Luvas de Ifrit Brasileira

Autor(a): JK Glove


Volume 3

Capítulo 124: Pelo Futuro do Clã Flamel

Horas depois, Rupert finalmente chegou em casa. Ele estava coberto de sangue, exausto e faltando-lhe uma das mãos. Ao ouvir a porta se abrir, Randalf correu ansioso, acreditando que fosse Leonora, mas seu olhar rapidamente se tornou um misto de horror e fúria ao ver apenas seu pai naquele estado.

Os olhos de Randalf arderam de ódio. Sem hesitar, ele avançou sobre o pai, agarrando-o pelo colarinho e o empurrando violentamente contra a parede.

— Onde está Leonora?! — esbravejou Randalf, sua voz cheia de desespero e ira. — O que fez com ela?

Rupert tentou se desvencilhar, seu tom autoritário e frio.

— Me solte, Randalf! Sou seu pai!

Mas Randalf apertou o colarinho ainda mais, sua raiva transbordando em palavras ameaçadoras.

— Fale logo! — gritou ele. — Esse seu braço... foi desintegrado... você tocou nela... Se a tiver matado... eu juro... eu juro que farei o mesmo com você!

Nesse momento, Areta, a mãe de Randalf, apareceu, atraída pelo tumulto. Ela se aproximou com passos firmes, sua voz poderosa soando como uma ordem.

— Que gritaria é essa?

Rupert aproveitou a distração para empurrar Randalf para longe, e então olhou para Areta com um sorriso amargo.

— Randalf estava tendo um romance com aquela sua vadiazinha, Areta.

Antes que Rupert pudesse completar a frase, Randalf o golpeou no rosto com toda a força. Rupert caiu ao chão, e Randalf se lançou sobre ele, desferindo socos incessantes enquanto gritava.

— Diga logo o que fez com Leonora, seu desgraçado!

Rupert tentava se proteger com um braço, mas a intensidade de Randalf o impedia de reagir. Areta, irritada, ergueu a mão e conjurou uma barreira mágica entre os dois, afastando Randalf de Rupert.

— Parem, agora! — gritou ela, autoritária.

Randalf, embora separado pelo campo de energia, continuava a socar a barreira, descarregando sua raiva, seus olhos fixos em Rupert, que se levantava com dificuldade. O silêncio se instalou por um instante, e Areta olhou diretamente para Randalf, sua expressão séria.

— Primeiramente, Randalf, quero uma resposta. O que Rupert disse... é verdade?

Randalf hesitou, desviando o olhar para o chão.

— Randalf, eu estou falando com você!

Ele ergueu os olhos e respondeu com uma firmeza incomum.

— Eu... amo Leonora — disse ele, sem um pingo de arrependimento. — Desde o momento em que a vi...

Areta suspirou e, num movimento abrupto, balançoua a mão, movendo a barreira e empurrando Randalf contra a parede com sua magia.

— Patético... — murmurou Areta, voltando-se para Rupert com o olhar impassível. — Agora, Rupert, explique-se. Onde está a garota?

Rupert pegou os óculos quebrados do chão, observando-os por um segundo antes de jogá-los no lixo.

— Aquela desajeitada me tocou e desintegrou minha mão. Apenas falei umas verdades e... ela fugiu, reconhecendo que ela e Randalf nunca dariam certo.

— Mentiroso! Ela nunca fugiria sem falar comigo antes! Está mentindo. Eu vou descobrir o que você fez com ela, mesmo que tenha que te matar pra isso! — Randalf gritou, furioso.

Areta olhou para Randalf, e a expressão dele a surpreendeu, ela o conhecia bem, principalmente a sua determinação, que brilhava dentro do seu olhar.

— Randalf — disse ela, com uma calma surpreendente. — Se ela realmente fugiu e não quer mais te ver... você a deixaria em paz?

Randalf a fitou, seus olhos ainda cheios de dor e revolta.

— Se ela me disser pessoalmente e eu ver em seus olhos que é verdade... aceito. Mas, do contrário, vou encontrá-la onde quer que esteja, e ninguém vai me impedir.

— Pois bem. — Areta acenou levemente com a cabeça. — Temos um acordo. Em três dias será o baile anual da universidade. Até lá, siga sua vida e consiga uma acompanhante. Se Leonora aparecer e lhe disser que vai embora, você a deixará ir e nunca mais a verá.

— E se ela não aparecer? — Randalf apertou os punhos, tentando controlar a raiva.

