Luvas de Ifrit Brasileira

Autor(a): JK Glove


Volume 3

Capítulo 99: Sangue de Papel

Alguns minutos antes do incidente com Moara...

Ela estava de joelhos, observando as folhas de papel espalhadas no chão. O silêncio na sala pesava, quebrado apenas pelo farfalhar das folhas. Prya se aproximou, curiosa, franzindo a testa ao notar o foco da amiga.

— Por que você está tão interessada nesses papéis velhos? — perguntou Prya, com a voz baixa.

Moara ergueu os olhos, como se tivesse sido tirada de um transe.

— Não é nada demais — respondeu, tentando disfarçar sua preocupação.

Prya, no entanto, não parecia convencida. Ela se virou, com uma expressão pensativa, e gaguejou algo, quase inaudível.

— Po-poeta-ta fantasma...

— O quê? — Moara reagiu, surpresa, tentando se levantar rapidamente. Porém, antes que pudesse fazer qualquer movimento, uma pilha de papéis voou em sua direção.

Prya, num reflexo rápido, empurrou Moara para longe. As folhas que antes estavam no chão começaram a circundar Prya, envolvendo-a cada vez mais. O desespero tomou conta de seu rosto enquanto gritava, clamando por ajuda.

— Não! Prya! Eu vou te salvar! — gritou Moara, correndo em direção à amiga.

Antes que pudesse tocá-la, as últimas folhas cobriram completamente o corpo de Prya, e ela foi sugada para dentro de um livro, que estava nas mãos de um homem encapuzado. Moara sentiu a raiva subir como uma chama incontrolável em seu peito.

— Seu maldito! — esbravejou, os punhos cerrados enquanto corria em direção ao homem. Ela queria acertá-lo, sentir o impacto de seu soco, mas ele foi mais rápido. Tocou um papel roxo com inscrições rúnicas douradas aos seus pés, e em um instante, seu corpo foi sugado pelo papel, reaparecendo no outro lado da sala, atrás de Moara.

O soco de Moara atingiu apenas o ar. Quando se virou, viu o homem abrindo o livro novamente. Com um movimento rápido, ele lançou várias folhas afiadas na direção dela. As páginas voaram com uma velocidade mortal, atingindo Moara e lançando-a contra a parede. O impacto foi brutal, a parede quebrou e seu corpo ficou coberto de pequenos cortes.

Já no presente, Rufus, Joabe, Kreik e Moara estavam de frente ao Poeta Fantasma. Ele, de alguma forma, havia feito aparecer Vicente e Kenia, os dois estudantes capturados. A tensão no ar era palpável, e os olhares estavam fixos no inimigo à frente.

O Poeta ergueu uma das mãos, sua voz grave e distorcida ecoando pela sala.

—  Ataquem!

Kenia não perdeu tempo e, transformando-se em sua forma híbrida de coelho, lançou uma voadora em linha reta. Kreik, rápido, segurou Moara pelo braço e, com o impulso dos jatos de fogo de suas luvas, desviou para a direita. Joabe, por sua vez, agarrou Rufus e saltou para a esquerda.

Kenia passou direto, atingindo apenas o vazio. Ela se virou rapidamente, seus olhos selvagens focando em Kreik e Moara, prontos para o ataque. Do outro lado, Vicente sacou duas espadas debaixo de seu manto e avançou contra Joabe e Rufus.

— Venha ao mundo físico, Calderion! — gritou Vicente, cruzando suas espadas. Um círculo rúnico brilhou no chão, e dele surgiu uma criatura mágica.

A besta era um caldeirão mágico antropomórfico. O caldeirão tinha dois braços, dois pés calçados com tênis, e seus olhos brilhavam com uma energia misteriosa. Acima de sua cabeça, brasas acesas lançavam uma luz quente e mágica sobre o ambiente.

 

 

A criatura começou a absorver o ar ao redor, e as chamas em sua cabeça arderam mais intensamente. Pequenas bolas de fogo começaram a girar ao redor da sala, aumentando o caos.

— Acho que o bicho vai pegar por aqui. Rufus, você é bom de briga? — perguntou Joabe, tentando manter o tom despreocupado.

Mas ao olhar para Rufus, viu o amigo tremendo de medo. Rufus gaguejou, tentando parecer corajoso.

— Eu sei lutar... mas nunca estive numa luta de verdade. Só em treinamentos... E o pior é que, para minha magia funcionar, eu precisaria estar com meus equipamentos.

— Tsc. Corre, Rufus! Deixa que eu cuido desse maluco. Vai procurar alguém que possa nos ajudar! Anda logo! — Joabe bufou, frustrado.

Rufus, hesitante, saiu correndo. Vicente preparou-se para atacar pelas costas, mas Joabe foi mais rápido. Invocando seus braceletes com lâminas, ele interceptou o golpe de Vicente, fazendo as lâminas se chocarem e soltarem faíscas.

— Forja básica, Lâminas do Ceifador! — gritou Joabe, com um sorriso sádico no rosto. — Pensa que vai para onde? Nós nem começamos a brincar ainda... Vou te fatiar em pedacinhos, quem sabe assim você acorda desse transe! Hehehe.

