Volume 1
CAPÍTULO 7 : UM MONSTRO EM MEIO A ESCURIDÃO
O grupo comandado por Yuki caminhava calmamente. Todos conversavam distraídos, acostumados com a situação de uma missão em que poderiam morrer. À frente, a capitã permanecia em silêncio. Pensativa, virou um pouco o rosto, procurando algo.
“É estranho não ter o pirralho quase no ar, caminhando com a mochila”, pensou. Mas foi tirada de seu transe com um golpe na testa.
— O que tanto pensa aí, idiota? — questionou Johan, ficando ao lado de sua capitã.
— Em nada... nada mesmo. — Ela suspirou ao terminar sua fala; seu tom de voz era pesado.
— Eu percebi. Na última missão, você ficou perdida, e a maioria dos cavaleiros se machucou porque você estava indecisa.
Yuki deu de ombros, olhando com o canto dos olhos. Ela se culpava por aquilo, mas não precisava dizer em voz alta. Sabendo disso, empinou o nariz e sussurrou um pedido de desculpas.
— O QUÊ? Eu ouvi isso mesmo? Fala mais alto, não deu para ouvir!
O vice-capitão provocou o orgulho de Yuki.
— Nada, idiota, eu não disse nada! — retrucou furiosa.
Johan, segurando o riso, seguiu a mulher.
— YUKI! YUKIZINHA! HAHA... HAHAHAHA. Esse momento não é para qualquer um: Yuki Bonnie se desculpando. HAHAHA... ARGH!
A mulher golpeou o estômago do cavaleiro. Mesmo com sua armadura, ele sentiu a força bruta, como se usasse apenas tecido, e caiu sem ar no chão.
— Arff... AH... Isso não vale, não sabe brincar?
— Vou focar na próxima missão. Farei de tudo para que possamos vencer. A cidade que iremos reconquistar é importante para Hiden. — Seu olhar teve um brilho. — E depois, vou buscar o pirralho.
Johan, nesse momento, descobriu o motivo de tanta desconcentração.
— Entendo... Aí. — Ainda com dor, sentou-se no chão. — Acha que ele ainda está vivo? Eu acho...
Yuki começou a chutar furiosamente o rosto de Johan.
— SEU MERDA! QUER ME FAZER SENTIR MAIS CULPADA?
Gritou enquanto golpeava seu subordinado. Pelo lado, o homem começou a gargalhar de sua capitã.
— OLHA SÓ, IHIHIHIEEE! AMOLECEU. IDIOTA!
— CALA A BOCA!
De repente, ouviram algo caindo. Avistaram dois cavaleiros rolando de um barranco logo à frente. Era o grupo de reconhecimento, composto por Dom e Sancho. Mesmo caindo, levantaram-se rindo e tentaram subir novamente.
— Idiotas... — Johan comentou.
Yuki apenas sorriu, observando a cena.
— Foi por causa desses idiotas que a última missão não deu errado. Mesmo que todos estivessem machucados, quando alguns queriam recuar, eles estavam rindo e foram para cima com tudo. Esses caras são fodas. Além de serem muito úteis para reconhecimento de território. Se algo acontecesse com eles, com certeza perderíamos dois ótimos suportes.
— Você não se preocupa em perder soldados. — Johan acende um cigarro. — Você se culparia por ter tirado o garoto deles, que viviam indo para um lado e para o outro. Eles ficaram mais fortes para serem exemplos pro pirralho.
Yuki mordeu os lábios e não respondeu.
— Você é uma filha da puta, Yuki, mas uma filha da puta com coração.
Johan teve uma breve lembrança de Roy brincando de cavaleiro com os dois. Depois de tudo que o garoto passou, eles conseguiram arrancar um sorriso dele.
— Com certeza ele está em boas mãos. E vai voltar.
**
Em meio à floresta, uma pequena luz brilhava, mas não demorou muito para ser apagada.
“Já é a quarta noite que eu procuro esse bosta. Será que ele existe mesmo?”
Se questionou o garoto enquanto apagava a fogueira com o pé. Depois, soltou o ar decepcionado e, sem pensar muito, adentrou a floresta. Tirou seu amigo sapo de dentro do capuz e o deixou em cima de uma pedra, pedindo para que ficasse ali e não se machucasse.
