Volume 3
Capítulo 109: Segredos Ocultos
Joabe observou Daaz Goba e alguns alunos saírem da sala após uma reunião demorada. Quando a última pessoa cruzou a porta, ele entrou em silêncio, mantendo-se alerta enquanto explorava o ambiente. Ao olhar ao redor, ele viu roupas, pôsteres e bonecos que representavam o enigmático Poeta Fantasma. A decoração parecia uma homenagem pessoal, e Joabe franziu o cenho, intrigado.
De repente, ouviu passos se aproximando. Ele rapidamente se escondeu atrás de um armário. O professor Daaz entrou na sala, parecendo alheio à presença de Joabe. No mesmo instante, Joabe decidiu agir. Sem hesitar, avançou e, com um movimento ágil, derrubou o professor, montando sobre ele enquanto invocava os braceletes. As lâminas surgiram nas suas mãos, e Joabe as posicionou perigosamente próximas ao pescoço de Daaz.
— Hey boy, que você pensa que tá fazendo? — perguntou Daaz, mantendo um tom controlado.
Joabe apertou as lâminas contra a pele do professor, mas sem perfurá-lo.
— Quem vai responder as perguntas aqui é você, professor — retrucou Joabe com frieza. — O que são essas roupas e essas bugigangas do Poeta Fantasma? Quer dizer que você é fã dele?
Daaz suspirou, seu olhar traindo uma leve exasperação.
— Wait one moment! Se me deixar levantar, posso explicar. — Ele tentou um movimento súbito, mas Joabe reagiu rápido, pressionando a lâmina mais firme contra o pescoço do professor, que continuava sem esboçar dor.
Joabe recuou um pouco, confuso.
— Como você consegue não sentir nada? — murmurou ele, inquieto.
De repente, ouviu uma risada abafada. Ao observar ao redor, percebeu uma cortina parcialmente aberta, com uma lente de câmera escondida atrás dela. Um som peculiar, como o de um macaco, ecoou pela sala. Joabe correu e puxou a cortina, mas não encontrou nada além de uma parede.
Daaz se levantou, ajeitando a gravata e limpando a poeira do paletó.
— Come with me — pediu o professor, sinalizando para Joabe segui-lo.
Joabe manteve as lâminas invocadas, mas concordou, desconfiado, com o cenho franzido. Eles caminharam até outra sala, onde Daaz acendeu as luzes. Joabe arregalou os olhos ao ver o espaço transformado em um estúdio de cinema improvisado.
— Além de ser professor de história mágica, também sou apaixonado por filmes. Então, pensei em unir o útil ao agradável — Daaz explicou, apontando para os pôsteres e bonecos. — Estou aproveitando esses boatos sobre o Poeta Fantasma para criar um wonderful filme de terror. Essa decoração toda é apenas para promover a produção.
Joabe coçou a cabeça, tentando processar aquilo tudo, e, com um leve rubor, murmurou algo indecifrável.
— E não acha que merece me pedir desculpas? Eu aceito um simples I’m Sorry — questionou Daaz, cruzando os braços com uma sobrancelha arqueada.
Joabe virou o rosto, emburrado.
— Não tenho por que pedir desculpas, você me induziu a erro — resmungou.
Daaz balançou a cabeça com um sorriso divertido.
— Um bom conselho, jovem: antes de agir, ouça mais e ataque menos. Mas você até daria um bom ator de ação. — Ele deu uma risada curta e provocativa. — Então, vai se desculpar ou participar do filme?
Joabe suspirou, relutante, e sussurrou um pedido de desculpas, que Daaz aceitou com uma risada.
— Pode ir, boy. Eu entendo o ímpeto da juventude — disse Daaz, observando Joabe sair resmungando baixo.
Em outra ala da universidade, Kreik caminhava em direção à sala da professora Seraphine, determinado a encontrar alguma prova que a ligasse ao Poeta Fantasma. Ao entrar na sala, começou a vasculhar gavetas e armários, mas nada encontrava.
