Volume 3
Capítulo 91: Nomes Falsos
No dia seguinte, durante uma manhã de sol, os membros da guilda Crossed Bones finalmente chegavam à movimentada cidade portuária de Meryportos, capital da província de Basten. Era um lugar de grande comércio e conhecido por abrigar a majestosa e imponente Universidade de Magia Flamel, cujas torres dominavam a paisagem. Moara e Kreik, fascinados com a grandiosidade da cidade, deixavam o entusiasmo transparecer em cada passo que davam.
— Isso aqui é incrível! — exclamou Moara, com os olhos brilhando ao observar as ruas repletas de vendedores e mercadores.
Kreik concordava, igualmente animado. No entanto, Baan, lembrando-se do que aconteceu em Darad, os repreendeu com um tom severo.
— Da última vez que ficaram sozinhos vocês dois gastaram todos os nossos rilds levianamente, sendo enganados por aquele velho fofoqueiro. Desta vez, mantenham-se focados! Não vão fazer besteira — advertiu, cruzando os braços e olhando diretamente para Joabe. — Joabe, fique de olho neles. Não quero mais problemas.
Joabe assentiu, embora sua expressão sugerisse que já esperava ter que controlar os dois mais uma vez. Continuaram andando pelas movimentadas ruas até entrarem em uma viela estreita, abaixo de uma velha ponte. Ali, encontrava-se uma casa em ruínas, aparentemente abandonada. Com passos cautelosos, todos entraram no local.
— Sério? Por que estamos em um lugar tão imundo? — reclamou Moara, torcendo o nariz diante do cheiro desagradável que pairava no ar.
— Este é o ponto de encontro com o contratante — explicou Baan, sem se importar com a reclamação.
— Para não se portar com o cheiro, acredito que o contratante deve dormir todo dia ao lado de um rato! — resmungou Moara, irritada, enquanto Joabe, rindo, não perdeu a oportunidade de provocá-la.
— Como sabe disso? Por acaso já dormiu próximo de um?
— Sim, toda noite durmo próximo de um rato que veio de Suna, não lembra? — retrucou ela, irritada, enquanto Joabe ficava visivelmente furioso.
Enquanto discutiam Rydia, mais afastada, apenas observava, sem paciência, a briga dos dois companheiros. Aproveitando a deixa, Uji, sempre o galanteador, viu uma oportunidade de lançar uma cantada.
— Rydia, para o mau cheiro do local não te incomodar, eu deixo você dar um cheirinho no meu pescoço, só não vai se apaixonar. — Ele abriu os braços e inclinou o pescoço, com sorrindo confiante.
Rydia, impassível, colocou a mão no rosto de Uji e o afastou suavemente, mantendo a compostura e criando um momento cômico entre os dois.
— Só me faltava essa. Pode deixar que se o cheiro me incomodar eu apenas tampo o nariz.
Neste momento, o som de passos ecoou pelo lugar, e Baan, sempre atento, comentou:
— Parece que o contratante chegou.
De um canto escuro, um homem encapuzado surgiu, com passos silenciosos e decididos.
— Presumo que vocês sejam a guilda que veio do Reino de Madrad?
— Isso! Somos a guilda Crossed Bones — confirmou Baan, apresentando todos os membros da guilda individualmente.
— É um prazer conhece-los. Eu sou Rufus Flamel, seu contratante — disse o contratante, enquanto revelava seu rosto, tirando o capuz.
Rufus Flamel, 17 anos, que agora se mostrava, tinha cabelos curtos e pretos, usava óculos redondo. Seus olhos eram de um vermelho intenso, e, no centro de sua testa, brilhava um cristal vermelho. Era um jovem de aparência enigmática e incomum. Ele vestia um uniforme que lembrava o de uma escola de magia, com uma capa preta de forro roxo e bordados roxos na parte inferior. Um colete xadrez escuro sobre uma camisa branca com gravata listrada em vermelho e dourado. O brasão no peito da capa, cotendo o brasão da universidade.
Ao vê-lo, Moara e Kreik arregalaram os olhos em choque e gritaram quase ao mesmo tempo:
— Não pode ser!
Uji, sem paciência, deu um tapa nas costas dos dois, repreendendo-os.
— Sejam educados, por favor! — disse ele.
Rufus, o jovem encapuzado, sorriu timidamente.
— Imagino que minha aparência cause estranhamento, principalmente por causa dos meus olhos e do cristal. — Ele parecia acostumado com aquele tipo de reação.
— Não é isso! — exclamaram Moara e Kreik ao mesmo tempo. — Você parece exatamente com o personagem principal dos livros de Henry Porto!
