Luvas de Ifrit Brasileira

Autor(a): JK Glove


Volume 3

Capítulo 92: Estagiária

Rydia estava sentada com as pernas cruzadas ao lado de Baan, ambos aguardando a chegada da professora Kassandra. O ambiente da universidade era grandioso, com paredes de pedra esculpidas e corredores iluminados por tochas que lançavam sombras suaves. O cheiro de pergaminhos e livros antigos permeava o ar. Ela, ainda irritada pelos nomes ridículos que haviam usado como disfarce, quebrou o silêncio com uma voz carregada de ironia.

— Baandalf... — murmurou, lançando um olhar sério para Baan — você é o líder da guilda e permitiu esses nomes. Quase fomos descobertos! É difícil ser a única adulta responsável por aqui.

Baan soltou uma gargalhada, seu comportamento descontraído contrastava com o tom crítico de Rydia. Ele passou uma mão pelos cabelos brancos, despreocupado, e respondeu com um sorriso largo.

— Ah, Rydia, você precisa relaxar mais. Aproveite o momento. Se algo der errado, eu dou um jeito... como sempre dou.

Antes que ela pudesse retrucar, uma mulher apressada, com os braços cheios de pastas, entrou na sala da secretária da Reitora. Seus passos rápidos ecoavam pelo corredor, e, ao tentar acelerar, tropeçou nos próprios pés. Com reflexos sobre-humanos, Baan se levantou em um piscar de olhos, segurando as pastas no ar com uma das mãos enquanto, com a outra, a amparava pela cintura antes que ela caísse no chão.

— Está tudo bem? — perguntou Baan, com um sorriso travesso nos lábios.

A mulher, nervosa e com o rosto corado, respondeu gaguejando:

— Sim... s-sim... está tudo bem, obrigada.

A secretária da Reitora, observando a cena, comentou com um tom de alívio:

— Que sorte que não se machucou, professora Kassandra.

Kassandra, ainda um pouco abalada, endireitou-se e balançou a cabeça em agradecimento. Ela ajeitou os óculos que quase haviam caído e, com um sorriso tímido, se apresentou:

— Sou Kassandra Lane, professora de equipamentos rúnicos. Muito prazer... e obrigada pela ajuda.

Professora Kassandra Lane, 36 anos, uma mulher com longos cabelos loiros, presos em um laço azul. Pele negra, olhos azuis profundos, batom azul escuro. O vestido tem um corpete justo com detalhes em azul e dourado, mangas bufantes brancas e uma saia azul com detalhes dourados e rendas brancas. Ela usa meias pretas e sapatos azuis. Kassandra estava adornada com várias joias, incluindo um colar com um grande pingente azul, brincos azuis e uma tiara dourada.

 

 

Baan, com uma expressão de surpresa calculada, respondeu enquanto ajustava seu boné laranja:

— Baandalf, o Cinzento, ao seu dispor. E aquela ali — apontou com o polegar para Rydia, que estava sentada de braços cruzados — é Ludya Lovengard, nova estagiária da professora Areta.

Kassandra, após pedir desculpas pelo atraso, voltou a sorrir, mas notou os olhos de Baan a analisando de cima a baixo, como se estivesse avaliando cada detalhe. A timidez voltou a tomar conta dela, e, sem conseguir disfarçar, perguntou:

— H-há algum problema comigo?

Baan deu de ombros e sorriu largamente, sem intenção de ser sutil.

— Nenhum problema. Só fiquei surpreso. Eu esperava que uma professora da Universidade Flamel fosse velha e rabugenta. Mas você... é jovem. E bonita.

O rosto de Kassandra ficou completamente vermelho, seu coração disparado como se tivesse corrido por todo o campus. Para tentar disfarçar o embaraço, ela bateu palmas de forma exagerada.

— Que bom! Vai ser muito divertido mostrar o campus a vocês!

Enquanto Kassandra conduzia o grupo pelo campus, ela segurava o braço de Baan, visivelmente animada com o novo conhecido. O campus era grandioso, com torres imponentes e jardins bem cuidados, onde estudantes circulavam carregando livros e pergaminhos. Rydia, seguindo um pouco mais atrás, observava a interação entre eles com uma expressão de leve desgosto, refletindo em silêncio.

— AAh, professor, que sorte tê-lo aqui neste NDE. Isso mostra que o senhor é realmente muito forte — Kassandra comentou, com a voz manhosa e doce.

