Volume 3
Capítulo 148: Hora da Disciplina
A sala da reitoria estava mergulhada em um silêncio tenso quando dois professores entraram às pressas. Suas expressões eram de pânico, o suor escorrendo de suas testas enquanto tentavam recuperar o fôlego.
— Reitora Areta! — gritou um deles, seus olhos arregalados enquanto apontava para fora da janela. — Os inimigos foram avistados! Temos dois grupos distintos se movendo pela universidade!
Areta, sentada em sua cadeira de couro, virou-se lentamente para encará-los. Seus olhos frios e calculistas captaram cada detalhe da ansiedade dos professores.
— Localizações? — perguntou ela, com uma calma que contrastava com o caos da situação.
— Um grupo está nos jardins, indo em direção ao bloco D. O outro foi visto no pavimento superior do bloco B! — respondeu o segundo professor, sua voz carregada de urgência.
Areta inclinou-se levemente para a frente, colocando a mão no queixo. Seus pensamentos estavam claros, mesmo sem serem verbalizados: qual seria o movimento mais estratégico? Após alguns segundos de reflexão, ela ergueu a cabeça e falou, com um tom que não deixava espaço para questionamentos:
— Já sei onde ir...
Os professores assentiram rapidamente e saíram tão apressados quanto entraram. Areta levantou-se, ajustando sua camisa. Um sorriso frio curvou seus lábios.
— Hora de ir para o ataque.
Longe dali, no topo do galpão do almoxarifado...
Hazard observava tudo através de uma janela suja, seus olhos fixos nas explosões e no movimento frenético que acontecia ao redor. O confronto entre Rufus, Prya e a Crossed Bones estava mais intenso do que ele esperava. Ele fechou o punho, os dentes rangendo em um misto de frustração e determinação.
— Eles estão se aproximando demais. Não posso permitir que estraguem meus planos.
Abrindo lentamente seu livro Magna Fábula, Hazard invocou sua técnica especial: Societas Poetarum Mortuorum. Páginas começaram a sair do livro, flutuando como folhas ao vento, antes de ganharem forma. Em segundos, duas figuras estavam diante dele: uma idêntica a Leonora, com sua postura altiva e olhar determinado, e outra que representava um homem robusto, com uma aura imponente.
Hazard aproximou-se do clone masculino, colocando as mãos em ambos os lados de seu rosto. Seus olhos estavam marejados, mas sua expressão era serena, como se estivesse diante de um ente querido perdido há muito tempo.
— Cedric, meu irmão. — Sua voz saiu em um sussurro carregado de emoção. — Façamos como naquela batalha no jardim à noite. Você assumirá o manto.
Cedric Valorath, irmão de Hazard, 49 anos, pele negra, olhos verdes, cabelo curto, preto acinzentado, com tranças dreads e barba completa, bem delineada. Ele vestia um casaco longo verde com detalhes em couro marrom, que era ajustado por um cinto largo com várias bolsas e compartimentos.
Sob o casaco, Cedric usava uma camisa clara e calças escuras, complementadas por botas altas e robustas. Ao redor do pescoço usav um cachecol laranja, seus braços eram protegidos por manoplas de couro, e ele tinha vários anéis nas orelhas, indicando um estilo pessoal distinto.
Ele beijou a testa do clone e encostou sua própria testa na dele, como se estivesse transferindo algo mais do que apenas instruções.
— Traga Rufus de volta para que eu possa finalmente te curar. Hoje eu te livrarei dessa maldição, eu prometo.
O livro respondeu com um sussurro quase reverente:
— Sim, mestre.
Com um gesto cuidadoso, Hazard colocou a máscara negra do Poeta Fantasma no clone, completando sua transformação. Ele deu um passo para trás, olhando para suas criações com um sorriso contido, quase paterno.
— Leonora. Cedric. Cumpram sua missão.
Os clones assentiram silenciosamente e saíram para realizar o que lhes fora designado. Enquanto observava-os desaparecerem no horizonte, Hazard cruzou os braços, seus olhos brilhando com um misto de esperança e satisfação.
— Finalmente, o meu tão sonhado objetivo está ao meu alcance.
Rufus continuava a correr pelo corredor iluminado apenas pelas luzes esparsas que vinham das janelas do bloco. Seus passos ecoavam alto, revelando o clima tenso do lugar, mas sua mente estava focada em apenas uma coisa: escapar. Prya não estava mais ali para lhe dar cobertura, e isso o deixava vulnerável.
