Magia Gênesis Brasileira

Autor(a): Rafaela R. Silva


Volume 1

Capítulo 6: Encontros e desavenças

No calor da situação, o grupo não teve tempo de reparar no seu mais novo integrante. Um jovem de traços delicados, pele clara, cabelos levemente prateados e um pequeno cavanhaque na mesma cor. Mas o que mais chamava a atenção, eram suas longas orelhas pontudas com incomuns brincos dourados, características inconfundíveis até mesmo aos mais leigos.

Seus olhos esverdeados, num tom quase que cristalino, esbanjavam uma estranha superioridade. Era um pouco mais alto que Vladmyr e aparentava ser apenas um pouco mais velho. Usava roupas leves e carregava um grande arco adornado.

— Um elfo? Sério? — disse Vladmyr, num tom de deboche.

— Um humano? Sério? — retrucou Eduardh.

Cázhor após uma breve análise, confirmou que o medalhão era legítimo, além do que, todas as informações batiam.

— Não é de se estranhar o seu conhecimento sobre aquela criatura. Afinal, por eras os elfos detêm um grande conhecimento — comentou Cázhor — só me é estranho sua raça compartilhar isso com os demais.

— Nem todos elfos são mesquinhos assim, meu caro. Alguns ainda se importam com o resto do mundo. Até mesmo na realeza tem as ovelhas negras... enfim, como podem imaginar, vim para auxiliar na procura do tal livro.

— Bom, Sr. Hardro, bem-vindo ao grupo. Meu nome é Cázhor Wilheiman, este é Ector Brugnar, Vladmyr Polan e essa, quem você acabou de salvar, é minha discípula Lenna Weins. Aliás, sou muito grato pelo que fez.

Eduardh não parecia nem um pouco interessado no que o mago falava, apenas olhava fixamente para Lenna ainda desacordada. Cázhor não entendia bem o que estava acontecendo ali, mas não queria se preocupar com isso nesse momento, então só retirou algumas poções da bolsa e entregou uma para cada.

— Dê essa a ela, vai demorar um pouco a fazer efeito devido à gravidade, mas creio que, em breve, ela já estará melhor.

Delicadamente ele colocou o líquido da poção próximo aos lábios dela, projetando a cabeça de Lenna para trás para facilitar a ingestão do líquido.

— Uma poção de cura avançada — afirmou Cázhor — tenho poucas, mas nessa situação, se faz necessária. Os demais, peço que bebam também. Precisamos repousar, assimilar tudo o que aconteceu e nos reorganizar.

Todos concordaram sem objeções. Após algum tempo, Lenna ainda permanecia desacordada enquanto os demais já estavam praticamente recuperados.

— Por que devemos esperar ela acordar? — Vladmyr contestava. Claramente, ainda não tinha nenhuma empatia perante a situação da jovem maga.

Eduardh simplesmente o ignorou. Cuidadosamente a colocou em suas costas, de um modo que conseguia carregá-la sem demais dificuldades. Vladmyr virou-se e resmungou algo baixinho para si.

— Bom... não seria ideal andar com ela nessas condições — disse Ector — mas creio que está em boas mãos. Como o mago disse, ela logo vai se recuperar, então proponho seguirmos caminho.

Todos avançaram o caminho conforme as coordenadas, dessa vez, com maior cautela. Afinal tinham um caminho desconhecido pela frente, seria um grande problema encontrar outro golem pelo caminho, visto a dificuldade que tiveram.

 Apesar de as poções serem bem efetivas, o estrago causado pelo golem ainda era perceptível. Ambos guerreiros ainda sentiam o baque da pancada que sofreram a pouco. Não podiam se dar ao luxo de esperar ainda mais, tinham de seguir.

— Sr. Hardro, uma coisa está me incomodando.

— Diga?

— De onde os elfos conseguem tanta informação assim? Seu reino não gostará de saber que esse conhecimento está saindo de seu idolatrado reino? — Cázhor estava intrigado.

— Ah! De fato, os elfos são bem mesquinhos nesse quesito. Preferem obter todo o conhecimento para si. Nossa biblioteca é considerada a mais completa de todos os reinos, um conhecimento passado de geração em geração. Vivemos muito mais que os humanos, creio que isso ajuda.

— Estranho eles aceitarem, de uma forma tão passiva, que você despeje esse conhecimento fora dos limites do reino. Sem contar que você pensa tão diferente dos ideais élficos. Provavelmente ser um mestiço pode lhe ter presenteado com um discernimento melhor do que aqueles teimosos — disse Cázhor, após observar bem a fisionomia do elfo.