— Ainda não achou o que procura, ruivinho? — ouviu uma voz feminina e sedutora.
Kreik deu um salto, assustado, e girou para encarar a professora Seraphine, que estava deitada despreocupadamente sobre a mesa em uma pose provocante. Ele engoliu em seco, o coração disparado.
— E-eu... desculpe, professora! Eu... já estava de saída. — Tentou improvisar uma desculpa, gaguejando.
— Não tão rápido, ruivinho. — Seraphine o observou com um sorriso enigmático, os olhos brilhando com uma intensidade divertida. — Você ainda não me contou o que tava procurando nas minhas coisas sem minha autorização. — Ela sentou-se, cruzando as pernas de forma lenta e provocante, aumentando a tensão no ar. — Estou curiosa para ouvir seus motivos.
Kreik sentiu o rosto corar enquanto suava frio.
— Bom... professora... é que... eu achei a senhora muito... interessante... e queria procurar algo sobre o que gosta, para... talvez... te presentear.
Seraphine riu com suavidade e sinalizou com o dedo para que ele se aproximasse. Kreik avançou, hesitante, sem saber o que esperar.
“Espero que ela tenha caído na minha desculpa”, pensou ele.
Quando estava perto o suficiente, ela ajeitou o colarinho de sua camisa, com um toque deliberadamente cuidadoso.
— Quer saber de uma coisa que eu gosto? Vou te contar... — sussurrou, puxando-o ainda mais para perto. — Eu tenho uma queda por homens ruivos... — Ela o encarou com um olhar ardente, fazendo Kreik ficar ainda mais vermelho.
Ele engasgou nas palavras, tentando dizer algo, mas nada coerente saía de sua boca. Seraphine foi aproximando o rosto, deixando-o paralisado, quase acreditando que ela o beijaria. No entanto, num gesto rápido, ela deu um peteleco em sua testa e riu alto.
— Achou mesmo que eu faria algo assim com você, meu jovem? — perguntou com um sorriso divertido.
Kreik balançou a cabeça, envergonhado e sem saber onde enfiar o rosto.
— Calma, garoto. Tenho quase idade de ser sua mãe, embora eu tenha sido abençoada com uma beleza jovial. — Ela riu divertidamente. — Talvez, se você tivesse uns dez anos a mais, a história seria diferente. Até porque você tem um rosto que lembra bastante um antigo affair, que não vejo há algum tempo — Ela suspirou, pensativa, como se lembrasse de alguém do passado.
Ela então levantou-se e se aproximou de Kreik. Com a mão no queixo começou a analisá-lo, olhando todo o seu corpo enquanto rodeava ao seu redor.
— Mas quem sabe, se daqui alguns bons anos você vier, eu possa te dar uma chance, embora, quando esse tempo chegar, eu esteja tão velha que você nem se interesse mais — continuou a professora, gargalhando e mantendo o bom humor.
Kreik soltou um riso sem jeito e, antes de se despedir, fez uma reverência apressada, murmurando desculpas mais uma vez. Ela acenou com a mão, indicando que ele estava livre para ir, o que ele fez sem perder tempo.
Assim que Kreik saiu, Seraphine mudou a expressão, observando a porta por onde ele saíra e murmurou para si mesma:
— Coisa feia, garoto... mentir para sua professora assim. Isso não se faz.
Nos corredores da universidade, cada vez mais afastado, Uji seguiu os passos do professor Lemon Doyle. O professor parecia nervoso, olhando para os lados a cada instante e evitando contato com qualquer pessoa conhecida. Ele se dirigiu até a área dos reservatórios de água da universidade, e Uji, mantendo-se discreto, fez o mesmo. Conforme adentrava cada vez mais nos compartimentos subterrâneos, observava o ambiente úmido, com canos e água pingando constantemente.
