Luvas de Ifrit Brasileira

Autor(a): JK Glove


Volume 3

Capítulo 103: O Lobo e o Alquimista

As docas estavam agitadas, o marulhar das ondas sendo quase encoberto pelo vai e vem das pessoas que carregavam caixas, vendiam mercadorias e gritavam umas com as outras. Em meio ao movimento, Baan aproximava-se sorrateiro, movendo-se com passos calculados entre os trabalhadores do local. Seu olhar fixava-se no trio, mais precisamente em Donny, que seguia a direção da bússola, despreocupado com o que acontecia ao redor.

— Ei, rapaz... — murmurou Baan, com a voz rouca e baixa, de modo a não chamar atenção.

Donny relaxou os ombros por um instante e virou-se, mas, antes que percebesse o perigo, sentiu o impacto de um soco direto no estômago. Recuou alguns passos, surpreso, mas, sem se deixar abalar, deu um passo à frente, pronto para revidar.

— É só isso que tem? — retrucou, sorrindo desafiadoramente enquanto lançava um golpe direto no rosto de Baan, que desviou com agilidade, esquivando-se dos ataques.

Aos poucos, a multidão começou a notar a luta. Alguns aplaudiam e assobiavam ao reconhecer os uniformes da Universidade Flamel. Rufus, um pouco mais atrás e visivelmente nervoso, observava o embate, enquanto Kreik se posicionava, avaliando os movimentos de Baan.

 “No combate corpo a corpo, o Baan é muito forte... Preciso ajudar o Donny e impedir que alguém toque em algum civil, ou seremos eliminados”, pensou Kreik, enquanto Baan desviava de mais um golpe de Donny.

— Vem ajudar logo, Kreinald! — gritou Donny, lançando um cruzado que Baan bloqueou com o antebraço.

Kreik, então, usou os impulsos das luvas para se aproximar de Baan, desferindo jabs rápidos e diretos. Baan esboçou um sorriso de canto, inclinando-se para desviar dos socos do mago ruivo.

— Ei, perto de civis não se pode usar magia! — comentou Baan, desviando de um jab e em seguida acertando um soco direto no rosto de Kreik, que coçava a bochecha para aliviar a dor.

Donny surgiu por trás e preparou um soco, enquanto Kreik aproveitou a brecha para dar uma joelhada e disse:

— O professor Hazard falou que não podemos atacar usando magia, mas não falou nada sobre usá-la indiretamente!

Baan girou o corpo de lado, segurando o soco de Donny com uma mão enquanto bloqueava a joelhada de Kreik com o cotovelo.

— Ho-oh, tá ficando safo, garoto... Mas eu ainda sou mais! — provocou Baan, sorrindo maliciosamente.

Com o cotovelo apoiado no joelho de Kreik, Baan inclinou o braço, segurou o colarinho do jovem e aproximou o rosto, desferindo uma cabeçada que fez Kreik recuar. Em seguida, virou-se para Donny e pisou no seu pé, obrigando-o a recuar, pulando de dor. Sem perder tempo, Baan desferiu um chute no queixo de Donny, que caiu no chão.

Kreik recompôs-se, preparando-se para outro golpe, mas Baan, mais rápido, segurou-o pelo rosto e o jogou na direção de alguns operários.

 “Merda! Se eu cair sobre os operários, estou eliminado...”, pensou o mago ruivo.

Com rapidez, ele usou o jato das luvas para se impulsionar, mudando a direção da queda e aterrissando próximo a uma pequena banca de peixes. Enquanto isso, Baan olhou para Rufus e provocou:

— Ei, garoto, vai ficar só olhando seus amigos apanharem? Seja homem e venha.

Rufus tentou manter a postura de guarda, mas seus pés tremiam de medo. Baan o observou e murmurou consigo mesmo: “Sério que ele é filho da professora Areta? Será que não é adotado?”

Kreik então gritou:

— Ei, professor, isso ainda não acabou! Eu ainda posso lutar.

— Isso mesmo! — completou Donny. — O Rufus não precisa lutar, podemos fazer isso por ele e te vencer!

De longe, Kreik ouviu alguém chamando:

— Ei, Mayumi, vem ligeiro ou vamos perder a luta! Tá todo mundo assistindo!

