Luvas de Ifrit Brasileira

Autor(a): JK Glove


Volume 3

Capítulo 123: A Coroa de Cernunos

Nos corredores movimentados da Universidade Flamel, Randalf avistou Leonora à distância e abriu um sorriso ao pensar no convite que queria fazer. Com o baile anual se aproximando, ele queria que ela fosse sua companhia naquela noite especial. No entanto, antes que pudesse se aproximar da jovem, seu pai, Rupert, interceptou-o.

— Randalf, preciso que me ajude a corrigir umas provas na sala dos professores — pediu Rupert, com um olhar sério.

— Pai — Randalf suspirou, relutante —, isso não é certo... são suas provas — protestou ele, tentando argumentar.

— Deixe de ser tão certinho, Randalf. Preciso da sua ajuda para terminar a tempo.

Sem alternativas, Randalf assentiu e começou a ajudar seu pai na correção. Enquanto ele se concentrava nas provas, Rupert deu uma desculpa de que precisava ir ao banheiro, mas antes, ele chamou um aluno e lhe entregou uma carta, dando instruções claras:

— Leve esta carta até Leonora, e diga que é de Randalf.

O aluno, visivelmente desconfortável por ter que se aproximar de Leonora, cumpriu o pedido, mas com certo receio. Assim que encontrou Leonora, ele parou a uma distância segura e avisou:

— Leonora, tem uma carta para você... de Randalf.

Ao ouvir o nome de Randalf, os olhos de Leonora brilharam, e ela ignorou o tom cauteloso do rapaz. Pegou a carta e leu com atenção. As palavras de Randalf a convidavam para encontrá-lo ao entardecer no Pico das Luzes, um local afastado de onde se podia ver toda a cidade iluminada. Leonora sentiu o coração acelerar e, sem pensar duas vezes, decidiu ir.

No final da tarde, Leonora chegou ao Pico das Luzes. Sentou-se em um banco que dava vista para toda a cidade, observando o sol se despedir lentamente. A brisa fresca acariciava seu rosto, mas, conforme o tempo passava e o céu se escurecia, ela começou a se inquietar. “Por que Randalf está demorando tanto?”, pensou, seu olhar se perdendo nas luzes que surgiam na cidade abaixo.

A noite já dominava o céu quando uma voz grave e fria soou às suas costas:

— O que faz aqui sozinha, jovem? Está esperando alguém?

Leonora deu um pequeno grito, assustada. Virou-se rapidamente e reconheceu Rupert, o pai de Randalf. Nervosa, tentou manter a calma, mas sabia que precisava despistá-lo antes que Randalf chegasse.

— Ah... senhor Rupert! Eu só quis ver o pôr do sol daqui. É realmente muito bonito — respondeu, forçando um sorriso.

Rupert estreitou os olhos, demonstrando para a jovem que ele desconfiava de sua resposta.

— Sozinha?

— Sim, sim... mas já estou indo para casa. O senhor também está de saída? — perguntou, tentando disfarçar seu nervosismo.

Ele deu um passo à frente, examinando-a com um olhar frio e calculista.

— Leonora, algo me diz que você não está sendo sincera. Hum... Tenho uma boa hipótese. Acredito que está aqui para se encontrar com meu filho, Randalf, não está?

Leonora sentiu um arrepio percorrer-lhe o corpo, o medo nublando seus pensamentos. Ela gaguejou, tentando encontrar uma desculpa:

— Não, senhor! A professora Areta foi bem clara sobre eu... eu não manter nenhum laço com Randalf. Eu... eu vim sozinha, juro!

Rupert manteve o olhar firme por alguns segundos, fazendo com que ela engolisse seco. Mas, então, um sorriso amargo surgiu em seus lábios, e ele perguntou:

— Leonora, você sabia que dominadores experientes conseguem esconder suas Invokers, fazendo-as aparecer apenas quando vão precisar utilizar alguma de suas habilidades, como em um combate, por exemplo?