— Como assim professora? — perguntou Baan, intrigado.

— Aqui na universidade, os professores são divididos em NDE’s, núcleos docentes estrurantes. A maioria dos professores não são bons em luta, suas habilidades de magia são apenas para fins pacíficos. Entretanto, aqueles que conseguem conciliar grande aptidão de manipulação de magia e força de combate são deslocados para o nosso NDE. Não é querendo ser prepotente, mas tipo, somos a elite da instituição. — Kassandra riu, entrelaçando seu braço ao de Baan. — Então não arranje confusão com ninguém do nosso NDE.

“Essa mulher esqueceu que eu existo? Ela só pensa em flertar com o Baan. Espero que ele não se derreta por ela e deixe alguma brecha para suspeitarem que somos uma guilda disfarçada...”, pensou Rydia, mantendo a postura rígida e reservada.

Kassandra, parecendo se lembrar de Rydia de repente, parou e se dirigiu a ela:

— Ludya, não é? A sala da professora Areta fica logo ali. Pode entrar e se apresentar.

Rydia assentiu, mas antes de dar o primeiro passo, Kassandra ofereceu um conselho:

— Seja esperta. Não é porque foi contratada que Areta vai te aceitar de imediato como estagiária. Ela é... bem independente. Quer um conselho? Não desvie o olhar. Areta respeita pessoas imponentes.

Agradecendo com um leve aceno, Rydia abriu a porta da sala. O ambiente era austero, com estantes repletas de livros antigos e uma única mesa de madeira escura no centro. Sentada atrás dela, uma mulher de postura firme lia atentamente um livro, fazendo anotações.

— Bom dia — disse Rydia, mantendo o disfarce — presumo que a senhora seja a professora Areta. Sou Ludya Lovengard, sua nova estagiária.

A professora Areta fechou o livro com um gesto decidido, levantando-se. Seus olhos vermelhos e o cristal em sua testa cintilaram à luz das tochas. Ela avançou em direção a Rydia, os olhos fixos nos dela, em uma clara demonstração de autoridade.

— Tenha humildade, jovem. Você não é minha estagiária... ainda. Não sem antes provar o seu valor. Aos meus olhos, você é apenas uma jovenzinha iludida. Pelo menos por enquanto.

Professora Areta Flamel, 62 anos, olhos vermelhos, cristal vermelho em sua testa, longos cabelos grisalhos. Ela estava vestida com um traje elegante e detalhado. O traje incluía um vestido longo roxo com detalhes brilhantes na parte inferior, um colete vermelho escuro, uma camisa branca com uma gravata vermelha, um manto branco com bordados vermelhos nas mangas e na borda e sapatilhas marrons os pés.

 

 

Rydia manteve-se firme, não recuando um centímetro. Avançou um passo, enfrentando o olhar severo de Areta.

“Esses olhos vermelhos e o cristal... igual ao de Rufus.”, pensou Rydia.

— Está com medo dos meus olhos? — questionou Areta, com uma leve sombra de ironia na voz.

— Não, apenas achei curioso que a senhora tenha os mesmos olhos e cristal que o aluno Rufus, que conheci hoje.

Um sorriso mínimo surgiu nos lábios de Areta, que não abandonou sua postura rígida.

— Vejo que conheceu meu filho, Rufus Flamel.

— Sim, mas isso é irrelevante. Rydia deu de ombros, figindo estar desinteressada. — Estou aqui para ser sua estagiária, professora. Vim preparada para provar minhas habilidades e espero que a senhora seja criativa na forma como vou fazer isso, afinal, precisa fazer jus à sua fama.

Areta estreitou os olhos, avaliando Rydia em sua mente: “Ela resistiu à minha presença... conseguiu ditar o rumo da conversa e ainda me desafiou. Essa jovem é interessante, mas ainda não o suficiente... Vamos ver como ela se sai no que preparei.”

Ela virou-se, com um gesto altivo, e falou:

— Siga-me e mostre se suas habilidades fazem jus à sua autoconfiança.

As duas entraram em uma sala adjacente. Era um local repleto de livros antigos, artefatos mágicos e itens aparentemente desconexos. A iluminação suave das tochas criava um ambiente misterioso, com sombras dançando pelas paredes.

Areta sentou-se em uma poltrona, cruzando as pernas e apoiando o cotovelo no braço da cadeira. Sua postura era imponente e controlada.

