Volume 2
Capítulo 41: Inferno sobre a Neve
O demônio de olhos púrpuras.
Aquela presença gélida e sufocante fez o ar ao redor parecer ainda mais denso. O olhar cintilante em roxo puro foi imediatamente reconhecido pelo grupo. Era impossível esquecê-lo. Ector e os demais se recusavam a recuar.
— Meus parabéns… — disse Thorm ao emergir das sombras, com um sorriso torto nos lábios. — Eu jurava que não sobreviveriam. Mas aqui estão.
Sua voz ecoou com um timbre cortante, ressoando contra as pedras úmidas e manchadas de sangue da sede. Ele estava sentado em um beiral de uma das torres, como se assistisse, entediado, a uma peça de teatro. A luz da lua, filtrada pelas nuvens espessas, projetava um brilho esmaecido sobre seu corpo, revelando uma figura ainda mais ameaçadora do que antes.
Thorm se ergueu com elegância. Seus olhos, agora, tinham escleras negras, levemente iluminadas pelo brilho profano de suas pupilas púrpuras. Uma nova marca enfeitava seu rosto, abaixo do olho esquerdo, como se runas escuras tivessem escorrido em forma de lágrimas e ali permanecessem, gravadas na pele. Do mesmo lado, um único chifre enorme se projetava, curvando-se como o galho seco de uma árvore morta, turvo e sombrio. Suas unhas, agora longas e negras, pareciam garras afiadas prontas para retalhar. Estendendo-se a partir das junções de seus dedos, formavam-se escamas negras que lembravam luvas ásperas e trincadas, como se fossem moldadas em pedra rachada.
A batalha seguia ao fundo, mas agora o epicentro era outro. O pátio da sede já não estava tomado pelas criaturas. Com suas peles retorcidas e olhos famintos, elas agora circundavam seu líder em silêncio, como se aguardassem uma ordem. As que haviam invadido os corredores eram massacradas aos poucos pelos guardas que ainda tentavam resistir. No entanto, tudo aquilo parecia insignificante diante do que estava por vir com a presença de Thorm.
— O elfo… — ele continuou, com uma risada seca, o tom impregnado de desprezo. — Deu um jeito com seu novo poderzinho nojento, não é mesmo? Saltando pelo espaço-tempo... como uma pulga assustada... — o sorriso se torceu, revelando dentes afiados como facas.
Seus olhos agora estavam fixos em Eduardh, como se o atravessassem.
— Devo dizer que me intriga como consegue suportar toda a dor que o selo provoca ao usar seu poder. Deve ser mais um efeito colateral dessa inconveniente marca... Aquele desgraçado, mesmo morto, continua a nos importunar. Mas chega de conversa. Desta vez, não vou brincar com vocês. Não mais.
Ele finalizou com uma aura ameaçadora, indo em direção ao manto negro projetado pelas enormes árvores. Como um sussurro, seu corpo se dissolveu nas sombras da muralha. Assim como o grupo de Cázhor, os soldados ainda estavam enfrentando as criaturas, que apesar de recuadas, ainda se atiravam, ora ou outra, para cima com a ferocidade de um animal cometido pela loucura.
Mal tiveram tempo de reagir à breve aparição de Thorm, e já eram surpreendidos quando o demônio surgiu acima do portão principal como um vulto, avançando contra o grupo com violência. A neve diante dele se desintegrava com o impacto de sua presença, enquanto uma rajada de mana escura e densa era lançada em direção ao grupo.
Lâminas negras se materializaram, rasgando o ar como estilhaços da própria noite. A técnica lembrava vagamente a que Lenna havia usado contra o Cérbero. Mas, ao contrário dela, Thorm exibia um controle absoluto, um foco frio e uma letalidade pura. Cada lâmina parecia carregada com a intenção única de matar. Era nítida a diferença em seu comportamento desde a última vez que se encontraram.
A barreira resistiu, mas por pouco. As raízes estavam agora em frangalhos, retorcidas e chamuscadas. A mana negra de Thorm queimava tudo o que tocava, vaporizando madeira, gelo e até partículas de terra no ar. O cheiro era de podridão e fumaça úmida. As defesas naturais de Varbbek haviam quase cedido, e ele sabia disso. Sentia nas entranhas o peso do milagre de ainda estarem vivos.
