Luvas de Ifrit Brasileira

Autor(a): JK Glove


Volume 3

Capítulo 97: Clãs Ancestrais

Após a tensa aula com a professora Areta, Kreik e Moara foram conduzidos para a enfermaria. No caminho, avistaram Uji saindo. Moara instintivamente ergueu a mão para cumprimentá-lo, mas Kreik rapidamente a puxou pelo braço, indicando que manter a discrição era essencial. Ela compreendeu o gesto e, sutilmente, fez um pequeno sinal de vitória. Uji, percebendo, retribuiu o sinal de forma discreta e seguiu seu caminho.

Enquanto eram tratados na enfermaria, Kreik olhou para Moara, sua expressão cheia de remorso.

— Desculpa por meter a guilda naquela história com a professora Areta — disse ele, abaixando o olhar.

Moara, sempre com sua atitude firme, balançou a cabeça em negação.

— Não foi culpa sua, Kreik. Você mostrou coragem ao proteger o Rufus. Eu teria feito o mesmo.

— Agradeço suas palavras, Moara. — Kreik sorriu de leve, mas ainda parecia incomodado. — Mas preciso ser mais como o Joabe ou a Rydia... menos impulsivo, mais estratégico. Pelo bem da guilda.

— Ah, não se cobre tanto! — Moara riu e deu um leve soco no ombro dele. — Eu também sou impulsiva, só que... de vez em quando.

Kreik soltou uma risada, o peso em seus ombros aliviado por um momento.

— Obrigado, Moara — disse ele, genuinamente grato.

Ao saírem da enfermaria, encontraram Joabe, Rufus, Clemência e Donny esperando por eles. Joabe foi o primeiro a falar.

— Estão inteiros? — perguntou, cruzando os braços.

— Novinhos em folha — respondeu Moara, sorrindo.

Rufus, ainda constrangido pelos acontecimentos com sua mãe, deu um passo à frente.

— Sinto muito pelo que aconteceu com minha mãe... ela pode ser... complicada — disse ele, com a voz baixa.

Kreik imediatamente colocou a mão no ombro do garoto.

— Esquece isso, Rufus. Águas passadas.

Donny, sempre direto e sem paciência para confusões, olhou para os dois com um olhar severo.

— Só espero que não tragam mais problemas para cima de mim. Sejam mais cautelosos.

De repente, uma voz feminina e animada ecoou pelo corredor.

— Ei, pessoal! O que foi aquilo na aula da professora Areta? Foi do balacobaco! Tá todo mundo comentando!

Joabe suspirou, olhando para Moara e Kreik.

— Já vejo que o plano de serem discretos foi por água abaixo.

— Prya, por favor — Donny foi na direção da garota segurando suas mãos — só me diz que meu nome não tá no meio disso...

— Não, seu nome tá limpo. Por enquanto — respondeu Prya, com um sorriso travesso. Ela então olhou para Rufus. — E aí, não vai me apresentar seus novos amigos?

Rufus, ainda um pouco nervoso, fez as devidas apresentações.

— Prya, esses são Joraco, Hermiara e Kreinald. Pessoal, essa é Prya.

Prya Vivar, 18 anos, jovem estudante de pele negra, com um visual de bruxa moderna. Ela vestia um vestido preto com detalhes dourados, mangas largas e uma saia curta com uma camada inferior dourada. Prya usava um chapéu de bruxa preto com uma faixa dourada e um pingente pendurado. Ela tinha tatuagens intricadas no braço e na perna direita, e usa vários acessórios dourados, incluindo colares e brincos. Prya tinha cabelos pretos curtos, batom preto e olhos castanhos.

 

 

— Onde você tava? Não te vi na aula hoje. — Clemência, curiosa, perguntou.

— Tava vindo de locomotiva pra universidade, mas o motor deu problema, aí me atrasei. A Cassie tava comigo — explicou Prya.