De repente, um som estrondoso tomou conta do ambiente. Kreik atravessou um dos vitrais do bloco, os cacos de vidro brilhando como estrelas antes de caírem ao chão. Ele voava em alta velocidade, as Luvas de Ifrit pulsando com uma energia flamejante, e agarrou Rufus pelo pescoço, interrompendo sua corrida bruscamente.
— Rufus! Que merda deu em você pra nos trair assim? — gritou Kreik, o olhar cheio de incredulidade e raiva, imobilizando em um mata-leão.
Rufus tentou se soltar, mas a força de Kreik era superior. Ainda assim, ele conseguiu ofegar uma resposta:
— Eu preciso salvar a Sílfide! Farei tudo para isso! Me solta!
— Quem diabos é essa Sílfide?! — retrucou Kreik, aumentando a força ao redor do pescoço de Rufus.
Antes que Rufus pudesse responder, Rydia atravessou o buraco que Kreik havia aberto no vitral, usando os fios elásticos de sua pistola rúnica para se impulsionar até os dois. Seu semblante estava sério e frio.
— Depois do que você fez, tá bem difícil acreditar em você, Rufus. — A voz dela soou firme, quase cortante. — Se quer alguma chance de redenção, é melhor falar logo. Caso contrário, vou arrancar a verdade à força.
— Por favor, acreditem em mim. Eu preciso terminar o ritual. Prometo que ninguém vai se machucar! — Suplicou Rufus, visivelmente abalado.
Rydia deu um passo à frente, sua pistola rúnica em mãos. Ela a apontou diretamente para a cabeça de Rufus, seu olhar glacial cravado no dele.
— Chega de joguinhos. Nos entregue a localização de Leonora e de Hazard pacificamente ou faremos isso do jeito mais difícil. O que prefere?
Antes que Rufus pudesse responder, uma explosão violenta sacudiu o corredor. A parede lateral explodiu em uma chuva de destroços e poeira, interrompendo o confronto. Kreik, Rydia e Rufus instintivamente se protegeram, enquanto o impacto fazia o chão tremer.
Uma figura surgiu lentamente na cortina de poeira, caminhando com a tranquilidade de quem controlava a situação. Os três arregalaram os olhos ao reconhecê-la.
Era Areta, flutuando graciosamente no ar. Seus pés não tocavam o chão, pois ela usava suas barreiras como passarelas invisíveis. Com um sorriso gélido e calculado, ela entrou no bloco pelo buraco que havia criado e se virou para encarar o trio.
— Ora, ora, parece que chutei certo onde intervir. — A voz de Areta era carregada de sarcasmo. Seus olhos varreram os três, e então ela começou a falar, sua expressão oscilando entre desdém e superioridade.
— Estou vendo aquele aluno fracote e prepotente... minha querida estagiária mentirosa... e— ela estreitou os olhos, seu tom ficando ainda mais ameaçador — o meu filho insubordinado.
Areta ergueu os braços, cruzando as mãos à frente do corpo como se estivesse se preparando para um ataque. Um sorriso cruel iluminava seu rosto.
— Eu não poderia escolher um encontro melhor. Chegou a hora de vocês serem adequadamente... disciplinados.
O clima do corredor que dava de frente às salas de aula era quase sufocante. As paredes, antes imponentes, pareciam encolher diante da tensão crescente. Areta estava de pé, imóvel, com seus olhos rubros pulsando como brasas vivas. Sua presença exalava autoridade e fúria contida, enquanto encarava Rufus, Kreik e Rydia. Cada passo que ela dava parecia fazer o chão tremer, um reflexo de sua determinação em encontrar Leonora e destruir todos os magos infiltrados da Crossed Bones.
— Kreik... me solte. — Rufus sussurrou, a voz quase inaudível. — Deixe-me tentar conversar com ela. Talvez eu consiga fazê-la recuar. Isso caso você e Rydia não queiram morrer.
— Ah, claro! — Kreik retrucou com sarcasmo, apertando ainda mais o pescoço de Rufus. — Você só quer uma desculpa para fugir, não é?
Rydia, que até então observava cautelosamente os passos e o sorriso sádico de Areta, interveio. Sua voz soou firme, cortante como uma lâmina.
— Kreik, solte-o.
O jovem mago olhou para ela, surpreso.
— Rydia, você não pode estar falando sério! Ele vai...
