Volume 3
Capítulo 94: Potencializadores de Aura
Enquanto Clemência, Rufus, Hermiara e Joraco caminhavam em direção às arquibancadas, o murmúrio constante dos alunos ao redor era quase ensurdecedor. Clemência notou um jovem de cabelos verde escuro rindo baixinho, a mão cobrindo a boca, enquanto tentava disfarçar sua diversão diante da confusão que se desenrolava.
— Olha só pra isso — Clemência murmurou, dando uma leve batida no ombro de Rufus e apontando para o rapaz sentado. Rufus seguiu o olhar dela, imediatamente reconhecendo o jovem sorridente.
— Me acompanhem — disse Rufus, gesticulando para que Hermiara e Joraco o seguissem. Os quatro caminharam até Donny e se sentaram ao lado dele.
Clemência, sem perder tempo, sussurrou:
— Não tô vendo nada engraçado, Donny!
Donald Gimler, mais conhecido como Donny, é um jovem de 18 anos de olhos verdes. Ele veste um uniforme escolar elegante composto por um blazer azul escuro com detalhes em verde e dourado, uma camisa branca impecável, uma gravata listrada em verde e preto, um colete roxo e calças pretas. Seu cabelo verde escuro é despenteado, dando-lhe um ar rebelde e despreocupado. Donny é conhecido por sua postura confiante e atitude destemida, sempre com um olhar determinado.
— Desculpa, desculpa... — disse Donny, tentando conter a risada. — Mas não consegui segurar. É só que... Rufus, você, em confusão? Isso é novidade!
Rufus soltou um suspiro e respondeu com calma:
— Estava só apresentando o local para os novos alunos. — Ele indicou Hermiara e Joraco, apresentando-os. — Estes são Hermiara e Joraco.
Moara e Joabe, que estavam logo atrás, acenaram com as mãos, mas Donny rapidamente os interrompeu:
— Calem a boca e me deixem fora disso. Não quero me meter em encrenca.
Nesse momento, o clima no ginásio mudou. Areta, sempre severa, já estava no centro, seus olhos fixos em Kreik. Ela emanava uma aura de poder que intimidava até os mais ousados, sem desviar o olhar do rapaz.
Rydia e Uji, que haviam acabado de chegar ao ginásio, observaram a cena de longe.
— O que diabos o Kreik tá fazendo ali? — sussurrou Uji, incrédulo.
— Está de frente com aquela velha rabugenta — respondeu Rydia, seus olhos analisando Areta com cuidado. — Ela é a temível professora Areta Flamel. E, pela cara dela, ele deve ter aprontado alguma.
— Melhor ele não estragar a missão de espionagem — acrescentou Rydia, com uma expressão preocupada.
— Silêncio! — ordenou ela, sua voz firme ecoando pelo ginásio. — Não atrapalhem a aula.
O efeito foi imediato. Todos os alunos nas arquibancadas ficaram imóveis, como estátuas. Kreik, no centro da atenção, sentia um frio na espinha. Ele manteve o olhar abaixado, suando frio enquanto um sentimento de pavor crescia em seu peito. O poder invisível da professora pesava sobre ele.
Enquanto Kreik lutava para manter a calma, Areta começou a andar em círculos ao seu redor, iniciando sua explicação com a frieza que lhe era característica.
— O homem é um ser tricotômico — começou ela, sua voz clara e autoritária. — Ou seja, composto de três partes: corpo, alma e espírito.
Areta continuava sua aula, descrevendo cada uma das partes com precisão clínica.
— O corpo é sua parte exterior, controlado e limitado pelos sentidos. A alma, por sua vez, é a sede das emoções, das lembranças e das vontades. Ela é aquilo que nos define como indivíduos. Já o espírito... — a professora fez uma pausa dramática, enquanto seus olhos faiscavam de interesse — ...é a parte que liga o homem ao imaterial, ao poder mágico, e é o que mantém a alma presa ao mundo físico.
Kreik sentiu o peso das palavras dela, como se cada uma fosse uma sentença. Seus músculos estavam tensos, o ar ao seu redor parecia pesado.
— A ausência de espírito — continuou Areta, seus passos lentos e calculados ao redor de Kreik — significa que a alma está viva, mas presa ao mundo imaterial. O espírito é a chave para o poder mágico, e quando ele se manifesta, se traduz em uma das cinco classes: Elementalista, transmorfo, forjador, conjurador ou dominador.