— Se quer ser minha estagiária, terá que me surpreender — disse Areta com voz calma, mas firme. — Há um baú trancado com uma senha. Para descobri-la, precisará encontrar e decifrar quatro pistas escondidas nesta sala. Use tanto sua inteligência quanto suas habilidades mágicas. Você tem trinta minutos.

Rydia respirou fundo, sua determinação evidente em seus olhos.

— Estou pronta, professora. Quais as instruções?

Areta sorriu de forma quase imperceptível.

— As pistas estão espalhadas pela sala. Concilie suas habilidades mágicas e seu conhecimento para revelá-las e interpretá-las. O tempo está correndo.

Em um dos cantos superiores da sala, havia um prisma de cristal fixado ao chão, com um feixe de luz incidindo diretamente sobre ele. A luz era dispersada em várias direções, formando um arco-íris flutuante no ar. Na parede ao fundo, um pequeno círculo estava marcado, com uma placa ao lado do prisma que dizia: “O feixe que alcançar o círculo revelará a primeira chave”.

Rydia se aproximou do prisma, seus olhos analisando rapidamente como a luz se dispersava. Ela imediatamente reconheceu o princípio de refração da luz, mas ao tentar mexer no prisma, percebeu que ele estava fixo. Não poderia alterar sua posição.

— Não posso mudar o prisma... — murmurou para si mesma, enquanto começava a refletir sobre a situação. — Mas posso manipular a luz.

Ela compreendia que a refração da luz acontecia quando a luz passava de um meio para outro, como do ar para a água, e que isso alterava sua velocidade e ângulo de propagação. Se conseguisse moldar sua água para criar superfícies de refração, seria possível ajustar o caminho do feixe.

Com esse raciocínio, Rydia criou pequenos espelhos de água usando sua habilidade de manipular a tensão superficial. As superfícies de água eram lisas e transparentes, refletindo a luz em diferentes ângulos conforme ela fazia ajustes precisos. A cada tentativa, o feixe se aproximava mais do círculo.

Areta, que observava atentamente, ponderava consigo mesma: “Ela está utilizando as propriedades físicas da luz com sua magia... Interessante”.

Rydia, com o cenho franzido de concentração, continuava a refinar os espelhos, ajustando-os até que, finalmente, a luz refletisse no ângulo perfeito e atingisse o círculo na parede. Um clique suave ecoou pela sala, e um pequeno compartimento se abriu, revelando a primeira parte da chave.

— Primeiro desafio concluído — disse Areta, com um leve tom de admiração. — Mas ainda temos mais.

Rydia enxugou o suor da testa, preparando-se para o próximo teste. Ao explorar o restante da sala, encontrou uma imponente estátua de pedra em um dos cantos inferiores, com pequenas rachaduras ao longo de sua estrutura. Dentro de uma dessas rachaduras, ela avistou um objeto. Ao lado da estátua, uma placa dizia: "Faça com que o objeto percorra as frestas e saia pelo buraco correto, mantendo a estátua intacta".

— O objeto deve sair pelo buraco certo... sem quebrar a estátua. Isso vai exigir um controle perfeito — pensou Rydia, analisando a situação.

Notando vários buracos espalhados pela estátua, Rydia percebeu que apenas um, no topo da cabeça da estátua, era o destino correto, marcado por um leve brilho esverdeado. Ela começou a moldar tiras finas de água e usou a tensão superficial para tapar todos os outros buracos, exceto dois: o buraco por onde a água deveria entrar e o buraco no topo, onde o objeto deveria sair.

— A capilaridade da água… — ela murmurou para si, enquanto começava a manipular o líquido. — Vou fazer a água subir pelas frestas da estátua, como a seiva nas plantas.

Ela injetou a água através das rachaduras, usando a capilaridade para mover o líquido por entre as fendas de pedra. Rydia controlava a pressão do fluxo com precisão, tomando cuidado para não sobrecarregar a estátua. Lentamente, o objeto começou a emergir pelo buraco no topo.

Areta, observando de perto, ergueu uma sobrancelha, pensando: “Controle preciso... Vamos ver se ela mantém isso até o fim”.

Finalmente, o objeto deslizou para fora pelo buraco correto, e Rydia o pegou. Era a segunda parte da chave.

— Dois testes completos — comentou Areta, com um leve sorriso desafiador. — Mas o tempo está correndo.

