Volume 3
Capítulo 113: Monstro de Lith (2)
O monstro disparou em direção a Lith mais rápido do que uma bala, acertando todos os ataques que sua resolvida “caça” atirou nele. Burning Prison, o feitiço pessoal de nível quatro de Lith, conjurou seis bolas de fogo, uma acima, uma abaixo e quatro ao redor da criatura, detonando ao mesmo tempo.
A cabeça explodiu e regenerou, os membros ficaram em pedaços, mas todos os pedaços conseguiram se reconectar antes que a explosão pudesse espalhá-los. Raios queimaram sua carne e estouraram seu coração, e logo após, pingentes de gelo perfuraram seu corpo como se fossem agulhas perfurando uma almofada de alfinetes.
Nada disso conseguiu nem mesmo a desacelerar. No entanto, a recuperação de todo aquele dano teve seu preço, o corpo da criatura ficou mais magro, enquanto as garras caíram, deixando-a apenas com os punhos.
Punhos estes que atingiram Lith com a força de um titã, mesmo considerando o trabalho de pés e a técnica que ele usava para desviar parte da força recebida. Apesar de ter sido endurecido pela fusão com a terra, o braço direito de Lith se partiu na ulna, úmero e rádio com a inércia.
Segmentos ósseos perfuraram os músculos e a pele, o branco do osso brilhando sob o sol por causa do sangue gotejando neles.
Lith ficou cego de dor, seus olhos lacrimejando como cachoeiras, mas conseguiu permanecer consciente, mais uma vez sendo salvo por sua inquieta paranoia. Ele sabia que ser um verdadeiro mago não era suficiente, que estar preparado também não era.
O novo mundo era um lugar grande, e ele encontraria mais cedo ou mais tarde alguém mais forte que ele, alguém capaz de machucá-lo de verdade.
Entre seus experimentos de tentativa e erro nos quais ele fora a cobaia, Lith aprendeu como usar magia negra para cortar seus receptores de dor, e foi o que ele fez no momento em que percebeu que tudo o que tinha não era suficiente para parar um único soco do monstro que ele mesmo havia criado.
Lith também saltou de lado no último segundo, pegando emprestada a força do golpe para colocar alguma distância entre eles. Enquanto voava pelo ar, ele conjurava o mais rápido que podia, fazendo chover todo tipo de feitiço sobre seu perseguidor.
Mesmo com apenas o braço esquerdo restante, ele conseguiu acertar mais quatro explosões antes que a criatura o alcançasse e o atacasse novamente, desta vez em seu peito. Lith sentiu sua caixa torácica desabar, cuspindo sangue ao perceber que até mesmo respirar havia se tornado uma tortura terrível.
A coisa Raghul o ergueu pelo pescoço, lambendo cada gota do precioso líquido, sentindo sua força retornar.
Ambos estavam ofegantes, suas expressões distorcidas, mas enquanto Lith estava desesperado, seu monstro estava triunfante, usando sua língua estranhamente longa para lamber todo o sangue que pingava de seu rosto.
Lith então usou esse momento precioso para acenar um feitiço final, e quando o monstro abriu a boca para rasgar seu pescoço, ele conseguiu conjurar um pedaço de gelo dentro da criatura, de modo que, quando a mandíbula tentou se fechar, o dito pedaço perfurou sua língua, palato e cérebro.
No entanto, a criatura não ligou para isso, não até perceber que não poderia morder. Então o monstro simplesmente agarrou e puxou o pingente de gelo, sem se importar com seus próprios ferimentos, acelerando o processo de decomposição.
Seus olhos murcharam e rolaram para dentro do crânio, deixando apenas a luz vermelha dos mortos-vivos para trás.
Foi aí que as presas finalmente morderam o pescoço de Lith, o sangue jorrou de sua jugular.
Mas então o queixo da criatura caiu, logo seguido pelo braço direito dela, o que a incapacitou de continuar a segurar a presa.
