Volume 3
Capítulo 112: Monstro de Lith
Solus não tinha ideia do que Lith havia feito, para ser exato, nenhum dos dois sabia. A criatura na frente deles não estava viva nem morta, e o sentido de mana nunca tinha percebido nada parecido.
Um núcleo normal era uma massa de mana pura, que poderia ser usada para interagir com a energia mundial e, assim, dar vida aos feitiços. Os seres despertos pareciam ser os únicos capazes de usar essa mana para obter vários efeitos, como Revigoramento ou magia espiritual.
Já o núcleo negro de uma Abominação, em vez disso, era uma forma de mana mais forte, mas corrompida, que constantemente exigia grandes quantidades de energia mundial apenas para não se dissipar. Sendo assim, as abominações ganhariam poderes únicos.
O Wither que eles enfrentaram no passado tinha a habilidade de drenar a força vital mesmo à distância. Já a coisa planta poderia dividir sua consciência para ultrapassar e consumir a vegetação circundante enquanto procurava por presas animais.
Mas isso tinha um preço. Ambas provaram ter um conjunto de habilidades mortal, mas limitado, ao ponto de terem perdido a habilidade de usar magia em todas as suas formas.
Porém, o núcleo de sangue que Lith havia criado por acidente estava completamente fora de sua experiência. Era uma massa composta por sangue e magia negra, com os restos do núcleo de mana de Raghul de alguma forma mantendo tudo unido.
Com base no que Solus pôde ver, ele tinha uma natureza física e mágica, além de estar completamente desordenado, sem equilíbrio interno ou estrutura adequada. Ele continuamente se expandia e encolhia, mudando de esférico para elipsoidal, às vezes não tinha forma nenhuma.
Era uma criatura do caos e, como tal, não tinha que durar. A cada segundo, ele reorganizaria seu corpo hospedeiro e a si mesmo, causando grandes esforços no corpo de Raghul.
Quando vivo, era um homem corpulento, de estatura mediana, cabelo preto curto e cavanhaque bem aparado da mesma cor, que ajudava a suavizar suas feições quadradas.
Agora, seu rosto estava deformado em um grito perpétuo de dor, seu nariz afiado afundou em seu rosto até que apenas as narinas permaneceram. A pele continuou apodrecendo, ficando verde e descascando, revelando o tecido muscular por baixo antes de se regenerar e começar de novo.
O corpo inchou rasgando as roupas encantadas, seus braços ficaram mais longos e deformados, o suficiente para tocar o chão, as pernas dobradas para trás em um ângulo não natural.
– “Isso definitivamente não é um vampiro. O que diabos eu fiz?” –
O jovem Byk fugiu sem pensar duas vezes, sentindo o perigo iminente.
A criatura começou a sibilar, observando Lith com os olhos cheios de ódio e desprezo. Ela se moveu com uma velocidade incrível, nem mesmo usando a fusão de ar ao máximo. Lith foi capaz de evitar a carga.
Os dedos de Raghul haviam se tornado garras afiadas como lâminas de dez centímetros de comprimento, o que tornava fácil o trabalho do protetor cardíaco de ferro de Lith e da fusão com a terra.
As garras em forma de gancho cortaram verticalmente, perfurando profundamente seu peito. Pedaços de carne do tamanho de um dedo atingiram o chão, enquanto o sangue espirrou ao redor. Tudo aconteceu tão rápido que Lith só sentiu dor quando já estava se movendo para evitar um segundo golpe.
O choque foi tão intenso que em outra situação poderia tê-lo feito desmaiar, mas com sua vida em jogo, a força de vontade e o instinto de sobrevivência permitiram que ele aguentasse, mesmo que por pouco.
Lith podia sentir o sangramento rítmico em seu peito a cada batida de seu coração em pânico, ensopando suas roupas. Era como ter um ferro em brasa destruindo sua carne, enquanto agulhas de gelo picavam a pele ao redor, dando-lhe uma sensação de entorpecimento que se espalhava lentamente.
Ele conseguiu evitar o segundo golpe, mas apenas porque de repente a criatura se distraiu, tornando o golpe desleixado e previsível. Assim, Lith explorou a abertura para obter alguma distância e curar suas feridas.
Para sua surpresa, as marcas das garras estavam cheias de magia negra, tornando o feitiço de recuperação muito mais lento e menos eficaz do que o normal. A criatura, em vez disso, escolheu os pedaços de carne, brincando com eles com entusiasmo.
Ela inclinou a cabeça para o lado, fazendo com que a maior parte do cabelo de Raghul caísse como folhas de outono ao vento, parecendo ter percebido algo importante. Em seguida, levou-os à boca, devorando-os.
– “A boa notícia é que seja lá o que for, não é um vampiro. A má é que não tenho ideia de como derrotá-lo.” – Lith usou a fusão de luz, tentando neutralizar a energia escura que infectava a ferida.
– [“Você pode fugir ou ganhar tempo. Aquilo não pode viver por muito tempo.”]- Solus apontou.
Ela podia ver claramente o núcleo de sangue se desfazendo. A força que percorria o monstro era demais para seu corpo, apesar de todas as mudanças pelas quais havia passado. Cada movimento, cada ataque iria danificá-lo tanto quanto aquele ataque fez ao Lith.
Talvez fosse porque a criação do núcleo de sangue tinha sido puramente acidental, talvez porque a criatura era vulnerável ao sol, mas sendo uma criatura estupida, ela nem se importou.
Seja qual for o motivo, a ingestão de carne crua mal atrasou seu processo de decomposição.
Depois dos cabelos, toda a pele foi descascada, deixando os músculos expostos, molhados e brilhando sob o sol do meio-dia. Todos os seus dentes foram substituídos por presas, dando-lhe uma aparência estranha.
A criatura gritou de fúria, percebendo que Lith havia fugido, forçando-a a decidir se caçaria o criador por quem sentia um ódio profundo, ou a indefesa Rodimas. O doce cheiro de sangue pingando e o sabor delicioso da carne resolveram o negócio.
Enquanto Lith e Solus ainda conversavam, menos de dois segundos após o first blood da criatura, o pesadelo começou.