Passaram-se alguns minutos de caminhada, e nada. Por causa da floresta densa, a luz da lua passava apenas por algumas frestas das folhas. Mesmo com dificuldade, o menino conseguia ver onde pisava. Mas, ao perceber que já tinha passado muito tempo, murmurou:
— Merda! Isso é perigoso, estou ficando muito vulnerável assim. Acho que quem fez isso não era amigo, ele quer me ver morrer. FILHO DA PUTA!
O menino berrou furioso, e se quem tivesse escrito aquilo estivesse por perto, ouviria sua indignação. Porém, foi um ato descuidado de Roy. Não demorou muito para ele ouvir uma movimentação acima de sua cabeça.
“SERÁ?”
Saltou de onde estava sentado, mirou para cima enquanto sacava sua adaga. Sua visão captou uma sombra negra sobre a árvore, rosnando e deixando cair saliva de suas presas. O olhar pesado e brilhante fez as pernas do garoto tremerem. O animal era enorme em comprimento, mas Roy tinha certeza de que não era um Wendigo.
A enorme pantera fintou sua presa. No entanto, ao ver os olhos do garoto, sentiu-se ameaçada. Depois do breve susto, Roy girou a adaga na mão, suas pupilas estavam vazias, e ele soltava vapor pela boca. Não mediu esforços para tomar a dianteira da batalha.
Sem dar tempo para o animal reagir, o garoto ativou a primeira abertura. E, em menos de um segundo, a perna de Roy golpeou o rosto de seu inimigo, que foi de encontro com outra árvore. O pequeno cavaleiro tinha sangue nos olhos; usou o galho para se impulsionar e finalizar a pantera.
“Não posso ter mais medo... PUTA MERDA!”
Essa foi a reação do garoto quando seu rosto se chocou com uma pedra. Por não ter controle total de seus movimentos, ele se chocou em alta velocidade. O animal ficou confuso, sem saber o que fazer.
— Não liga pra isso... EU... eu... eita porra, onde estou? — Por causa do choque, Roy teve uma crise existencial. Seu nariz e boca sangravam, mas ele não se importou muito com isso.
A pantera iria aproveitar esse momento de confusão para finalizá-lo. Rugindo ferozmente, fez com que de dentro de seu corpo saíssem correntes elétricas, atingindo o humano. Roy sentiu seu corpo queimar por inteiro. Ficou por alguns segundos recebendo uma grande quantidade de energia elétrica, até que, de repente, seu corpo desligou. Sem ter o que fazer, ele caiu no chão.
Seu corpo não estava mais respondendo aos comandos do cérebro. Roy tentou se mexer de todas as formas, mas não conseguiu.
“Droga, o que eu faço?”, pensou.
A pantera se aproximou do garoto, percebendo que ele ainda estava vivo, e jogou mais uma carga elétrica em Roy. Seu objetivo era descompassar os batimentos cardíacos até pararem de vez. Ele sentiu seus órgãos fritarem, e, com muita dor, cuspiu uma grande quantidade de sangue.
“Merda, se continuar assim...”
Mas não havia mais nada que ele pudesse fazer. O garoto parou de se mexer. O predador se aproximou, sentiu o cheiro de queimado que vinha de Roy, ainda sentindo o coração bater, embora fraco. Sem demora, a pantera começou a abrir a boca.
— SEU MERDINHA! — berrou o garoto, golpeando o focinho do animal com a testa. A pantera recuou, assustada e confusa. — Droga, meu corpo não se mexe... Você é um desgraçado, mesmo.
Sem força alguma, o garoto continuou a resmungar, o que deixou o animal furioso. Preparando-se para liberar mais uma descarga elétrica, a pantera juntou o máximo de força que tinha.
— GRROOOOVEEE! — uma voz grossa e distorcida ecoou pela floresta.
Ambos ouviram passos pesados, acompanhados de sons de madeira rangendo. A espinha de Roy gelou. Antes que pudesse pensar em algo, sua pele começou a suar frio. Por parte do predador, parecia que ele estava desesperado, olhando para todos os lados possíveis, como um gatinho assustado.
