Volume 3
Capítulo 107: Jurado de Morte
Baan caminhava despreocupadamente pelos corredores da universidade, os olhos analisando os detalhes do lugar com uma expressão leve, como se estivesse observando os derredores do cenário com calma e malícia. O som repentino de passos apressados ecoou ao longe, e ele virou o rosto para ver Cassie correndo em sua direção, chamando-o pelo nome.
— Professor Baandalf! — ela gritou, parando à sua frente, ofegante, mas com um sorriso determinado no rosto.
Ele a observou por um instante e, com um leve levantar de sobrancelhas, lembrou-se dela.
— Você... é a Cassie, não é? Aquela aluna que eu curei a perna — disse ele, relembrando o momento com um tom casual.
Cassie respirou fundo, recuperando o fôlego.
— Sim, eu mesma, professor — respondeu, ainda sorrindo. Em suas mãos, ela segurava uma caixa que chamou a atenção de Baan.
— E essa caixa? — ele perguntou, indicando o objeto.
— Ah, professor, é um presente... uma caixa de bombons. — Cassie sorriu, meio tímida. — Eu queria agradecer por ter me curado. Estou me sentindo ótima! — Ela estendeu a caixa para ele, ansiosa.
Baan pegou o presente com um sorriso leve e gentil.
— Não precisa agradecer — respondeu. Ele deu uma leve batidinha amigável na cabeça dela, transmitindo um afeto quase paternal, acompanhado de um sorriso que revelava um lado mais humano e descontraído de sua personalidade.
Neste instante, a professora Kassandra surgiu no corredor, chamando pela filha.
— Cassie! O que você tá fazendo aí, com o professor Baandalf? — ela perguntou, aproximando-se e lançando um olhar inquisitivo.
Cassie sorriu nervosamente ao vê-la.
— Mãe, eu só vim entregar uma caixa de bombons ao professor Baandalf, para agradecer por ele ter curado minha perna — explicou ela.
Baan arregalou os olhos, surpreso.
— Mãe? Espera aí... vocês são mãe e filha? — Ele olhou de uma para outra, confuso.
— Sim, por que o espanto? — responderam as duas, em uníssono, com a mesma expressão curiosa.
— Ah, desculpa... é que você parece tão jovem, professora, que nunca imaginei que pudesse já ser mãe — disse Baan, coçando a cabeça, desconcertado.
Kassandra levou as mãos às bochechas, o rubor subindo em seu rosto enquanto ela deixava escapar um tom manhoso.
— Não precisa ser tão gentil, professor... você vai me deixar toda vermelhinha desse jeito.
Cassie desviou o olhar para o chão, envergonhada, enquanto Baan, visivelmente tímido, não encontrava palavras para responder.
— Já sei! — Kassandra estalou os dedos como se tivesse tido uma ideia brilhante. — Preciso agradecer adequadamente por ter curado a perna da minha filha. Gostaria de jantar lá em casa hoje?
Baan piscou, surpreso e incerto sobre o que responder.
Cassie, por sua vez, cutucou a mãe com o cotovelo, envergonhada.
— Mãe, deixa de ser oferecida! O que o professor vai pensar?
— Não, não, vocês entenderam errado! — Kassandra gesticulou com as mãos em sinal de negação, tentando esclarecer. — Não se trata de um jantar romântico. É só um jantar de agradecimento... Eu, o professor e você, minha filha. — Ela olhou para Baan e perguntou com um sorriso esperançoso: — Então, o que me diz?
Baan coçou a bochecha, ainda constrangido.
— Eu... não sei... Tenho um compromisso para esta noite — respondeu, notando o semblante de decepção que começava a surgir no rosto da professora. — Mas, Kassandra, podemos deixar o convite em aberto? Vou tentar cancelar o compromisso. Se eu conseguir, faço questão de ir. Prometo que aviso!
Kassandra sorriu, animada.
— Tudo bem, professor! Vou torcer para que você consiga cancelar.
— Mãe, tenha modos! — Cassie suspirou, tentando manter a mãe sob controle. — Desculpa, professor, às vezes minha mãe se empolga demais.
Eles se despediram, e Baan retomou sua caminhada pelos corredores, agora mais atento. Após alguns minutos, chegou a uma pequena sala afastada. Olhando ao redor para verificar se não havia ninguém por perto, entrou.
A sala era um depósito modesto, repleto de materiais de limpeza e algumas latas de tinta. Lá dentro, o restante da guilda o esperava. Rydia, com os braços cruzados, lançou um olhar impaciente em sua direção.
— Tá atrasado, Baan.
— Foi mal... — Ele ergueu as mãos em um gesto de desculpa. — Uma aluna me deu uma caixa de bombons — explicou, exibindo o presente com um sorriso travesso.
— Maldito! — Uji cerrou os punhos e lançou-lhe um olhar reprovador. — Já tá de olho nas alunas... — começou ele, mas Rydia o interrompeu com um cascudo rápido.
