Luvas de Ifrit Brasileira

Autor(a): JK Glove


Volume 2

Capítulo 78: Ser Como Uma Estrela

Arila foi apresentada aos aldeões pela senhora Babacoco. Todos ficaram impressionados com seu jeito e habilidades. Arila era uma mulher forte e independente, sem fraquezas aparentes. A anciã dizia que ela era forte como um tigre, mas graciosa como uma garça.

Os dias se passaram e os homens do vilarejo passaram a admirar a maga, já as mulheres diziam não gostar do jeito dela, contudo era apenas cíumes da atenção que ela recebia. Embora todos a tratassem bem e demonstrassem respeito a sua pessoa, ela considerava apenas Babacoco como uma pessoa confidente, da qual ela podia confiar e revelar sobre seu passado.

Todas as manhãs, bem cedo, ela saía da casa de Babacoco para treinar, e Osken ficava esperando, sempre debaixo da mesma árvore, e a seguia, assistindo ao seu treinamento. Ela achava irritante a presença do pescador, mas não perdia tempo o repelindo; pelo contrário, ela o deixava assistir e simplesmente não dava atenção aos seus eventuais cortejos.

As habilidades de Arila a fizeram ingressar nos grupos de defesa e caça de animais da vila. Não havia uma única pessoa que fosse capaz de fazer frente à mulher. Osken, querendo se aproximar da maga, deixou de ser pescador e ingressou nos mesmos grupos. Além disso, ele passou a treinar magia escondido, utilizando as técnicas que via Arila se capacitar.

Uma noite tranquila caía sobre o vilarejo. Arila, sem conseguir dormir, caminhava distraída pelas ruas do vilarejo, perdida em pensamentos. As sombras das árvores ao redor dançavam sob a luz da lua cheia, mas algo a fez parar. De repente, fortes feixes de luz vinham do alto de um penhasco na floresta próxima. Curiosa, ela seguiu os rastros luminosos até o local, onde avistou Osken, sozinho, treinando de forma intensa. Escondida entre as árvores, ela observou seus movimentos..

Por alguns minutos, Arila ficou ali, de braços cruzados, analisando cada golpe de Osken. Seus olhos afiavam a cada movimento errado que ele fazia, até que, não conseguindo mais conter-se, saiu das sombras.

— Seus movimentos estão muito travados, Osken. Você precisa ser mais fluido, como um rio.

Osken, completamente absorvido em seu treino, saltou para trás, soltando um grito sufocado enquanto quase caía no chão. Seu coração disparou.

— AAAAAAH?! Arila?! — Ele instintivamente levou a mão ao peito, respirando fundo, tentando se recompor do susto. — Pelo amor dos céus, quer me matar de susto assim do nada?

— Eu vim te dar um conselho e assim que me retribui. Idiota! — Arila virou o rosto, levemente corada, os braços ainda cruzados com firmeza.

. — Ah... foi mal! — Osken coçou a nuca, com uma expressão meio envergonhada e ao mesmo tempo divertida. — Só não esperava ver você aqui, no meio da floresta, no meio da noite... — Um sorriso desajeitado brotou em seu rosto, mas logo os olhos dele brilharam com uma ideia súbita. — Arila! Já que você tá aqui... me ajuda a treinar! Só por hoje! Por favor! — Sem pensar duas vezes, ele segurou as mãos dela com suas próprias, aproximando-as, como se estivesse suplicando. Seus olhos imploravam por um sim.

Arila sentiu o calor subir em seu rosto, e rapidamente puxou as mãos de volta, quase como um reflexo.

— Q-que coisa... Você é realmente impossível. — Ela desviou o olhar, ainda levemente corada, mas sem conseguir disfarçar um sorriso de canto. Osken se encolheu, percebendo que havia exagerado em sua empolgação, o que só fez o constrangimento dele aumentar.

Após um breve silêncio, Arila suspirou, jogando a cabeça levemente para trás, como se estivesse aceitando algo inevitável.