— N-não sabia... Mas... por quê? — ela perguntou quase sussurrando, as palavras quase sem sair de sua boca.

Rupert então apontou para a própria cabeça, e, diante do olhar assustado de Leonora, uma coroa com chifres de cervo emergiu sobre sua cabeça. Ele continuou com um tom sombrio:

— Esta é a coroa de Cernunnos, um Arcano ligado às florestas. Em outras palavras, eu sou o portador de Cernunnos.

Leonora sentiu o pânico se espalhar pelo corpo. Gotas de suor escorriam em sua testa enquanto ela observava o brilho rubro nos olhos de Rupert, que pareciam ainda mais intensos sob a luz da lua.

— Senhor... por que o senhor materializou essa coroa? — murmurou ela, com a voz tremendo.

Rupert soltou uma gargalhada sombria.

— Para te mostrar minhas habilidades, Leonora. Mão Verde!

Num movimento rápido, ele balançou o braço direito, e um bastão de madeira desceu de sua manga. Antes que Leonora pudesse reagir, Rupert golpeou-a violentamente nas costelas, lançando-a para longe. Seu corpo colidiu com uma árvore, e ela soltou um gemido de dor ao se esparramar no chão, sentindo uma dor excruciante.

— S-senhor Rupert... o que foi isso? O que eu fiz? — perguntou Leonora, com a voz fraca e entrecortada.

A noite envolvia a floresta em uma escuridão densa, apenas quebrada pelo brilho suave da lua filtrando-se pelas folhas. Leonora, ainda caída, esforçava-se para respirar após o ataque de Rupert. Seu corpo doía, mas seus olhos queimavam de determinação. À sua frente, Rupert se aproximava com passos lentos e frios, segurando o bastão de madeira com firmeza, a expressão impiedosa em seu rosto.

— Achei que meu filho tivesse mais discernimento do que isso, Leonora... — disse Rupert, em um tom de desprezo. — Mas, pelo bem dele, você deve desaparecer.

Leonora engoliu seco, sentindo um frio na espinha. Levantou-se, mesmo com as pernas trêmulas, e retirou as luvas com um olhar determinado.

— Eu... não vou deixar que você me impeça de vê-lo, Rupert. — Sua voz saía firme, mas o medo pulsava em seu coração.

Sem mais delongas, ela avançou, a mão estendida na direção de Rupert, pronta para tocá-lo e desintegrá-lo. Mas Rupert desviou com agilidade, seu olhar astuto captando cada movimento dela.

Com um sorriso sarcástico, ele invocou sua técnica:

— Mão Verde! — Suas mãos se encheram de uma energia verde, e ele tocou o solo, que começou a se transformar. Logo, galhos e raízes serpenteavam ao redor, criando uma série de chicotes e garras que avançaram em direção a Leonora.

Ela se esquivou, correndo por entre as árvores, tentando usar a floresta como refúgio. Sabia que precisava de uma estratégia, pois o confronto direto a colocava em desvantagem.

Rupert não demorou a perceber a tentativa de fuga de Leonora. Ele então avistou um esquilo nas proximidades e invocou seu poder:

— Ciclo da Vida! — Ele arrancou a cabeça do esquilo, aspergindo o sangue dele em uma árvore, que começou a vibrar e logo gerou dez descendentes.

 

 

Cada um dos esquilos, todos eles partiram em perseguição a Leonora. Rupert olhava os esquilos adentrarem na floresta, quando ouviu um barulho na grama e, ao olhar para o lado viu um cervo, encarando-o.

Mais adentro da floresta, um dos esquilos se aproximou docilmente de Leonora, correndo por sua roupa, e a jovem, em um momento de compaixão, sussurrou:

— Por favor, não faça isso... Eu posso te machucar. — Mas ao falar, o pequeno animal a mordeu, e imediatamente começou a desintegrar-se em suas mãos.

