Luvas de Ifrit Brasileira

Autor(a): JK Glove


Volume 3

Capítulo 126: O Novo Reitor

O tempo passou como um sopro de vento. Um ano se esvaiu desde que Lemyria começou seus experimentos em busca de uma cura para Leonora. Durante esse período, a alquimista se viu surpresa e impressionada pelas habilidades de Randalf. Ele não era apenas um mago comum; sua destreza na manipulação de magia e conhecimentos avançados constantemente a deixavam sem palavras.

Naquela manhã, ambos estavam no laboratório iluminado por cristais rúnicos, mergulhados em análises minuciosas. Amostras de sangue de Leonora eram testadas sob um microscópio rúnico que exibia os menores detalhes com um brilho espectral. Randalf entregava plaquetas de sangue a Lemyria enquanto ela fazia anotações meticulosas.

— Devo admitir, Randalf — disse Lemyria, ajustando o foco do microscópio. — Você me surpreendeu. Não esperava que fosse tão habilidoso. Encontrar alguém com seu potencial é raro.

— Obrigado, Lemyria. — Randalf corou ligeiramente, desviando o olhar com um sorriso modesto. — Mas o que me dá forças é o desejo de encontrar uma cura para Leonora. Por ela, sou capaz de tudo.

Lemyria arqueou uma sobrancelha, um sorriso maroto brincando em seus lábios.

— Oh, um homem que realmente valoriza a mulher que ama. Isso está em falta. Sua mãe certamente lhe ensinou bem como tratar uma mulher.

— Minha mãe? Nem pensar. — Randalf balançou a cabeça, seu tom endurecendo levemente. — Ela e meu pai preferem me odiar a me ver ao lado de Leonora. Eles acreditam que meu comprometimento com ela comprometeria o legado do clã Flamel e minhas pesquisas.

— Essa postura de Areta... — murmurou Lemyria, com um tom de desaprovação. — Mas falando em pesquisa, e a sua investigação sobre um homúnculo perfeito? Abandonou?

— Não. — Randalf suspirou, ajeitando os óculos. — Tenho trabalhado nisso em paralelo. Na verdade, os conhecimentos que adquiri ao trabalhar com você permitiram grandes avanços. Caso não consigamos curar Leonora, o homúnculo será meu plano B para salvá-la.

Lemyria riu suavemente, levantando-se de sua banqueta.

— Um plano B, hein? Bem, duvido que isso funcione, mas quero contribuir com sua pesquisa. Ela é robusta e... no mínimo, revolucionária. — Ela foi até um armário próximo, retirou algumas folhas e as entregou a Randalf. — Dei uma olhada na sua pesquisa e percebi um pequeno erro de cálculo. Grifei os pontos e sugeri algumas correções. Isso deve ajudá-lo a avançar alguns passos.

Randalf folheou os papéis, e seus olhos se arregalaram.

— Impressionante... Era isso! Obrigado, Lemyria. Você não sabe o quanto isso significa.

Ela gargalhou, voltando ao microscópio.

— Guarde os agradecimentos. Se quiser me agradecer de verdade, venha ver isso.

Randalf se aproximou, espiando pelo microscópio. Ele viu algo extraordinário: as células do sangue de Leonora reagiam a uma sequência de runas, mudando de comportamento. Ele e Lemyria trocaram um olhar cúmplice, um sorriso de excitação se formando em ambos.

— Bora trabalhar — declarou Lemyria. — Hora de ver como isso se comporta na prática.

Ambos começaram a preparar o laboratório para o experimento. Poções rúnicas brilhavam em frascos espalhados pelas mesas, e símbolos mágicos eram desenhados no chão. Depois de tudo pronto, chamaram Leonora, que entrou no laboratório com um olhar determinado.

Ela deitou-se em uma maca enquanto Lemyria colocava um colar com uma runa verde brilhante em seu pescoço.

— Está pronta? — perguntou Randalf, segurando sua mão.

— Sempre estive — Leonora assentiu, firme.

Lemyria iniciou os encantamentos, e Randalf a acompanhou. O sangue de Leonora fluiu de um pequeno corte em seu pulso, misturando-se às poções. As runas começaram a brilhar intensamente. O colar emitia uma luz verde ofuscante, e Leonora sentiu sua pele arder. Apesar da dor, ela manteve-se firme.

Randalf gritava encorajando-a, enquanto o laboratório era tomado por explosões de luz. No final do ritual, Leonora caiu inconsciente. Randalf e Lemyria ficaram em silêncio, aguardando ansiosamente. Após alguns instantes, ela abriu os olhos lentamente.