Seus ombros tombaram levemente, e ele respirou fundo. A pele suada, o peito arfando de leve. Já havia gasto mais mana do que deveria. Não só ali, mas desde a fuga com Cázhor. Aquela batalha contra a demônia de cabelos azuis ainda latejava em sua memória, assim como os gritos dos que ficaram para trás. Não havia descanso. Nenhuma trégua. E agora, diante deles, o abismo tomava forma mais uma vez.
— Tsk… — Thorm lambeu os lábios, como se saboreasse a tensão no ar. — Vejo que você evoluiu bem desde o nosso último encontro, druida.
Após o ataque violento e frustrado, Thorm desceu lentamente, flutuando sobre as sombras projetadas na muralha. Não havia pressa nem hesitação, apenas a tranquilidade fria de quem domina o campo de batalha. Agora, encarava o inimigo, com a mesma serenidade de quem respira antes de matar.
Varbbek manteve-se firme, mas havia um tremor discreto em seus dedos. Não de medo, mas de desgaste. Estava exausto. Não apenas pela magia drenada ou pelos músculos que ardiam sob as roupas pesadas, mas pelo fardo invisível de proteger tantas vidas. Seus aliados estavam ali atrás, confiando nele mais uma vez. E ele temia não ter mais o suficiente para dar.
— Acha mesmo que... vai ser diferente? Já está pronto para ver o sangue dos seus companheiros escorrendo por suas mãos… mais uma vez? — A voz de Thorm saiu grave, quase num sussurro, e ainda assim foi ouvida em meio ao som das criaturas devorando os guardas.
Aquelas palavras, afiadas como lâminas envenenadas, não quebraram Lenna. Pelo contrário, serviram de combustível para sua determinação. Fagulhas que acendiam, dentro dela, a necessidade urgente de resistir. Seus braços tremiam sob o peso do esforço, mas seus escudos de mana permaneciam ativos, inquebrantáveis. O treinamento intenso com Galgard, ainda fresco em sua memória, havia lhe concedido mais do que disciplina. Havia lhe dado controle.
Graças a isso, Lenna alcançou uma habilidade singular de dividir sua concentração em múltiplos focos sem perder a estabilidade mágica. Sustentava, ao mesmo tempo, sua armadura de mana e os escudos que protegiam os demais, sem deixar que nenhum deles perdesse força. Não havia falhas, apenas tensão e uma determinação silenciosa.
As barreiras ao seu redor agora se formavam como blocos translúcidos, levemente azulados, cada um em forma de losango, flutuando e se interligando com perfeição matemática. O brilho pulsava de forma instável, denunciando o enorme esforço exigido para mantê-los de pé, mas cada ataque das criaturas que vinham em ondas era absorvido e devolvido com violência. As estruturas mágicas rangiam, ondulavam, mas não cediam. Nem uma rachadura. Nem um passo para trás.
Seus olhos estavam cravados em Thorm, e ainda assim, mesmo sem olhar diretamente, suas defesas interceptavam as investidas inimigas com precisão quase sobrenatural. Ela havia finalmente se tornado o escudo do grupo.
Eduardh estava logo atrás dela. Já tinha uma flecha conjurada, envolta em uma luz amarelada, vibrando com energia mágica. O arco estava tensionado ao máximo. Seus dedos permaneciam firmes, mas a respiração curta entregava o que seu rosto tentava esconder. A pressão era real. Cada músculo se mantinha imóvel, como se o tempo pudesse congelar até que surgisse o instante certo. Ele sabia que, se errasse, se disparasse antes da hora, não haveria segunda chance. A margem para erro era inexistente.
Vladmyr rangeu os dentes e avançou um meio passo, a mão já posicionada na empunhadura da espada. O corpo clamava por entrar em ação, por desfazer o peso da espera em aço e movimento. Já havia enfrentado muitas criaturas, mas Thorm era diferente. Sua presença o esmagava, como se estivesse preso sob um céu prestes a desabar. Ainda assim, respirou fundo. Encontrou no caos um fio de silêncio. E ali, preparou-se. Na primeira brecha, ele reagiria sem titubear.
Atrás de todos eles, as criaturas avançavam novamente. Garras, presas, bocas demais para um único corpo, encorajadas pela aura de seu líder. Lenna os mantinha protegidos junto a Varbbek, mas não por muito tempo. E Thorm apenas assistia, como se já soubesse o desfecho.