Clemência assentiu, lembrando-se da colega.

— Faz tempo que não vejo a Cassie.

— Ela já tá na sala, pronta pra próxima aula — respondeu Prya.

— Vamos logo, pessoal. Não queremos outro incidente como o da professora Areta. — Donny, impaciente, cortou a conversa.

Enquanto seguiam para a sala, Moara olhou para o chapéu que Prya usava e uma ideia veio à sua mente.

— Rufus, quando a gente vai saber em qual casa ficamos? — perguntou ela.

Rufus a encarou, confuso.

— Até agora tô sem entender do que você tá falando?

— Sabe — Moara sorriu, animada —, no livro do Henry Porto, tem um chapéu seletor, parecido com o da Prya. Ele analisa a personalidade da pessoa e decide em qual das quatro casas ela vai ficar: Grifinália, Salcelina, Ruberval ou Ufa-Ufa.

— Espero que o chapéu me mande pra Grifinália! Já sei, vou ficar repetindo "Salcelina não, Salcelina não" o tempo todo, no livro essa casa Salcelina só tinha gente metida — acrescentou Kreik, entrando na brincadeira.

Todos ao redor — Rufus, Clemência, Donny e Prya — olharam para os dois sem entender nada, enquanto Joabe simplesmente se afastou, claramente sentindo vergonha alheia.

— Não existe nada disso de casa ou chapéu seletor... — Rufus coçou a cabeça, perplexo. — Isso é coisa de livros.

Kreik e Moara trocaram olhares decepcionados.

— Tá começando a parecer que essa universidade é fajuta — murmurou Moara.

Joabe suspirou e colocou a mão na testa.

— Eu mereço...

Ao chegarem na sala, viram uma jovem sentada, com uma perna visivelmente quebrada. Prya se aproximou e chamou:

— Cassie, olha quem tá aqui!

Cassie levantou o olhar e sorriu para todos.

— Oi, pessoal! — disse ela, animada. — Esses são os novatos que o pessoal da universidade está comentando, né?

Cassie Lane, 17 anos, estudante da Universidade Flamel. Ela vestia um traje elegante composto por um corpete azul adornado com joias, uma saia branca com camadas e bordados azuis, luvas e botas azuis. Seu colar tinha um pingente dourado e uma pedra azul que complementava seu visual. Cassie tem longos cabelos loiros decorados com uma faixa azul com detalhes dourados e pele negra. Ela é conhecida pelo seu jeito doce e simpático. Na ocasião ela estava com a perna direita engessada.

 

 

Rufus, sem jeito, assentiu e fez as apresentações e Moara, notou a perna engessada de Cassie.

— O que aconteceu com a sua perna?

— Ah, passei as férias na casa dos meus avós e — Cassie deu de ombros — acabei me acidentando.

— Eu conheço alguém que pode resolver isso pra você — disse Moara, sem pensar duas vezes.

Imediatamente, Kreik e Joabe a encararam com olhares de alerta. Eles sabiam que Moara estava prestes a comprometer o disfarce deles.

Cassie, no entanto, ficou empolgada com a ideia.

— Sério? Quero conhecer esse amigo seu!

Antes que Moara pudesse responder, o professor entrou na sala, chamando a atenção de todos.

— Boa tarde, my favorite alunos. Sou o professor Daaz Goba, responsável por ministrar a aula de história da magia. Hoje, vamos falar sobre os clãs ancestrais.

Professor Daaz Goba, 39 anos, é um homem com olhos castanho claros e de aparência elegante. Ele vestia um casaco longo preto com detalhes dourados, um colete vermelho, uma camisa branca e uma gravata vermelha. Suas luvas brancas e os acessórios dourados, como broches e correntes, adicionam um toque de sofisticação ao seu visual. Seu cabelo é espetado e volumoso, com mechas loiras e pretas.

 

 

Todos rapidamente tomaram seus assentos, preparados para mais um dia de descobertas e, quem sabe, mais surpresas.