— Funcionou? Não sinto nenhuma mudança — perguntou Leonora, sua voz tremendo de expectativa.

Lemyria trouxe uma pequena caixa e entregou a ela.

— Vamos descobrir.

Com mãos trêmulas, Leonora abriu a caixa e encontrou um pequeno gatinho dentro. Hesitante, estendeu a mão. Para sua surpresa, o animal não desintegrou ao seu toque. Ele apenas miou e se aninhou em sua palma.

Lágrimas começaram a escorrer por seu rosto. Ela olhou para Randalf, a voz embargada:

— Randalf...

Sem hesitar, Randalf correu até ela. Eles tocaram os dedos levemente, testando o sucesso do experimento. Quando nada aconteceu, eles se abraçaram e se beijaram, extravasando toda a dor e esperança que carregaram por anos.

Leonora olhou para Lemyria, ainda com lágrimas nos olhos.

— Estou... realmente curada?

Lemyria cruzou os braços, dando um leve sorriso.

— Não diria curada. Esse colar está suprimindo sua “disfunção mágica”. Sem ele, a doença retorna. Porém, com o tempo, seu corpo pode reagir de duas maneiras: aprender com as ondas mágicas emitidas pelo colar e se curar permanentemente ou se adaptar e tornar o colar inútil com o tempo. O que vai acontecer? Só o futuro dirá. Mas saiba que esse foi o máximo que consegui.

— Isso já é mais do que eu poderia pedir. — Leonora sorriu, enxugando as lágrimas. — Obrigada, Lemyria. De coração.

Randalf também agradeceu, e eles se beijaram novamente. Com as testas encostadas, Leonora perguntou:

— E agora? Qual o próximo passo?

— Concluir minha pesquisa e retomar minha posição de direito na Universidade Flamel! 

Leonora sorriu, segurando firme sua mão. Juntos, eles se prepararam para encarar um novo desafio.

No amplo auditório da Universidade Flamel, o ano era 1592, e uma aura de expectativa pairava no ar. Professores, estudantes avançados e convidados ilustres lotavam as arquibancadas semicirculares ao redor do palco central, onde Areta Flamel, a reitora da universidade, tomava sua posição diante do púlpito. 

Areta vestia o traje cerimonial impecavelmente decorado, ostentando o capelo branco que simbolizava seu cargo. Seu semblante, firme e sereno, refletia anos de liderança e conquistas. Ela levantou as mãos, pedindo silêncio, e começou seu discurso: 

— Professores, pesquisadores, mestres da ciência e da magia, hoje marca um momento de transição para nossa ilustre universidade. Como muitos sabem, após anos dedicados ao crescimento deste pilar do conhecimento, decidi que é hora de me aposentar. — Ela fez uma pausa, deixando as palavras ecoarem no silêncio reverente da plateia. 

— Durante minha gestão, avançamos em diversas frentes. Introduzimos novos métodos para a pesquisa mágica, aumentamos os recursos disponíveis aos nossos alunos e, juntos, aprimoramos a infraestrutura que faz da Universidade Flamel um farol de sabedoria em Etérea. Não foi uma jornada fácil, mas foi uma jornada de valor. 

Areta inspirou profundamente, deixando escapar um sorriso leve, mas ainda carregado de autoridade. 

— No entanto, uma instituição como esta precisa de renovação constante. Por isso, declaro oficialmente aberta a disputa pelo cargo de reitor. Que os candidatos demonstrem o melhor de suas habilidades, ideias e inovações, pois a liderança desta universidade deve estar nas mãos mais capacitadas. 

Com um aceno firme, ela encerrou sua fala e sentou-se na primeira fileira, junto aos outros professores de destaque. Sua expressão era impassível, mas em seus olhos havia a intensidade de quem sabia que aquele momento era crucial para o futuro da instituição — e, talvez, para algo mais pessoal. 

O cerimonialista, um homem magro de voz clara e projeção impecável, aproximou-se do púlpito. 

— Conforme anunciado, apenas professores da Universidade Flamel poderão participar desta disputa. Cada candidato deverá apresentar sua principal pesquisa, seguida de um momento para defender por que acredita ser o mais apto a liderar esta instituição. Por fim, será realizada uma votação aberta entre os presentes. O vencedor receberá o capelo branco da atual reitora e assumirá oficialmente o cargo. 

Após um momento de murmúrios entre os presentes, o cerimonialista chamou o primeiro concorrente: 

— Professor Lemon Doyle! 