— Agora não, Uji. Deixe suas sandices para depois — repreendeu ela, em um tom firme.
Rydia olhou ao redor, aguardando que todos ficassem em silêncio antes de continuar.
— Vamos ao que interessa. Quero que comecem a relatar todas as informações que conseguiram reunir.
Cada membro da guilda começou a compartilhar o que sabia, relatando os detalhes que haviam coletado sobre os professores e outros acontecimentos suspeitos na universidade. Quando todos terminaram, Rydia tomou a dianteira e organizou as informações.
— Certo, vamos organizar as ideias — começou ela, com uma expressão pensativa. — Há uma pessoa, provavelmente um professor, que está se passando por uma entidade de uma lenda urbana... o Poeta Fantasma. Esse indivíduo parece sempre carregar um livro verde e possui habilidades de manipulação de papel. Ele consegue capturar pessoas e utilizar suas aparências e habilidades por meio de clones de papel, que são mais fortes e habilidosos do que os originais e se regeneram quando destruídos.
— E por que esses clones são mais fortes que as pessoas reais? — Joabe, ouvindo isso, acrescentou.
— Meu palpite é que a força dos clones reflete a força do próprio mago por trás deles. Isso sugere que o Poeta Fantasma deve dividir seu poder mágico entre os clones.
Baan relembrou a última batalha.
— Na luta contra ele, Moara conseguiu golpeá-lo facilmente. Talvez ele não seja bom de combate corpo a corpo.
— Duvido disso. — Rydia franziu o cenho. — É mais provável que, enquanto os clones estão ativos, ele fique vulnerável ou com poder mágico reduzido, uma espécie de restrição para contrabalancear sua técnica. Aliás, lembro-me de um detalhe: durante a luta contra Moara, um dos clones, acho que Kenia, demorou mais que o habitual para se regenerar. Por que será?
Os membros da guilda trocaram olhares pensativos, até que Kreik murmurou:
— Talvez ele estivesse testando as habilidades dela.
Todos os olhares se voltaram para ele, e Kreik corou, olhando para o chão.
— Foi mal...
— Não, Kreik, continue. Por que pensou nisso? — Rydia perguntou, interessada.
— Bem... segundo o que Joabe mencionou, logo que capturaram Moara, os clones disseram que tinham concluído seus objetivos. Talvez... as habilidades de Moara fossem o alvo. Talvez cada aluno recrutado tenha uma habilidade que ele considere necessária para um plano maior.
Rydia assentiu, intrigada.
— Faz sentido... Pode ser uma hipótese válida. Além disso, o que me preocupa é que, após o confronto, o Poeta se desfez em folhas de papel e uma mulher saiu de dentro do livro e capturou Moara. Será que o Poeta é apenas um fantoche, e a mulher é a verdadeira vilã? Ou serão duas pessoas agindo em conjunto?
— É difícil saber no momento... Mas e quanto aos professores, o que podemos concluir? — questionou Joabe.
— Sobre a aula de campo... — Baan coçou o queixo, pensativo. — Hazard foi quem entregou a bússola à equipe de Moara. Seria bom investigá-lo. No entanto, quem colocou as coordenadas foi Kassandra, a professora de equipamentos rúnicos. E a professora Seraphine... ela é nova e parece estar sempre na minha cola. Tenho a sensação de que ela me monitora.
— Observando os corredores, percebi que o professor Lemon Doyle anda sempre apressado e com o olhar assustado, como se estivesse escondendo algo. Já o Daaz Goba... bem, ele é excêntrico, mas não tenho suspeitas concretas sobre ele. — Uji se manifestou.
— Nem me fale — comentou Joabe, balançando a cabeça.
Kreik, pensativo, levantou outra questão.
— E quanto às professoras Areta e à reitora Leonora? Elas poderiam estar envolvidas?
— Leonora e Areta são rivais. Seria plausível que uma tentasse derrubar a outra. Mas por enquanto, vamos esquecer delas. Enfrentar uma das duas seria suicídio. Focaremos nos demais professores. Acho melhor cada um investigar um professor específico para ver se encontramos alguma pista — Rydia respondeu com firmeza.
— Acho uma excelente ideia. — Baan comentou, deixando escapar um ar de malícia. — A professora Kassandra me chamou para jantar na casa dela. Acho que seria uma ótima oportunidade para investigá-la mais de perto.
Antes que pudesse dizer mais alguma coisa, Uji, com uma expressão feroz e fúria nos olhos, golpeou Baan com o esfregão na cabeça.
— Aai! Tá maluco, Uji?! — protestou o líder da guilda, esfregando a cabeça dolorida.
— Maluco tá você! — rebateu Uji, indignado. — Nós aqui, lidando com coisas sérias, e você pensando em passar a noite flertando com a professora, seu idiota. Eu é que deveria estar no seu lugar!