A surpresa tomou conta do grupo, e todos ficaram perplexos com o comentário.
— O quê? — perguntou Uji, confuso.
— Henry Porto! — explicou Moara com empolgação. — Pelo amor de Deus, vocês vivem em que mundo? É uma coletânea famosa de livros! Tem “Henry Porto e o Minério Filosófico”, “Henry Porto e o Compartimento Negro” e “Henry Porto e o Prisioneiro de Alakazam” — disse ela rapidamente, enquanto Kreik concordava fervorosamente com a cabeça. — Na história, Henry é criado por seus tios, descobre que tem poderes mágicos e vai estudar numa universidade de magia!
Rydia, envergonhada, suspirou e pediu desculpas a Rufus.
— Perdão por esses dois. Eles têm... imaginação demais. — Ela lançou um olhar crítico para Moara e Kreik. — Podemos, por favor, focar no motivo pelo qual estamos aqui? Qual é o contrato?
Rufus, ainda um pouco desconcertado, assentiu e começou a explicar:
— Eu sou estudante da Universidade Flamel. Minha mãe foi professora e ex-reitora, e minha cunhada é a atual reitora. — Ele fez uma pausa para ver se todos estavam prestando atenção.
— Universidade Flamel? Por que esse nome? Tem alguma ligação com o seu sobrenome? — Uji, curioso, interrompeu:
— Sim. — Rufus assentiu, ajustando os óculos. — A universidade foi fundada por meu ancestral, Nichola Flamel. O objetivo dela é treinar magos que desejam ingressar na GPA ou usar magia para fins pacíficos, como pesquisa, medicina, engenharia e outras áreas. — Ele explicou calmamente.
Rydia, sempre prática, cortou a conversa:
— E qual seria o trabalho?
Rufus olhou para o chão, hesitante, antes de continuar.
— Há uma antiga lenda na universidade, sobre o Poeta Fantasma da Rima Morta, um antigo professor que se apaixonou por uma aluna e viveram um amor proibido por meio de poesias e cartas, até que um grupo de alunos armou uma armadilha para ele. Antes de morrer, ele prometeu que se vingaria de todos. — Ele parou, esperando uma reação do grupo.
— Viemos aqui por uma Lenda? — murmurou Baan, levantando uma sobrancelha.
— Essa história sempre foi uma lenda urbana para assustar os calouros. Pelo menos, era o que todos acreditavam, até que alguns alunos começaram a afirmar que viram esse fantasma recitando versos pelos corredores. A princípio, ninguém acreditou... até que há mais ou menos seis dias um aluno desapareceu. Quando reportamos o desaparecimento, ele simplesmente reapareceu, mas... algo estava errado com ele. — Rufus hesitou, sua voz ficando mais tensa. — Ele parecia um zumbi, apenas frequentando as aulas, sem qualquer vida em seus olhos, e desaparecendo logo em seguida.
O grupo ouvia atentamente, e a preocupação começava a se espalhar entre eles. Rufus respirou fundo e continuou:
— Há três dias, durante a noite, enquanto eu voltava tarde da biblioteca, vi o Poeta Fantasma capturando uma segunda vítima... ela simplesmente sumiu do nada. E o mais assustador foi que, ao se virar, vi que ele usava um broche igual ao dos professores. Eu acredito que um dos professores esteja se passando pelo fantasma e capturando os alunos.
Todos ficaram em silêncio por um momento, absorvendo o que acabavam de ouvir. Baan, sempre cauteloso, perguntou:
— Afinal, você quer que a gente derrote esse cara e liberte os alunos?
— Não necessariamente. Se conseguir reunir provas que demonstrem sua real identidade para eu apresentar até a reitora já tá de bom tamanho. Ela é muito poderosa, consegue acabar com ele facilmente.
— Por que nos escolheu? Por que requisitar uma guilda de Rank E, em vez de uma de maior prestígio? — perguntou Rydia desconfiada.
Rufus, um pouco envergonhado, respondeu:
— Para o plano funcionar, preciso que se infiltrem na universidade. Uma guilda de alto rank seria facilmente identificada como magos privados, mas uma guilda de Rank E... ninguém se lembra de seus nomes ou rostos. — Ele percebeu tarde demais o quanto aquilo soava ofensivo.
Os membros da guilda ficaram visivelmente decepcionados, suas expressões se contorcendo em uma mistura de surpresa e constrangimento, como se tivessem levado a uma bofetada de surpresa. Rufus, notando o erro, se apressou em tentar recuperar.
— Eu não quis ofender! — exclamou ele, nervoso, criando uma cena cômica que arrancou risos de todos.