O professor caminhou até o centro do palco. Ele ajeitou seu jaleco com precisão e fez um gesto para que dois assistentes trouxessem um tanque de água coberto por uma lona. Doyle olhou para a plateia com um sorriso confiante antes de começar: 

— Senhores e senhoras, minha pesquisa é um tributo à adaptabilidade da vida. Sabemos que algumas espécies de animais têm demonstrado uma incrível capacidade de se adaptarem ao convívio com magos, manifestando características especiais ao longo do tempo. Eu acredito que essa adaptação pode ser não apenas entendida, mas acelerada. 

Ele removeu a lona, revelando um tanque repleto de águas-vivas que brilhavam suavemente em tons de azul e verde. 

— Com a combinação de magia e ciência, consegui encontrar a frequência espiritual que conecta seres humanos e animais. Meu objetivo é forçar uma sintonização entre essas frequências, possibilitando que qualquer espécie manifeste habilidades especiais. Permitam-me demonstrar. 

Doyle realizou um encantamento complexo enquanto traçava runas no ar com precisão. Em resposta, uma das águas-vivas se aproximou da superfície do tanque, movendo-se em sincronia com ele. Quando Doyle pôs a mão no tanque, o animal pô tentáculo em direção à sua mão, depois o professor inclinou a cabeça para um lado, a água-viva repetiu o gesto. Ele girou lentamente, e o animal acompanhou. 

— Como podem ver, ela replica meus movimentos. É um estágio inicial, limitado a um animal por vez e a movimentos simples. Mas imaginem o futuro dessa pesquisa! — Doyle voltou-se para o público, o rosto iluminado por entusiasmo. — Com mais tempo e recursos, poderemos criar habilidades únicas em qualquer espécie. Evolução forçada, sob nosso controle. 

Os aplausos ecoaram enquanto Doyle se retirava para uma das cadeiras reservadas aos candidatos. 

O cerimonialista retornou ao púlpito, aguardando que os aplausos cessassem, antes de anunciar o próximo concorrente: 

— Randalf Flamel! 

O silêncio no auditório foi instantâneo. O nome soava como uma provocação no ar. Randalf, agora com 29 anos, entrou no palco com passos firmes. Seu cabelo preto e olhos rubros, junto ao seu cristal na testa, irradiava sua expressão que mesclava seriedade e um foco inigualável.

 

 

Na plateia, Areta o encarava fixamente. As emoções que percorriam seu coração eram conflitantes: frustração, raiva e, ainda assim, uma centelha de orgulho. Ela o analisava, buscando intimidá-lo, mas Randalf mantinha a compostura. Ele não desviou o olhar, transmitindo confiança com sua postura. 

Randalf parou no centro do palco, ajustando os óculos antes de falar: 

— Professores, colegas, é uma honra estar diante de vocês hoje. Minha pesquisa é um tributo não apenas à ciência e à magia, mas àqueles que acreditaram que inovação e coragem podem caminhar juntas. 

O auditório da Universidade Flamel estava mergulhado em um silêncio expectante. Os olhares dos professores fixavam-se em Randalf Flamel, que acabara de tomar seu lugar como candidato à reitoria. Lemon Doyle, visivelmente desconfortável, levantou-se, ajustando os óculos com pressa. 

— Isso é um absurdo! — vociferou Lemon, apontando para Randalf. — Como pode estar competindo se nunca sequer deu uma aula aqui? O cargo de reitor exige experiência docente, no mínimo cinco anos no posto! 

Randalf, com sua postura confiante e um leve sorriso nos lábios, deu alguns passos à frente. Seus cabelos bem alinhados, e os olhos, tão rubros quanto os de sua mãe, brilhavam com determinação. 

— Antes mesmo de me formar, fui contratado como professor desta universidade. A reitora Areta pode confirmar. Contudo, devido a questões pessoais e minha pesquisa, precisei me ausentar. — Ele lançou um olhar rápido para sua mãe, que permanecia impassível. — Como nunca fui desligado formalmente, continuo sendo professor desta instituição há anos. Logo, preencho o requisito de tempo de cargo... até mais do que o senhor, professor Doyle. 

O murmurinho no auditório aumentou. Todos os olhos voltaram-se para Areta, que continuava sentada em seu lugar de destaque. Seu rosto demonstrava uma mistura de surpresa e raiva, mas ela manteve-se em silêncio. 

O cerimonialista folheou os documentos e ergueu o olhar. 

— Randalf Flamel está correto. Sua candidatura é válida. 

Randalf fez uma leve reverência e começou a preparar sua apresentação. Ele colocou potes ao redor de símbolos rúnicos desenhados no chão, enquanto explicava calmamente: 

— O ser humano é composto por elementos químicos básicos. Carbono, hidrogênio, oxigênio... tudo isso junto forma um corpo humano. Mas, pergunto-lhes, por que não conseguimos criar vida ao combinar esses compostos? 