O ginásio estava em completo silêncio. Cada palavra da professora era absorvida com extrema atenção.
— Agora, se o espírito nos concede poder mágico e o corpo transforma esse poder, o que a alma faz nesse processo? Podemos usá-la? — Areta sorriu, de maneira quase sádica. — A resposta é sim, por meio dos potencializadores de aura.
Um aluno, com hesitação, levantou a mão. Areta o encarou, impassível.
— O que você quer? — ela perguntou, sua voz carregada de desdém.
— O que é aura? — perguntou o jovem, nervoso.
Areta revirou os olhos, irritada.
— Se tivesse prestado atenção, saberia que eu iria explicar isso. Tenha paciência e espere eu terminar.
O aluno encolheu-se, tímido, enquanto os outros mantinham os olhos fixos à frente, temendo irritar ainda mais a professora.
Areta prosseguiu, sua voz recuperando o tom frio e didático.
— A palavra “aura” vem de vento, brisa ou respiração. Podemos dizer que aura é uma emanação espiritual sutil ao redor do corpo. Um potencializador de aura, portanto, serve para amplificar essa emanação, permitindo que ultrapasse seus limites e crie técnicas mais avançadas.
Ela sorriu novamente, dessa vez de maneira mais sinistra.
— Quanto maior o controle sobre o potencializador, maior o poder que se pode extrair da aura. Imagine o poder mágico como uma correnteza de água. O corpo é o cano que suporta essa correnteza, e o potencializador de aura é o que direciona o fluxo.
Então, Areta ergueu os dois braços, apontando-os diretamente para Kreik.
— Deixe-me dar um exemplo prático — disse ela, com um sorriso maligno.
De repente, duas barreiras de vento se materializaram ao lado de Kreik, como paredes transparentes que começavam a se fechar, pressionando-o. O jovem gritou de dor, tentando segurar as barreiras com todas as suas forças, mas era inútil. Areta observava a cena com satisfação.
— Calma, garoto — provocou ela, com um olhar cruel. — A aula mal começou. Espero que você resista até o fim, ainda tenho muito a ensinar.
Areta estava no centro do campo, seus olhos fixos em Kreik, que lutava para respirar enquanto as duas barreiras o envolvia com uma pressão crescente. A professora manteve uma expressão calma, quase indiferente, enquanto seus braços, estendidos, sustentavam o peso do feitiço sobre o jovem.
— Eu sou uma maga da classe elementalista e consigo materializar barreira — explicou ela para os alunos ao redor, a voz firme cortando o silêncio. — Minha afinidade com o vento, combinada com a extração do atributo da solidificação da terra, me permite criar esse sub-elemento único. O que vocês estão vendo aqui é apenas o começo.
Kreik mal podia ouvir as palavras de Areta, sentindo o ar escapar de seus pulmões e o corpo sendo esmagado lentamente. Sua visão começava a turvar.
Na arquibancada, Moara cerrou os punhos com força, seu rosto franzido de preocupação. O instinto de intervir a dominava, mas antes que pudesse agir, Joabe segurou sua mão, balançando a cabeça negativamente. Ele sabia que, por mais difícil que fosse ver Kreik sofrendo, intervir naquele momento só pioraria as coisas.
Uji, no outro lado do ginásio, também já estava à beira de perder o controle. Com raiva de ver seu amigo sendo torturado, apertou o cabo de madeira da vassoura que estava segurando, até que ele se partiu com um estalo seco. Ele se virou para Rydia, os olhos faiscando.
— O que vamos fazer? Não podemos deixar ele morrer ali! — esbravejou Uji, respirando pesadamente.
Rydia, observando a cena de longe com sua habitual frieza, respondeu sem desviar o olhar de Areta:
— Não vamos fazer nada... por enquanto. Kreik vai ter que aguentar. — Ela fez uma pausa antes de completar, impassível. — Areta é rígida, mas não pode matar um aluno por um motivo tão leviano.
Uji cerrou os punhos, frustrado, mas sabia que Rydia tinha razão. Entretanto, isso não diminuía a sensação de impotência que o consumia.
Areta, ainda com Kreik preso sob a força esmagadora de sua barreira, continuava sua explicação, sua voz ressoando clara e objetiva para os alunos ao redor.