Na retaguarda, Cázhor observava em silêncio. Seus olhos percorriam cada peça no campo de batalha. Estava claro o abismo de poder entre eles. Magias comuns ou de baixa concentração não afetariam Thorm, ainda mais naquela forma. Ele hesitava, não por dúvida em sua capacidade, mas pelo peso da responsabilidade. Havia muitos dos seus ainda em campo. Um passo em falso, uma decisão precipitada, e poderia acabar fazendo o trabalho inimigo por ele.
“Para competir com Thorm, eu teria que lançar minhas magias em uma escala massiva... porém elas possuem um amplo raio...” O mago franziu o cenho na tentativa de achar uma solução.
Fogo líquido. Plasma condensado. Uma tempestade de calor incinerante que transformaria a neve em vapor e a pedra em cinzas. Essa era sua especialidade. Mas também era o tipo de feitiço que não fazia distinção entre amigos e inimigos.
Ector percebeu o dilema em que o mago se encontrava. Seus olhos passaram de Thorm para Cázhor com um brilho atento. O comandante não era sensível à mana como os outros, mas conhecia bem o olhar de quem se continha para não fazer o impensável. A mão apertou com mais força o cabo do machado.
Sem desviar o olhar do inimigo, Ector se moveu. Com um gesto firme e silencioso, afastou Lenna, Eduardh e Vladmyr alguns passos para trás. Não foi brusco, mas havia urgência em seu toque. Cázhor percebeu. A intenção que se formava em sua mente não havia passado despercebida. Ector estava providenciando espaço. Um campo de batalha mais limpo. Livre de aliados, para que apenas o inimigo sucumbisse ao poder do mago.
Mas havia um problema. Para que os soldados mais afastados se reagrupassem e estivessem fora do alcance de sua futura conjuração, era necessário aliviar a carga que Lenna e Varbbek carregavam ao sustentar a defesa. Precisavam de mobilidade. Precisavam respirar. E isso exigia tempo. Tempo que eles não tinham.
Thorm, parado ali à frente como a própria encarnação da guerra, certamente não ficaria de braços cruzados enquanto seus inimigos costuravam estratégias.
— Garota, vem chumbo grosso do seu mestre, consegue aguentar o tranco? — A voz de Ector era firme. Queria se certificar com a maga de que ela garantiria que todos estariam vivos quando a fumaça baixasse.
Lenna acenou com a cabeça, convicta. Sua postura não deixava dúvidas. Mesmo com a mana oscilando ao redor de seus escudos, mesmo com o cansaço minando cada fibra de seu corpo, ela se mantinha firme. Inspirava confiança. Força.
A aura de Thorm ainda pairava como um veneno invisível, alimentando as criaturas deformadas que restavam e encorajando novas a emergirem da neblina. Elas cresciam. Ficavam mais rápidas. Mais vorazes. Mais letais. Lutavam, matavam e morriam. Mas jamais se cansavam. Jamais vacilavam diante do frio cortante. Essa era uma das maiores vantagens do exército demoníaco.
A resistência, por outro lado, estava aos frangalhos. Os números voltavam a não bater. A frágil vantagem conquistada a duras penas estava escorrendo pelos dedos, se esvaindo em sangue e neve.
— Eu e o esquentadinho aqui reunimos o pessoal — disse Eduardh, já com outra flecha conjurada, após entender o plano de Ector e Cázhor. — Dou cobertura para você. Vamos!
Vladmyr soltou um breve suspiro, mas não hesitou. Precisava confiar nele agora, mais do que nunca. E, sem perder mais tempo, lançou-se em disparada, cortando o pátio como um raio. Passos pesados, focados. A neve ensanguentada se arrastava em seu rastro.
Logo atrás, o elfo se movia com uma frieza letal. Cada passo era calculado, cada disparo, certeiro. Deslizava para o lado, girando o corpo para evitar garras que por pouco não rasgaram seu torso. Em um único movimento fluido, disparou flechas encantadas que atravessaram os crânios das criaturas, colando-as contra a parede com um estampido abafado.
Outra besta avançou pelo flanco, mas Eduardh saltou sobre os escombros de pedra, disparando de cima antes mesmo de tocar o solo novamente. O impacto fez a criatura recuar, cambaleando. Ele já estava em movimento de novo. Esquivava de presas com giros baixos, passava por debaixo de braços deformados, disparava para neutralizar as ameaças que se aproximavam de Vladmyr com precisão avassaladora.