Arregalando os olhos, ele pensou: “Ma-Mayumi?! Será que é ela?”

— Já tô chegando, Ryujiro, um minuto! — respondeu uma voz feminina conhecida, reverberando ao longe.

Alarmado, Kreik se escondeu atrás da banca de peixes, temendo que Mayumi descobrisse seu disfarce. Os dois irmãos Tenentes se juntaram à aglomeração que assistia à luta. Ryujiro inclinou-se na direção da irmã, com um brilho malicioso nos olhos.

— Gostaria tanto de entrar nessa luta... dar um pouco mais de emoção ao combate — sugeriu ele, quase encorajando a irmã a intervir.

— Não se meta em confusão, Ryujiro — respondeu Mayumi com um tom firme, lançando-lhe um olhar de advertência.

— Maninha, você é muito chata...

Enquanto isso, Rufus respirou fundo e, em um movimento rápido, recuou, temendo que Baan pegasse o broche que carregava. Donny aproveitou e avançou novamente contra Baan, mas foi rapidamente desarmado com um chute. Baan então se aproximou de Rufus, que, desesperado, tentava fugir pela borda das docas.

 “Merda! Se eu ficar aqui, Baan pega o broche de Rufus, mas se eu sair, a Mayumi vai descobrir minha identidade... O que eu faço?”, Kreik ponderou, até que notou um tecido cobrindo alguns peixes na banca onde estava escondido.

Num instante, cobriu o rosto com o tecido, concentrou a magia nas luvas e lançou-se na direção de Baan, agarrando-o pelas costas. Ambos caíram na água, gerando um grande respingo, enquanto a multidão vibrava com o espetáculo.

— Bom demais! — alguém gritou. — Esses alunos da Universidade Flamel sabem como lutar!

 “Jatos de fogo das mãos... pera aí... será que é ele?”, Mayumi refletiu, intrigada.

Ela e o irmão correram até a borda, onde viram Baan emergir e sentar-se, impressionado com a perspicácia de Kreik. Mayumi apenas sussurrou para si mesma: “Acho que vi coisas...”

Enquanto isso, Kreik nadou submerso, afastando-se discretamente até se reunir com Rufus e Donny.

— Ei, que movimento louco foi aquele, Kreinald, foi top! Sem ele, teríamos perdido. Mandou bem! — elogiou Donny.

— Valeu, Donny. Foi o que deu pra pensar na hora... Eca, agora tô com gosto de peixe fresco na boca.

— Falando nisso... Por que você colocou aquela toalha na cabeça? — perguntou Rufus.

— Eu meio que vi uma garota conhecida e... não queria que ela me reconhecesse — respondeu Kreik, desconcertado.

— Aaah, entendo. É complicado mesmo dar de cara com a ex, principalmente quando ainda gosta dela. Sei como é... — comentou Donny com um sorriso.

— Ela não é minha ex-namorada, não! — respondeu Kreik, corando.

Rufus riu e brincou:

— Sei como é, Donny. Hahaha! Desde quando?

— Cala a boca, Rufus! Eu já tive várias namoradas! — esbravejou Donny, tímido.

Os três se entreolharam e riram, enquanto seguiam guiados pela bússola em direção ao próximo desafio.

A bússola guiou o trio através das docas, até que chegaram a um antigo navio abandonado. A embarcação rangia sob o peso dos anos, suas madeiras velhas e ferrugem exalando um odor de decadência e mistério. Quando os três entraram, vislumbraram um baú no centro do convés, e lá dentro reluzia a relíquia que tanto cobiçavam. Mas eles não estavam sozinhos. O professor Hazard aguardava-os, sua postura firme e o olhar penetrante transmitindo uma frieza calculista.

— Então... conseguiram chegar até aqui — disse Hazard, a voz gélida. — Mas só passar no teste físico não basta. Precisam mostrar que sabem controlar magia. — Ele ergueu as mãos, que logo começaram a brilhar com uma magia negra intensa.

Donny, tomado pela empolgação, deu um passo à frente.

— É assim que eu gosto! — exclamou, com um sorriso confiante. — Hora de me verem brilhar! Battlewolf (Lobo de Batalha)! — invocou ele, e ao seu lado surgiu sua besta mágica.