A cada pequeno ruído, o animal entrava em mais desespero.
Roy sentiu o chão ao seu lado esquerdo tremer. Como seu corpo não se mexia, ele levantou o pescoço para tentar enxergar o que estava acontecendo. Conseguiu visualizar um olhar brilhando em meio à mata. A altura da criatura ultrapassava os três metros, e o ser analisava os dois seres que via.
— GROOOVE! — berrou novamente.
Em menos de alguns segundos, algo saiu do meio da mata e golpeou a barriga da pantera. Em um ato desesperado, ela liberou uma descarga elétrica na criatura gigantesca e tentou fugir.
No entanto, a descarga não teve efeito no monstro. Furioso, ele lançou várias estacas no corpo da pantera, que, naquele momento, já não era mais nada. Ao perceber que seu alvo não conseguia mais se mover, o monstro gritou furioso e partiu o animal em vários pedaços. O sangue foi jorrado para todos os lados, e, inevitavelmente, parte das tripas da pantera caiu sobre Roy.
O garoto ficou horrorizado. Desesperado, tentou mexer seu corpo, que não respondia. Se ficasse ali, seria pego pelo monstro que se escondia na escuridão. Em um ato desesperado, conseguiu apenas movimentar o pescoço.
— DRO-GA! — disse, rangendo os dentes, enquanto usava todas as suas forças para sair dali.
— GROOVE!
Os restos mortais da pantera foram levados para a escuridão, e sons de mastigação podiam ser ouvidos. Roy se debateu um pouco, sentindo seus órgãos arderem, o que o fez grunhir de dor.
“Aquilo me afetou muito.”
Tentando pensar em algo, sentiu algo fincando em seu ombro direito. Não sentiu dor por estar anestesiado, mas ainda assim xingou o monstro que o arrastava para dentro da mata.
Seu corpo foi arrastado, chocando-se com vários troncos e galhos. Roy ficou incrédulo com a distância que estava sendo levado. Mesmo distante, o som de seus berros e golpes ecoava pela floresta. O garoto tinha plena certeza de que havia visto os olhos do monstro e de que ele ainda estava por perto.
Ao se chocar com mais galhos, Roy começou a sentir leves pontadas, o que significava que seu corpo logo voltaria a se mexer.
No entanto, se demorasse mais, ele iria morrer nas mãos da criatura. Com dificuldade para respirar, puxou o pouco ar que conseguiu.
Tentou olhar para onde estava sendo levado, mas a velocidade não permitiu. Por um segundo, como vultos imóveis, ele viu as mesmas sombras sussurrantes e sentiu medo. A agonia da lembrança daquele momento confundiu sua mente. Sua coragem sumiu, e ele foi tomado por uma mistura de sentimentos.
O estresse o fez mudar de semblante. Seu coração acelerou, seu olhar perdeu o brilho e sua respiração ficou pesada. A garra que o segurava foi arrancada bruscamente.
O monstro sentiu leveza; sua presa havia escapado. Em meio às sombras, analisou sua garra e viu que ela tinha sido arrancada com força. Seus olhos brilharam ainda mais intensamente, sua ânsia de matar era perceptível de longe. Preparando-se para seu grito de guerra, ele avisou seu alvo.
— GROOVE!!
Roy rapidamente começou a se mover para o lado oposto da floresta, em busca de uma fuga.
“NÃO TEM COMO... EU VOU MORRER SE EU CHEGAR PERTO.”
Seu olhar estava perdido, seu corpo tremia. A vontade assassina do monstro fez o garoto entrar em desespero. Sua mente não conseguia pensar direito, e seu cérebro ativou o instinto de sobrevivência, focado apenas em fugir.
Algo agarrou a perna de Roy bruscamente. Ele sentiu seu tornozelo torcer, caindo no chão e se chocando com o tronco de uma árvore.
— Merda... merda... — sua voz perdeu força ao ver uma criatura enorme emergindo da madeira das árvores à sua frente. O brilho nos olhos do predador estava fixo em Roy. Ainda jogado no chão, ele apontou sua adaga para a criatura. Suas mãos trêmulas não conseguiam mostrar firmeza para o confronto.
E o Wendigo estava adorando aquela sensação.
— GROOOOVE!!