— Tá bom, tá bom... Vou te ajudar. Mas só porque eu não consigo dormir e... bom... não tenho nada melhor pra fazer — Ela olhou para ele de soslaio, ainda tentando manter uma postura indiferente. — Mas é só por esta noite, entendido?

Osken arregalou os olhos de pura alegria, incapaz de conter a euforia.

 

— Sério?! Maravilha!! — gritou ele, levantando os braços para o céu, como se tivesse acabado de ganhar uma grande batalha.

— Como sempre, espalhafatoso... — disse ela com um breve sorriso, apreciando a pureza daquela reação. — Mas vamos lá, já que você me arrastou até aqui. Me ataque. Vou te mostrar como realmente se faz.

Osken saltou para trás, empolgado, flexionando os joelhos e entrando em posição de ataque, mas sem perder a risada boba estampada no rosto.

— Beleza! Não vou pegar leve! — declarou ele com determinação, ainda que a excitação infantil em sua voz fosse impossível de esconder.

— Eu conto com isso — Arila murmurou, seus olhos afiados se fixando no pescador. — Venha!

Eles começaram uma luta. Osken desferia socos de luz, enquanto Arila desviava com passos fluidos e leves, como se estivesse dançando. Ela se movia com graça, esquivando-se e atacando Osken com precisão.

— Você precisa antecipar os movimentos do oponente — Arila aconselhou, enquanto desviava de mais um ataque de Osken.

Osken, determinado a mostrar seu progresso, lançou uma flashbang (granada de luz). Ela esquivou-se facilmente, deslizando para o lado com uma elegância natural. Em um movimento rápido, ela se aproximou e desferiu um chute na lateral de Osken, fazendo-o cambalear.

— Concentre-se! — ela gritou, enquanto Osken tentava recuperar o equilíbrio.

Ele balançou a cabeça, tentando manter o foco. Com um grito de determinação, lançou uma sequência de granadas de luz. Arila continuou a desviar de cada uma das granadas com facilidade, seus movimentos eram como uma dança, fluidos e precisos. Ela chutou uma pedra do chão, lançando-a na direção de Osken, este usuou sua técnica White Glow, quebrando-a com o seu soco luz, contudo com um rodopio, Arila se aproximou e, com um golpe de palma, acertou o peito de Osken, derrubando-o no chão.

— Seus ataques são parecem um amontoado de golpes aletatórios, não tem coordenação ou estratégia — ela disse, com frieza.

Osken levantou-se rapidamente, não querendo desistir. Ele concentrou sua energia, lançando seis flashbangs de uma vez. Lançou-a com todas as suas forças em direção a Arila. Ela, no entanto, não mostrou nenhum sinal de preocupação. Com um salto acrobático, desviou das granadas e, ainda no ar, lançou uma pequena rajada de ácido em Osken, que foi forçado a saltar para trás. Assim que tocou os pés no chão, Arila utilizou um impulso fervoroso, desaperecendo e reaparecendo na frente de Osken, como um borrão. Em seguida, ela acertou um soco no estômago do mago de luz, fazendo-o cair de joelhos.

— É só isso, Pescador? — Arila provocou, com uma mão na cintura, olhando para o mago de luz ainda ajoelhado.

— Eu ainda tenho um truque — disse Osken com um sorriso malicioso.

Arila sente algo batendo suavemente em seu pé, ela olha para o chão e vê uma granada de luz. A granada explode, mas Arila consegue saltar antes de levar o dano. Em seguida, ela sorri e faz um sinal com a mão, provocando Osken a atacar. Osken, cansado mas determinado, tentou uma última investida. Ele correu em direção a Arila, tentando vencê-la com um golpe corpo a corpo. Ela, porém, era mais rápida. Com um movimento suave, desviou do soco e agarrou o braço de Osken, usando sua própria força contra ele. Em um piscar de olhos, ela o lançou no chão, imobilizando-o, montando guarda em cima dele e prendendo os seus braços.

— Você é teimoso — disse Arila, olhando diretamente nos olhos de Osken.