As flechas não paravam. A cada conjuração, rastros mágicos cruzavam o campo em trajetórias limpas e fatais, atingindo olhos, articulações, bases da nuca, bocas abertas demais. Cada criatura que tombava era uma chance a mais para os guardas respirarem e se reorganizarem.
Vladmyr alcançava os mais feridos, arrastando vários para o alcance da maga enquanto derrubava outro monstro com um golpe firme de sua espada.
Thorm não demorou a perceber. Seus olhos, sempre atentos, se estreitaram. A movimentação de Ector, a concentração crescente de Cázhor, o recuo tático de Lenna e dos demais, tudo isso formava um padrão claro. A estratégia era ousada, e o perigo iminente.
Ele sabia exatamente o que significava permitir que um mago como Cázhor terminasse uma conjuração daquele nível. O tipo de feitiço que não se bloqueia com magia simples. O tipo que muda o curso de uma guerra. E o fato de Thorm demonstrar preocupação com isso era, por si só, a prova do impacto devastador que estava por vir.
— Rapaz! — disse Ector, de forma apressada, olhando para Varbbek — Cuide de Lenna enquanto trago o mago até aqui.
— Vá logo!
Estava claro, no tom seco do druida, que o uso excessivo de mana estava levando seu corpo ao limite. As raízes que o protegiam tremiam, exalando vapor, pulsantes de uma energia que aos poucos se esvaía. Ele precisava de apoio, e rápido.
Mas Thorm não deixaria que isso acontecesse. Furioso, conjurou uma espada longa, feita de mana negra, sem brilho, como se a própria noite tivesse se condensado em lâmina. A energia que a envolvia era densa, pulsante, instável. Num único impulso, lançou-se em direção ao mago com uma velocidade que parecia ignorar o peso do próprio corpo. Avançava como um cometa sombrio, flutuando sob o nevoeiro.
Porém, Ector estava em seu caminho, e Cázhor não recuou. Confiou sua vida ao comandante e manteve a conjuração ativa, os círculos de mana girando ao seu redor como engrenagens flamejantes.
A lâmina negra desceu com força brutal. O machado de Ector encontrou seu caminho, interceptando o golpe com um impacto que rachou o solo abaixo deles. Não bloqueou, desviou. O movimento foi executado com precisão cirúrgica, um giro de punhos, seguido por uma torção no tronco, redirecionando a espada com a parte curva do machado e lançando faíscas negras ao ar.
Thorm rosnou, mas não parou.
Vieram mais golpes, cada vez mais rápidos, cada vez mais pesados. Ector respondeu a todos, desviando, aparando, recuando com firmeza e precisão. Não era um duelo elegante, era brutal, direto, como dois titãs colidindo com o mundo entre eles.
Passo a passo, Ector avançava. O impacto de cada defesa fazia seus músculos vibrarem, mas ele seguia. A cada abertura, guiava Cázhor por entre os destroços e raízes carbonizadas, guiando o mago para a frente enquanto mantinha Thorm afastado com cortes circulares e movimentos amplos, impedindo que a lâmina sombria se aproximasse demais.
Cázhor, focado, segurava seu grimório firmemente. Com os olhos fechados em total concentração, apenas se guiava pelo tilintar da lâmina do machado de Ector. A energia ao seu redor crescia, tornando o ar mais denso, mais quente, mais ameaçador. O chão por onde passava começava a rachar com calor acumulado. E então, finalmente, alcançaram Lenna.
Ela os aguardava, cercada por seus escudos luminosos, os braços tremendo levemente com o esforço. Assim que os viu, recuou um passo, abrindo espaço para que Cázhor se posicionasse ao centro. Havia alívio em seu olhar, mas nenhum traço de descanso. Todos sabiam que o momento mais difícil ainda estava por vir.
— Vocês são idiotas? — disse Thorm entredentes. — Só facilitaram o processo. Agora que estão todos juntos, se transformaram em um único alvo.
A expressão em seu rosto era quase de alegria. Seus olhos percorriam o campo devastado, onde criaturas devoravam os corpos dos guardas com selvageria. Os gritos se misturavam aos sons da carne sendo rasgada, e Thorm parecia se alimentar da cena.
