Volume 3
Capítulo 93: Jovenzinho Retardatário
Enquanto Rydia enfrentava os rigorosos testes impostos por Areta, Kassandra continuava a conduzir Baan pelos arredores do campus, apresentando as instalações. A cada passo, o som das conversas e risadas ecoava pelo ar, criando uma atmosfera leve e ao mesmo tempo cheia de responsabilidade acadêmica.
Após caminhar por alguns minutos, eles finalmente chegaram à sala dos professores. A sala era ampla, com grandes janelas que permitiam a entrada de uma luz suave e filtrada pelas folhas das árvores lá fora. Móveis de madeira escura e estantes repletas de livros antigos ocupavam as paredes. Sentada em uma das poltronas de couro, uma mulher com cabelos alaranjados estava entretida comendo rosquinhas, seu semblante tranquilo.
Kassandra sorriu ao vê-la e a cumprimentou com entusiasmo:
— Seraphine! — disse ela, caminhando até a amiga. — Que bom te ver! Deixe-me apresentar nosso novo colega.
Professora Seraphine Muller, 37 anos, uma mulher com longos cabelos alaranjados, presos em um penteado elaborado com fitas pretas e flores verdes. Ela usa um vestido vitoriano verde com detalhes pretos e marrons, incluindo um laço preto no pescoço e um broche verde. A parte superior do vestido tem um corpete justo com botões e uma saia volumosa que se abre em camadas, revelando uma saia interna preta mais curta. Ela também usa meias altas pretas e sapatos de salto alto.
A mulher, que estava mordendo a ponta de uma rosquinha, ergueu o olhar e sorriu. Seus olhos castanhos brilharam com curiosidade. Kassandra fez um gesto com a mão, indicando Baan:
— Este é Baandalf, o Cinzento. — Kassandra piscou, rindo de leve.
Seraphine franziu o cenho por um breve momento, analisando o nome.
— Baandalf? Isso me lembra um mago famoso de um livro... “O Mestre das Alianças”, não? — comentou ela, inclinando-se para frente com um sorriso astuto.
Baan, sentindo o olhar afiado de Seraphine sobre si, sorriu nervosamente, passando a mão pela nuca.
— Ah, sim! — respondeu, tentando manter a calma. — Meus pais eram grandes fãs dessa obra... por isso me deram esse nome. Sempre gostei da ideia de um mago sábio e poderoso.
Seraphine deu uma risada leve, limpando os farelos de rosquinha da boca.
— Bom, parece que não serei mais a professora novata por aqui — ela disse, apoiando-se de volta na poltrona com um sorriso despreocupado.
Baan, ainda cauteloso com o rumo da conversa, arqueou uma sobrancelha e perguntou:
— Vocês estão na instituição há quanto tempo?
As duas professoras ficaram pensativas por um instante, trocando olhares como se tentassem recordar exatamente.
— Eu estou aqui há sete anos — respondeu Kassandra, jogando o cabelo para trás com um movimento suave.
— E eu, quase um ano agora — Seraphine completou, com um leve aceno de cabeça.
Baan olhou para Seraphine, um pouco desconfiado. Algo nela parecia fora do comum. Estava prestes a perguntar se ela conhecia a história antiga do poeta fantasma, quando um homem alto, com cabelos escuros e uma expressão séria, entrou na sala segurando uma xícara de café. Sua presença foi notada imediatamente.
— Hazard! — Kassandra chamou, acenando com entusiasmo. — Venha conhecer o novo professor!
Professor Hazard Valorath, 42 anos, possuía olhos verdes, pele negra, barba completa e bem delineada. Estava vestindo um terno elegante com um colete laranja e uma gravata azul. O terno é preto com detalhes em laranja, e o colete tem um padrão quadriculado, o que dá um toque de sofisticação e estilo. Os cabelos são longos e trançados com dreads, acrescentando um ar de distinção. Ele também usava brincos alaranjados.
— Sou Hazard Valorath, professor de combate mágico. — Sua voz era grave, mas cordial.
Baan apertou a mão de Hazard, sentindo a firmeza do aperto. Por um breve momento, os olhos de Hazard brilharam com um toque de desconfiança.
— Baandalf, hein? — disse Hazard. — Nome incomum.
Baan soltou uma risada nervosa, tentando disfarçar qualquer tensão que pudesse surgir.
— Sim, meus pais tinham um gosto... peculiar. — Ele desviou o olhar por um segundo, antes de acrescentar: — Estava pensando... talvez pudéssemos mesclar uma aula de defesa física com defesa mágica. O que acha?
A sugestão pareceu agradar Hazard, que sorriu de leve, aliviando o clima tenso.
— Parece uma boa ideia. Podemos discutir mais sobre isso depois.
Após essa troca de palavras, Baan percebeu que o momento era ideal para sair de cena. Ele precisava de tempo para refletir sobre suas próximas ações.