— Não foi tão pacifico assim que as coisas aconteceram...

Um breve sorriso desesperançado de Eduardh, seguido de um leve suspiro, indicava o fim da conversa, ao menos por enquanto. Cázhor entendeu o recado.

Após quase meia hora de caminhada, Ector e Eduardh entraram em estado de alerta. Algo deixou o ar inquietante. A clareira que antes parecia gigantesca já se tornava ausente, a vegetação aos poucos deixava de ser tão predominante. Pequenas construções começaram a ter forma por trás de uma neblina insistente, que se espalhou repentinamente.

Toda essa tensão, logo ativou um estado de alerta em todo grupo, que rapidamente, entraram em formação de combate. Lenna ainda estava desacordada, aparentemente o dano foi maior que aparentava.

— Não sei vocês, mas faz um tempo já que estou com a sensação de estarmos sendo observados — disse Ector.

— Enquanto eu tentava localizar vocês, não vi ninguém, mas confesso que a um tempo também estou com essa sensação incômoda.

— Não podemos ficar parados aqui, esperando para ver se vai acontecer algo ou não... — sussurrou Vladmyr.

— Shiuuu! Temos companhia — interrompeu Eduardh.

 O elfo, ligeiramente, colocou Lenna no chão, próximo a ele e ficar com suas mãos livres para utilizar o arco, agachando à sua frente para lhe servir de escudo.

O suspense logo foi quebrado. Estavam cercados! Sem tempo para planejar ou para descansos, tudo indicava que, novamente, entrariam em batalha.

— Druidas!? — Ector parecia confuso.

 Graças a sua grande afinidade com a natureza, os druidas conseguiam se locomover pela floresta com uma grande furtividade e agilidade. Emboscá-los foi algo fácil.

Um em especial se destacava dos demais. Vestia algo parecido com uma reforçada armadura feita com raízes e madeira. Uma capa cobria parcialmente seu corpo, em tons de verde musgo meio acinzentado. Lembrava algo ao mesmo tempo, rústico, porém bem mais trabalhado. Estava de mãos vazias, enquanto os demais, carregavam lanças, arcos e grandes escudos de espinhos.

— É de muita coragem invadirem este local. Tolos! Nunca se cansam de sempre se render à cobiça. Não importa o quanto nos afastemos, vocês sempre se entranham mais e mais pela floresta a fim de saquear nossos recursos! — disse o druida, claramente irritado.

— Creio que ocorreu um grande equívoco, meu caro. Não estamos aqui para prejudicar a floresta ou seus moradores, estamos apenas de passagem — disse Cázhor, na tentativa de acalmar os ânimos.

Ao puxar o ar para continuar sua explicação, notou-se fadigado e sua visão um pouco turva.

— Droga! Cubram seus rostos! — ordenou Ector quando reparou que aquela neblina não era algo natural.

— Um pouco tarde demais! Mas, dou-lhe os parabéns por reparar antes de a toxina fazer mais estragos — disse o druida.

A preocupação do grupo, após ouvir essas palavras, era iminente. O cansaço, a desvantagem numérica e territorial, eram um prato cheio para o inimigo.

— Mas que falta de educação minha, nem me apresentei. Sou Varbbek Beothoro líder dos druidas. — Com um leve gesto de sua mão direita, curvando-se levemente, ele se apresentou.

Ao erguer-se novamente, era perceptível um leve e incomum brilho esverdeado sobre aqueles olhos castanhos, como uma chama por trás de um vidro translúcido.

Antes mesmo que percebessem, raízes firmes e espessas envolveram o grupo rapidamente até os joelhos, dificultando qualquer movimento. Claramente obra de Varbbek. A neblina tóxica, a cada minuto que se passava, ficava mais forte. Até mesmo Ector sendo fisicamente mais resistente, já começava a sentir os efeitos.

Vladmyr tentava manter sua postura, talvez mais por orgulho do que qualquer outra coisa, mas também já apresentava os sintomas do envenenamento. O local era totalmente desfavorável à situação em que se encontravam, além do cansaço da última batalha, ainda tinham um membro do grupo desacordado.

Varbbek olhava ao seu redor como se convidasse o grupo a acompanhar seu olhar. Tudo estava muito confuso, não entendiam bem o que ele queria mostrar.

— Vejam esses casulos entre as árvores! Brevemente seus corpos estarão ali, para voltar a nossa mãe natureza. Gaia receberá de volta o que sempre foi dela! — disse Varbbek, ao perceber que o grupo tinha uma certa dificuldade em compreender.