Enquanto isso, do outro lado da sala, Kenia deu uma investida rápida. Saltando com grande velocidade, acertou um chute no peito de Kreik, jogando-o para longe. Moara observou a cena, os olhos arregalados.

“Ela é muito rápida!”, pensou a maga de terra, tentando calcular uma estratégia.

Kenia já estava preparando outro salto, desta vez mirando em Moara. A jovem, rápida, colocou as mãos no chão e gritou:

— Gaia Wall!

Um paredão de terra se ergueu à sua frente, mas o impacto do chute de Kenia foi devastador. O muro de terra se partiu em pedaços, e Kenia, sem perder tempo, pegou um dos pedaços ainda no ar e o lançou em Moara, acertando-a na cabeça. Aproveitando a brecha, Kenia desferiu dois socos e um chute em Moara, jogando-a na direção de Kreik.

Kreik, contudo, reagiu rapidamente e voou sobre Moara. Kenia, já em movimento, lançou-se na direção dele, mas Kreik disparou dardos flamejantes de suas luvas. A transmorfa de coelho saltou para a parede, e com um segundo salto, acertou um chute lateral no rosto de Kreik, jogando-o contra a parede e depois ao chão.

Kenia pousou suavemente, mas antes que pudesse atacar novamente, um pedregulho voou em sua direção. Moara, ainda determinada, havia lançado a rocha com sua técnica Gaia Shoot. Kenia girou e quebrou o pedregulho com um chute.

Kreik, aproveitando a distração, agarrou Kenia por trás.

— Agora, Moara! — gritou ele.

— Com prazer! — Moara sorriu, cerrando o punho. — Gaia Punch!

Seu punho revestido de pedra acertou o estômago de Kenia, fazendo-a gritar de dor. Kreik girou o corpo da transmorfa e a lançou para trás, e Moara, sem hesitar, lançou outro pedregulho com Gaia Shoot. O impacto foi direto, e parte do corpo de Kenia começou a se dissolver em pedaços de papel.

— Que merda é essa? Ela tá virando papel? — perguntou Kreik, confuso.

— Não sei, mas não vamos dar tempo para ela se recuperar! — gritou Moara, avançando junto com Kreik.

Kenia olhou para o Poeta Fantasma, que assentiu com a cabeça. Num movimento rápido, ela desapareceu em um vulto e reapareceu entre os dois. Com um giro ágil, acertou um chute em cada um, jogando-os para os lados.

“Ela está usando um potencializador de aura... impossível! Ela não teria aprendido isso ainda!”, pensou Moara, surpresa.

— Maldita! Vou te pegar! — gritou Moara, levantando-se com dificuldade. Mas antes que pudesse se aproximar, Kenia saltou e acertou uma joelhada em seu estômago, forçando-a a se curvar de dor.

Kenia preparou um soco, mas Kreik, vindo por trás, segurou o braço da transmorfa, impedindo o golpe. Num movimento rápido, ele desferiu um soco flamejante no rosto de Kenia com o outro braço, queimando parte do rosto da inimiga. Entretanto, ao invés de sangrar, o rosto passou a se dissolver em papel.

Moara aproveitou a abertura, abaixou-se e, com um grito de fúria, acertou outro Gaia Punch, dessa vez atravessando o estômago de Kenia. O corpo da transmorfa se dividiu em dois, caindo ao chão e se transformando em folhas de papel.

Ofegantes, Kreik e Moara se voltaram para o Poeta Fantasma, que folheava calmamente seu livro, alheio à batalha.

— Parece que a sua coelhinha já era. Agora só falta você, poeta mequetrefe — disse Moara, apertando os punhos, com um sorriso confiante no rosto.

Enquanto Kreik e Moara enfrentavam Kenia, a batalha entre Joabe e Vicente prosseguia com intensidade. As lâminas dos dois guerreiros se cruzavam no ar, cada golpe ecoando com o som metálico do aço. Joabe, com seus braceletes afiados, bloqueava as espadas gêmeas de Vicente, enquanto Calderion, a besta mágica do inimigo, soltava bolas de fogo amareladas flutuantes, cobrindo o campo de batalha em um verdadeiro show de luzes.

Vicente, sempre meticuloso, desferiu um golpe descendente com ambas as espadas. Joabe, ágil, pulou para trás, mas o movimento era antecipado. Vicente já esperava essa reação e, com uma estocada rápida, avançou com sua espada direita. Joabe, astuto, inclinou-se de lado, deixando a lâmina passar rente ao seu corpo, sem ser tocado.

— Nada mal para um zumbi! — murmurou Joabe, concentrado.

Vicente não perdeu tempo. Girou a lâmina da mão esquerda, e cinco das bolhas flamejantes de Calderion se fundiram ao metal. Ele balançou a espada, tentando cortar Joabe lateralmente. As bolhas estalavam a cada movimento, ameaçando liberar algum tipo de efeito.