Baan gargalhou alto e, depois de recuperar o fôlego, assentiu.
— Não esquenta. Só saiba que aceitamos o contrato. Mas me diga, como vamos nos infiltrar sem levantar suspeitas?
Rufus retirou de dentro de seu manto algumas pastas e as entregou para os membros da guilda. Pediu que preenchessem as fichas com nomes e histórias falsas. Ele passaria no dia seguinte para recolher as pastas e, aproveitando a influência de sua mãe como professora principal da universidade, garantiria acesso aos arquivos para inserir os documentos e alocá-los conforme as vagas disponíveis.
Após a despedida de Rufus, a guilda seguiu para uma estalagem. Reunidos em um dos quartos, discutiam quais nomes colocar e como preencher as fichas. Moara, sentada na cama com os braços cruzados, sugeriu, com um sorriso travesso:
— Vamos usar os nomes dos personagens dos livros do Henry Porto!
Kreik, que estava encostado na parede, sorriu animado e perguntou:
— Quais personagens você tá pensando?
Moara, com a mão no queixo e um brilho nos olhos, respondeu confiante:
— Já sei os personagens perfeitos! Eu serei Hermiola Ragers; Kreik será Roland Wesley; Rydia, Luma Loveroad; Uji será Rúbio Argrid; Baan será Bonbodore e Joabe... — Ela fez uma pausa, olhando para Joabe com uma expressão pensativa. — Quem seria esquisito o suficiente para ele?
— Não me enfia nesses seus devaneios de gente doida! — Joabe, visivelmente incomodado, retrucou de imediato.
— Que tal o almofadinha do Graco Malfedo? — interrompeu Kreik, entusiasmado.
— Por que diabos eu seria um almofadinha? — Joabe bufou, irritado, cruzando os braços e se virando de lado.
— Perfeito! — completou Moara com uma risadinha.
Rydia, que até então observava a conversa com uma expressão incrédula, finalmente explodiu:
— Vocês tão malucos? Endoidaram de vez, só pode! — Ela se levantou, furiosa. — Ninguém vai colocar esses nomes ridículos. Vão saber na hora que são falsos! Usem nomes normais, que não chamem atenção.
Moara retrucou, fazendo uma careta:
— Você não entende, Rydia! Esse é o momento perfeito para usarmos esses nomes! Vamos ser os mais famosos da universidade!
— Sua idiota! Nosso objetivo é o inverso, queremos é passar despercebidos! — Rydia argumentou, batendo o pé com frustração.
— Mas Rydia, não é justo! — insistiu Moara, teimosa como sempre.
Baan, que estava sentado no chão observando a discussão com um sorriso de canto, bateu as mãos no chão e interveio:
— Moara, não podemos usar esses nomes. Esquece isso.
Rydia, aliviada por alguém finalmente ter colocado um pouco de razão na conversa, sorriu:
— Boa, chefe! Ainda bem que você interveio. Talvez coloque juízo na cabeça oca dela.
Mas Baan continuou, com um sorriso travesso no rosto:
— Não vamos usar Henry Porto... Vamos usar os nomes dos personagens de O Mestre das Alianças.
— Isso mesmo! — concordou Rydia, mas logo parou, olhando para Baan com incredulidade. — O quê?! Está ficando maluco, Baan?
— Henry Porto não chega aos pés de O Mestre das Alianças. Esta é uma obra completa, com enredo mais desenvolvido e personagens mais cativantes. Henry Porto é para criancinhas choronas.
— Não ouse falar da grandiosa obra de Henry Porto! O Mestre das Alianças é coisa do passado, típico de gosto de um velho decrépito — insistiu Moara, batendo o pé.
— Sou o líder da guilda, e escolho O Mestre das Alianças! — retrucou Baan, com um olhar decidido.
Antes que a discussão pudesse continuar, Rydia, furiosa, deu um cascudo nos dois, fazendo-os gritar de dor.
— Calem a boca, seus ignorantes! — esbravejou. — Ninguém vai usar esses nomes ridículos. — Rydia pegou todas as fichas de uma vez e, irritada, anunciou: — Vou pro meu quarto preencher as fichas de todos vocês com nomes normais, e histórias de vida que não chamem atenção.
No dia seguinte, ela entregou as fichas para Rufus, que, com um sorriso confiante, avisou:
— Aproveitem o final de semana, porque na segunda precisam se apresentar bem cedo na universidade, na frente da Reitora, Leonora Flamel. Ah, outra coisa, não esqueçam de colocar roupas mais apropriadas ao ambiente universitário.
