Volume 3
Capítulo 133: Anjo ou Dêmonio
Impulsionado pelos jatos de fogo das luvas, ele conseguiu redirecionar a trajetória do seu corpo, fazendo suas costas colidirem fortemente contra o orbe dourado flutuante, que se deslocou rapidamente para frente. Com a mudança repentina de posicionamento do orbe, a quinta bola de Prya não atingiu seu alvo inicial, entretanto, resvalou na cabeça de Kreik, que caiu todo desengonçado, de costas para o chão.
Enquanto isso, a bola que o atingiu acionava seu jato laser, indo para longe de seu alcance, em um movimento parabólico; e a plateia explodia em gritos, já prevendo a vitória do time Nefilim.
— É minha vitória! — declarou ela, confiante.
Mas, antes que a bola caísse para eliminá-lo, Kreik usou a bola que ainda estava em suas mãos. Com um movimento preciso, lançou-a diretamente no orbe dourado.
Seraphine apitou alto, sua voz ecoando pela quadra:
— Clemência, eliminada! Zona morta. Kreik salvo na zona morta e orbe atingido. Vitória do time Epopeia!
O público foi à loucura enquanto o time vencedor comemorava efusivamente. Prya, incrédula, protestou.
— Impossível! A minha bola eliminou o último jogador time deles. Ele deveria ir para a zona morta!
Kreik, ainda ofegante, sorriu maliciosamente.
— Esqueceu, Prya? Antes de sua bola me eliminar, eu já havia acertado o orbe. Quem acerta o orbe ganha o jogo.
— Mas segundo as regras, o orbe tem que estar no campo do time adversário!
— Eu sei... — Kreik apontou para o campo dela, o sorriso não desaparecendo de seu rosto. — Agora me fala, onde você acha que o orbe está?
— Não é possível... — Os olhos de Prya se arregalaram ao ver o orbe em seu campo. — Como ele chegou tão rápido até aqui...?
— Simples — Kreik explicou. — Quando sua quarta bola me arrastou no ar, eu redirecionei meu corpo com as luvas para colidir com o orbe. Isso o projetou para frente, enviando-o direto para o seu lado do campo.
Seraphine confirmou, sua voz calma mas firme:
— Você se concentrou tanto em derrotar seus adversários que esqueceu de proteger aquilo que realmente importava: o orbe dourado.
A expressão de Prya era uma mistura de frustração e raiva, mas ela não deixou transparecer tanto. Para surpresa de todos, estendeu a mão para Kreik, que ainda estava caído no chão. O ruivo piscou, confuso, enquanto um sorriso genuíno surgia em seu rosto.
“Será que, depois de perder, ela finalmente tomou juízo e decidiu nos deixar ajudar?” — pensou ele, um lampejo de esperança acendendo em sua mente.
Sem hesitar, Kreik segurou a mão de Prya, permitindo que ela o ajudasse a se levantar. Contudo, antes que ele estivesse completamente em pé, sentiu o impacto feroz de um soco em sua bochecha. O golpe o jogou de volta ao chão.
Um silêncio absoluto tomou conta da quadra. Os espectadores na arquibancada ficaram boquiabertos, incapazes de processar a cena.
Joabe, com o semblante tomado por fúria, invocou seus braceletes com lâminas e disparou na direção de Prya, como o verdadeiro assassino de Suna que era. Prya, no entanto, já previa uma reação como aquela. Seu dedo começou a brilhar, pronto para disparar um feixe laser.
Antes que ambos pudessem colidir seus ataques, a voz firme de Seraphine ecoou:
— Calma aí, meus queridos alunos! Isso foi só uma partidinha de runeball.
A professora surgiu entre os dois, segurando o braço de Joabe e o punho de Prya com uma força que parecia impossível para alguém de sua estatura delicada. Em seguida, liberou sua presença soberana — uma aura invisível e esmagadora que pairou sobre eles como um peso insuportável. Joabe, Prya e até mesmo Kreik, que ainda estava caído, sentiram-se incapazes de se mover ou reagir.
Quando percebeu que ambos haviam recuado, Seraphine desfez sua presença com um sorriso gentil, voltando-se para Prya.
— Prya, você sabe que é errado bater nos coleguinhas. — Sua voz era suave, mas havia um tom de reprovação nela. — Espero que tenha um bom motivo.
Prya respondeu com desdém, cruzando os braços.
— Eu apenas fiquei irritada porque perdi a partida, professora. — Seus olhos tinham um brilho desafiador. — E agora, o que vai acontecer?
Seraphine suspirou, balançando a cabeça como se estivesse lidando com uma criança birrenta.
— Oh, lindinha, acho que você precisa de um pouco de... reflexão. Vou te encaminhar para a Reitoria. Talvez lá você consiga relaxar.
Sem demonstrar resistência, Prya assentiu e começou a caminhar em direção à sala da reitora. Enquanto se afastava, um sorriso malicioso surgiu em seu rosto, assim como no rosto dos clones que caminhavam lentamente para as arquibancadas.