— Pelo que nosso amigo druida disse, querem nos transformar em adubo! — disse ironicamente Eduardh.

A frase do elfo abriu os olhos do grupo. Restos mortais dentro de alguns casulos, já decompostos, confirmavam a teoria de Eduardh. Provavelmente pertenciam a inimigos, ou talvez, desavisados que passaram por esse local em algum tipo de aventura e acabaram dando azar.

O druida parecia realmente decepcionado com a quantidade de casulos, quase como se não quisesse que tudo acabasse dessa forma.

— Ainda assim vocês não aprendem! Desrespeitam a natureza. Se aproveitam de tudo que Gaia nos dá sem oferecer nada em troca. Mentirosos! Hipócritas! — gritava Varbbek — Tentam sempre usar a mesma desculpa para tirar proveito das terras!

Focando novamente sua atenção na luta, o líder druida lançou seu primeiro golpe. Levantando sua mão, com um rápido movimento, fez com que, imediatamente, as raízes subissem pelo seu corpo até sua mão, formando algo que parecia como uma estaca de raízes rígidas. Usando de sua nova arma, a lançou ferozmente contra seu primeiro alvo: o mago. Surpreendendo a todos pela escolha repentina.

O ataque demandou de uma ação rápida de Ector, que precisou manusear seu machado de tal forma para bloquear o golpe. Se atingisse o mago em cheio, provavelmente, seria letal. A ação foi eficaz para evitar a morte, mas não rápida o suficiente para evitar que Ector fosse ferido em seu lugar. Por sorte à estaca não atingiu nenhum ponto vital de Cázhor, mas atingiu em cheio o ombro de Ector.

— Essa doeu! — disse Ector, enquanto arrancava a estaca do ombro.

Vladmyr aproveitou o momento de distração e usou uma manobra conhecida como corte rápido. Onde a movimentação da lâmina da espada a torna mais eficaz para ataques feitos no mesmo local. A sequência de golpes causou uma abertura entre as raízes que o envolvia, possibilitando-o se mover. Com a mesma intenção, Cázhor conjurou uma pequena bola mágica de fogo, dispersando as raízes que envolviam os demais.

— Esse conflito é desnecessário — disse o elfo insistentemente — tudo não passa de um mal-entendido.

O druida parecia desacreditado. Sua expressão era de alguém que já tinha passado por várias experiências decepcionantes ao acreditar em forasteiros.

Estavam finalmente libertos. A neblina tóxica ainda estava presente e os danos causados por ela só se agravavam. Já não se tinha visão dos demais guardas. Os que restavam, pareciam apenas borrões se movimentando lentamente entre os arbustos.

— Elfo, me dê cobertura! — Numa ação planejada, Vladmyr partiu para cima do druida.

Sem tempo para questionar, Eduardh se pôs em posição de ataque, tensionando seu arco e apontando diretamente para o druida.

— Não estamos aqui para matar ninguém! — lembrou Cázhor.

Com as palavras do mago em mente, o guerreiro franziu o cenho, demonstrando apreensão, uma vez que isso dificultaria muito sua ação, mesmo assim, não parou. Em uma reação rápida de Varbbek, o golpe foi bloqueado por uma barreira de raízes e espinhos, algo similar a um grande escudo. Porém, a investida não foi totalmente ineficaz. A ferocidade do ataque provocou um grande dano à barreira do druida, porém ainda não o suficiente para atravessá-la.

— Não interfiram! — ordenou Varbbek aos demais druidas, após perceber que agiriam a qualquer momento.

A ordem de seu líder era incontestável, então todos se afastaram. Mas toda a tensão e nervosismo, fizeram com que a inexperiência de um dos arqueiros falasse mais alto. Ele acabou disparando acidentalmente contra o grupo.

— Mas que droga! — gritou Varbbek irritado com a atitude desajeitada e imprudente de seu subordinado, enquanto tentava, sem sucesso, bloquear o ataque “surpresa” desferido por seu aliado.

A flecha sem dúvidas acertaria seu alvo. Foi quando uma pequena e trêmula barreira surgiu em seu caminho, fazendo a flecha ricochetear e mudar sua direção, caindo longe de seu alvo. Sem entender, o grupo procurava uma explicação, que logo veio ao ver Lenna finalmente acordada. Um pouco desorientada, mas mesmo assim conseguiu agir a tempo suficiente para conter o ataque.

Enfurecido com a ação de seu subordinado, o druida acabou se desconcentrando na batalha, abrindo uma brecha para que Vladmyr o acertasse. Um golpe que finalmente não foi repelido pela barreira, acertando em cheio seu peito. Uma grande ferida em diagonal que, mesmo a robusta armadura do druida, não foi o suficiente para abrandar o golpe.

