Luvas de Ifrit Brasileira

Autor(a): JK Glove


Volume 2

Capítulo 84: Cheiro de Sangue

Horas depois da batalha, o General Levi acordou em uma hospedaria, enfaixado e ferido. Um soldado entrou e bateu continência, trazendo notícias.

— General, Carmine Otto e Carmine Osken fugiram. O garoto se transformou em um dragão e voou com o pai no meio de um desfiladeiro durante a nevasca.

General Levi, surpreso e enfurecido, se levantou com dificuldade.

— Um dragão? Não posso acreditar nisso... Soldado, qual é o posto militar da GPA mais próximo?

— Bearfrost, Senhor. O posto militar está sob o comando do Major Guinter — respondeu o soldado.

— Soldado, envie imediatamente uma caixa com runas, equipamentos rúnicos e algemas de oricalco para o posto militar de Bearfrost. Diga ao Major que eles devem capturar, vivos, Carmine Otto e Carmine Osken e entregá-los para mim o mais rápido possível. Lembre-se eu os quero vivos! — gritou o General, sua voz carregada de urgência.

O soldado bateu continência e saiu. Levi colocou a mão no rosto e murmurou para si mesmo, com um tom sombrio.

“Se eu quiser concretizar meus objetivos, preciso capturar aquele garoto antes de qualquer um.”, pensou Levi.

Voltando ao tempo presente, Osken continuou a explicar.

— Depois disso, uma semana depois, fomos capturados pelo Major Guinter. Contudo, os soldados dele realizaram um motim. Fizemos um acordo com o Capitão Nathan. Em troca de nos libertar, nós contamos sobre o motim e o levamos para o local onde eles iriam matar o Major. Chegando lá, o Capitão o salvou, mas foi gravemente ferido. Então, Guinter nos arrastou até a cabana da Erina para salvar o Capitão. Fomos atacados pelos soldados amotinados e, quando a luta acabou, Guinter decidiu montar a guilda Sabertooth.

— Tentamos várias vezes sair da guilda. Queríamos apenas viver nossas vidas em paz e escondidos, mas Guinter constantemente nos ameaçava, afirmando que não iria admitir que saíssemos da guilda — complementou Otto.

— Ele nos obrigou a fazer as maiores atrocidades. Caso recusássemos, ele nos entregaria ao General Levi Burgess... — disse Osken.

Noutro flashback, Bolívar Brock estava em seu luxuoso gabinete, suas roupas finas contrastando com a atmosfera de miséria que ele perpetuava em Passafora. À sua frente, Erina, Guinter e Osken aguardavam as instruções da próxima missão.

— Um grupo de trabalhadores está operando um comércio de venda de frutas sem a minha autorização. Quero que todos eles sejam mortos e o negócio destruído. Não quero concorrentes na minha cidade.

— Parece que teremos uma noite divertida — Erina sussurrou para Osken, com um sorriso sádico.

Mais tarde naquela noite, sob o manto das sombras, o grupo se dirigiu ao local suspeito onde as frutas eram armazenadas. Guinter e Erina destruíram o comércio, suas risadas ecoando na escuridão, enquanto Osken, com o coração pesado, prendia os trabalhadores.

— Bolívar pediu que matássemos todos, não apenas os prendêssemos — Guinter falou, olhando para Osken com frieza.

— Deixe que eu cuide disso — manifestou-se Erina com impaciência.

Guinter recusou, com um olhar de comando.

— Não! Eu ordenei ao Osken fazer isso.

Osken segurou um dos trabalhadores pelo colarinho. O homem clamava por misericórdia, lágrimas escorrendo por seu rosto sujo. Uma foto de sua família caiu no chão – o pobre homem, a esposa e o filho do casal. Osken olhou para a foto, e uma lembrança dolorosa de sua própria família invadiu sua mente. Ele viu Arila, Otto e a si mesmo, felizes antes da tormenta. Sentindo-se um monstro, ele recuou, incapaz de continuar.

Guinter colocou a mão no ombro de Osken, em tom ameaçador.

— Não me desobedeça, Osken. Ou você e seu filho serão entregues à GPA.

— Desculpem... Desculpem-me... — murmurava Osken, chorando, enquanto desferia socos contra os trabalhadores.

Os socos ecoavam na noite, cada um carregado de culpa e desespero. Quando o trabalho estava feito, Osken retornou para casa. Otto correu para abraçá-lo, mas ele se afastou rapidamente. Osken evitou o olhar do filho.

— Preciso ir ao banheiro, rapidinho.

Dentro do banheiro, ele lavou as mãos sujas de sangue, as lágrimas misturando-se com a água. Ele esfregava com força, mas o cheiro de sangue não saía. Osken sussurrou para si mesmo, as palavras carregadas de dor.