— Meu poder mágico foi criado pelo meu espírito — disse ela, os olhos brilhando com convicção. — E minhas barreiras são materializadas no mundo físico por meio do meu corpo. Agora, que vocês viram como as materializo... a questão é: como manipulá-las para criar técnicas avançadas e versáteis?
Enquanto falava, ela baixou os braços lentamente, e as barreiras ao redor de Kreik começaram a desaparecer, dissipando-se como uma névoa que se dissolve no ar. Kreik caiu de joelhos no chão, ofegante, com os braços doloridos e o corpo latejando de dor.
“Ela ia realmente me matar...”, pensou o ruivo, seu corpo tremendo de exaustão. “Eu não consegui mover um centímetro daquela barreira... quanta força essa mulher tem?”
Areta, sem demonstrar qualquer emoção, caminhou lentamente na direção do jovem mago, seus passos ecoando pelo ginásio.
— Existem seis potencializadores de aura — continuou ela, sem tirar os olhos de Kreik. — Impulso Fervoroso, Corpo Fechado, Território de Caça, Trunfo do Caçador, Vazio Controlado e Presença Soberana. Vamos a cada um deles.
Antes que Kreik pudesse processar o que estava acontecendo, Areta se moveu. Num piscar de olhos, ela desapareceu de sua visão e, no instante seguinte, estava atrás dele. Ele mal teve tempo de reagir, sentindo o coração disparar.
"Esse movimento... foi igual ao do Baan quando lutei contra ele na guilda!", pensou, assustado com a velocidade dela.
Areta balançou o braço, e uma barreira retangular se formou com precisão cirúrgica, atingindo Kreik pelas costas e o lançando para frente. Ele voou alguns metros, sentindo o impacto reverberar em todo o seu corpo. Mas antes que pudesse se recuperar, Areta apareceu novamente à sua frente. Com um movimento fluido, ergueu a mão para cima, e uma nova barreira emergiu do chão, colidindo com o corpo de Kreik e o arremessando para o alto.
Enquanto ele subia, atordoado, Areta observava com um leve sorriso no rosto, um sinal da satisfação pela demonstração de sua habilidade. Usando mais um impulso, ela surgiu acima dele, como uma sombra implacável, e balançou o braço para baixo. Uma terceira barreira apareceu no ar, atingindo o rosto de Kreik e o jogando violentamente de volta ao solo.
Kreik caiu no chão com um baque ensurdecedor, seu rosto machucado e sangrando. O corpo do jovem tremia de dor, e ele lutava para se mover. Enquanto isso, Areta descia do ar com tranquilidade, usando pequenas barreiras ao redor de seus pés como degraus invisíveis, descendo com graça.
— Como a alma é a sede das emoções — começou a professora, descendo calmamente —, para dominar um potencializador de aura, é necessário dominar uma determinada emoção.
Os alunos a observavam em silêncio absoluto, temendo interromper sua explicação.
— O Impulso Fervoroso permite realizar pequenos movimentos impulsivos, movendo-se em uma velocidade sobre-humana. Na forma bruta, consome muita energia e gera uma fadiga intensa. Por isso, deve ser usado de forma sábia, no momento oportuno. — Ela parou por um instante, seus olhos brilhando de satisfação. — Quando dominado com destreza, permite que você molde suas habilidades mágicas para técnicas voltadas à velocidade, impulsos ou até teletransporte.
Areta colocou os pés no chão, ficando de frente para Kreik, que ainda estava no chão, tentando se recuperar. Ela se virou para os alunos na arquibancada e gritou:
— E como se domina o Impulso Fervoroso?
Por um momento, o silêncio dominou o ambiente, até que uma voz firme se fez ouvir.
— Vamos, me respondam! O gato comeu a língua de vocês?
— Dominando a fé! — gritou Rydia, de longe, mantendo seus olhos fixos na professora.
Areta olhou na direção dela, e um sorriso satisfeito se formou em seus lábios.
— Muito bem — disse ela, fazendo um sinal com o dedo para que Rydia se aproximasse. — Venha. Vamos ver se você realmente entende o que isso significa.
Rydia se aproximava lentamente de Areta, o coração disparado e as mãos suando. Ela engoliu seco, nervosa com o que poderia acontecer. A tensão estava evidente em seu semblante, mas mesmo assim, manteve o olhar firme.
— Exatamente, minha estagiária! — declarou Areta, com um sorriso de satisfação. — O impulso fervoroso exige que haja um domínio absoluto da fé. E a fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos. — Sua voz soava firme e autoritária, ressoando pela arena. — Você precisa acreditar antes mesmo do seu corpo agir. Assim, o movimento se realiza, eliminando toda incerteza da sua mente.