O clima ficou mais carregado com a grande movimentação dos guardas após o golpe. Isso preocupava ainda mais o grupo. O receio de que eles interferissem na batalha só traria mais dificuldades a uma situação que já não estava favorável.

— Quem... quem é você? — disse Lenna. Ela não entendia quem era aquele homem que a confortava, e como foram parar naquela situação.

— Creio que as apresentações ficam para depois — Eduardh respondeu com um breve sorriso.

— Sr. Wilheiman, precisamos imobilizar o druida, mas se aproximar dele com aquele escudo, não está dando muito certo. Tem alguma ideia? — Eduardh, agora, focava sua atenção somente na luta.

— Talvez tenha uma forma de contornar a situação — sussurrava o mago — acho que consigo nocauteá-lo, mas como é uma magia modificada, a conjuração é lenta. Preciso que o distraiam até que eu termine.

Ector tomou a frente, dando cobertura a Cázhor. O sangue de seu ferimento escorria sem cessar. Além da hemorragia, a toxina da névoa fazia cada vez mais efeito. Sua condição já não era das melhores. A visão começava a oscilar e pequenos apagões aconteciam com frequência. Mesmo diante desse cenário, se mantinha firme, não havia tempo para vacilar.

Todos se organizaram para evitar um ataque surpresa. Cázhor começou a conjurar, ele recitava o que parecia uma língua antiga, mas adaptada para a atual época. Pouco tempo depois, um pequeno tornado começou a se formar em volta do druida, que logo percebeu a conjuração lançada.

Na tentativa de eliminar o conjurador, o druida focou novamente seus ataques em Cázhor. Fazendo um novo gesto, dessa vez com as duas mãos, criou um emaranhado de raízes que se desdobravam do meio do solo sob as rochas e folhagens. Lançou-as a uma velocidade inacreditável em direção ao mago. Diferentemente dos ataques anteriores, as raízes eram de aparência mais espessa, ásperas e pontiagudas, quase como longas lanças.

Ector usou de seu enorme machado para bloquear os ataques, evitando, ao máximo, que atingissem algum ponto vital. Por mais que os bloqueios fossem bem sucedidos, novos eram lançados em sua direção e ainda mais velozes. Varbbek mal precisava se mover para atacá-los. Apenas os gestos com as mãos eram suficientes para conjurar sua magia druida.

A fadiga começou a dominar o guerreiro, os ataques incessantes, combinados ao envenenamento e ao sangramento constante, só confirmavam o que todos temiam: ele não conseguiria continuar dessa forma por muito mais tempo.

— A magia desse cara não acaba? — Vladmyr estava indignado com a quantidade de poder do qual ele desfrutava.

— Vou tentar conseguir uma brecha! — gritou Eduardh aos demais.

Lançando várias flechas consecutivas, sem dar tempo para revidar, o elfo seguiu pressionando o inimigo com extrema precisão e velocidade. O druida, usou seu escudo de raízes para impedir os ataques, mas para isso, precisou cessar suas investidas ao grupo por alguns instantes.

— Obrigado, garoto! — disse Ector aliviado, se apoiando em seu machado já cheio de arranhões — uma pausa é sempre bem-vinda.

Vladmyr se aproveitou da distração do druida e desferiu um golpe com sua espada por trás da barreira, porém, foi surpreendido por inúmeras raízes que surgiram abaixo de seus pés. Tudo foi tão repentino que foi impossível esquivar-se. Quando deu por si, estava preso.

As truculentas raízes o envolviam até o pescoço, formando uma espécie de casulo, o esmagando lentamente. Eduardh tentava achar um melhor ângulo para atingir seu alvo, porém o druida estrategicamente posicionou Vladmyr à sua frente para servir-lhe de escudo humano.

Pouco tempo se passou e Varbbek sentiu finalmente os efeitos causados pelo pequeno tornado conjurado à sua volta por Cázhor. A magia tornava o ar rarefeito, sua visão estava turva. Finalmente, seu ritmo diminuiu.

Percebendo que a situação começaria a ficar desfavorável, em uma atitude desesperada, Varbbek se forçou a intensificar sua magia. As raízes agora pressionavam de forma mais vigorosa o casulo. Vladmyr a cada minuto que se passava, ficava mais e mais avermelhado, com suas veias sobressaindo por toda a face. Vendo as feições do grupo, o jovem oficial percebeu que, por sua causa, Cázhor cogitava cancelar a magia em uma atitude de tentar salvar sua vida.