Areta olhou diretamente para Rupert antes de responder.

— Se ela estiver morta, eu mesma farei Rupert pagar com a própria vida e quem mais estiver envolvido. Se estiver viva, você fará o que quiser com o seu destino.

— Aceito. — Randalf respirou fundo, assentindo. — Mas, se ela aparecer no baile, espero que ela não tenha um único ferimento, senão... não irei me conter.

Ele lançou um último olhar de desprezo ao pai antes de sair, deixando a sala em silêncio.

Rupert tentou se recompor, mas Areta, com um movimento rápido, deu-lhe um tapa no rosto.

— Pare de fazer besteiras, Rupert — disse ela, fria. — E agora, me leve até Leonora. Vou resolver essa situação de uma vez por todas.

— Como sabe que eu não a matei?

— Você pode ser idiota, Rupert, mas não tanto. — Areta olhou para ele com desprezo. — Agora, deixe de perder o meu tempo. Me leve até ela.

Leonora estava em um dos quartos de uma casa abandonada, ferida, acorrentada e vulnerável, com os braços e pernas marcados pelos grilhões que a prendiam. Suas roupas rasgadas revelavam os machucados e arranhões espalhados pelo corpo. Ela permanecia encolhida, sussurrando o nome de Randalf em voz baixa, quase inaudível, como uma prece silenciosa para que ele viesse resgatá-la.

A porta do quarto se abriu com um rangido seco, e Areta entrou, carregando uma expressão impassível. Com um movimento descuidado, jogou algumas roupas e runas de cura ao chão, próximos a Leonora. A jovem ergueu o olhar, o rosto coberto de lágrimas, enquanto Areta a observava de cima com puro desprezo.

Areta suspirou de forma impaciente e ergueu as mãos, criando duas barreiras triangulares que se moveram rapidamente em direção às correntes. Com um só movimento, os grilhões se quebraram, libertando Leonora.

— Cure-se e vista-se — ordenou Areta friamente.

Leonora, tremendo, pegou as roupas e as runas, obedecendo sem protestar. Depois de se curar e se vestir, saiu do quarto, caminhando hesitante até o centro da sala onde Areta a aguardava, sentada em uma mesa empoeirada. A presença imponente de Areta fez Leonora engolir em seco, sentindo o peso do desprezo no olhar da mulher. Hesitante, ela aproximou-se lentamente e, tentando manter a compostura, perguntou:

— Veio me matar pessoalmente?

— Não seja tola. — Areta revirou os olhos, entediada com a suposição. — Se eu quisesse te matar, acha que eu teria me dado ao trabalho de te curar? Quero conversar primeiro. — Ela apontou para uma cadeira diante de si. — Sente-se.

Relutante, Leonora obedeceu. Areta ajeitou a saia longa, limpando a poeira do tecido antes de se inclinar para a frente. Seus dedos entrelaçados e o olhar severo demonstravam o peso da conversa que estavam prestes a ter.

— Leonora, eu cumpri a minha parte do trato. Já você... — disse ela, com frieza. — Eu lhe disse para não se envolver com Randalf.

Leonora abaixou a cabeça, constrangida.

— Senhora Areta... Eu... me perdoe. Eu nunca imaginaria...

— Cale-se! Não quero desculpas vazias.

Areta retirou um pequeno cristal vermelho do bolso, igual ao de sua testa, ela o erguia para que Leonora pudesse vê-lo melhor. O cristal brilhava intensamente, parecendo conter uma vida própria.

— Leonora, nosso clã foi perseguido por muitos: reis, comerciantes, guildas... Todos queriam este cristal. — Ela observou a jovem com um olhar penetrante. — Todos desejavam a capacidade de rejuvenescer, de ter um novo começo, de corrigir os erros de suas vidas. Por essa habilidade, eu vi minha família inteira morrer, tendo seus cristais arrancados a sangue frio enquanto clamavam por misericórdia. Tudo o que restou da minha família foi este cristal, que pertenceu ao meu pai...

Leonora arregalou os olhos, surpresa com a confissão.

— Eu... eu não sabia disso...

Areta guardou o cristal com cuidado, como se fosse algo sagrado.

— Depois de um massacre chamado de noite rubram apenas Rupert e eu sobrevivemos. Para cumprir o nosso dever de continuar a linhagem e proteger esse poder, nós nos casamos, mesmo a contragosto. Agora, vievemos em paz, protegidos pela GPA e pelo nosso próprio poder, entretanto, um único descuido pode nos colocar em risco novamente, transformando-nos em presas.