— Agora eu entendo o que Arila passou... Não importa o quanto eu lave, o cheiro do sangue não sai...

Do lado de fora da porta, Otto ouvia as lamentações de seu pai, seu pequeno coração apertando-se em dor.

Dias depois, um trabalhador desavisado, apressado nos corredores da fábrica, dobrou a esquina e esbarrou em Bolívar Brock. Ele se ajoelhou imediatamente, tremendo de medo.

— Me desculpe, senhor. Foi um acidente... — suplicava o homem.

— Tá tudo bem. Não se preocupe — Bolívar Brock respondeu com um sorriso falso e condescendente.

No final do expediente, o trabalhador foi chamado ao gabinete de Bolívar. Lá, ele encontrou o empresário, Osken e Guinter esperando. A expressão de Bolívar mudou para uma de frieza.

— Como ousa esbarrar em mim? Você merece ser punido! — Bolívar gritava, chutando o homem e cuspindo nele. — Mate-o! — complementou Bolívar depois de extravasar toda a raiva.

Guinter olhou para Osken, demonstrando que ele deveria fazer isso. No entanto, este, com pesar do homem, argumentou:

— Senhor Bolívar, está realmente falando sério em matar esse pobre homem por um motivo tão fútil? Ele já sofreu o bastante.

Bolívar, com uma expressão de ira, deu um tapa na cara de Osken.

— Quem você pensa que é? Faça o que lhe mandam! — Bolívar Brock gritou.

Guinter, que estava de braços cruzados, apertou as mãos contra os músculos, com um olhar de desprezo e ira pelo empresário.

— Bolívar, não lhe dei autorização para bater em alguém da minha guilda. Espero que não se repita. Ou teremos que mudar os termos do nosso acordo.

— De-desculpa, Mestre Guinter. Foi leviano da minha parte. — falou o empresário, tremendo de medo. — Agora que lembrei que tenho outros afazeres, por favor, matem esse homem e lhes darei um pequeno bônus pelos serviços. Até mais — saiu o empresário da sala, nervoso.

— Em outra situação, eu teria matado esse balofo com um único golpe. Só que dessa vez você mereceu o tapa, Osken. Agora, faça o que ele diz. Ou espere que o próximo tapa virá de mim — disse Guinter, irritado.

Com lágrimas nos olhos, Osken pediu desculpas e cumpriu a ordem. Quando Guinter saiu da sala, Osken caiu de joelhos, seu corpo tremendo em desespero.

Osken sussurrando para si mesmo, em desespero.

— Eu me tornei um monstro... Tudo que queria era viver em paz com meu filho...

Dias depois, Guinter ordenou a Otto que se aproximasse dos filhos de Joe Otogi e extraísse informações sobre suas atividades. Otto, embora relutante, obedeceu. Depois de alguns trabalhos espionando a família Otogi, naquela noite, Otto e Osken estavam sentados debaixo de uma árvore, no gramado da mansão de Bolívar, olhando para a lua solitária no céu. Otto, com lágrimas nos olhos, falou com seu pai.

— Papai, eu não quero mais viver assim. Joshua e Javier são boas pessoas... Eu não mereço a amizade deles, sou uma pessoa má...

— Não somos maus, meu filho. Apenas buscamos sobreviver. Sinto muito por ser fraco e não poder protegê-lo como sua mãe faria... — respondeu Osken, abraçando o filho, tentando confortá-lo.

— Sinto falta da mamãe, mas estou feliz em tê-lo aqui. Você me dá forças para continuar...

Guinter, saindo da mansão, aproximou-se dos dois.

— Creio que já saibam do Decreto Imperial que obtivemos do nosso alvo. Bolívar está louco porque recebeu uma carta informando que a comitiva real está vindo, incluindo o rei, a princesa Mirajane e os três grandes nobres. Meu instinto está me dizendo que algo estranho está acontecendo. Preparem-se. Quero informações completas dessa vez.

Osken rapidamente se levantou e se espreguiçaou, fingindo despreocupação.

— Como quiser, líder.

Guinter, com um olhar severo, acrescentou:

— Uma última coisa antes de irem. Preparem mais ampolas. As últimas já passaram da validade. Não quero que nenhum de nós morra por engano, caso tenhamos que lutar.

Voltando ao tempo presente, Osken, sentado em um canto da pequena cabana, segurava sua cabeça com as mãos, os olhos perdidos em pensamentos sombrios. Ao seu lado, Otto estava cabisbaixo, o brilho usual de esperança em seus olhos quase apagado. Kreik e Joabe, seus novos aliados, estavam atentos, escutando cada palavra da história de Osken sobre sua vida sob o jugo de Guinter e a tirania de Bolívar Brock.