— Não ouse interromper o ataque por minha causa — esbravejava Vladmyr — eu ainda aguento muito mais do que isso. Acaba com isso de uma vez!

— Ele sempre foi muito orgulhoso, mas não creio que ele diria isso à toa. Odeio concordar com ele, mas interromper a magia, pode não ser a melhor decisão — disse Ector vendo a determinação de seu oficial.

Cázhor então continuou sua cantiga com mais veemência do que nunca, tentava nocautear o druida antes que Vladmyr fosse esmagado dentro daquele casulo. Uma disputa a qual pendia entre a vida daquele jovem guerreiro e o incansável líder dos druidas. Nenhum lado cedia. Os dois já estavam chegando ao seu limite.

Vladmyr já não conseguia inflar seus pulmões. A pressão das raízes fazia as veias em seu rosto saltarem cada vez mais, pareciam que ia explodir a qualquer momento. Várias gotas de suor escorriam pelo seu rosto, descendo por dentro de sua armadura. Estava sendo esmagado continuamente em uma pressão incrível, dificilmente um humano resistiria muito tempo nessa situação. O druida também já apresentava indícios de que não aguentaria por muito mais tempo se as coisas continuassem dessa forma.

— Vocês não podem fazer nada? — disse Lenna, hesitante.

Os demais do grupo só podiam observar a cena, uma vez que Vladmyr ainda era usado como escudo. Eduardh tentava bolar um novo plano o mais rápido possível. Não poderia arriscar que tudo fosse em vão e ainda perdessem um integrante do grupo dessa forma. A situação era desfavorável para ambos os lados.

Pequenos sons de estalos vinham de dentro do casulo feito ao redor de Vladmyr, o que preocupava ainda mais o grupo. A expressão que o guerreiro transparecia em sua face era de muita dor.

“Não posso ficar aqui só olhando... não quero ser igual a ele!” Lenna repetia a frase em sua mente, mas seu corpo recusava-se a se mover.

Cázhor continuou, incessantemente, a conjuração da magia sem dar brechas. Às vezes, até lhe faltava saliva para pronunciar o encanto. Não podia vacilar, qualquer deslize seria fatal.

Então, um barulho incomum chamou a atenção. Um tom agudo, como um bater de palmas, seguido por um som abafado de algo imóvel caindo ao chão. Tudo indicava o fim do combate.

Varbbek havia finalmente perdido a consciência. Caindo de joelhos, logo, seu corpo despencou ao encontro do chão. Lentamente, as raízes que pressionavam Vladmyr se desfaziam, fazendo-o cair bruscamente ao solo. A neblina conjurada também se extinguia aos poucos até sumir por completo.

Engasgado e ainda na tentativa de recuperar o fôlego, Vladmyr levava suas mãos ao peito, tossindo bastante. Sua feição não era das melhores, aparentemente sentia muita dor. Após pegar sua espada com dificuldade, se locomovia lentamente em direção ao grupo.

— Vlad! — Gritou Ector.

— O que...!?

Antes mesmo que pudesse chegar ao seu destino, sua ação foi bruscamente interrompida. Após a derrota de seu líder, os demais soldados erguiam seus arcos contra os aventureiros, uma chuva de flechas estava por vir. Com a vantagem numérica e melhor posicionados, a vitória inimiga era certa. Lenna percebeu ser impossível de se defender de todos os ataques em suas atuais condições, então conjurou rapidamente dois escudos mágicos: um no grupo e outro em Vladmyr, na tentativa de amenizar o dano e conseguir bolar um plano de fuga, caso sobrevivessem.

Em meio a toda essa tensão, dentre as árvores ao fundo, uma voz cansada e serena surgiu devagar, transmitindo uma paz aos que ouviam.

— Cessem o ataque! — ordenou aquela voz.

Prontamente, todos obedeceram à figura enrugada de longos cabelos brancos levemente acinzentados que se apresentava. Trajando uma túnica cinza com leves detalhes de cor dourada e por cima alguma espécie de capa, aparentemente, feita com fios bem finos de cipó desidratado.

Segurava o que aparentava ser um cajado simples de apoio, mas bem entalhado. Ele inspirava respeito até mesmo para o pequeno grupo vindo de Ancor, mas não demonstrava nenhum tipo de ameaça. O grupo, ainda apreensivo, acompanhava a situação sem entender o que estava acontecendo. A cada passo, a tensão aumentava de uma forma esmagadora.

“O que será que vem agora?” Era um pensamento em comum do grupo.



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