Lemon Doyle finalmente parou em um local isolado, onde grandes tanques cobertos por lonas se alinhavam ao longo da parede. Sem perceber a presença de Uji, o professor se aproximou de um gerador antigo, passando a mão próxima a ele. Lentamente, sua mão transformou-se em um tentáculo fino, e uma corrente elétrica percorreu o tentáculo até o gerador, ligando-o.
Com calma, Lemon Doyle retirou as lonas dos tanques, revelando águas-vivas cintilantes que flutuavam dentro dos reservatórios. Intrigado, Uji continuou a observar em silêncio, notando cada detalhe.
O professor passou a mão sobre o vidro de um dos tanques, e uma das águas-vivas se aproximou, tocando o vidro com seu tentáculo, quase como se quisesse estabelecer contato com Lemon.
— Minhas águas-vivas, vocês são meus trunfos — murmurou Lemon Doyle, numa espécie de conversa sussurrada para seus “companheiros” aquáticos. — Minha pesquisa precia avançar... Eu vou provar que minha teoria da ressonância da alma é verdadeira. Esses malditos nunca mais irão me menosprezar! Eles saberão que sou o mais adequado para o título de maior pesquisador do mundo.
Lemon Doyle, imerso em seu monólogo, continuou:
— Randalf roubou minha vaga de Reitor, mas eu vou pegar de volta. A tensão entre Areta e Leonora só aumenta... É só uma questão de tempo até perderem a compostura. Quando isso acontecer, aproveitarei o vácuo de poder e serei o novo Reitor. E, quando isso acontecer, vou usar todos os recursos para vocês, minhas queridas, as rainhas da maior conquista mágico-científica dos últimos tempos.
Uji arqueou as sobrancelhas, incrédulo e um pouco divertido.
“Esse cara é meio pirado. Talvez ele seja o Poeta Fantasma...”, pensou, analisando as intenções do professor. “Preciso avisar o restante da guilda.”
Uji sentiu que já havia visto o suficiente e se virou para sair, tentando manter-se discreto. Contudo, uma das águas-vivas, visualizou o samurai ao longe, ela bateu com o tentáculo no vidro com força, alertando Lemon Doyle do possível intruso. O professor se virou de súbito, e seu braço transformou-se rapidamente em um tentáculo, pronto para atacar.
— Quem tá aí? Revele-se... ou morra! — ameaçou Lemon Doyle, sua voz carregada de fúria e desconfiança.
Uji agiu no instante seguinte, desviando para o lado e se escondendo atrás de algumas caixas empilhadas. Viu alguns pregos espalhados pelo chão e sorriu com um toque de sarcasmo.
— Foi mal, águas-vivas, mas vocês começaram sendo cabuetas — murmurou, pegando os pregos e eletrificando-os antes de lançá-los diretamente contra os tanques.
Os pregos perfuraram o vidro, provocando um vazamento nos tanques e espalhando água pelo chão. Lemon Doyle, em desespero, correu para salvar suas preciosas águas-vivas, desviando a atenção por um instante. Ao olhar para trás, conseguiu apenas avistar mechas de cabelo loiro desaparecendo ao longe, e imediatamente suspeitou de alguém.
“Cabelos loiros... Será Leonora? Não... Esse maldito não vai escapar. Eu juro que vou matar quem fez isso!”, pensou Lemon Doyle, seu rosto contorcido de raiva enquanto se concentrava em salvar sua pesquisa.
Enquanto isso, na sala do professor Hazard, Rydia mexia nas gavetas, vasculhando com cuidado até que algo chamasse sua atenção: vários anéis rúnicos estavam organizados em uma das gavetas. Ela colocou um deles discretamente no bolso e continuou a busca até encontrar um fundo falso, onde achou anotações sobre maldições, doenças raras e, por fim, um diário de pesquisas inacabado sobre a criação de um homúnculo, com coautoria de Randalf.
“Espera aí... o professor Hazard estava criando um homúnculo junto com o irmão do Rufus? Por quê?”, sussurrou para si mesma, perplexa.
