆ ☆
Em outro local, Flávio Curtus e seu grupo aguardavam parados. Era uma sala parecida com as outras nesse enorme laboratório, com exceção de uma grande rocha que flutuava no centro.
Um homem mal vestido, completamente sujo de graxa estava mexendo em uma pilha de metal repleta de fios, placas e válvulas. Debruçado sobre a bagunça, mexia com precisão em diversas partes da máquina.
O homem encarou tudo por um momento, se afastou e limpou o suor da testa. Removendo os óculos de proteção dos olhos, disse com um sorriso animado: — O motor de exxtração de energia foi arrumado!
De repente, um barulho de metal se movendo ecoou pelo laboratório escuro.
Energia restabelecida, religando sistemas secundários.
Indivíduos sem credenciais válidas detectados no núcleo. Iniciando medidas protetivas. Unidade W-Aço enviada para contenção.
O laboratório inteiro tremeu sob os pés do grupo de Flávio.
— Que porra é essa? — gritou o príncipe. — Goétio, você disse que sabia o que fazer!
— E-eu sei, majextade, juro. Aquele anão me ensinou como arrumar o fornecimento de energia, max não falou nada sobre o rexto!
Uma grande porta de metal coberta de gelo se moveu e os estilhaços congelados caíram sobre o piso.
Uma enorme silhueta de olhos azuis e com uma cauda rastejando para fora da porta liberou uma aura ameaçadora em todo o ambiente, ao mesmo tempo que o barulho das paredes sendo riscadas causava um amedrontador contraste com seu rugido que surgiu assim que a cabeça de aço da besta saiu.
O membro da realeza deixou seu queixo cair, nada passava pela sua mente além de: — Fudeu.
☆ ☆ ★ ☆ ☆
Quer se tornar um patrocinador e interferir no rumo da obra?
Acesse o discord do projeto e apadrinhe seu personagem favorito.
Distribuímos moedas semanalmente, então você pode participar até sem gastar nada!