Quando o professor Daaz Goba se preparava para iniciar sua aula, a porta da sala se abriu lentamente. Dois alunos entraram – um garoto e uma garota, ambos com olhares vazios e rostos inexpressivos.

— Desculpe pelo atraso, professor — disseram os dois em uníssono, sem qualquer emoção.

Daaz, com um sorriso extravagante, aceitou o pedido de desculpas com um aceno exagerado.

— No problem, kids! Take your seats, please!

Os dois se sentaram, e Kreik observou Rufus. O olhar do colega confirmou o que ele suspeitava. Aqueles dois eram os alunos que Rufus acreditava terem sido capturados pelo Poeta Fantasma da Rima Morta.

— Esses são os dois, não são? — Kreik sussurrou e Rufus assentiu discretamente.

— Vicente e Kenia — respondeu ele, com a voz baixa.

Joabe, com um olhar afiado, murmurou para Kreik:

— Fique de olho neles.

Moara, por sua vez, tentou interagir com os dois alunos misteriosos.

— Oi, Vicente, Kenia! — disse ela com seu tom casual.

No entanto, os dois a ignoraram completamente, sem sequer virar o rosto.

— Hmph — resmungou Moara, cruzando os braços.

Enquanto isso, Daaz Goba começava sua aula, fazendo piruetas pelo meio da sala.

— Ladies and gentlemen, alguém aqui está empolgado para a aula de hoje? — Ele deu um salto teatral e girou no ar. — I AM! Let’s go! Vamos comigo, Professor Daaz Goba is The Best!

Joabe olhou para o professor, confuso e já com um toque de irritação.

“Mas que professor doido é esse?”, pensou ele, franzindo o cenho. “Pra que tanta pirueta? Por que eu sempre acabo perto de gente esquisita?”

— Ei — sussurrou Moara, com um tom de zombaria. — Esse professor é meio lelé da cuca, né?

Cassie, sentada ao lado, apenas riu balançando a cabeça.

— Podemos dizer que sim — respondeu Cassie. — Mas é um bom professor.

Daaz continuava com suas excentricidades enquanto explicava.

— Hey guys, alguém aqui já ouviu falar de clãs ancestrais? You don’t count, Rufus! — disse ele, apontando teatralmente para Rufus.

Rufus abaixou a cabeça, apertando a mão contra a coxa, claramente desconfortável.

“Clãs ancestrais... agora faz sentido”, pensou Joabe, enquanto observava a reação de Rufus. — Tsc!

A turma murmurou “não” em uníssono, e Daaz prosseguiu.

— Awesome! Então prestem atenção, porque isso é história pura! Na época em que os humanos eram escravizados pelos Arcanos, alguns receberam o que chamamos de “benção arcana”. BUT, nem sempre foi uma verdadeira benção. — Ele deu mais um salto giratório, caindo com perfeição. — Os Arcanos, em sua megalomania, deram poderes a grupos de humanos, e, para muitos, esses poderes mais pareciam maldições!

Joabe virou-se para Prya.

— Esse cara vai passar a aula inteira com essas esquisitices? — murmurou ele.

— Liga não, Joabe — respondeu Prya, sorrindo. — Ele é sempre assim... excêntrico.

Daaz continuou:

— Após a destruição dos Arcanos, esses humanos formaram clãs e buscaram uma vida tranquila, BUT a ganância humana não tem limites, né? Muitos desses clãs foram caçados por seus poderes. Hoje, são bem difíceis de encontrar... alguns até foram extintos. — Ele se inclinou dramaticamente para a frente. — E isso é so sad!

Daaz então parou abruptamente e olhou diretamente para Rufus.

— Rufus, my boy, come here!

Rufus hesitou, mas se levantou lentamente e caminhou até a frente da sala.

