Volume 2
Capítulo 83: Preparando o Barco
A tontura sentida pelo General foi a abertura que Arila pediu. Com um esforço colossal, ela reuniu suas forças e cravou as garras envenenadas na barriga de Levi, arrancando um grito de dor. A maga venenosa esboçou um sorriso astuto enquanto fixava os olhos no seu inimigo. Sua expressão denunciava sua inteligência e deixava claro que havia uma maneira de superar o poder de seu oponente.
— Cuidado com o que respira, General — disse Arila, com a voz doce e venenosa. — Você achou que eu estava ofegante de cansaço? Na verdade, eu estava liberando um gás venenoso, em baixa concentração, que se misturou ao ar. Você o inalou sem perceber, e agora ele já está profundamente alojado em seus pulmões. Não foi imediato, é claro. Precisou de tempo e quantidade suficiente para os efeitos pudessem vir à tona.
Levi olhou para Arila com surpresa, o mundo girando ao seu redor. Ele tentava criar uma pressão gravitacional contra a sua oponente, mas errava o alvo, atingindo locais erráticos.
— O que... o que esse veneno faz? — arfou o General, atordoado pela armadilha inesperada.
— Desestabiliza seu equilíbrio, General. — Arila avançou, cada passo mais confiante enquanto Levi lutava para se manter de pé. — Agora você não pode me acertar, não importa o quanto tente. Seus adoráveis campos gravitacionais não me tocam. Você se tornou um caçador sem mira. De que adianta se gabar que é um arquiteto de sei lá o que, se a sua casa vai ruir agora?
Com um movimento rápido, Arila golpeou o peito do General com suas garras.
— Paralyze Claws (Garras Paralisantes)! — exclamou, enquanto uma energia se espalhava pelas veias de Levi. — O veneno em seus pulmões estava perto de dissipar, por isso injeteie esse novo, mas ele não é como o anterior. Ele paralisa seus músculos, fazendo-o ficar temporariamente imóvel. — Arila cerrou os punhos, seu olhar brilhava com determinação e fúria. — Você agora é minha presa, General. Morra, e nunca mais ameace minha família!
Levi tentou reagir, mas seu corpo não obedeceu. Arila não perdeu tempo. Com as garras agora exalando ácido, ela lançou uma série de ataques implacáveis, corroendo a carne do General. Porém, antes de sofrer o golpe final, Levi balançou o braço, tocando sutilmente na coxa da maga e a repeliu com uma última onda de força.
Arila cambaleou para trás, olhos arregalados em choque.
— Como você... ainda consegue se mover? Você deveria estar paralisado! — exclamou ela, perplexa e irritada.
— Aumentei a gravidade dentro do meu corpo, acelerando o fluxo sanguíneo. — A voz do General Levi soou fria e calculada, enquanto ele apontava para o chão, demonstrando uma grande quantidade de sangue espraiada pelo chão. — Isso ajudou a expelir parte do veneno, permitindo que eu recuperasse algum controle. Arila, eu admito... te subestimei. Mas agora, veja o verdadeiro poder de um ARQUITETO DIVINO.
Levi, seus músculos tensos pelo esforço, levantou-se com dificuldade, juntando suas mãos quase como uma pose de oração e murmurou:
— Atlas Dome (Domo de Atlas)!
De repente, um brilho intenso irrompeu de um símbolo rúnico marcado na coxa de Arila. Um puxão invisível a arrancou do chão, fazendo-a flutuar contra sua vontade.
— Isso... isso é impossível! — exclamou Arila, luta para se libertar, o pânico estampado em seus olhos. “Espera aí, quando ele balançou o braço me repelindo, sua mão acabou tocando a minha coxa... Eu pensei que fosse apenas um movimento sútil, mas seu objetivo sempre foi inserir esse símbolo rúnico em mim. Merda! Como fui ingênua”, pensou a maga em seguida, mordendo os lábios, irresignada.
— Nada é impossível quando se compreendem as forças fundamentais do universo. — Levi a encarava com um sorriso calculado, os olhos brilhando com superioridade. — Você está apenas começando a sentir o peso da gravidade.
O General tocou o chão mais uma vez, e um símbolo rúnico incandescente tomou forma sob seus pés. O solo ao redor tremeu, enquanto massas de terra se erguiam e se comprimiam em direção a Arila. A maga, com as garras ainda gotejando ácido, quebrava os blocos que vinham em sua direção, mas eles continuavam a se unir, cada vez mais rápidos, prendendo-a completamente em uma esfera de terra.
Levi entrelaçou os dedos das mãos e os apertou com força, e a esfera de terra começou a comprimir, esmagando Arila em seu interior. O grito dela ecoou, enquanto ela tentava desesperadamente conter a pressão crescente, todavia, o ácido emanado de suas garras já não mais parecia ser capaz de lhe defender.