Battlewolf é um lobo antropomórfico, com uma aparência musculosa e imponente, com pelagem branca, olhos brilhantes e ameaçadores. Suas mãos são adornadas com luvas de boxe azuis e brancas, e ele tem uma ombreira metálica com espinhos no lado direito. Suas calças jeans estão rasgadas, e um cinto marrom mantém o visual robusto.

 

 

Donny partiu para cima de Hazard, com Battlewolf a seguir em sincronia. Ele tentou acertar um soco no professor, mas, antes do golpe final, girou o corpo e desferiu um soco em Battlewolf, ativando sua habilidade. O lobo lançou um soco poderoso, sua mão se dividindo em cinco que atingiram Hazard em cheio. Dois golpes acertaram as mãos que ele levantara para se defender, enquanto os outros três atingiram seu peito. Hazard apenas recuou alguns passos, absorvendo o impacto.

— Nada mal... — murmurou Hazard, levantando uma sobrancelha com desdém. — Mas vamos ver como lidam com isto.

Ele beijou um anel em sua mão direita e moveu o braço em um arco horizontal, disparando esferas de trevas que explodiam em pequenas rajadas ao redor. Donny e Battlewolf foram atingidos; Donny cambaleou alguns centímetros para trás, enquanto Battlewolf permanecia inabalável e lançou mais um soco. Hazard desviou com um salto ágil.**

Mais uma esfera negra voou em direção a Donny, que ainda se recuperava no chão. O impacto parecia inevitável, mas, num instante, Kreik se lançou pelo ar, os jatos da luva o impulsionando. Com um soco flamejante, dissipou a esfera antes que atingisse Donny. Ele o ajudou a levantar, olhando-o com curiosidade.

— Donny, como funciona exatamente a sua habilidade? — perguntou Kreik, ainda impressionado.

— Sou um conjurador, e o Battlewolf tem uma habilidade especial: quando atingido, ele responde com cinco golpes seguidos ou pode condensar tudo em um só, cinco vezes mais forte! — respondeu Donny, com um sorriso convencido.

— Incrível! — exclamou Kreik.

— Isso não é nada, meu caro... Battlewolf ainda tem ainda um outro truque. — Antes que Donny pudesse explicar, Hazard disparou mais esferas negras. Kreik reagiu rápido, agarrando Donny e saltando para trás para desviar do ataque.

— Rufus, você tem alguma runa aí? — perguntou Donny, enquanto recuperava o fôlego.

— Tenho três! Uma de barreira, uma de gelo e uma elétrica — respondeu Rufus, já se posicionando.

— Ótimo! Fica atrás e espera o momento certo para atacar. Kreik e eu vamos distraí-lo.

Kreik e Donny correram para cima de Hazard, enquanto Rufus aguardava mais atrás. Kreik disparou seus dardos flamejantes, que cortaram o ar em direção ao professor. Hazard conjurou mais esferas de energia, e o impacto levantou uma cortina de energia negra ao redor dos combatentes. Donny avançou por dentro da cortina e desferiu um soco em Battlewolf, que respondeu com um poderoso golpe. Hazard se esquivou novamente, mas Donny pulou, surgindo atrás dele. Quando estava prestes a acertar Hazard, uma esfera negra surgiu na mão do professor e o atingiu.

— Rufus, agora! — gritou Donny.

Rufus arremessou duas facas. Donny agarrou-as no ar, cravando uma na esfera negra, que foi envolta por uma barreira, e lançou a outra direto na mão de Hazard, causando um choque elétrico. Hazard cambaleou, e Kreik aproveitou o momento para, com os jatos da luva, desferir um soco flamejante, jogando-o para longe.

— Tá no papo essa vitória — disse Donny, correndo em direção ao baú da relíquia.

Porém, ao pisar no chão, um símbolo rúnico brilhou, e uma esfera negra emergiu do solo, explodindo e lançando Donny para trás.

— Donny, você está bem? — Kreik correu até ele.

Antes que Donny pudesse responder, várias esferas negras surgiram no céu, caindo em direção aos três. Rufus se posicionou ao lado de Kreik e Donny, com os olhos firmes e decididos.

— Chegou a hora de parar de me esconder e revelar minha habilidade! — declarou Rufus, com um sorriso confiante. Ele concentrou-se e invocou sua besta mágica. — Destrua essas esferas, Alquimista Negro!