Em pânico, Leonora recuou, mas os outros esquilos a cercaram, mordendo-a ou tentando atingi-la. Ela desintegrava alguns com o toque, mas eles continuavam a aparecer, mordendo-a e rasgando sua pele. O pânico aumentava em seu peito, até que, por entre as árvores, um cervo com olhar feroz surgiu.

 

 

Leonora respirou ofegante, encarando o animal. Mas o cervo avançou com força, enquanto outros nove surgiam, prontos para atacá-la. Ela se defendeu, tentando afastá-los com seus toques de desintegração, mas seus movimentos tornavam-se lentos à medida que as mordidas e feridas se acumulavam, até que todos os cervos caíram com o corpo desintegrado, seja pelos bloqueios de Leonora, seja pelo contado direto gerado pelas cabeçadas dos animais.

Leonora, ferida, tentou correr para longe, mas Rupert então surgiu atrás dela, seu olhar gelado e cruel fixo na jovem, enquanto ele brandia o bastão de madeira.

— Mão Verde! — gritou Rupert, e o bastão estendeu-se em raízes e cipós que a golpearam, lançando-a contra o tronco de uma árvore, que desintegrou em seguida, haja vista o contato entre a áervore e as costas de Leonora, a qual estava parcialmente descoberta, após os cortes nas roupas oriundas dos ataques dos cervos.

Leonora ainda no chão, arquejando de dor. Rupert, implacável, assobiou um som agudo que ecoou pela floresta. Cinco pássaros responderam ao chamado e pousaram em seus chifres, formando um totem sinistro sobre sua cabeça.

— Você nunca poderá ficar com Randalf, Leonora. — Ele a olhou com desdém, seus olhos frios. — Seu toque é uma maldição que só destruiria a vida dele. Pelo bem do meu filho, eu vou acabar com isso.

Ela sentiu um frio no estômago com aquelas palavras, mas decidiu agir. Tremendo, avançou, tentando tocar Rupert de todas as formas, seus dedos quase o alcançando. Mas, de forma ágil, ele desviava com precisão, mantendo distância enquanto a golpeava repetidamente com o bastão, cada impacto a levando mais ao limite.

“Preciso acabar com esse bastão... E já sei como”, ela pensou, decidida.

Rupert preparou um golpe poderoso, com o bastão girando em sua mão, direcionado ao abdômen de Leonora. No último segundo, ela invocou sua habilidade, Orbe Ancião. Uma esfera brilhante e pulsante emergiu de sua mão e se fundiu com o bastão, acelerando o amadurecimento da madeira até que esta ficasse podre e se desfizesse em pó ao contato.

Rupert arqueou a sobrancelha, surpreso com o movimento inesperado. Leonora, aproveitando a oportunidade, avançou e tocou a mão dele. Em um instante, sua carne começou a se desintegrar, os ossos e músculos se desfazendo em pó, arrancando-lhe um grito de dor.

— Sua maldita! — Ele se afastou rapidamente, pulando para trás, enquanto refletia: “Eu pensava que sua única técnica era desintegrar coisas vivas ao toque...” — Rupert franziu o cenho e rangeu os dedos de raiva. — Areta, sua maldita... escondeu de todos a capacidade dela de amadurecer objetos inanimados”.

Quando seus pés tocaram o chão, Rupert fixou as raízes profundamente no solo, ativando sua técnica Floresta Radicular. Debaixo do solo, raízes grossas e densas surgiram em diversas direções, atacando Leonora em sequência. A cada golpe que tocava na pele de Leonora, as raízes desintegravam após o contato, contudo, elas continuavam surgindo em todas as direções, tentando dominá-la.

“O seu toque desintegra automaticamente apenas coisas vivas...”. Rupert pensou, tentando entender o limite da habilidade dela. “Meu bastão não era vivo, por isso não desintegrava e ela precisou utilizar aquele orbe, mas minhas raízes são vivas, porque estão conectadas ao solo e à floresta. Terei que mudar minha estratégia... para matá-la de uma vez”.