Leonora escutava em silêncio, cada palavra mais pesada que a anterior.

— Randalf — continuou Areta, com os olhos fixos nos de Leonora — é a próxima geração do nosso clã, o único que continuará o nosso legado. Mas você, Leonora, está impedindo que ele cumpra o destino para o qual foi criado. Como ele poderá ter filhos e perpetuar o clã se não pode nem ao menos tocar você? Como ele poderá se tornar um grande professor e pesquisador na universidade Flamel, como já foi aceito, se vai desperdiçar tempo procurando uma cura para uma doença que não tem solução? Como você pode me garantir que por simples descuido seu ele não pode ter o braço, a perna ou o corpo todo desintegrado?

A jovem abaixou o olhar, sem saber o que responder.

— Criança, se você tiver as respostas para essas perguntas, eu não impedirei o amor de vocês. — Areta retirou uma carta do bolso e a colocou sobre a mesa, olhando diretamente para a jovem. — Prove que realmente ama Randalf e faça o que é certo. Vá ao baile e entregue esta carta a ele, não será preciso dizer uma única palavra. Apenas entregue e vá embora, sem se importar com o que ele disser. Não faça isso porque estou pedindo, faça por ele. Pelo futuro dele, pelo nosso clã.

Areta estendeu a carta para Leonora, que a pegou, hesitante. Seus olhos pousaram no envelope lacrado, e ela se sentiu estremecer ao imaginar o que aquilo significava.

— Aqui está. — Areta tirou um pequeno saco de couro do bolso e o colocou ao lado de Leonora. — Use esse dinheiro para se hospedar em uma estalagem até o dia do baile. Há rilds suficientes para que você se sustente por um bom tempo. Reflita e pense bem. Sei que tomará a decisão correta.

Sem esperar uma resposta, Areta se levantou e deixou o local, sua postura altiva e imponente, deixando Leonora sozinha, ainda confusa, com a carta, lágrimas escorrendo do rosto e um saco cheio de rilds nas mãos.

 

 

Depois de muito pensar, Leonora estava decidida. No dia do baile, com a carta de Areta nas mãos, ela caminhou em direção à universidade, sua expressão rígida, mas com os olhos escondendo uma melancolia silenciosa. Ao se esgueirar pelos corredores da universidade, foi surpreendida pela presença de Kassandra, que bloqueou seu caminho, com um sorriso provocador.

Leonora tentou evitar confusão com Kassandra, mas sem sucesso, as duas começaram uma discussão e a carta acabou caindo no chão, próximo aos pés de Randalf.

Ele abaixou-se, pegou a carta e, sem hesitar, a rasgou em pedaços, deixando-os caírem ao chão como folhas ao vento. Com um olhar determinado, segurou Leonora pelas luvas e disse:

— Se você quer me dizer algo, Leonora, que seja pessoalmente.

Leonora sentiu seu rosto esquentar. Randalf a guiou até o salão do baile, seus passos firmes e decididos, sem olhar para trás. Ao chegarem ao salão, ele a puxou para uma dança, mantendo suas mãos firmemente nas luvas dela, enquanto a guiava pelos passos. A música preenchia o ambiente, mas tudo o que Leonora podia ouvir era a voz dele.

— O que você queria me dizer naquela carta? — ele perguntou, sem desviar os olhos dela.

Leonora abaixou o olhar, tentando esconder a dor que refletia em seu rosto.

— Randalf... nossa relação... — ela começou, hesitante, sentindo o peso das palavras de Areta em sua mente. — Tem que acabar. Eu... vim para colocar um ponto final. Vim para sair da sua vida de uma vez por todas.

Randalf a olhou, a seriedade estampada em seu rosto.

— Essas palavras são suas... ou da minha mãe?

As lágrimas começaram a escorrer pelo rosto de Leonora. Ela sabia que precisava ser firme, mas as emoções a sufocavam.

— Você não entende... — ela murmurou, sua voz frágil. — Eu nunca poderei te tocar, nunca poderei te dar um filho, um beijo, nem mesmo uma simples carícia... você merece alguém como a Kassandra. Alguém que possa realmente estar ao seu lado em um futuro brilhante.

Randalf a puxou mais para perto, sua voz suave, mas firme.

— Leonora, você é a única coisa que brilha no meu futuro. Sem você, só há escuridão. Eu fiz uma promessa e vou cumpri-la. Eu vou te curar!