No terceiro canto da sala, Rydia encontrou um recipiente cheio de ácido, com a terceira parte da chave presa em uma caixinha no fundo. Ao lado, havia outro recipiente vazio, localizado numa prateleira mais alta. Rydia precisaria mover o ácido sem tocá-lo. Ela imediatamente pensou no Parafuso de Arquimedes, uma antiga invenção usada para transportar líquidos de um nível mais baixo para um mais alto.

“Se eu usar a água como base... posso recriar o parafuso de Arquimedes e mover o ácido”, ponderou Rydia, já moldando sua água elástica em forma de espiral.

Ela inseriu o parafuso de água no recipiente com ácido e começou a girá-lo, criando uma força que transportava o ácido lentamente para o recipiente superior. Depois de alguns minutos de trabalho meticuloso, todo o ácido foi transferido, deixando a caixinha no fundo livre para ser aberta. Lá estava a terceira parte da chave.

“Que engenhosa! Estou impressionada. Mas o tempo não lhe é favorável”, murmurou a professora consigo.

Finalmente, no último canto da sala, uma bateria mágica repousava sobre uma mesa, com dois polos expostos. Ao lado dela, um frasco cheio de vários líquidos misturados, e ao fundo, uma placa que dizia: "A corrente deve ser formada, mas a água deve estar pura."

Rydia olhou o frasco e compreendeu que precisava purificar a água. O frasco continha óleo, sais e outros compostos dissolvidos na água, além de sedimentos. Ela sabia que poderia usar suas habilidades para separar os componentes indesejados.

Com extrema concentração, Rydia começou a manipular a água, isolando as impurezas. Primeiro, ela separou o óleo, que por ser menos denso, flutuou para a superfície. Depois, usou a tensão superficial para atrair os sedimentos e as partículas sólidas, retirando-os do líquido. Finalmente, os sais dissolvidos foram expelidos ao alterar a estrutura molecular da água, resultando em uma bolha de água completamente pura.

 

 

— Ela purificou a água com perfeição… Mas lhe falta pouco menos de 30 segundos — Areta comentou em voz baixa, impressionada.

O teste ainda não estava completo, mas Rydia estava focada. Com a água pura em mãos, a jovem precisou moldá-la para conectar os polos da bateria. Usando sua habilidade de manipulação, ela aumentou a viscosidade da água, tornando-a pegajosa o suficiente para formar um caminho entre os dois polos.

Assim que os polos foram conectados, a corrente foi ativada, e uma luz brilhante preencheu a sala. Uma gaveta abaixo da bateria se abriu, revelando a última parte da chave.

— Quatro testes, quatro sucessos — comentou Areta, agora com um sorriso sincero. — Talvez você realmente tenha o que é necessário para ser minha estagiária. Isso se o tempo permitir. Faltam 10, 9, 8 segundos...

Rydia correu até o centro da sala e, com a ajuda da sua água elástica, juntou os quatro pedaços da chave e abriu o baú quando faltava 1 segundo para o fim do teste. 

Dentro do baú, uma runa cintilante repousava, brilhando com uma energia misteriosa. Areta se aproximou, um leve sorriso nos lábios.

— Você provou ser mais capaz do que esperava, Ludya — disse a professora, com aprovação. — Você provou sua inteligência e controle sobre sua magia. Esta runa é sua recompensa, minha nova estagiária.

Rydia, com um sorriso cansado no rosto, após o esgotamento físico e mental, pegou a runa cuidadosamente, sentindo a energia fluir através dela.

— O que essa runa faz?

— Essa runa cria uma barreira poderosa, capaz de conter qualquer ataque ou pessoa, inclusive a mim, mas apenas por alguns minutos. Eu mesmo infundi essa runa com minha magia. Ela é algo raro e poderoso, entretanto pode ser usada apenas uma vez. Use-a sabiamente, em um momento realmente oportuno — explicou a professora catedrática.

Rydia segurou a runa, sentindo a imensa responsabilidade e poder que ela carregava. Ela fez uma reverência respeitosa a Areta, enquanto a mestra a observava com um olhar agora misturado de respeito e expectativa e pediu para beber um pouco de água e recuperar o fôlego, o que foi autorizado pela professora.

“Primeira fase da infiltração completa”, pensou a maga de cabelos verdes, com um leve sorriso.



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