Volume 1
Capítulo 10 : Máscara de corvo
A dormência tomou conta da mão de Roy. Ele observou seus dedos ficarem roxos e tentou entender o que tinha acontecido. Como a pele do Wendigo, que parecia ser de madeira resistente, podia ser tão fácil de penetrar? Foi um golpe? Era o que ele se perguntava, enquanto algo começava a emergir da carcaça monstruosa à sua frente.
— Agora “fudeu” de vez... — murmurou, vendo a cena assustadora se desenrolar.
Um novo corpo ergueu-se, rompendo o que restava do antigo. O Wendigo havia mudado. Estava maior, mais ameaçador, com braços e pernas que pareciam troncos grossos de árvore. A pele marrom-escura lembrava madeira antiga, dura e intocada pelo tempo. Mas o que mais chamava atenção era o olhar: antes vazio, agora brilhava com um vermelho intenso e feroz. E então, sem aviso, soltou um rugido ensurdecedor, cheio de ira.
O corpo de Roy estava no limite. Ele mal conseguia se mover. Ossos quebrados, luxações por toda parte, e o cansaço da luta anterior sugando sua força.
"Não tem jeito... vou ter que recuar..." pensou, com a respiração ofegante.
De repente, o chão começou a tremer. Roy olhou ao redor, buscando uma saída, mas viu que o Wendigo estava manipulando o terreno ao seu redor. Usando sua magia, arrancou árvores do solo, suspendeu-as no ar e criou uma muralha de madeira viva. Não havia para onde fugir.
Ele tentou puxar o máximo de ar para os pulmões, mas uma crise de tosse violenta o fez curvar-se de dor.
“Merda, não consigo respirar direito...” pensou, ofegante. Foi nesse momento de distração que o Wendigo lançou seu ataque: árvores transformadas em lanças, disparando em direção ao garoto.
— Droga! — exclamou Roy, saltando para os lados para tentar escapar. O chão rachava e se desfazia ao seu redor, tornando cada movimento uma luta contra o desequilíbrio. Uma das lanças o atingiu de raspão, abrindo um corte profundo em seu ombro. Ele lutava para encontrar uma saída, mas estava encurralado.
Com sangue escorrendo pelo braço, Roy levantou os olhos para o céu. O amanhecer começava a despontar no horizonte, as estrelas sumiam lentamente. E, naquele momento crítico, algo ecoou em sua mente — as palavras de um velho amigo.
"HOHO!! Meu querido escudeiro, um cavaleiro, mesmo quando derrotado, não pode recuar! Se recuar, como pode se chamar de cavaleiro?"
Uma risada escapou dos lábios de Roy, baixa e trêmula no início, mas que logo cresceu, como se ele estivesse rindo da própria desgraça.
"Ahaha... hahaaa..." Não era o momento mais apropriado, mas de algum modo, aquilo o acalmou. Lembrou-se do homem magro, com um ego maior que o mundo, que lhe dissera essas palavras.
A situação era completamente diferente. Dom tinha perdido para um moinho de vento inofensivo. Roy enfrentava uma criatura bestial, fora de qualquer normalidade.
"Arf... como um bom escudeiro, preciso seguir as palavras do líder..." murmurou para si mesmo, um sorriso desafiador surgindo em seu rosto ensanguentado.
Ele se virou para o Wendigo. Sem hesitar, avançou com tudo o que tinha, usando apenas a força bruta de seu corpo. Aproximou-se rapidamente, seus punhos socando a criatura com uma fúria desesperada. Socos de esquerda e direita, repetidos e implacáveis. Mas a pele do monstro era agora muito mais resistente, absorvendo os impactos como se fossem golpes leves.
O Wendigo rugiu novamente, e dessa vez sua pele se cobriu de espinhos. Um deles roçou a bochecha de Roy, fazendo um corte fino e ardente. Ele recuou, tentando encontrar uma brecha, mas antes que pudesse reagir, um tronco colossal desceu do alto, obrigando-o a rolar para frente para escapar. Quando levantou o olhar, viu algo ainda pior: dezenas de tentáculos de madeira vindo em sua direção, prontos para perfurá-lo.