— Bem, preciso preparar meu material didático — disse ele, se afastando lentamente.
Kassandra, sempre cheia de energia, tentou persuadi-lo a ficar.
— Ah, não vá ainda! Você precisa conhecer a professora Areta e mais dois outros professores.
— Fica para outra hora. Preciso realmente preparar minhas aulas — Baan insistiu, acenando brevemente antes de sair da sala.
Ao sair, sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Seraphine Muller... havia algo nela que lhe parecia suspeito. E Hazard, com sua expressão sempre vigilante, definitivamente não era uma pessoa fácil de enganar. Ele precisaria ser extremamente cuidadoso dali em diante.
Logo que Baan saiu, Hazard se dirigiu a uma outra mesa para iniciar seu lanche, enquanto Seraphine e Kassandra iniciavam uma conversa mais descontraída.
— Esse Baandalf... ele me deixou curiosa — comentou Seraphine, com um brilho inquisitivo no olhar.
Kassandra, com um sorriso travesso, apoiou os cotovelos na mesa e suspirou.
— Curiosa? Sabe que eu vi ele primeiro, não é? Se ele for alguém interessante, você vai ter que esperar um novo professor chegar! — brincou ela, apertando as bochechas com as mãos, como se estivesse apaixonada.
Seraphine gargalhou.
— Ah, não se preocupe, Kass. Ele pode até ser bonitinho, mas não faz meu tipo. Prefiro homens ruivos, sabe? — disse ela, piscando de maneira provocativa.
Kassandra ergueu uma sobrancelha, inclinando-se curiosa.
— Então, por que tanto interesse nele?
— Ele só... aguçou minha curiosidade — respondeu Seraphine, casualmente, mas com um ar de mistério.
Kassandra suspirou novamente, desta vez em um tom mais romântico.
— Ele realmente causa esse efeito nas mulheres... — comentou, meio perdida em seus pensamentos.
As duas riram juntas, enquanto Hazard, do outro lado da sala, ouvia as risadas femininas sem captar o conteúdo da conversa. Ele apenas tomou um gole de café e, com uma expressão de leve desconforto, murmurou para si mesmo:
— Mulheres...
Nos corredores amplos da Universidade, com paredes de mármore que refletiam a luz natural que entrava pelas grandes janelas. Moara, Joabe e Kreik caminhavam pelo campus, guiados por Rufus, que os levava até a sala de aula. O ambiente era vibrante, com estudantes passando apressados de um lado para o outro, enquanto conversas e risos ecoavam pelos corredores.
— Você é de qual casa? — perguntou Moara, quebrando o silêncio enquanto lançava um olhar curioso a Rufus.
Ele franziu o cenho, claramente confuso.
— Casa? Do que cê tá falando? — retrucou, sem entender a pergunta.
Moara revirou os olhos, sem paciência.
— Não venha se fazer de desentendido... — disse, pronta para insistir, mas foi interrompida por um grito distante.
— Rufus! Rufus, você tá indo pra onde? — a voz era animada e aguda, vindo de uma jovem que corria em sua direção, balançando os braços no ar com entusiasmo.
Joabe olhou para a garota se aproximando e soltou uma risada curta e sarcástica.
— Quem é aquela doida?
Rufus suspirou, já acostumado com as reações exageradas da garota.
— Essa é Clemência Rangel, uma das alunas da minha classe — respondeu, envergonhado com a situação.
Clemência Rangel, 18 anos, jovem com longos cabelos rosa, adornados com uma grande flor e uma fita na mesma cor e olhos castanhos claros. Ela estava vestida com um traje elegante e detalhado, que inclui um corpete vermelho com detalhes dourados, uma blusa branca com mangas bufantes e uma saia branca com bordados dourados. Ela usava uma gargantilha com um pingente azul e uma fita rosa amarrada em um laço na frente.
Ofegante, Clemência parou ao lado do grupo, tomando fôlego. Seus olhos brilharam de curiosidade enquanto olhava para os três desconhecidos.
— Quem são eles? — perguntou, ainda respirando fundo.
— Esses são Hermiara, Joraco e Kreinald — apresentou Rufus, utilizando-se dos nomes falsos de seus amigos.
— Nomes bem... — Clemência franziu a testa — peculiares — comentou, tentando disfarçar sua estranheza com um sorriso. — Prazer em conhecê-los.
Rufus, impaciente, cortou o clima amistoso.
— E então, Clemência, o que foi? Tanta pressa pra quê?
— Você esqueceu que o cronograma das aulas mudou? — disse ela, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. — Vamos ter aula com a professora Areta, no ginásio! Ela disse que precisava de mais espaço.
— Aula... da minha mãe... no ginásio? — Rufus empalideceu, murmurou. — Ah, droga! Não podemos nos atrasar!