Joabe, por sua vez, estendeu a mão para ajudar Kreik a se levantar. Assim que o ruivo ficou em pé, Joabe puxou-o para perto, sussurrando em seu ouvido:
— Eu pensava que, com exceção da Leonora e da Areta, os outros professores não estariam em uma escala de poder tão alta... Parece que me enganei. Essa professora é muito mais forte do que aparenta. Cuidado!
Kreik assentiu silenciosamente, ainda um pouco atordoado com os acontecimentos. Seraphine, por sua vez, aproximou-se dele, segurando seu rosto entre as mãos e examinando sua bochecha com cuidado.
— Meu ruivinho lindo, você tá bem? Aquela cretina te machucou? — perguntou ela com um tom maternal, apesar da seriedade em seus olhos.
Kreik abriu um sorriso nervoso, tentando tranquilizá-la.
— Não, professora. Foi só um simples soco. Já levei golpes bem mais fortes que esse.
Seraphine bufou, mas pareceu satisfeita com a resposta. Então, sem aviso, jogou seu apito na direção de Rydia, que estava se aproximando.
— Minha querida, agora você ficará responsável por conduzir as partidas com os demais alunos. Enquanto isso, eu vou levar esse jovem até a enfermaria.
— Não precisa, professora! — protestou Kreik, gesticulando com as mãos. — Já disse que tô bem!
Seu protesto, no entanto, foi ignorado. Seraphine o puxou pelo braço com uma força que ele não ousou desafiar, arrastando-o em direção à saída. Rydia suspirou pesadamente, observando a cena. Então, colocou o apito nos lábios e deu um toque longo e firme.
— Próxima equipe! — gritou, sua voz firme cortando o burburinho crescente na quadra.
Os alunos começaram a se organizar novamente. As próximas equipes tomaram suas posições, enquanto os clones do Poeta Fantasma e os demais espectadores sentavam nas arquibancadas para assistir às partidas seguintes.
Naquele momento, a atmosfera na quadra parecia mais tensa, mas também cheia de expectativas. As emoções do jogo anterior ainda pairavam no ar, mas todos seguiram normalmente a aula, evitando tocar no assunto.
Na enfermaria da universidade, Kreik estava deitado numa maca, contrariado por ter sido levado até ali pela professora Seraphine Muller. A mulher, com sua habitual expressão confiante, segurava a mão do rapaz, enquanto lhe dizia, com um tom quase maternal:
— Você vai ficar bem, meu ruivinho. Não se preocupe.
O jovem suspirou, claramente desconfortável com toda a atenção.
— Professora, já falei que estou bem. Não precisava de todo esse alarde... — respondeu, desviando o olhar enquanto a cor rubra subia para seu rosto.
Foi nesse momento que a enfermeira entrou na sala. Era uma mulher de meia-idade, com olhar experiente e ar pragmático. Ao notar a situação, franziu a testa.
— O que aconteceu aqui?
Antes que Kreik pudesse responder, Seraphine tomou a dianteira, colocando-se entre os dois.
— Ele levou um soco no rosto de uma aluna. Achei melhor trazê-lo para garantir que está tudo bem.
— Sério? — A enfermeira ergueu uma sobrancelha, visivelmente cética. — Você me chamou por causa disso? — perguntou, com um leve tom de irritação, antes de se voltar para Kreik. — Sente-se, garoto.
Kreik, claramente envergonhado, obedeceu sem questionar.
— Olha... Eu só vim porque a professora insistiu. Não é nada demais, eu juro.
A enfermeira pegou o rosto de Kreik com delicadeza, virando-o de um lado para o outro enquanto examinava o local do impacto. Após alguns segundos, ela soltou um suspiro quase exasperado.
— Você está ótimo. Não tem nada para se preocupar. — Então, lançou um olhar sarcástico para Seraphine. — Próxima vez, poupe meu tempo. Tenho pacientes de verdade para atender.
Assim que a enfermeira saiu da sala, Seraphine aproximou-se de Kreik por trás, de maneira repentina. Antes que ele pudesse reagir, sentiu o toque suave dos braços da professora envolvendo-o. Ela o abraçou, pressionando os fartos seios contra suas costas, enquanto sua boca se aproximava de sua orelha.
— Meu querido ruivinho... Eu precisava garantir que você está bem. — Sua voz era baixa, carregada de um tom sedutor. — Para garantir o seu pleno desenvolvimento, sou capaz de tudo.
Kreik congelou. O calor que emanava dela o fazia sentir-se acorrentado, incapaz de reagir.
Seraphine deslizou os dedos pelos ombros do rapaz, descendo suavemente até seus braços. Ela fez uma breve pausa antes de murmurar:
— O que foi, meu ruivinho? O gato comeu sua língua?
O jovem sentia um misto de excitação e pânico. Ele sabia que precisava sair daquela situação, mas seu corpo não parecia obedecer sua mente. O toque dela era como uma corrente invisível, prendendo-o àquele momento.