Roy começou a se mover, usando apenas uma perna e uma mão, pulando e se arrastando para escapar dos tentáculos. Ele desviava dos ataques com movimentos rápidos do tronco, puxando o máximo de ar possível. Em um instante de coragem e estratégia, agarrou um dos tentáculos e o puxou, usando o impulso para lançar-se adiante.
O Wendigo apenas viu um brilho feroz nos olhos do garoto enquanto ele se aproximava rapidamente. E então, um golpe pesado acertou a criatura, com uma força e velocidade que ele não conseguiu prever. O impacto fez a cabeça do Wendigo balançar para trás, surpreso pela intensidade do ataque. Mas ainda não foi o suficiente para derrubá-lo.
— Não vai ser tão fácil assim! — gritou Roy, com os pulmões queimando.
Ele atacou novamente, dessa vez mirando um golpe de baixo para cima, na direção do queixo do monstro. Porém, ao pisar no chão, sentiu algo se enrolar em sua perna.
"Merda, uma armadilha!"
Wendigo havia preparado um truque, galhos se enroscaram em sua perna e, antes que pudesse se soltar, seu corpo foi lançado pelo ar, girando sem controle até se chocar contra uma parede de terra.
Roy caiu pesadamente no chão. A dor explodiu por todo o corpo, e ele sentiu como se cada osso estivesse prestes a se partir. Tentou se levantar, mas as forças finalmente o abandonaram. Ele arfava, quase sem ar, enquanto seu olhar começava a escurecer.
— Dro... ga... — murmurou.
A dor era insuportável. Roy sentia como se seus ossos estivessem rasgando a carne de dentro para fora, cada movimento era como se todos os seus membros tivessem sido amputados, sem qualquer anestesia. Suas lágrimas misturavam-se com o sangue que escorria pelo rosto, e a visão turva dificultava a compreensão do que estava à frente. Mas ele ainda podia ver, a alguns metros de distância, o Wendigo crescendo, tornando-se mais monstruoso e ameaçador.
— Merda... esse sonho de ser cavaleiro... era só uma besteira... — ele murmurou, sua voz rouca e enfraquecida. Tossiu violentamente, o gosto metálico do sangue invadindo sua boca. — Velho... Dom... Sancho... Yuki, fui um péssimo escudeiro...
Algo brilhou na terra próxima, algo de metal. Roy reconheceu: era o colar que sua avó havia lhe dado. Ele abriu um sorriso triste, resignado. Finalmente aceitou seu destino. Morrer naquela floresta, com o sonho infantil de ser o mais forte do mundo reduzido a nada.
"LEVANTE-SE, MOLEQUE!"
Por um momento, ele achou que era a voz de seu avô, uma lembrança perdida na dor. Mas não. Era outra pessoa. Um homem encapuzado estava ao seu lado, o rosto oculto por uma máscara de corvo. A presença dele era intimidante, e Roy sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Ele reconheceu a voz, era a mesma do homem que o havia salvo antes.
— Você... — murmurou, com dificuldade. — ...aquele dia...
— Eu não ia me meter, mas vi que o seu espírito se quebrou. — a voz do homem estava carregada de desapontamento.
De repente, o Wendigo interrompeu a conversa, disparando uma enxurrada de ataques na direção do estranho. Mas, sem sequer mover um músculo, o homem quebrou todos os projéteis de madeira que voavam em sua direção. O monstro recuou, confuso e assustado, incapaz de compreender o que estava acontecendo. Tudo o que conseguiu enxergar foi a palma do homem, movendo-se lentamente em direção ao seu rosto.
— Palmas. — disse o homem calmamente.
Um zumbido cortou o ar, e Roy sentiu seus ouvidos pressionarem como se o mundo ao redor tivesse explodido. Uma onda de vento surgiu do nada, atingindo o Wendigo e arremessando-o para longe, como se fosse um simples galho. O homem, impassível, limpou a poeira de suas roupas e se voltou para Roy.
— Pronto. Agora, podemos conversar em paz. — disse, como se nada tivesse acontecido.
— Como... — Roy tentou entender, a mente girando com a dor e a confusão.
— Não é isso que importa agora. O que você pensa que está fazendo? — o homem se aproximou e ergueu Roy pela gola da camisa, forçando-o a encarar seu olhar. O rosto de Roy estava inchado, o olho direito completamente fechado, e ele mal conseguia respirar. — Já terminou, garoto? Foi para isso que veio?