— Você nos subestima demais — disse Ector, com um meio sorriso debochado.
Foi então que, de cima, Vladmyr se lançou como um projétil humano. Espada em mãos, girou o corpo no ar, usando o próprio peso para impulsionar o golpe. A lâmina desceu com tamanha pressão que o ar ao redor se curvou, formando ondulações visíveis. O impacto soou como o estalo de um trovão.
— Inútil — respondeu Thorm, ainda sorrindo com desdém.
Uma parede de sombras ergueu-se ao seu redor, projetando um escudo negro que aparou a espada de Vladmyr com um baque surdo. No entanto, o sorriso logo desapareceu. Algo no alto o alarmou.
O arqueiro estava lá.
Eduardh, em posição elevada, havia acabado de soltar a linha do arco. A flecha encantada rasgou o ar como um raio dourado e atingiu em cheio o braço esquerdo de Thorm. Um estalo agudo ecoou quando a flecha se cravou na carne.
— Desgraçado! — rugiu o demônio.
Seus olhos flamejavam em fúria enquanto fitavam o elfo, que apenas retribuiu com um sorriso debochado. Eduardh já conjurava a próxima flecha antes mesmo de ver a anterior se romper, esmagada pela força bruta de Thorm.
— Acha mesmo que isso vai me parar?
O ferimento se fechava diante dos olhos de todos, carne se costurando por si só, ossos realinhando. A regeneração era tão rápida quanto aterradora. O breve suspiro de comemoração morreu nos rostos dos guerreiros. Cansaço e tensão tomaram o lugar da esperança.
Mas agora, com todos os guardas finalmente recolhidos e protegidos pelos escudos de Lenna, havia uma tênue sensação de controle. Mesmo que momentâneo, era o suficiente para que cada um deles respirasse fundo e reunisse as forças.
Thorm, tomado pelo ódio, ergueu os braços. As lâminas negras voltaram a se formar ao seu redor, mais numerosas, afiadas, vorazes. Sua aura crescia em espessura, girando como um redemoinho escuro. A própria luz parecia ser engolida por ele.
— Filhos da puta!
A mana negra se multiplicava, criando ondas de pressão que faziam o chão vibrar. O ar ficou mais pesado. Denso. Quase irrespirável.
— Mago? — disse Ector, agora com uma sombra de preocupação no olhar, sem desviar os olhos de Thorm.
Cázhor franziu o cenho, os olhos ainda fechados. Seu corpo tremia. O grimório flutuava diante dele. A marca deixada por Fazhar começou a queimar sobre sua pele, brilhando como fogo líquido. Ele não respondeu com palavras, mas sua postura dizia tudo: quase lá.
Thorm lançou as lâminas.
A chuva de escuridão vinha em alta velocidade, afiada como promessas de morte. Lenna firmou os pés no chão e gritou em silêncio. Seus olhos brilharam com uma luz branca, levemente avermelhada. Os losangos de mana ao seu redor vibraram, instáveis, mas não cederam. Ela ergueu os braços, sustentando a barreira com tudo o que tinha.
A estrutura resistiu. A cada impacto, o escudo tremia, luzes tremeluziam, e explosões abafadas ricocheteavam no campo de força mágico. A pressão era tão intensa que seus joelhos quase cederam.
No instante seguinte, Cázhor abriu os olhos.
Chamas surgiram em espiral ao seu redor, não como fogo comum, mas como matéria viva. Uma tempestade ígnea brotou do solo, envolveu seu corpo, sendo canalizada pelas páginas do grimório em um único ponto. Ele estendeu a mão à frente e liberou o feitiço.
A explosão não teve som. Foi um clarão absoluto. Um feixe incandescente cortou o ar como uma lança feita de sol. A onda de calor vaporizou a neve em um raio de dezenas de metros. Criaturas próximas foram incineradas instantaneamente, reduzidas a sombras dançantes por uma fração de segundo antes de desaparecerem.
A barreira de Lenna explodiu em fragmentos de luz, não por falha, mas porque já não havia o que conter. A magia de Cázhor havia varrido o campo, consumindo a escuridão e empurrando Thorm para trás como uma folha no vendaval.
A luz foi embora tão rápida quanto veio. O campo ficou em silêncio por um segundo inteiro. Depois, só se ouviu o som das cinzas caindo como chuva morta.
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