Subitamente, ouviu a voz do professor do lado de fora da sala, conversando com uma aluna. Sem tempo para sair sem ser notada, Rydia rapidamente guardou o diário, eliminando qualquer rastro de sua presença. Com um breve aceno de concentração, ativou sua habilidade de Web Water, prendendo-se no teto com sua água elástica como uma verdadeira aranha.
Hazard entrou na sala e observou o ambiente com seu olhar atento, ele rapidamente jogou no cesto de lixo fragmentos de um anel rúnico quebrado que ele levava consigo. Posteriormente, fechou a gaveta e pegou um anel novo, colocando-o no dedo e o beijando antes de sair da sala, sem notar a presença de Rydia.
Assim que a porta se fechou, Rydia desceu, aterrissando com agilidade.
— Foi por pouco... Ainda bem que ele não olhou para cima — murmurou, secando o suor da testa enquanto escapava do escritório.
Ela rapidamente se dirigiu até a sala da professora Areta, que a aguardava com um olhar severo.
— Onde estava, minha estagiária? — perguntou Areta, batendo os dedos na escrivaninha com impaciência.
Rydia, já prevendo uma reprimenda, tentou manter a compostura:
— Fui fazer o que me pediu, professora.
— Não é o que me parece... — Areta estreitou os olhos, desconfiada. — Eu utilizei uma runa de comunicação para verificar com a bibliotecária. Ela me disse que outra aluna entregou os livros. Agora, explique por que mentiu e o que estava fazendo, de verdade.
Rydia pensou rápido e respondeu com calma.
— Já disse, professora. Estava fazendo o que me pediu, mas não sobre os livros. Estava investigando aquele outro assunto.
— Ora, ora... Que interessante. Então explique o que descobriu sobre aquele faxineiro.
— Pelo que descobri, ele é um samurai fugitivo de Endo. Rydia respirou fundo. — Parece que não tem envolvimento com a Reitora Leonora e só queria recomeçar a vida nesta cidade.
— Foi só isso? — Areta lançou-lhe um olhar insatisfeito. — Estou decepcionada... Tenho certeza de que ele esconde algo. Leonora não o contrataria sem conferir essa informação. Eu irei confrontá-la e arrancarei, eu mesma, a sua confissão.
“Confrontar Leonora?! Que merda, não posso deixar isso acontecer, senão seremos descobertos”, pensou Rydia. — Professora, tem mais um detalhe importante — Ela acrescentou, improvisando rapidamente.
Areta arqueou uma sobrancelha.
— E qual seria?
— Quando eu estava levando os livros, vi o faxineiro seguindo o professor Lemon Doyle de forma suspeita. Perdi-os de vista, mas achei muito estranho.
“Acho que com essa informação ela vai querer que eu junte mais informações sobre Lemon Doyle ao invés de querer bater de frente com Leonora”, pensou a jovem astutamente.
— Lemon Doyle? Aquele tolo? — Areta pôs a mão no queixo, refletindo. — Será que o faxineiro pretendia atacar ou se aliar a ele?
— Não sei ao certo, professora. Se me der mais tempo, prometo que posso descobrir. — Rydia respondeu, tentando conter a tensão.
— Não precisa se preocupar, minha criança. — Areta a olhou com um sorriso satisfeito e pôs uma mão em seu ombro. — Você fez um excelente trabalho. Agora, venha comigo, vamos descobrir de uma vez o que está acontecendo.
— Professora, talvez não seja bom se precipitar... — Rydia engoliu em seco, tentando disfarçar o nervosismo. — Podemos acabar perdendo os rastros que temos até agora.
Areta riu, descontraída, mas com um brilho sinistro nos olhos.
— Não vamos perder rastro algum. Vamos confrontar o faxineiro, e você aprenderá uma lição valiosa sobre persuasão.
“Ai que merda, estamos lascados...”, a maga de cabelos verdes murmurou consigo, sentindo o frio da tensão escorrer pela espinha.