— Eu... eu tentei... não consigo... — as lágrimas desceram pelo rosto de Roy, queimando como ácido. Ele estava destruído, tanto física quanto emocionalmente.
— Se tivesse tentado de verdade, não estaria neste estado. Como pretende proteger alguém assim? — a voz do homem soava como aço, cortante e fria.
— Isso não faz mais diferença... mesmo quando acho que vou... — Roy tentou responder, mas foi interrompido.
— CALADO! — a palavra ressoou como um trovão. — Acha que é assim que funciona? Onde está a sua fé? Você não tem que achar nada, garoto, você tem que fazer. Está pensando demais, e isso só te atrasa. Seu maior inimigo é você mesmo... é difícil controlar os próprios pensamentos, mas isso não significa que deve desistir!
O chão tremeu novamente. O Wendigo havia retornado, ainda maior e mais furioso, erguendo lanças de madeira gigantes para atacar o homem. Uma nova onda de choque atravessou o ar, quebrando as lanças no meio do caminho e lançando o monstro para longe mais uma vez.
— Nos dê licença, eu ainda não terminei a conversa. — disse o homem, dirigindo-se ao monstro como se fosse um mero inconveniente. Ele então voltou sua atenção para Roy. — Onde eu estava? Ah, sim... você está pensando demais no que fazer, e por isso não faz nada. Sabe por que a senhorita Bonnie se destaca tanto?
Roy piscou, tentando focar. Mas a dor era esmagadora, e ele mal conseguia raciocinar.
— Ela foca em agir. Ela toma decisões rápidas, e não tem medo de falhar ou se machucar. Isso é algo que o mestre dela lhe ensinou. — o homem fez uma pausa, deixando as palavras assentarem. — O herói...
— O... O herói... — Roy repetiu, sua voz quase inaudível.
— Isso mesmo. Eu o conheci. E ele dizia algo que nunca esqueci: “pensar demais é hesitação, porque a sua mente já te derrotou antes mesmo de tentar.” Mantenha o foco apenas no que está bem na sua frente. Nada além disso importa.
— Eu... não consigo... — Roy tossiu novamente, o peito ardendo. — Eu não vou conseguir...
— Claro que vai. Você percebeu que nem usou um terço do que treinou? Pare de arrumar desculpas. Sem desculpas, só melhore! É isso que faz um verdadeiro cavaleiro. — as palavras do homem eram duras, mas carregavam uma verdade que fez algo despertar dentro de Roy.
Aquelas palavras atravessaram a dor, e Roy sentiu a adrenalina começar a correr por seu corpo. Ele encarou a máscara de corvo, seus olhos brilhando com uma determinação renovada. E então, ele agarrou o pulso do homem, sentindo sua própria força aumentar. Uma aura verde começou a emanar ao redor de Roy, brilhando intensamente.
— Muito bem, garoto. — disse o homem, satisfeito.
Ele soltou Roy no chão, e a aura verde ficou ainda mais forte. Sem dizer uma palavra, Roy começou a avançar em direção ao Wendigo, sua mente clara e focada.
— Espere. — o homem misterioso jogou um pequeno frasco com um líquido roxo para Roy. — Elfos são ótimos alquimistas. Esta poção é temporária, mas vai lhe dar o impulso necessário para derrotar essa coisa.
— E depois? — Roy perguntou, segurando o frasco e olhando para o líquido roxo.
— Não pense no depois, pense no agora! — respondeu o homem, seu tom firme e inabalável.
Roy apontou para frente, os olhos fixos no Wendigo, que se aproximava absorvendo a madeira ao redor e aumentando de tamanho, como um monstro que se alimentava do próprio ambiente. Sem pensar duas vezes, ele engoliu a poção que o homem havia lhe dado.
Uma enorme rajada de madeira desceu sobre ele. O Wendigo estava furioso, cego pelo desejo de esmagar aquele ser humano que ousou desafiá-lo. Não se tratava mais de saciar a fome, mas de destruir, de reduzir a nada aquele que o golpeou. Sua fúria animal só queria uma coisa: ver os restos mortais de Roy espalhados pelo chão.