— Solte-o, logo, porra. — Ela o interrompeu, seus olhos verdes cravando-se nos dele. Então, voltou-se para Rufus, sua expressão endurecendo. — E você, não apronte. Se fizer qualquer coisa que nos coloque em risco, eu mesma vou acabar com você.
Kreik hesitou por um momento, mas acabou cedendo. Ele relaxou o aperto e soltou Rufus, que imediatamente deu alguns passos à frente, ajeitando o colarinho.
— Deixem comigo — murmurou ele, antes de começar a caminhar em direção à mãe. — Mãe... — Rufus chamou, sua voz vacilando enquanto ele avançava lentamente. — Por favor, não os ataquem. Eles não são nossos inimigos. Os magos da Crossed Bones estão aqui porque eu os contratei.
Areta não moveu um músculo. Seu semblante permanecia severo, mas seus olhos traíam a tempestade de pensamentos em sua mente.
— Contratou? — ela perguntou, com um tom que oscilava entre a incredulidade e o desprezo. — E Leonora? Onde ela está? O que você está tramando com ela, Rufus?
Rufus deu um passo mais próximo, seus movimentos calculados, como se cada um pudesse ser o último.
— Leonora está em um laboratório improvisado... feito por Hazard. — Ele hesitou, sentindo o peso do olhar de sua mãe. — Nós pretendemos apenas retirar a Sílfide de dentro dela.
— Sílfide? — Areta arregalou os olhos, sua expressão endurecendo ainda mais. — Entendo... Então foi assim que seu irmão curou aquela maldita. Rufus, eu lhe ordeno, diga onde está Leonora! — murmurou ela, suas palavras ecoando como um trovão na sala.
Rufus parou a poucos passos de sua mãe, erguendo as mãos em um gesto conciliador.
— Calma, mãe. Não precisa matar Leonora. Ela nunca foi sua inimiga.
Areta arqueou uma sobrancelha, seu olhar frio e calculista perfurando Rufus como uma lâmina. Lentamente, ela ergueu a mão, tocando o peito do filho. Em um instante, uma barreira esférica envolveu Rufus, começando a se contrair.
— Mãe, não! — gritou Rufus, enquanto o campo o esmagava lentamente. Ele lutava contra a pressão, empurrando os membros com todas as suas forças, mas a dor era insuportável.
Areta o observava sem expressão, sua voz gélida cortando o ar.
— Filho ingrato. Eu sou sua mãe. Eu que te criei, te alimentei, te eduquei e te protegi. Te dei tudo o que precisava, e ainda assim você escolhe ficar ao lado daquela maldita. O que Leonora tem que hipnotiza todos os meus filhos?
Rufus, com lágrimas escorrendo pelo rosto, fez um esforço hercúleo para bradar contra ela.
— Não fale como se tivesse sido uma boa mãe! — Sua voz era carregada de mágoa. — Você me isolou do mundo ao invés de me amar! Sempre fui apenas um protótipo de Randalf para você manipular! Você não tem amor no coração, apenas raiva e ódio!
— Você não sabe o que é sofrimento, Rufus. — Areta estreitou os olhos, sua voz ficando ainda mais fria. — Não sabe o que é ser caçada, ver seus familiares morrerem, ser tratada como um objeto! Acha que conhece o mundo, mas não passa de uma criança chorona que eu protegi do verdadeiro horror. Agora, vou educá-lo como deveria ter feito desde o começo. Farei de você um verdadeiro Flamel.
— Assim como fez ao meu pai? — Rufus retrucou, a dor em seus olhos se transformando em fúria.
— CHEGA! — Areta gritou, balançando o braço. A barreira que envolvia Rufus foi arremessada para o lado, colidindo com a parede com um estrondo ensurdecedor. Rufus caiu dentro dela, ainda preso no campo mágico, gemendo de dor.
Areta respirou fundo, ajustando sua postura.
— Já cansei de suas insolências, Rufus. Vou matar esses intrusos e, depois, eu mesma lhe darei o corretivo que merece. Chega de ser boazinha.
Kreik sentia o sangue ferver nas veias. A raiva pulsava junto às chamas que envolviam as luvas, enquanto ele avançava um passo à frente, rugindo:
— Ei, sua mãe de araque! Solte o Rufus imediatamente!
Rufus, preso na barreira, não conseguia conter o olhar de surpresa. Apesar de sua traição, Kreik estava disposto a defendê-lo. Um peso de remorso começou a se formar em seu peito, sufocando-o mais do que a própria barreira que Areta conjurara.