— Não vou deixar você me esmagar! Venom Aura (Aura Venenosa)! — rugiu Arila, sua voz investida de fúria e determinação.
De repente, garras gigantes fizeram de ácido emergiram da esfera de terra, e a estrutura explodiu, espalhando detritos e ácido por toda parte. No centro, Arila estava envolta em uma imponente aura venenosa em forma de dragão, rugindo como uma fera indomável.
— O que é isso? — Levi arregalou os olhos, passando um calafrio percorrendo sua espinha.
Arila gritou como uma fera raivosa. O General ficou impressionado e apreensivo ao ver aquela técnica, as gotas de suor percorrendo sua testa denunciavam seu nervosivo. Arila estava agora envolta pela majestosa aura dracônica, que imitava seus movimentos com precisão mortal. Cada soco que ela desferia era replicado pela fera venenosa, que avançava implacável.
Para se defender, o General criou um campo gravitacional ao seu redor para que os golpes não lhe atingissem. No entanto, a cada golpe, a força de Arila aumentava, e socos se aproximavam, inclusive, gotas de ácido começavam a atravessar o campo gravitacional do General, queimando sua pele.
— Você não pode me parar! — gritou Arila, triunfante.
— Essa pressão... é insuportável. — Levi percebeu o campo gravitacional começar a ceder sob o imenso poder da maga. — Não vai resistir por muito tempo...
Em um último esforço, Levi balançou os dedos da mão esquerda e, com sua técnica Atlas Leap, aplicou força gravitacional sobre si mesmo, impulsionando-se para longe em alta velocidade, desviando por um triz de um golpe devastador de Arila.
— Eu... não posso ser derrotado aqui. Tenho que acabar com todos os Svaarz... — murmurou ele, enquanto evitava os ataques ferozes da maga venenosa, impulsionando-se continuamente com Atlas Leap para escapar, a cada evasiva ele tocava suavemente o chão.
Arila, porém, já começava a sentir seu poder mágico se exaurir. Determinada a pôr um ponto final naquela luta, ela colocou uma mão sobre a outra, em uma pose que simulava uma mandíbula de dragão com os dedos.
“Tudo o que eu queria era viver em paz com minha família. Mas sempre surge um demônio atrás do outro para me atacar. Já cansei disso, vou mostrar o que acontece com aqueles que tentam atacar minha família”, murmurou a maga consigo. — Deluge Acid (Dilúvio Ácido)! — rugiu ela, com toda a sua força restante.
A aura venenosa em forma de dragão abriu a sua boca colossal, disparando uma verdadeira torrente de ácido destruidora. A rajada consumiu tudo ao seu caminho, sem distinção: árvores, neve, pequenos animais e até a própria terra, tudo que passasse pelo caminho desse poderoso ataque se dissolvia, corroendo-se quase que automaticamente.
Em contrapartida, o General Levi, com uma determinação voraz, criou um campo gravitacional com ambas as mãos, repelindo grande parte do ácido. Quando o ataque terminou, ele caiu de joelhos, gravemente ferido, sua pele marcada por diversas queimaduras.
Arila, ainda envolta pela aura dracônica, avançou com passos firmes. Sua respiração estava pesada, mas sua voz carregava uma certeza inabalável:
— Acabou, General... Você tá acabado.
— Tem certeza? — retrucou Levi que, mesmo debilitado, encontrou forças para sorrir desafiadoramente.
As palavras dele, investidas de uma confiança sombria, ecoaram pelo campo de batalha até chegarem na mente de Arila, que sentiu um lapso de incerteza de sua vitória.
“Ele tá blefando com esse sorrisinho arrogante, não tem como ele me vencer nesse estado. Impossível”, refletiu rapidamente Arila, até que uma sombra gigantesca apareceu no chão.
Arila olhou para cima e viu quatro enormes pedras flutuando. Levi balançou a mão para baixo, e uma das pedras caiu. A aura de dragão de Arila lutava para segurar a primeira pedra, ajoelhando-se sob o peso imenso.
— Você não percebeu, mas cada vez que eu usava meu Atlas Leap e tocava o chão, criava pequenos campos gravitacionais. Foi assim que consegui erguer essas rochas. — O General gargalhou, a confiança evidente em seu rosto exausto. — Hora de morrer, Carmine Arila. Graviga Burst (Explosão Graviga)!
As três pedras subiram até a estratosfera e, concomitantemente ao balançar do braço do General, caíram com uma velocidade tremenda, acelerando mais e mais até colidirem com Arila, gerando uma explosão colossal. Em seguida, flocos de neve começaram a cair suavemente ao redor do General, que observava a destruição com um olhar frio.
Quando a poeira da explosão se assentou, Arila emergiu, sem um braço e sem um olho, mas ainda viva. Ela correu desesperadamente, clamando por Otto e Osken, deixando um rastro de sangue e lágrimas por onde passava.