Antes que a onda de madeira pudesse atingi-lo, Roy desapareceu num borrão de velocidade. Um chute acertou a mandíbula do Wendigo com tanta força que o fez cambalear para trás. Antes que pudesse focar, veio outro golpe, e mais outro. A criatura mal conseguia entender o que estava acontecendo — flashes verdes cruzavam sua visão de um lado para o outro, rápidos demais para serem seguidos.
Acima da batalha, o homem de máscara de corvo observava calmamente de cima de um galho, como se fosse um espectador privilegiado. Ele sorriu de forma quase orgulhosa.
— Muito bom, garoto! — murmurou, enquanto um corvo pousava em seu ombro. A ave, porém, não era uma simples criatura; havia algo estranho e quase humano nela.
— CRÁ! CRÁ! O que você deu para ele? — grasnou o corvo, sua voz áspera e arranhada.
— Uma amiga me deu uma poção de elixir morfines. — explicou o homem. — Alivia um pouco a dor, regenera alguns ossos, mas não completamente. Ele tem vinte minutos antes que a dor total volte como uma avalanche.
— CRÁ! Você é louco, os danos podem ser permanentes!
— Cuide da sua vida. — rebateu o homem, sem desviar o olhar da luta. — Eu sei o que estou fazendo. O sangue que corre nas veias dele é...
Um estrondo interrompeu a conversa. O Wendigo olhava freneticamente para todos os lados, sendo atingido de várias direções ao mesmo tempo. Roy usava a floresta ao redor para se mover, saltando de árvore em árvore, atacando sem cessar. Percebendo isso, o Wendigo decidiu mudar de tática, absorvendo todas as árvores ao seu redor para impedir que o garoto tivesse onde se apoiar.
De repente, Roy se viu no ar, sem nada para se segurar. Foi o momento perfeito para o monstro. Com um movimento rápido, ele estendeu a mão e agarrou Roy, esmagando-o como se fosse um brinquedo e o arremessando contra o chão. Mas, mesmo assim, Roy conseguiu quebrar alguns dedos do Wendigo e escapar, rolando para longe antes de se colocar de pé novamente.
Seus olhares se cruzaram. O Wendigo parecia maior, mais ameaçador a cada segundo, suas pupilas brilhando em um roxo intenso. O vapor escapava da boca de Roy enquanto ele arfava, a aura verde ao redor de seu corpo se misturando com a fumaça, tornando a cena ainda mais sinistra.
— Frou-do! — ouviu uma voz familiar coaxar. Roy olhou para baixo e viu seu pequeno amigo sapo, Frodo, aparecer ao seu lado.
— Frodo, não era para estar aqui! — exclamou, a surpresa misturada com preocupação.
Frodo respondeu cuspindo algo no chão. Era a adaga que Roy havia perdido durante a batalha. Ele pegou o item e sorriu, um sorriso amargo, mas agradecido.
— Você é mesmo um sapinho estranho... muito obrigado. — disse, colocando a adaga na mão direita e estendendo o braço esquerdo como uma defesa improvisada.
O Wendigo lançou seus tentáculos de madeira, tentando capturá-lo de uma vez por todas. Mas desta vez, Roy estava pronto. Antes que os tentáculos o alcançassem, eles se despedaçaram no ar, fragmentados pela velocidade e precisão dos ataques. Em um movimento rápido, Roy se aproximou do monstro, mas o Wendigo conseguiu bloquear o golpe, forçando-o a recuar mais uma vez.
A floresta ao redor estava densa e escura, com árvores imensas projetando sombras assustadoras que pareciam ter vida própria. Cada passo de Roy ecoava pelo ambiente silencioso e sinistro, criando uma atmosfera de terror. Ele estava exausto, seu corpo tremendo de esforço, seus músculos queimando a cada movimento.
O Wendigo ergueu um braço, e as árvores obedeceram, transformando-se em lanças e espinhos afiados, prontos para atacar. Roy apertou a adaga com força, sentindo o peso do medo e da dúvida. Seu corpo começava a doer de novo, a poção perdendo efeito gradualmente, e a exaustão ameaçava sufocá-lo. Mas no fundo de sua alma, uma pequena chama de determinação ainda brilhava. Ele sabia que não podia desistir.
As lanças de madeira vieram rápidas como flechas. Roy se esquivou, rolando pelo chão úmido e sombrio da floresta, mas uma delas o atingiu de raspão, rasgando sua perna. Ele gritou de dor, mas transformou o sofrimento em impulso, lançando-se para a frente em um ataque desesperado. Com um grito feroz, ele correu na direção do Wendigo, socando e chutando com uma fúria incontrolável.