— Seu bobo, foi ela que me convidou para um jantar em família! A filha dela vai tá lá! — Baan explicou, ainda coçando a cabeça. — Além disso, não acha que ela é bem mais velha que você?
Uji cerrou o punho, ergueu o olhar e, com uma voz quase poética, declarou:
— Já dizia o velho ditado... panela velha é que faz comida boa!
Rydia, que acompanhava a conversa, deu um tapa na cabeça de Uji.
— Cala a boca, seu idiota! Estamos falando sério aqui, e você só pensa em besteira! — Ela pigarreou, tentando manter a compostura. — Baan, acho uma boa ideia. Investigar a professora diretamente na casa dela nos dá uma chance de observá-la de perto.
— Rydia, você tá mesmo apoiando as malandragens do Baan? Ele só tá pensando em... você sabe, com o devido respeito, traçar a professora!
Rydia suspirou profundamente e, em um movimento rápido, deu um tapa na cara de Uji.
— “Com o devido respeito traçar a professora”? Você não tem modos, Uji! — Ela o encarou, irritada. — Nem todo mundo tem a mente tão poluída quanto a sua. — Ela virou-se para o líder da guilda. — Baan, siga em frente com o plano.
Ele assentiu e Rydia olhou para os restantes membros da guilda e prosseguiu:
— Kreik, você vai investigar a professora Seraphine. Uji, seu alvo é o professor Lemon Doyle. Joabe, você fica com o professor Daaz Goba.
Joabe bufou, cruzando os braços e desviando o olhar.
— Aquele lunático? Por que eu?
— Simples. Se for pego, pode dizer que está lá para se desculpar pela imaturidade da última aula.
— Tsc... — Joabe resmungou, contrariado.
Rydia prosseguiu, com um tom mais sério:
— E eu vou investigar o professor Hazard.
— Ah, eu sabia! — Uji apontou o dedo para ela, com um sorriso malicioso. — Todo esse papo era só porque você queria se aproximar do morenão sarado! Rydia, sua...
Antes que pudesse terminar, Rydia ficou vermelha de raiva e, com um chute certeiro, acertou Uji nas partes íntimas.
— O QUÊ? Me respeite, seu samurai pervertido! Eu sou uma lady! Se disser mais uma palavra, nem que seja um murmúrio, eu juro que atiro aí embaixo! — Ela ameaçou, olhos faiscando.
Baan, que assistia à cena com um sorriso contido, coçou a cabeça, rindo antes de retomar a postura séria.
— Pessoal, agora é pra valer. Esse tal de Poeta Fantasma sequestrou nossa companheira. Podemos brincar entre nós, mas de gente de fora, eu não admito. Peço a todos que não o enfrentem sozinhos. Não podemos perder mais ninguém.
Ele estendeu a mão no centro, e, um a um, os outros colocaram suas mãos sobre a dele. Até Joabe, após muita hesitação, uniu-se ao grupo.
— Vamos fazer de tudo para descobrir a identidade desse desgraçado e resgatar Moara. E quando o encontrarmos, deixem comigo. Eu vou acabar com esse miserável e mandá-lo para o inferno! A partir de agora, a guilda Crossed Bones declara esse Poeta Fantasma como jurado de morte!
Quando estavam saindo, Kreik parou de repente, levando as mãos ao rosto.
— Baan, eu ia me esquecendo! — Ele gritou, chamando a atenção de todos.
— Pra que todo esse alarde, garoto? Só falta ser mais uma notícia ruim!
— Pelo contrário! — Kreik balançou a cabeça, com um sorriso animado. — É uma ótima notícia, é sobre a habilidade do Rufus... e sua maldição.
Todos arregalaram os olhos, atentos ao que Kreik estava prestes a contar.
A cena mudou, e Kreik e Joabe corriam pelos corredores da universidade, à procura de Rufus. Finalmente, o encontraram, junto de Clemencia, Cassie e Donny.
— Rufus! — exclamou Kreik, ofegante. — Preciso que venha com a gente. É um assunto particular.
Clemencia cruzou os braços e lançou um olhar desconfiado.
— Não me diga que vocês vão esconder algo sobre o Poeta Fantasma de novo?
Kreik balançou as mãos, apressado em acalmar as suspeitas.
— Não tem nada a ver com o Poeta Fantasma, eu juro! É sobre o professor Baandalf. Ele pediu nossa ajuda para localizá-lo, disse que é urgente.
Rufus hesitou, olhando de relance para o relógio.
— Mas a aula do professor Lemon Doyle vai começar em poucos minutos...
— Deixa de perder tempo, Rufus. — Sem paciência, Joabe agarrou-o pelo ombro e começou a arrastá-lo pelo corredor. — Se não vier, te faço vir do jeito mais doloroso possível!
Joabe seguiu puxando Rufus, ignorando os olhares chocados dos amigos. Kreik virou-se para eles com um sorriso amarelo.
— Foi mal, pessoal! É que o Joabe tende a ser... direto demais. Voltamos logo, prometo!