Spin-Off
1: Uma noite quente
As termas de Mizuyr sempre atraíram muitos olhares. Conhecida por ser um refúgio para os guerreiros cansados, sempre foi movimentada.
Diferente dos demais dias, essa noite estava estranhamente vazia. A abundante névoa, em contraste com a luz, destacou a chegada daquela linda mulher.
— Minha nossa! Eu... eu nunca imaginei que ficaria sem reação ao te ver nua — disse Eduardh ao se aproximar da água.
— Você não precisa ficar com vergonha, estava te esperando — disse a bela figura que o aguardava.
Eduardh esperava outra reação, ficou surpreso ao ouvir essas palavras. Apesar de não ser sua primeira vez, para ela, era.
“Nunca me senti assim, realmente não sei o que fazer” pensou Eduardh.
A insegurança do rapaz logo foi esquecida pela sensação das mãos quentes e macias de Lenna. Ela estava totalmente confortável diante da presença dele.
— Isso é bom! — disse ela, esbanjando sensualidade enquanto ele escorregava sua mão até sua nuca.
Os corpos estavam em uma sincronia incrível. A libido estava em alta, tudo nesse cenário contribuiu para esse encontro. Apesar de ser sua primeira vez, Lenna parecia saber exatamente o que fazer. Estar ao lado de uma pessoa que lhe trazia tanta segurança foi fundamental para tomar tal decisão.
A noite estava fria, mas o calor das termas dava conta de manter a temperatura agradável. Mesmo que não fosse o suficiente, o entrosamento entre esses dois supria qualquer queda de temperatura.
A floresta ao redor se agitava com o vento que, hora ou outra, se fazia presente. A mudança repentina do clima fazia o corpo de Lenna arrepiar-se.
— Isso é muito fofo — disse Eduardh.
— Não fique me encarando.
— Mas... você está com vergonha? Logo agora?
Ela sorriu e se afundou na água até a altura da boca. Eduardh já estava acostumado com seus momentos de birra. Não conseguia mais sentir tanta raiva, apenas esperava. A parte em que estavam era consideravelmente rasa, então ele se sentou ao lado dela e a abraçou. Esse momento se tornou único para os dois, que mesmo diante de um cenário hostil, conseguiram um tempo a sós.
Eduardh já estava no seu limite. Segurou-a gentilmente pelo braço e a puxou para si. Tal ação a fez deitar no espelho d’água. Lenna o encarava de baixo, enquanto algumas gotas de água caíam em seu rosto através do cabelo encharcado de Eduardh.
Se aproximando lentamente, ele beijou o pescoço magricelo de Lenna, a fazendo soltar um breve gemido. Ao mesmo tempo, ele deslizou delicadamente seus dedos por todo seu corpo.
— Pode chegar alguém... devíamos parar — disse Lenna.
— Shiuuu! — sussurrou Eduardh com uma feição preocupada.
— O que foi?! Viu alguém? — Lenna aguardava desesperadamente uma resposta.
— Ha ha ha ha...
— Idiota! Eu realmente me assustei... — Lenna foi interrompida por um longo e caloroso beijo. Estava desarmada. Resistir só prolongaria mais ainda sua espera.
A lua finalmente dava lugar ao sol, que timidamente surgia dentre as nuvens e tentava passar pelas imensas folhagens. No final, as águas das termas não eram refúgios apenas para os guerreiros cansados.
— Foi incrível! — disse Lenna.
— Queria ficar com você por mais tempo, mas precisamos voltar. Cázhor provavelmente arrancaria meus órgãos se soubesse que você estava aqui comigo.
Estavam de volta à realidade. O cenário, que antes era aconchegante e acolhedor, voltava ao céu acinzentado, rostos tristonhos e ansiosos. Era perceptível o entrosamento do casal, evitavam se agarrar enquanto em grupo, mas seus olhares quase sempre os denunciavam.
Vladmyr já estava de pé. As dores de cabeça frequentes, devido à sua perda de memória, interrompiam quase sempre seu sono. Enquanto ajeitava os armamentos nas montarias, se deparou com a cena de Lenna, juntamente com Eduardh, voltando das termas. A felicidade estampada no rosto dos dois o deixava claramente aborrecido. Apesar de ter concordado em ser amigo dela, estava claro que ele queria algo mais.
— Bom dia — disse Vladmyr sem olhar para o casal.
— Bom dia — ambos responderam.
Depois, apenas silêncio. Um silêncio constrangedor. O casal, após uma breve parada, resolveu seguir em frente. Vladmyr parecia tomar coragem para dizer alguma coisa, mas as dores de cabeça estavam ficando cada vez mais fortes. Estava difícil pensar em algo.
— Espere! — disse Vladmyr, pegando de supetão na mão de Lenna.
Eduardh repudiou aquela atitude, mas antes mesmo que pudesse dizer algo, percebeu que Lenna pedia apenas com o olhar para que não brigassem.
— Deixe-o comigo. Pode ir. Não vou demorar — disse ela.
— Você tem sorte de ela estar aqui! Caso contrário, eu não gostaria de estar na sua pele. — Furioso, ele obedeceu ao pedido de sua amada, deu-lhe um beijo e foi em direção aos quartos.
Os dois ficaram por um longo tempo em silêncio. Vladmyr ainda segurava a mão dela, até que um lampejo em sua visão e uma forte dor de cabeça o fizeram soltá-la bruscamente.
— Você está bem? Quer que eu prepare outra poção para suas dores? — Lenna estava realmente preocupada com seu companheiro.
Por um breve momento, ele, com dificuldades, a olhou nos olhos fixamente. Ele tentava superar a dor para conseguir se concentrar no que iria fazer. Tinha de ter certeza de que tinha uma chance e que não iria desistir dela.
— Eu, quero você! — Sem pensar duas vezes, ele a abraçou e a beijou tão intensamente, que ela não teve reação.
Poucos minutos depois, ele estava novamente a encarando, só que dessa vez bem mais perto. Segurava seu rosto, fixando seu olhar em seus lábios. Aguardava uma resposta, uma reação.
Quando a resposta veio, finalmente teve sua confirmação. Havia perdido sua chance.