Ele parou por um instante, permitindo que o silêncio fosse preenchido pela curiosidade dos presentes. 

— A resposta está no imaterial. O que nos falta é a força matriz criadora, a magia em sua forma mais pura. 

Randalf recitou encantamentos em uma língua antiga, e os símbolos rúnicos começaram a brilhar. Uma esfera negra surgiu no centro, consumindo os elementos químicos. O fenômeno era como um pequeno buraco negro, sugando tudo ao redor. 

De repente, a esfera eclodiu, e uma célula gigante começou a se formar. A célula foi se moldando, adquirindo forma até transformar-se no corpo de uma criança. Perfeitamente formada, a criação manteve-se estática por alguns minutos antes de desintegrar-se, devolvendo os elementos ao seu estado original. 

O auditório explodiu em aplausos. Os professores levantaram-se, aplaudindo de pé. Apenas Areta permaneceu sentada, com sua postura imponente. 

— Ainda não terminei minha pesquisa, mas estou próximo. Com tempo e recursos, poderei criar um homúnculo perfeito e, quem sabe, dotá-lo de vida. Se confiarem em mim, esta universidade será a pioneira na criação do primeiro homúnculo perfeito. — concluiu Randalf, sem se abalar. 

Terminada a apresentação das pesquisas, passou-se ao momento dos dicursos, onde Lemon Doyle foi o primeiro a se dirigir à plateia. 

— Caros colegas, não podemos confiar a reitoria a alguém que abandonou seu posto de professor para viver uma aventura romântica. Esta universidade precisa de comprometimento e paixão pela docência, e não de promessas vazias de um homem que mal esteve presente em nossa instituição. 

O tom de Lemon era grave, mas suas palavras não convenceram a maioria. Randalf subiu ao púlpito logo em seguida, Lemon Doyle cruzando o olhar com o destemido Flamel. 

— Minhas viagens pelo mundo me deram uma experiência que jamais seria possível alcançar apenas dentro destas paredes. Trabalhei ao lado de Lemyria, uma das maiores estudiosas de nosso tempo, alguém que muitos daqui sacrificariam tudo para ao menos ouvir uma palestra dessa brilhante mulher. Ela mesma avaliou e contribuiu para minha pesquisa, considerando-a robusta e revolucionároa. — Ele fez uma pausa, permitindo que suas palavras ressoassem. — E quanto ao meu ilustre colega, pergunto: como nossos financiadores reagiriam ao saber que deixamos de criar um ser humano perfeito para ensinar águas-vivas a darem a pata igual a um cachorro? — A plateia irrompeu em gargalhadas, enquanto Lemon ficava visivelmente vermelho de raiva. — O senhores sabem o que fazer, quem escolher.

A fase de votação foi iniciada, com Areta sendo a primeira a votar. Ela se levantou, caminhou até a urna e declarou com firmeza, após encarar o filho com rancor: 

— Lemon Doyle. 

Seu voto era um ato claro de oposição a seu filho, mas o restante dos professores foi unânime: Randalf Flamel foi eleito o novo reitor. 

Areta, com o orgulho ferido, desceu as escadas com o capelo branco em mãos. Seus olhos encontraram os de Randalf, e os dois trocaram um olhar intenso, como se travassem uma batalha silenciosa. Finalmente, ela entregou o capelo diretamente a ele. 

Randalf o pegou com delicadeza, mantendo o olhar firme. 

Após a cerimônia, Areta caminhava pelos corredores, sua postura rígida como sempre. De repente, uma voz a chamou. 

— Mãe! 

Ela parou e virou-se lentamente. Para sua surpresa, viu Randalf e Leonora de mãos dadas. Sua expressão congelou ao olhar para as mãos deles se tocando. 

Randalf soltou a mão de Leonora e aproximou-se. Antes que Areta pudesse reagir, ele a envolveu em um abraço. 

— Randalf... você estava tocando na pele dela? — murmurou, sua voz carregada de confusão. 

— Sim... Nós conseguimos... Mãe, sei que ainda deve me odiar, mas quero que saiba que eu senti sua falta. 

Areta afastou-se rapidamente, virando o rosto para esconder uma lágrima que escapou. 

— Randalf... Você tem um irmão agora. Rufus é o nome dele. Venha visitá-lo. Só... não leve essa mulher. 

Randalf ficou surpreso, mas antes que pudesse dizer algo, Areta afastou-se apressada, sem olhar para trás. 

Leonora aproximou-se, abraçando Randalf por trás. 

— É o jeito dela de dizer que também sentiu sua falta. 

Randalf sorriu. 

— Eu sei... eu sei.



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