Ela sentiu o coração apertar, as palavras dele quebrando suas defesas uma a uma.

— Não faz isso... — sussurrou, quase sem forças. — Só... me deixe ir embora em paz.

Randalf esboçou um sorriso terno, e a olhou nos olhos, seus dedos pressionando levemente as luvas dela.

— Se você conseguir me dizer isso olhando nos meus olhos, eu te deixarei ir. Mas, se não puder... então, mesmo que você fuja para os confins da terra, eu vou te encontrar.

Leonora respirou fundo, tentando encontrar coragem para dizer o que Areta queria, mas, em vez disso, tudo o que saiu de sua boca foi:

— Eu... eu te amo, Randalf.

Randalf sorriu e continuou a dançar com ela, como se o mundo ao redor não existisse. Durante o baile, eles passaram o tempo juntos, conversando e, finalmente, Leonora se abriu e contou tudo o que havia acontecido entre ela, Areta e Rupert.

No final daquela noite, Randalf levou Leonora para casa e, ao entrar no jardim, encontrou seus pais. Areta estava sentada em um banco, um livro nas mãos, com Rupert ao lado, lendo calmamente. Randalf se aproximou com passos firmes, sua expressão sombria, a determinação estampada no olhar. Num impulso fervoroso, desapareceu e reapareceu à frente do pai, desferindo um soco que o fez cair da cadeira.

Rupert, surpreso, levantou-se e riu, com um olhar desafiador.

— Meu filho... acho que você está precisando de umas palmadas.

Areta, que ainda segurava seu livro, ergueu o olhar para Randalf com calma e tomou um gole de chá.

— Explique-se — ela ordenou com frieza.

— Eu já sei de tudo — respondeu Randalf, sua voz cheia de ira. — Sei que esse desgraçado atacou Leonora... — ele olhou para a mãe com um olhar de desprezo — ...e sei também o que você pediu para ela fazer.

Areta manteve sua expressão inabalável.

— Entendo... — murmurou. — Deixe-me adivinhar. Veio aqui nos fazer pedir desculpas, nos dar uma lição de moral, ou exigir que Leonora volte a morar aqui?

Randalf a encarou, sua voz firme.

— Nenhuma dessas opções — disse ele, sua voz dura como pedra. — Vim para dizer que amanhã eu e Leonora vamos nos casar, e sairemos daqui para sempre. Vou viver longe de vocês... vocês são monstros, sem coração.

Areta ergueu uma sobrancelha enquanto tomava outro gole de chá. Rupert gargalhou.

— Randalf, vai realmente deixar que essa vadia destrua a nossa família?

Randalf deu um passo à frente, seu dedo em riste apontando para o pai.

— Cuidado com suas palavras ao falar da minha esposa — ele disse, sua voz baixa e ameaçadora. — Aqui nunca houve uma família de verdade, e você foi um dos principais responsáveis por isso. Mais até do que a minha mãe.

Randalf deu as costas para eles, e Rupert esbravejou, os olhos brilhando de raiva.

— Randalf, se sair por essa porta, nunca mais me chame de pai. Meu filho estará morto para sempre.

Ele parou por um instante e lançou um último olhar para Rupert.

— Não tem problema — respondeu com serenidade. — Meu pai já morreu há muito tempo.

Com isso, Randalf segurou a mão de Leonora e se encaminhou para a saída. Quando estavam prestes a cruzar a porta, a voz de Areta ecoou pelo salão, fria e cortante.

— Leonora!

A jovem virou-se lentamente, encontrando os olhos da mulher. A expressão de Areta era de pura intensidade, como a de um predador observando sua presa ferida.

— A partir de agora, você selou definitivamente seu destino — declarou Areta, suas palavras como uma sentença.

Leonora engoliu em seco, mas apertou a mão de Randalf com mais força, permitindo-se ser puxada para longe dali.

Assim que eles desapareceram, Rupert olhou para Areta, ainda incrédulo.

— Então... vai deixar que ele se vá assim? Sem nem lutar?

Areta fechou seu livro com um leve suspiro e colocou a xícara de chá na mesa.

— Deixe-o. Eu o conheço... ele vai voltar — ela murmurou, enigmática. — Só não sei em que situação.

— E o que faremos agora, Areta? — Rupert franziu a testa, a inquietação evidente em seu rosto.

— Suba até o quarto. — Areta levantou-se com calma, o rosto tranquilo e calculista. — Precisamos de um outro filho de sangue puro.



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