Na manhã de segunda-feira, bem cedo, com roupas mais formais, eles chegaram à universidade. Ao se aproximarem dos imponentes portões, ficaram admirados com a grandiosidade e beleza do local. A arquitetura gótica se destacava, com torres altíssimas e vitrais multicoloridos que reluziam com a luz da manhã. O interior era igualmente impressionante, com móveis luxuosos e corredores amplos.
Rufus os aguardava na entrada e os guiou até a sala da reitora. No caminho, trocaram olhares curiosos, observando os detalhes ornamentados das paredes e o movimento dos estudantes.
Ao chegarem à secretaria, Rufus cumprimentou a secretária da reitora e perguntou:
— Podemos entrar? A reitora está esperando?
A secretária, sem tirar os olhos dos papéis, respondeu:
— Ela está esperando os três novos alunos transferidos, a estagiária da professora Areta, o novo professor de defesa física e... o novo faxineiro.
Rufus riu sem graça e completou:
— São eles. Estavam meio perdidos, então os trouxe até aqui.
A secretária os deixou entrar, e logo Uji, sempre brincalhão, provocou Baan:
— Foi mal, cara... Enquanto eu vou azarando as alunas como professor, você vai tá limpando banheiro. Boa sorte!
— Hahaha! Muito engraçadinho você. Cuidado para não ser expulso — zombou Baan em resposta.
Ao entrar na sala da reitora, todos se silenciaram. Rufus cumprimentou a reitora e anunciou:
—Leonora, estes são os novatos que a senhora estava esperando.
Leonora Flamel, 36 anos, cabelos loiros longos, com mechas caindo sobre os seus olhos vermelhos profundos. Ela possuía um cristal vermelho em sua testa e vestia um uniforme formal e elegante, predominantemente verde e branco, detalhes dourados. O uniforme incluia um casaco verde com botões dourados e ombreiras decorativas com franjas douradas. A Reitora usava uma camisa branca por baixo do casaco e uma gravata verde adornada com um broche dourado. Calças pretas justas e botas de salto alto completavam o visual.
A reitora, sem desviar o olhar das fichas em sua mesa, chamou com a voz rígida:
— Primeiro os alunos transferidos: Hermiara Ragers, Kreinald Vesley, Joraco Malfurim, deem um passo à frente.
Moara, Kreik e Joabe avançaram, mas Rydia ficou perplexa e boquiaberta. Ela não entendia como aqueles nomes ridículos haviam sido inseridos, já que ela havia colocado outros. Moara, de pirraça, lançou um sorriso travesso e piscou para a amiga.
“Ela deve ter trocado os nomes das fichas enquanto eu dormia... Eu vou te esganar, Moara!”, pensou Rydia, rangendo os dentes.
— A nova estagiária, Ludya Lovengard! — continuou a reitora.
Rydia deu um passo à frente, tentando disfarçar a raiva que sentia. Moara, ao seu lado, dava leves risadinhas zombeteiras.
— O novo faxineiro, Rubinaga Ujigrid!
Uji ficou de queixo caído, enquanto Baan lhe deu um tapinha nas costas, sorrindo. Com uma expressão de desespero, Uji deu um passo à frente, murmurando para si mesmo: “Maldito Baan! Enquanto ele vai ser professor, eu fico limpando xixi... Eu quero as alunas! Todo mundo sabe que elas têm uma queda pelos professores. Isso não é justo!”
— Por último, o novo professor de defesa física: Baandalf, o Cinzento!
Moara ficou perplexa.
“Como assim? Eu coloquei Baanbodore! Maldito Baan... Ele deve ter tida a minha mesma ideia e trocou a ficha dele!”, pensou, irritada.
Baan avançou com um sorriso vitorioso e piscou para Moara, pensando: “Otária! Nunca que eu perderia a chance de ser um personagem de O Mestre das Alianças. Henry Porto é para amadores! Hehehe... Ninguém me supera na malandragem.”
— Esses nomes... são estranhos — murmurou a reitora, com uma sobrancelha arqueada.
Rydia começou a suar frio, temendo que a farsa fosse revelada, mas a reitora apenas suspirou, exausta.
— Que seja. Tenho outros problemas para resolver.
Leonora pediu que Rufus apresentasse o campus a Hermiara, Joraco e Kreinald. Quanto a Baandalf e Ludya, eles deveriam aguardar fora da sala até que a professora Kassandra chegasse para levá-los até a professora Areta e apresentar a sala dos professores, respectivamente. Rubinaga Ujigrid, por sua vez, deveria trocar de roupa e iniciar seus serviços conforme o mapa da universidade, que ele pegaria com a secretária.
Enquanto saíam da sala, Leonora sentava-se novamente, revisando as fichas dos protagonistas com um olhar investigativo.