Quando os dedos dela finalmente tocaram as luvas, algo mudou. Ifrit, que seguia espiritualmente dormindo dentro de seu cristal, no interior da alma do mago ruivo, abriu um dos olhos e Kreik sentiu uma onda de força percorrer seu corpo. Como se uma barreira invisível tivesse sido rompida, ele pulou da maca, afastando-se com o rosto ruborizado e o olhar confuso.
Seraphine, no entanto, não parecia minimamente intimidada. Ela se levantou com a mesma elegância de sempre e caminhou até ele, encurralando-o contra a parede. Seus olhos encontraram os dele, e um sorriso astuto se formou em seus lábios.
— Parece até que está com medo de mim... — sussurrou, aproximando-se ainda mais. — Não foi você que disse ontem que tinha uma quedinha por mim?
Kreik engoliu em seco, as palavras saindo de forma entrecortada:
— Professora Seraphine... Você mesma disse que era muito velha para mim.
Ela riu suavemente, o som ecoando como uma provocação.
— Ah, eu decidi reconsiderar. — Seus olhos desviaram brevemente para as luvas. — Especialmente depois de ver essas luvas de perto.
Quando ela tentou tocar novamente o objeto mágico, Kreik segurou seus pulsos. Seu gesto foi firme, mas sem agressividade.
— Não vai dar, professora. Nós devemos parar por aqui.
— Por que, meu ruivinho? — Seraphine ergueu uma sobrancelha, intrigada. — Não me diga que não sente mais atração por mim?
Ele soltou os pulsos dela e retraiu o corpo para mais próximo da parede. No entento, apesar da tentativa de se sair da professora, mais ele se sentia hipnotizado, olhando fixamente para os seios da professora, que continuava a provoca-lo, erguendo o busto em sua direção. O ruivo, tentando disfarçar a timidez, falou:
— Sentir eu sinto demais. — Ele balançou rapidamente a cabeça, querendo mudar o foco do seu olhar. — A senhora é muito... provocante. — Sua voz era baixa, quase um sussurro. — É que... — Ele fez uma pausa, tentando encontrar alguma desculpa para fazer a professora retroceder, até que ele lembrou de Mayumi. — Eu tenho namorada, uma Tenente da GPA! — mentiu ele.
— Ruivinho, dando em cima de mim enquanto mantinha uma namorada secretamente... não sabia que você era um homem do tipo cafajeste — Seraphine brincou, rindo suavemente.
— Não é isso, professora. — Kreik envergonhado tentou se justificar. — É que eu só disse aquilo de gostar de você porque estava precisando de uma desculpa para justificar o fato de estar bisbilhotando suas coisas. Você sabe que estávamos investigando paradeiro do Poeta Fantasma e tínhamos suspeitas que você pudesse ter algum envolvimento. Me desculpe.
O sorriso de Seraphine permaneceu, mas havia um toque de diversão em seu olhar. Ela passou a mão delicadamente pelo rosto de Kreik, fazendo-o estremecer.
— Ah, meu querido ruivinho... vou te contar uma coisa, as cartas de tarot não mentem, eu as consultei e vi que seu futuro está entrelaçado ao meu. — Ela deu de ombros. — Mas se já tem uma namoradinha, eu não vou atrapalhar, pelo contrário, adoraria conhecê-la. Quem sabe eu poderia até te dar umas dicas com ela?
Ela virou-se, caminhando em direção à saída com seu jeito provocante e cheio de confiança.
— Não estou apaixonada por você, sabe? Mas como eu pensava que estava gostando de mim... Eu apenas queria te ajudar a amadurecer. Bobinho... — completou, antes de sair, com um leve peteleco na testa do rapaz.
Kreik permaneceu imóvel, encostado à parede, enquanto o som dos passos de Seraphine desaparecia pelo corredor. Seu coração ainda batia acelerado, e a confusão dominava sua mente. Sentia as emoções em um turbilhão: vergonha, medo e um resquício de fascínio e desejo carnal, que ele preferia ignorar.
Enquanto tentava processar todas as informações que vivenciara, um pensamento lhe atravessou como um raio: “Que mulher estranha... Ela é ao mesmo tempo tão doce e singela, quase como um anjo, como também tão temível e provocante, quase como um demônio. Não se tem como saber o que se passa na cabeça dela...”
Seu olhar caiu sobre as luvas, ainda cobertas por uma leve energia que parecia pulsar suavemente, como se reagissem àquele momento. Ele suspirou, murmurando congio, com o olhar fixo na sua invoker: “O mais seguro é manter distância dela. Até mesmo o Ifrit sentiu o perigo vindo dela.”
A energia das luvas diminuiu gradualmente, como se confirmasse suas palavras. Kreik apertou o punho, decidido a ser mais cauteloso. Apesar de sua aparência jovial e provocante, Seraphine Muller não era uma pessoa comum, e algo em seu instinto lhe dizia que era melhor não subestimá-la.
Com um último olhar para a porta da enfermaria, ele balançou a cabeça, tentando se livrar das lembranças recentes, e deixou o local, determinado a se concentrar no que realmente importava: investigar a professora Areta e descobrir a real identidade do Poeta Fantasma.