Kreik não hesitou. Com os punhos envoltos em fogo, lançou-se contra Areta. Porém, antes que pudesse alcançá-la, uma barreira retangular se materializou sobre ele, esmagando-o contra o chão com brutalidade.
Rydia, vendo o companheiro em apuros, sacou sua pistola rúnica com agilidade e disparou contra Areta. Mas outra barreira apareceu, protegendo a professora com facilidade.
Areta olhou para Rydia com um sorriso amargo. Seus olhos pareciam queimar com uma mistura de desdém e fúria.
— Você... Eu fiz de você minha estagiária. Minha discípula. E veja só como me paga... — A voz dela ficou mais fria e dura. — Agora vai aprender que ninguém desafia Areta Flamel.
Com um movimento das mãos, Areta conjurou duas barreiras retangulares ao redor de Rydia. Elas começaram a se contrair, esmagando-a lentamente entre elas.
— Pare, mãe! Pare! — Rufus gritou, desesperado, enquanto se debatia dentro da barreira que o aprisionava.
Kreik, ofegante, reuniu toda a energia que podia. Ele acionou os jatos de fogo em suas luvas e botas, impulsionando-se contra a barreira que o prendia. A força do impacto fez faíscas se espalharem pelo chão, mas a barreira permanecia inabalável.
Areta o observava com um sorriso de superioridade.
— Acha que sua força de vontade pode superar as minhas barreiras? — Ela riu. — Isso não é um conto de fadas, garoto.
Com um estalo dos dedos, a barreira que o segurava foi desativada de repente. Kreik, ainda impulsionado pelos jatos de fogo, subiu descontroladamente, batendo de costas contra o teto. Antes que pudesse se recompor, uma nova barreira retangular o atingiu de lado, lançando-o contra a parede com tamanha força que ela se quebrou. Ele caiu dentro de uma sala de aula adjacente, coberto de escombros.
Areta seguiu calmamente em sua direção, erguendo a saia longa roxa para não sujar. Seu olhar era de puro desprezo, como se estivesse lidando com um inseto incômodo. Kreik tentou se levantar, mas antes que pudesse, uma barreira cilíndrica materializou-se sobre sua cabeça.
— Martelo da Deusa. — A voz de Areta soou firme, quase cerimonial.
A barreira cilíndrica desceu com força esmagadora, acertando Kreik e arremessando-o ao chão. Ele cuspiu sangue, o impacto reverberando em todo o seu corpo.
Rydia, que ainda lutava contra suas próprias dores, correu na direção de Areta, disparando tiros sucessivos com sua pistola rúnica. Areta girou em sua direção, erguendo uma barreira com facilidade para se proteger. Sem hesitar, ela pegou uma pedrinha do chão e envolveu-a em uma barreira em forma de octaedro.
— Histeria da Deusa.
O octaedro começou a vibrar violentamente, e Areta o lançou com precisão. A barreira atingiu o peito de Rydia, ricocheteando ao redor de seu corpo. Cada impacto era como o disparo de uma arma de alta potência, forçando-a a cair no chão, cuspindo sangue. A barreira parou de vibrar, desfazendo-se e deixando a pedrinha intacta no chão.
— Mas Já? — Areta sorriu, triunfante. — Pensei que pudessem lutar mais.
Kreik e Rydia levantaram-se lentamente, o corpo de ambos tremendo de dor.
— Rydia... tem algum plano? — perguntou Kreik, com a voz rouca.
— Sim. — Ela arfou. — Deixar que ela nos mate rápido para não sofrermos tanto.
— Pela primeira vez, não fui com a cara de um plano seu — retrucou Kreik, tentando sorrir apesar da dor.
Areta riu alto, falando em seguida:
— Rydia... seu verdadeiro nome... Você teria um futuro brilhante ao meu lado. É uma pena desperdiçar tanto potencial. Agora, morr...
Antes que pudesse concluir a frase, um braço gigante de nuvem quebrou a parede da sala vizinha, avançando diretamente contra ela. Areta tentou reagir, mas foi atingida no rosto e arremessada para o outro lado, rompendo outra parede.
Entre os escombros, Areta ergueu-se devagar. Seu sorriso agora era cruel, cheio de ódio. Seus olhos rubros brilhavam intensamente, refletindo seu desejo de vingança.
— Finalmente... você veio, Leonora.
Do outro lado da parede destruída, os clones de Leonora e Cedric surgiram. Cedric segurava o livro verde, sua face coberta pela máscara do Poeta Fantasma.
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