Com um movimento cuidadoso, ele direcionou as raízes para envolver o corpo dela por cima das roupas, prendendo-a completamente. Ele se aproximou, e seu rosto exibia um sorriso presunçoso.

— Isso é tudo que você tem? — Rupert se gabou, segurando-a firme entre as raízes. — Eu irei te matar e libertar Randalf dos seus encantamentos, vadiazinha! Hahahaha!

Leonora percebeu o excesso de confiança em suas palavras, e um plano se formou em sua mente. Com um ato de coragem desesperada, rasgou parte de sua roupa, fazendo com que as raízes entrassem em contato direto com sua pele e apodrecessem instantaneamente. Libertando-se, ela avançou contra ele com velocidade surpreendente.

Rupert murmurou consigo: “Com essa habilidade ativa, eu fico preso no solo, sem poder me mover. Não vai dar para desviar, nem com um impulso fervoroso”.

Antes que Rupert pudesse reagir, Leonora o envolveu em um abraço mortal, suas mãos pressionando as costas dele enquanto seu corpo começava a desintegrar rapidamente. Rupert soltou um grito, seu rosto se contorcendo em dor.

— Isso não acabou, Leonora — zombou ele, mesmo enquanto sua carne e ossos se desfaziam. — Você nunca estará à altura de Randalf...

As palavras de Rupert ecoaram pela floresta enquanto seu corpo desaparecia em pó. Os pássaros que antes repousavam em sua cabeça alçaram voo, pousando em uma árvore próxima. Leonora caiu de joelhos, chorando e clamando por Randalf, seu coração devastado e suas forças esgotadas.

Ela levantou-se e começou a caminhar cambaleante, ainda em prantos, até a árvore onde os pássaros estavam. Quando se aproximou, os pássaros caíram mortos ao chão, e a voz de Rupert ecoou ao redor dela.

— Totem da Floresta Oculta.

— Não... não pode ser! — Leonora arfou, seus olhos arregalados de horror.

Sem dar tempo para reação, Rupert emergiu de dentro do tronco da árvore, seu corpo restaurado, embora ainda sem a mão desintegrada. Num movimento rápido, ele tocou a árvore com a outra mão e ativou a habilidade Mão Verde, transformando o tronco em uma lâmina de madeira afiada e cravando-a no abdômen de Leonora.

— Achou mesmo que tinha me derrotado, Leonora? Estou anos-luz à sua frente — ele zombou, enquanto a viu cair ao chão, cuspindo sangue e lágrimas.

Desesperada e sem forças, Leonora ergueu os olhos para ele, seu rosto uma máscara de dor e medo. Em um fio de voz, ela implorou, com lágrimas escorrendo:

— Por favor... Senhor Rupert... não me mate... pelo Randalf...

Rupert parou por um momento e passou a observar Leonora caída ao chão, seu rosto iluminado por uma expressão de desprezo absoluto. O sorriso dele era sombrio, refletindo a crueldade que havia em seu coração.

— Leonora, não sou eu que estou te matando — declarou ele, com uma voz fria. — Você se matou no momento em que decidiu se envolver com o meu filho.

Leonora, exausta e machucada, ergueu o olhar e tentou, com a voz fraca, responder.

— Eu... eu não tive culpa, Rupert... — sussurrou, cada palavra arranhando sua garganta. — Apenas... aconteceu. Mas me matar não vai resolver nada. Randalf... ele só vai te odiar ainda mais.

Rupert riu, descrente, e seus olhos se estreitaram, impiedosos. Com um movimento brusco, ele transformou a lâmina de madeira em um cassetete e começou a golpeá-la, ignorando os gritos de dor de Leonora que ecoavam pela floresta escura.



Comentários