— Nada melhor que um exemplo vivo, right? Para quem não sabe, Rufus e sua mãe, Areta, são descendentes de um clã ancestral, o clã Flamel. Eles possuem a benção arcana da Sílfide! Pode nos falar mais sobre isso, my boy?

Rufus suspirou, visivelmente desconfortável, mas respondeu:

— Claro, professor. Nós do clã Flamel recebemos uma fração do poder da Sílfide, uma Arcana com habilidades de controlar o clima. Ela tinha um cristal vermelho na testa e olhos da mesma cor. Quando compartilhou seu poder com o fundador do nosso clã, Nicholas Flamel, herdamos essas mesmas características físicas.

— Oh, my boy, que história incrível! — Daaz deu um salto de alegria. — Agora nos diga, além dessas mudanças físicas, o que mais o seu clã herdou?

— Esse cristal vermelho... ele acumula parte do nosso poder mágico ao longo dos anos. Podemos usar essa energia de duas maneiras: para potencializar uma habilidade ou para rejuvenescer. Mas, uma vez usado, o cristal começa a definhar até desaparecer — continuou Rufus.

— Incrível! — exclamou Kreik, com os olhos brilhando. — Quer dizer que você tem um poder enorme dentro de você, Rufus?

Rufus sorriu timidamente, surpreso com o entusiasmo de Kreik.

— Ainda não... sou jovem e inexperiente. Meu cristal não tem muito poder acumulado ainda, mas, com o tempo, ele ficará mais forte.

Moara, com uma expressão de espanto, quase gritou:

— Caramba, além de ser poderosa, a megera da tua mãe ainda tem um poder enorme acumulado dentro dela? Eita lasqueira! Não tem como vencer aquela lunática!

A sala inteira, exceto Vicente e Kenia, explodiu em gargalhadas. Até mesmo Daaz riu.

Moara, percebendo o que havia dito, cobriu a boca rapidamente.

— Desculpa, Rufus! Não foi por mal...

— Relaxa — respondeu Rufus, rindo também. — Foi engraçado.

Daaz, ainda sorrindo, pediu para Rufus voltar ao seu lugar e agradeceu a participação.

— Thanks, my boy!

Rufus, embora tímido, sentia-se bem. Pela primeira vez, parecia que as pessoas haviam esquecido sua aparência incomum.

Daaz então continuou sua explicação, voltando às piruetas.

— Atualmente, catalogamos sete clãs ancestrais: Flamel; Canita, que se tornaram os Asura; Clemond; Zhang; Vorkam; Nekketsu; e Dragão. Mas, infelizmente, dois deles foram extintos: os Asura e os Nekketsu. Such a shame, seria incrível conhecer alguém desses clãs, seria uma riqueza histórica inestimável!

Nesse momento, Joabe, que até então permanecia em silêncio, murmurou em voz baixa, mas amarga:

— Qual a vantagem de conhecer essas aberrações? A extinção deles foi a maior vantagem.

O comentário de Joabe fez a sala inteira gelar. Daaz Goba parou abruptamente no meio de uma pirueta, com o rosto sério, o que era raro.

— What did you just say, young man?

Joabe se levantou, o rosto contorcido de ressentimento e raiva.

— Falei que foi bom que esses clãs tenham sido extintos! Que valor tem em conhecer essas aberrações? Só trazem dor e destruição!

— Como se atreve?! — Daaz explodiu, os braços tremendo de indignação. — Os clãs ancestrais são parte da história e de como se relacionamos com o diferente!

Joabe, com os punhos cerrados, encarou o professor com olhos frios.

— História? Você nunca nem presenciou um membro do clã Asura de perto. Eles são monstros, nada mais!

— OUT! — gritou Daaz, apontando para a porta. — Saia desta sala IMMEDIATELY e vá visitar a Reitora Leonora!

Joabe virou as costas sem hesitar e saiu da sala, o ambiente tenso com o eco da porta batendo atrás dele enquanto ele se dirgia à sala da Reitora.



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