O monstro de Lith emitiu um gorgolejo raivoso, baba inundando sua boca, pouco antes de todo o cadáver secar e desabar no chão, se transformando em cinzas.
– “Na sua cara, Mary Shelley.” – pensou Lith, lançando todos os feitiços de cura que conseguiu antes de cair no chão, esparramado como uma boneca de pano.
Depois de tanta dor e luta, ele finalmente se sentiu em paz. Sua visão ficou turva até que tudo ficou escuro; todas as suas ansiedades, todos os seus medos e traumas sumindo. A dor latejante das feridas foi reduzida a uma sensação maçante, não mais importante.
Ele só queria dormir e esquecer tudo, mas de um canto de sua mente, algo continuava puxando a consciência de Lith, se recusando a desistir. Era uma parte dele, uma parte que estava lutando contra o estupor, sabendo que ele nunca iria acordar daquele sono.
Solus tentou sem parar alcançar sua mente através da dor entorpecente e da exaustão, mas sem sucesso. Ele tinha ido longe demais, as feridas eram muito profundas. A única coisa que ela podia fazer era usar sua própria mana para manter as condições dele estáveis.
No entanto, com apenas um núcleo de mana amarelo para apoiar seu esforço, ela estava apenas atrasando o inevitável. Finalmente, porém, a fusão de luz foi capaz de purificar as feridas da energia escura, permitindo que todos os feitiços de cura que ele havia lançado anteriormente entrassem em ação.
O sangramento parou. As feridas ainda eram graves, mas não mais fatais, pelo menos por enquanto. Lith agora era capaz de ouvir a voz de Solus, de pegar a luz da vontade dela e usá-la com a sua para finalmente abrir os olhos.
Ondas de dor lancinante ainda devastavam seu corpo machucado, mas ele não podia se dar ao luxo de se curar. Não apenas ele tinha pouca mana restante, mas em suas condições atuais, até mesmo feitiços leves adicionariam tensão a seu corpo, potencialmente matando-o.
Cerrando os dentes para suportar a agonia de cada respiração, ele usou o Revigoramento, para avaliar suas condições e ganhar a energia de que precisava para sobreviver.
– “Fraturas cominutivas em toda a caixa torácica, fratura cominutiva e exposta do braço direito, sangramento interno leve, vários ossos quebrados e feridas abertas. Duvido que eu ainda estaria vivo sem o fator regenerador da fusão de luz e sua ajuda, Solus.” –
– [“Agradeça-me mais tarde, primeiro conserte seu peito. Se algum dos fragmentos de osso perfurar seus pulmões, você está acabado.”] –
O Revigoramento era uma ferramenta incrível, mas não era perfeita. Para usá-lo, Lith precisava permanecer imóvel, concentrando sua mente e espírito para alinhar o núcleo de mana com a energia mundial ao seu redor.
A menor distração prejudicaria a conexão.
Essa era a razão pela qual ele não poderia usá-lo durante as batalhas, caso contrário, ele teria acesso a um suprimento infinito de mana. Seguindo o conselho de Solus, Lith usou magia de luz e espiritual para coletar todos os fragmentos de ossos espalhados e reconstruir sua caixa torácica.
O processo era lento e doloroso, mas ele não podia se apressar, sua própria vida estava em jogo. Depois disso, ele teve que cuidar da fome. O revigoramento poderia compensar a perda de resistência e mana, mas a recuperação de tantos ferimentos exigia nutrientes.
Seu braço direito ainda estava uma bagunça, mas com os receptores de dor desconectados era suportável.
Lith se sentiu como se estivesse jejuando por uma semana, com a cabeça leve e tonta. Tirou comida de seu bolso, devorando-a tão rápido quanto seu braço esquerdo permitia. A magia da luz estava acelerando seu metabolismo ao extremo, a comida era digerida assim que entrava em seu estômago.
Ainda assim, o tempo era fundamental. Ele aproximou-se de Rodimas, retirando-lhe a mordaça para obter as respostas.
“Quem te mandou aqui? E por quê?”