— Entendam, eu e Otto nunca quisemos fazer mal a ninguém. Nosso único objetivo era garantir uma vida tranquila para ele, longe de toda essa crueldade — falou Osken com a voz pesada e cansada.

— Papai... Eu sei que você só queria me proteger. Mas eu também não aguento mais de viver assim... — murmurou Otto, com um nó na garganta.

Os olhos de Kreik encheram-se de lágrimas. O jovem guerreiro, geralmente tão destemido, sentia o peso da dor e do desespero de Osken e Otto como se fosse sua própria.

— Vocês podem contar comigo. Eu prometo que não vou deixar Guinter continuar ameaçando vocês. Eu... — ele hesita tentando conter as lágrimas, mas depois declara com firmeza — Eu vou proteger Otto, não importa o que aconteça!

— Mas é impossível derrotar Guinter. Ele é forte demais. Vocês devem fugir antes que seja tarde demais... — retrucou Otto.

— Não, Otto! Não vou desistir. Vou lutar até o fim e tirar vocês das garras de Guinter — Kreik falou, sua determinação transparecendo em seus olhos.

Osken olhou para Kreik, seus olhos cheios de curiosidade e uma sombra de esperança.

— Por que você arriscaria sua vida por pessoas que acabou de conhecer?

Kreik suspirou, seus olhos refletiam seu passado triste.

— Eu tive uma vida solitária. Meu avô e minha mãe morreram, e meu pai... ele me abandonou. Mas aprendi uma coisa importante. — Kreik olhou para Joabe com um sorriso esperançoso. — quando você encontra um amigo verdadeiro, você nunca deve abandoná-lo. — O jovem ruivo virou-se novamente para pai e filho, seu olhar acolhedor e ingênuo, constratando com sua voz séria. — Eu vejo vocês como meus amigos, Osken e Otto. Mesmo que tenha que morrer tentando, eu vou libertá-los desse destino!

Joabe, que até então estava em silêncio, levantou-se abruptamente, um olhar de desconforto em seu rosto, tentando disfarçar a emoção:

— Já chega desse papo de poder da amizade, tá me dando náuseas...

Mas então, sua expressão endureceu enquanto lembranças do passado passavam por sua mente. Ele olhou para Osken e Otto, sua voz agora mais suave e carregada de emoção e um olhar triste, como se memórias de sua família reavivassem na sua mente:

— Eu também vou ajudá-los. Otto, a sua mãe, Arila... ela era uma mulher forte, não por causa dos seus poderes mágicos, mas porque ela te amava com todas as forças. Pode ter certeza, não há nada tão poderoso como o amor de uma mãe por seu filho.

Osken e Otto ficaram emocionados. As lágrimas começaram a rolar pelo rosto do garoto, enquanto Osken apertava a mão de Kreik e Joabe, um sinal silencioso de agradecimento e esperança renovada.

De repente, um estrondo ensurdecedor encheu o ar, e a parede da prefeitura foi despedaçada com uma força brutal. Os quatro ficaram paralisados, os olhos arregalados de horror, quando a figura imponente de Guinter emergiu das sombras em sua forma híbrida de leão.

Sua presença era avassaladora; cada músculo de seu corpo parecia pulsar com poder primal. Ele passou a língua entre os dentes afiados, como um predador faminto contemplando sua presa. Guinter olhou para os quatro com um sorriso predatório, revelando seus dentes afiados.

— Ah, finalmente encontrei minhas presas...

— Como você nos encontrou? — Osken perguntou, assustado.

— Eu tenho um bom faro. — Guinter apontou para o focinho, seu sorriso se alargando ainda mais. — Grarrarra!

Ele cheirou o ar ao redor, como se saboreasse o cheiro de medo, e com um sorriso macabro, falou:

— Vocês todos vão virar comida de leão, minhas saborosas gazelas.

— Guinter, você já causou sofrimento demais às pessoas desta cidade e aos próprios membros da sua guilda. Juntos, vamos te derrotar! — esbravejou Kreik, seus olhos fixos em Guinter.

Osken, determinado, colocando-se à frente de Otto.

— Eu protegerei meu filho, custe o que custar!

— Então venham! — Guinter esboçou um sorriso selvagem. — Vamos ver quanto tempo vocês conseguem sobreviver!

Osken, Otto, Joabe e Kreik se posicionaram, seus corpos tensos, prontos para a batalha que estava por vir. A tensão era palpável, e cada um deles sabia que a luta contra Guinter, o temível líder da guilda Sabertooth, seria a mais difícil de suas vidas. Os sonhos pela liberdade, sobrevivência e redenção estavam prestes a colidir em um terrível e sangrento combate.



Comentários