— Vem logo, a gente já tá atrasado! — esbravejou Clemência, que segurou o braço de Rufus e o puxou, já começando a correr.
O trio olhou para aquela cena inusitada, mas, sem muita escolha, seguiu Rufus e Clemência, correndo em direção ao ginásio.
O ginásio era enorme, com um piso brilhante e arquibancadas cheias de estudantes que esperavam pelo início da aula. Ao centro, a professora Areta se posicionava com a postura rígida de sempre, enquanto Rydia, ao seu lado, observava os alunos com uma expressão calma e fria. A professora se aproximou do centro da quadra, sua voz ecoando pelo espaço.
— Soua a professora Areta Flamel e essa é a minha nova estagiária, Ludya Lovengard. Hoje vamos falar sobre os potencializadores de aura — anunciou Areta, enquanto olhava para os estudantes.
Rufus, Clemência, Moara, Joabe e Kreik chegaram correndo ao ginásio, mas Kreik, desajeitado como de costume, tropeçou em uma lata de lixo, derrubando várias outras no processo. O barulho atraiu a atenção de todos os presentes, interrompendo a explicação de Areta.
— O que está acontecendo aqui? — perguntou Areta, cruzando os braços com uma expressão de desagrado.
Rydia, que estava ao seu lado, soltou um suspiro cansado. “Esse pessoal da minha guilda não cansa de fazer idiotices?”, pensou ela, dizendo em seguida: — Professora, vou logo chamar o faxineiro. — Já se dirigindo para a saída.
Enquanto isso, Areta se voltou para os alunos atrasados.
— Vocês — ela apontou, seu olhar severo —, venham para o meu lado. Vocês têm muito a explicar.
Do lado de fora, Rydia encontrou Uji, vestido com um uniforme de faxineiro. Ele estava sentado no chão, esfregando o piso de forma desanimada, murmurando pelo fato dele todos estarem azarando as alunas, mas ele apenas esfregando o chão. Quando Rydia se aproximou, ele nem notou sua presença, perdido em seus próprios pensamentos.
— Levanta logo! — Rydia deu um chute nas costas de Uji, fazendo-o cair de cara no chão.
— Ai! O que foi isso? — ele reclamou, esfregando o rosto dolorido.
— Foco na missão, Uji — disse ela, impaciente. — Ninguém tá azarando menina nenhuma.
— Ah, claro... — Uji suspirou, levantando-se lentamente. — Você tá se achando porque pode ir pras festas, namorar à vontade, beber escondido, nadar pelada com a turma durante a madrugada em uma cachoeira... — ele começou a divagar.
— De onde você tira essas ideias pervertidas? — Rydia interrompeu, puxando-o pela orelha. — Isso aqui é uma universidade séria, não uma casa de promiscuidade!
— Ai, ai, tá bom! — ele se rendeu, ainda esfregando a orelha dolorida. — Eu vou limpar o ginásio, tá bom?
Enquanto isso, dentro do ginásio, Areta, repreendia severamente e caminhava entre os alunos atrasado. Até que seus olhos se fixaram em Rufus, e ela se aproximou, sussurrando com um tom de desaprovação.
— Estou decepcionada com você, Rufus. Seu irmão, Randalf, era muito mais dedicado e talentoso. Talvez você devesse ser mais parecido com ele e parar de ser um moleque desajeitado.
Rufus baixou a cabeça, lutando contra as lágrimas que teimavam em brotar. Kreik, ao perceber o constrangimento de Rufus, não conseguiu ficar quieto.
— Professora, isso não foi necessário. Quer culpar alguém? Culpe a mim, Rufus é inocente. Ele apenas estava nos mostrando o campus! — gritou Kreik, tentando defender o amigo.
Areta parou, virando-se lentamente para Kreik. Seus olhos cintilaram com uma mistura de irritação e surpresa. Ela claramente não estava acostumada a ser desafiada por um aluno.
Todos os alunos, em especial Rufus, estavam boquiabertos, surpresos com a atitude do mago ruivo, já esperando o pior acontecer após a sua fala.
— Você, moleque... ousa me questionar? — sua voz era fria como gelo, enquanto ela se aproximava de Kreik. — Vão e sentem-se nos seus lugares. — Rufus, Clemência, Joabe, Moara e Kreik andaram lentamente de cabeça para baixa, dirigindo-se para a arquibancada, entretanto Areta, rapidamente, segurou no ombro de Kreik. — Ei, ruivinho, você não.
A tensão no ginásio aumentou, todos os alunos observando atentamente o desenrolar da situação. Areta deu um passo à frente, sua presença imponente silenciando o ambiente.
— Continuaremos com a aula — gritou ela para os demais alunos, com os braços abertos e um sorriso sombrio. —, contudo, também vamos garantir que esse jovenzinho retardatário saiba exatamente qual é o seu lugar nesta instituição.