— Não vai adiantar. Sou mais rápido que você! — disse Joabe com um sorriso determinado, bloqueando o golpe com seu bracelete.

As lâminas colidiram com um som alto, mas as bolhas estouraram ao toque, liberando uma rajada de fogo que jogou Joabe violentamente contra a parede. Ele grunhiu de dor, sentindo as queimaduras leves espalharem-se por seus braços.

Vicente observou, mantendo a guarda, e murmurou:

— Onda Fervente!

Ele ergueu ambas as espadas, movendo-as por entre as bolhas flamejantes, que se fundiram novamente ao aço de suas lâminas, dez no total, cinco em cada espada. Um sorriso frio surgiu em seu rosto.

Joabe, ofegante, se levantou com dificuldade, seus olhos estreitados em desconfiança.

“Então, é isso? As bolhas liberam uma rajada flamejante quando atingem alguma coisa... Preciso tomar cuidado com isso”, refletiu ele, seus pensamentos rápidos. Ele sabia que aquele inimigo seria problemático.

Joabe soprou em suas lâminas, envolvendo-as com uma aura de vento esverdeada. Ele estreitou os olhos, determinado.

— Já vi seu truquezinho. Agora, vou te mostrar o meu. Kamaitachis!

Com um movimento rápido, ele balançou os braceletes, liberando foices de vento afiadas na direção de Vicente. As lâminas cortavam o ar com um silvo mortal. Vicente, no entanto, correu diretamente na direção dos golpes, permitindo que as lâminas o atingissem. Para o choque de Joabe, em vez de sangue, pedaços de folhas começaram a se desprender do corpo de Vicente.

— O quê?! Sai papel no lugar de sangue? Que porra é essa? — murmurou Joabe, incrédulo.

Após ser alvejaod pelas kamaitachis, Vicente atacou o mago de vento com uma de suas espadas, mas Joabe, astuto como um gato, pulou para o lado, desviando novamente.

— Idiota, já falei, sou mais rápido! — zombou o mago de Suna.

Vicente o encarou com um sorriso enigmático, seus olhos brilhando com uma confiança perturbadora. Em um movimento rápido, ele desapareceu de vista, reaparecendo atrás de Joabe por meio de um impulso fervoroso. Antes que Joabe pudesse reagir, a lâmina de Vicente cortou suas costas, liberando uma nova rajada de fogo que fez Joabe gritar de dor ao ser lançado ao chão, contorcendo-se com as queimaduras.

— Droga...! — Joabe grunhiu, tentando se levantar, sua mente a mil, buscando uma saída.

Vicente, implacável, ergueu novamente suas espadas, mais bolhas flamejantes se formando ao redor das lâminas. Joabe, rápido, se levantou e soprou em seu bracelete direito, formando uma lâmina de vento em forma de espada.

— Executioner Blade! — gritou ele, correndo na direção de Vicente.

Vicente fez o mesmo, avançando com um olhar feroz. Ambos se prepararam para o ataque final. Vicente balançou suas espadas em um movimento cruzado, mirando a cabeça de Joabe, mas este foi mais ágil, agachando-se para evitar o corte mortal. As lâminas de Vicente se cruzaram no ar, cortando apenas o vazio.

— Vejamos essa tua cara confiante depois desse golpe! — bradou Joabe, enquanto, ainda agachado, cortava de baixo para cima, arrancando o braço de Vicente com um único movimento preciso.

Vicente cambaleou para trás, observando com surpresa o próprio braço caído no chão. Contudo, antes que Joabe pudesse comemorar, ele viu o braço de Vicente se desfazer em folhas, que se espalharam pelo campo de batalha.

— Mas que merda... — Joabe murmurou, perplexo.

Vicente, agora com um sorriso malicioso, balançou sua espada restante no ar, acoplando ainda mais bolhas flamejantes, dez numa única lâmina.

— Redemoinho  Calcinante! — gritou Vicente, cravando a espada no chão.

As bolhas explodiram em uma tempestade flamejante, formando um redemoinho de fogo que avançou em direção a Joabe. Seus olhos se arregalaram.

— Droga, não vai dar para desviar! — murmurou ele, desesperado.

Em um último esforço, Joabe soprou em suas lâminas, lançando mais foices de vento, tentando reduzir a força do ataque. Apesar de diminuir a intensidade das chamas, o redemoinho o atingiu em cheio. Joabe gritou em agonia, seu corpo sendo engolido pelas chamas.

De longe, Kreik e Moara, que já haviam derrotado Kenia, assistiram em horror quando viram Joabe ser consumido pelo fogo.

— Kreik! — gritou Moara, com urgência em sua voz.

Kreik assentiu rapidamente, entendendo a gravidade da situação.

— Já entendi! — ele respondeu, batendo as luvas e saindo voando na direção de seu amigo.

Moara, por sua vez, virou-se para o poeta fantasma, uma expressão feroz formando-se em seu rosto.

— Acho que hoje eu tô com sorte... vou acabar com a tua raça sozinha! — declarou ela, pronta para o próximo embate.



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