Uma figura sombria e misteriosa emergiu das sombras de Rufus. Ela vestia um longo casaco preto e um chapéu pontudo de feiticeiro. No peito do casaco, há um símbolo circular complexo, contendo um emblema alquímico. Ele tem olhos brilhantes e um sorriso sinistro, aumentando ainda mais sua aparência ameaçadora. Ele tinha uma sombra distorica e assustadora que parecia ter vida própria, até que tal sombra gargalhou e se converteu e uma aura sombria e imponente.

 

 

O alquimista negro ergueu uma mão, desintegrando as esferas ao toque, e, com a outra, criou uma lança rúnica que emanava energia sombria.

— Essa é a habilidade da minha besta mágica... — explicou Rufus, ajustando os óculos. — Ela pode desintegrar habilidades mágicas e criar um equipamento rúnico com o mesmo poder mágico.

— Incrível... — murmurou Kreik, fascinado. — Espera... Rufus, na teoria, você seria capaz de eliminar maldições com isso?

— Sim, em teoria... mas depende de eu ter poder mágico suficiente para superar a maldição.

Kreik sorriu, imaginando as possibilidades: “Será que Rufus poderia ser a chave para curar a maldição de Baan?”

Rufus segurou a lança criada e olhou para Donny.

Donny, vamos trocar. Eu tomo a dianteira com o Kreik. Quando for a hora, use o soco indutivo do Battlewolf.

— Você na frente, Rufus? — Donny riu. — Acho que tá doente! Deixa comigo, já entendi o plano.

— Preciso compensar meus erros. Eu tô com medo, admito. Mas não vou deixar que façam o trabalho sozinho. Vamos focar em pegar a relíquia, Kreik, vem comigo! — ordenou Rufus.

Kreik avançou com os jatos da luva, enquanto Rufus seguia logo atrás, manipulando a lança de energia negra para abrir uma brecha na defesa de Hazard. Kreik desferiu seu uppercut ígneo, mas Hazard foi ágil, desviando e imobilizando o jovem pelo braço.

— Você é um dominador... mas não consegue sequer extrair o verdadeiro poder do seu Arcano. Apenas habilidades básicas de fogo? Decepcionante.

Rufus aproveitou o momento e correu em direção ao baú da relíquia. Hazard percebeu a manobra e conjurou uma enorme esfera de energia negra em direção a Rufus. Mesmo hesitante e com medo, ele fechou os olhos e lançou sua lança, colidindo com o ataque e dissipando-o em uma onda de choque. Hazard então jogou Kreik longe e correu em direção a Rufus, que já estava com a mão estendida, próximo a tocar o baú. Hazard era mais rápido e esticou o braço, pronto para interceptá-lo.

Mas, naquele instante, Donny ativou o soco indutivo de Battlewolf, que socou o chão do navio. Três punhos de luz emergiram do solo, acertando Hazard no queixo e interrompendo sua investida.

—Eu disse que Battlewolf tinha um outro truque. — Donny disse com um sorriso confiante. — Battlewolf também pode socar uma estrutura e se o inimigo estiver tocando a mesma estrutura, o soco percorre o trajeto até encontra-lo e atingi-lo, contudo, a cada quatro metros percorridos, diminui a potência de um soco.

Rufus aproveitou a abertura e finalmente tocou o baú. Quando o abriu, encontrou uma mensagem dos professores, que dizia:

— Parabéns, estimados alunos! Ao chegarem até aqui, provaram não apenas sua força física e mágica, mas também sua determinação, estratégia e confiança uns nos outros. O coração ardente capaz de confiar e perdoar é a verdadeira magia que cada um de vocês carrega. Confie em suas habilidades e naqueles que estão ao seu lado, pois é essa união que fará a diferença nas lutas que virão.

Hazard se aproximou com um leve sorriso e começou a bater palmas.

— Parabéns, passaram no teste.

Donny e Rufus comemoraram, trocando um cumprimento animado. Kreik, no entanto, permanecia em silêncio, refletindo sobre as palavras de Hazard. Sua expressão era séria e determinada.

Enquanto saíam do navio, Hazard olhou para o anel em seu dedo, vendo-o rachar e se desintegrar em pó. Sem hesitar, tirou outro do bolso e o beijou, com o olhar distante e misterioso.



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