Cada golpe parecia inútil contra a carapaça impenetrável do monstro, mas Roy não parava. Ele se esquivava das garras afiadas que cortavam o ar ao seu redor, sentindo o vento de cada ataque que passava por ele como uma lâmina afiada. Num movimento rápido, deslizou por baixo das pernas do Wendigo e cravou a adaga em sua panturrilha de madeira, torcendo-a com todas as suas forças.
O Wendigo rugiu de dor, balançando o corpo gigantesco para tentar se livrar da arma cravada. Mas Roy não cedeu. Ele segurou firme a adaga, seus dedos escorregando pelo sangue que agora manchava sua mão.
“Não é só um sonho... é minha vida.” pensou, seus olhos brilhando com uma ferocidade renovada.
Ele puxou a adaga, arrancando pedaços de madeira que se desprendiam como carne, e se preparou para atacar novamente.
O Wendigo rugiu, uma mistura de dor e fúria pura, girando seu corpo massivo para esmagar Roy com um soco devastador. Roy conseguiu esquivar-se por um triz, mas o impacto do golpe no chão gerou uma onda de choque que o lançou violentamente para trás. Ele bateu com força contra uma árvore, e o som seco de costelas quebrando ecoou pela floresta. A dor era excruciante, mas, de alguma forma, só alimentava sua determinação, como uma chama que não podia ser apagada.
“Eu não posso perder aqui,” murmurou, sentindo o gosto metálico do sangue em sua boca enquanto se levantava, cada movimento uma tortura. A cada respiração, uma pontada aguda rasgava seu peito, mas seus olhos continuavam fixos no Wendigo. O monstro era enorme, ameaçador, mas Roy sabia que, naquele momento, ele era tudo o que se colocava entre a vida e a morte. E ele escolheu lutar.
Com um esforço final, Roy avançou novamente, ignorando a dor que latejava por todo o corpo. Desta vez, ele não correu para atacar, mas para escalar, subindo pelo corpo retorcido do Wendigo com uma agilidade surpreendente. O monstro tentou sacudi-lo, balançando-se violentamente para derrubá-lo, mas Roy era rápido demais, movendo-se como um raio.
Chegando ao ombro do Wendigo, ele agarrou a adaga com as duas mãos e cravou a lâmina profundamente no pescoço da criatura, a madeira dura cedendo sob a força do golpe. O Wendigo soltou um rugido ensurdecedor, seus olhos brilhando em agonia, enquanto suas mãos gigantescas tentavam alcançar o garoto. Mas Roy segurou firme, as veias de seus braços pulsando com o esforço, e torceu a lâmina com tudo o que ainda lhe restava de força.
O tempo pareceu parar por um instante. E então, com um estrondo final, o corpo gigantesco do Wendigo começou a ceder. Ele tombou para trás, seus membros de madeira tremendo e se desfazendo enquanto a vida se esvaía dele. O impacto fez a terra tremer, e um silêncio absoluto se instalou na floresta negra. Roy caiu ao lado do monstro derrotado, seus pulmões ardendo, o corpo inteiro latejando de dor. Estava exausto, coberto de sangue e feridas, mas havia vencido.
O silêncio que seguiu era quase surreal, como se a floresta estivesse segurando o fôlego, absorvendo o momento. A respiração pesada de Roy era o único som que quebrava a quietude, uma prova de que ele ainda estava ali, ainda vivo. Ele havia enfrentado não só um monstro, mas também seus próprios medos e inseguranças, e saíra vitorioso. A um preço alto, é verdade, mas uma vitória ainda assim.
Enquanto olhava para o corpo inerte do Wendigo, um sorriso fraco e cansado se formou em seus lábios. Sentiu a dor, a exaustão e o peso de tudo o que tinha vivido, mas, naquele momento, havia algo mais: um sentimento de orgulho e realização. Sabia que aquela vitória o havia mudado para sempre. Ele não era mais o mesmo garoto que havia entrado naquela floresta. Havia algo novo dentro dele — uma força que ele sequer sabia que possuía, mas que agora brilhava como uma chama que jamais se apagaria.