— Otto! Osken! Esperem por mim! — gritava Arila incessantemente, o desespero e a vontade de ter uma vida em paz com sua família era o combustível que a fazia continuar a correr como se não sentisse dor.
Levi a observou correndo de longe, segurou sua foice com a precisão de um caçador e observou a fuga desesperada de Arila, com um rosto esboçando um desprezo profundo.
— Sua descendente dos Svaarz. Você não pode escapar de mim. É inútil...
Arila, corria com todas as suas forças, o sangue jorrando de suas feridas, até que ela tropeçou e caiu em um pequeno barranco, rolando até chegar a um lago congelado. Ela tentou se levantar em vão, seu corpo estava sem forças, a única coisa que ela conseguia era clamar por sua família.
— Osken... Otto... Mamãe tá chegando... — sussurrava a maga, com a voz fraca, quase inaudível, as lágrimas caindo, que congelavam em meio ao frio intenso da região.
Ela reuniou forças para erguer o tronco e olhar para o céu, quase como se clamasse a Deus por um milagre. No entanto, usando sua técnica Atlas Leap, o General apareceu subitamente atrás dela com um salto em alta velocidade, cortando suas costas com a foice. Ela cuspiu sangue e caiu sobre o lago congelado, que rachava lentamente em meio seus gritos agonizantes de dor.
Levi, que tinha uma expressão de cansaço misturada com determinação, Caminhando lentamente em direção a Arila, cada passo firamente calculado para que o gelo não rachasse.
— Você me deu mais trabalho do que eu esperava. Era queria te levar viva... mas, mesmo morta, seu corpo ainda será útil para nós.
— Eu... eu nunca mais serei uma cobaia... nem mesmo morta... — retrucou Arila, com suas últimas forças, falando através da dor.
Com um último suspiro de resistência, Arila cuspiu um bafo venenoso na direção de Levi, que saltou para trás rapidamente. Com o impacto do movimento do General, a camada de gelo do lago não resistiu e quebrou, fazendo Arila cair na água.
Em um ato final, ela fincou a garra dracônica do seu braço restante no seu corpo e começou a liberar ácido, dissolvendo seu próprio corpo, enquanto afundava.
Tentando manter o controle, Levi balançou as mãos para impedir a perda do corpo de Arila.
— Não seja tola, Arila. Eu posso te tirar daí com meus poderes gravitacionais...
O General interrompeu sua fala ao ver escamas de dragão nas suas pernas.
“Maldita! O bafo venenoso foi apenas uma distração... Ela aproveitou a cortina de gás gerada pelo ataque de sua boca e lançou sorrateiramente essas escamas venenosas.”, refletiu o General.
O veneno de Arila passou a produzir seus efeitos e, em resposta, Levi passou a sentir náuseas e febre, impedindo-o de usar seus poderes e fazendo-o cair inconsciente.
Arila, afundando lentamente no lago, sentindo seu corpo se dissolver, pensava em seus últimos momentos: “Dizem que, quando estamos prestes a morrer, vemos toda a nossa vida passando diante dos nossos olhos... — Um breve sorriso se formou em seus lábios. — Obrigada, Osken, meu marido, e Otto, meu filho, porque tudo o que vem à minha mente são os bons momentos que tivemos juntos. Um dia, iremos nos reencontrar, e pescaremos juntos novamente, como você sempre gostou, meu filho. Até lá, eu irei na frente preparar o barco. Osken e Otto, cuidem-se... Eu continuo a amá-los... eternamente”
Arila desapareceu nas profundezas do lago, seu corpo totalmente dissolvido em seu próprio ácido, escapando para sempre de ser uma cobaia da GPA.
Enquanto Arila se despedia de sua família, Osken e Otto estavam em sua própria luta pela sobrevivência. Correndo desesperadamente dos soldados do General Levi, eles se viram encurralados em um desfiladeiro.
— Otto, corra! Eu vou segurá-los! — o pai do garoto falou com uma expressão resoluta, preparado para lutar.
O menino agarrou o braço de seu pai, com lágrimas nos olhos.
— Papai, você não pode vencê-los sozinho... Eu tenho uma outra ideia!
Antes que Osken pudesse reagir, Otto pulou do desfiladeiro. Em um ato de desespero, Osken pulou atrás dele, segurando-o no ar. Subitamente, Otto se transformou em um dragão, suas garras segurando o pai firmemente enquanto voavam em meio à nevasca.
Os soldados do General Levi observaram, atônitos, enquanto pai e filho escapavam pelo céu nevado. Eles voaram até que Otto, exausto, pousou com segurança no chão.
— Mamãe... Papai, cadê ela? Ela... — Otto chorava copiosamente. — Mamãe! Papai, traga a mamãe!
Osken abraçou o garoto, tentando consolá-lo. O pai, com lágrimas nos olhos, sussurrava enquanto segurava o filho.
— Desculpe, meu filho... Desculpe, Arila... Eu fui fraco...