Rydia parou em frente a Areta, sem desviar o olhar. A professora, em um movimento suave, começou a rodeá-la, como uma predadora cercando sua presa. De repente, Areta parou atrás de Rydia, inclinando-se levemente até que seu rosto ficasse próximo da orelha dela.
— E então, Ludya? — murmurou Areta, com um tom sedutor e provocativo. — Já conhecia os potencializadores de aura?
Rydia respirou fundo, tentando manter a compostura.
— Não, professora — respondeu ela, com a voz firme, mas ainda carregada de tensão. — Mas eu pressupus que, com o nome impulso fervoroso, a fé seria o elemento central.
Areta sorriu ao ouvir a resposta e deu um leve tapinha nas costas da jovem.
— Perspicaz. — Ela elogiou, com um brilho de aprovação nos olhos. — Vamos agora para o segundo potencializador: Corpo Fechado.
Ao dizer isso, ela lançou um olhar rápido para Kreik, que ainda se recuperava da última investida. Sem qualquer aviso, uma barreira sólida caiu sobre o jovem mago ruivo como um golpe esmagador. Kreik, ainda tonto e enfraquecido, levantou as mãos em um reflexo desesperado, mas a pressão era insuportável. O chão abaixo dele começou a rachar, e gritos de dor escaparam de seus lábios.
Enquanto isso, Areta se virou para os outros alunos e começou a explicar, com a mesma calma impiedosa de antes:
— O Corpo Fechado permite enrijecer seus músculos, tornando seus golpes devastadores e sua defesa quase impenetrável. Mas, como o impulso fervoroso, usá-lo em sua forma bruta consome muita energia. — Seus olhos brilharam enquanto explicava, movendo-se com elegância. — O segredo está em dominar essa técnica para moldar suas habilidades, focando em técnicas força bruta, resistência e contra-ataques.
Ela abaixou a barreira que pressionava Kreik. O jovem caiu pesadamente no chão, seu corpo tremendo de exaustão, incapaz de se mover.
— O domínio do Corpo Fechado exige o domínio sobre outro sentimento: a coragem. — A voz de Areta cortou o ar como uma lâmina afiada. — Você deve eliminar todo medo e encarar o inimigo de frente, sem hesitar.
Areta, implacável, voltou-se para Kreik mais uma vez, preparando-se para lançar outra barreira sobre ele. No entanto, Rydia, com um movimento rápido e decidido, agarrou o braço da professora, detendo-a.
Areta arqueou as sobrancelhas, surpresa com a intervenção, e seu olhar se tornou predatório.
— Aconteceu alguma coisa, Rydia? — provocou ela, com um tom ameaçador. — Ou também decidiu me desafiar?
Rydia, reconhecendo o perigo na voz de Areta, imediatamente se ajoelhou, com o coração pulsando forte em seu peito.
— Por favor, professora Areta — implorou ela, a voz carregada de preocupação. — Se a senhora continuar, este aluno pode se machucar gravemente... e a senhora pode acabar perdendo o emprego. Já imaginou a reação da Reitora Leonora?
Ao ouvir o nome da Reitora, Areta arregalou os olhos por um breve momento, mas logo se recompôs, suspirando pesadamente.
— Leonora... — murmurou ela, com desprezo. — Seria ridículo ver o sorriso daquela maldita enquanto me demite.
Rydia, perplexa com a reação de Areta, pensou rapidamente: “Então há uma inimizade entre ela e a Reitora. Isso pode ser útil.”
Areta, mais calma agora, fez um gesto com a mão, ordenando que dois alunos levassem Kreik até a arquibancada.
— Levem-no. Ele ainda precisa assistir ao restante da aula. — Suas palavras eram cheias de desdém, demonstrando a superioridade que sentia. — Pelo visto, não há mais ninguém disposto a me ajudar a explicar os demais potencializadores...
Antes que terminasse, uma voz forte e decidida cortou o ar:
— Tem sim, fessorinha! EU! — gritou Moara, levantando-se com um olhar determinado e furioso. O rosto dela estava marcado pela fúria ao ver Kreik tão machucado.
Os alunos no ginásio pararam, surpresos pela atitude de Moara, enquanto Areta sorria, visivelmente animada com o desafio que estava por vir.