Osken, apesar da dor, mal conseguia se concentrar em outra coisa que não fosse a beleza de Arila, iluminada pela luz suave da lua. A proximidade inesperada fez seu coração disparar e, por um momento, esqueceu-se completamente do propósito da luta.

Arila percebeu a mudança no olhar dele. Seu rosto ficou ligeiramente desconcertado, e, antes que a situação se tornasse ainda mais embaraçosa, soltou-o rapidamente, levantando-se de um pulo.

— Acho melhor pararmos por aqui — disse ela, dando alguns passos para trás, sem encará-lo diretamente.

— Concordo — respondeu Osken, ainda deitado no chão, meio atordoado, tentando controlar sua respiração. Ele olhou em volta, procurando algo para quebrar a tensão. — Quer... um pouco de água? — perguntou, tentando disfarçar a timidez enquanto estendia o cantil que estava próximo de uma árvore.

Ele se sentou na grama, agora de frente para Arila, que hesitou por um instante antes de aceitar o cantil. Ela bebeu a água rapidamente, quase como se quisesse desviar o foco da conversa anterior. Quando devolveu o cantil, seu olhar parecia um pouco mais calmo, mas a barreira emocional ainda estava evidente.

— O que você acha da minha força? — Osken perguntou, ansioso pela resposta, seu rosto ainda corado pelo constrangimento anterior.

— Você ainda é fraco — respondeu Arila, sem rodeios. — Mas está mais forte do que quando nos conhecemos. — Havia um toque de sinceridade nas palavras dela, algo que Osken apreciou.

Ele sorriu e, desviando o olhar para o céu estrelado, comentou, como quem pensava alto:

— Estou pensando em dar um próximo passo... Vou avançar nas minhas técnicas e me tornar um elementalista de segundo grau. Mas estou indeciso sobre qual atributo adicionar.

— Essa é uma escolha difícil para um elementalista — Arila comentou. — Se eu fosse você, escolheria um atributo que me permitisse criar um sub-elemento com o qual eu me sentisse mais conectada.

Osken, ainda olhando para o céu, revelou:

— Minha maior conexão é com as estrelas. Eu amo vê-las brilhando e reluzindo no céu escuro.

Arila ergueu as sobrancelhas e, com um leve sorriso no rosto, comentou com um tom quase brincalhão:

— Isso é bem típico de você, pescador.

— Típico? Como assim? — perguntou Osken, um pouco confuso, mas também curioso.

Arila olhou para ele e, sem saber se deveria continuar, soltou um leve suspiro, deixando sua armadura emocional cair apenas por um instante.

— Assim como as estrelas, você tem um brilho próprio. Nunca se apaga, mesmo quando as coisas parecem difíceis. Às vezes, isso é irritante... mas, ao mesmo tempo, é o que te define.

Osken ficou corado novamente, surpreso com o elogio inesperado. Depois de um breve silêncio, ele falou com determinação:

— Então, se eu brilhar como uma estrela... Já sei! Vou usar o atributo da combustão. Assim, poderei brilhar como as estrelas e iluminar as noites densas que não te deixam dormir.

Arila ficou visivelmente abalada com as palavras de Osken. Ela não esperava uma declaração tão direta, e seu rosto rapidamente mudou de expressão. Sentindo-se vulnerável, levantou-se abruptamente.

— Eu... acho que é hora de eu voltar para casa — disse ela, tentando esconder o desconforto, ajeitando os cabelos rapidamente.

— Eu disse algo errado? — perguntou Osken, preocupado.

— Não. Não foi nada — Arila respondeu com um sorriso forçado, mas seus olhos desviavam do dele.

Osken, sem perceber o peso emocional que suas palavras carregavam, continuou com um entusiasmo genuíno:

— Eu só quero ficar mais forte... Ser tão forte quanto você! Se eu conseguir, não vou te atrasar. E, quem sabe, um dia... eu possa te encarar de igual para igual. Talvez até... casar com você, como um pescador digno da sereia de Taigyo.Ao ouvir essas palavras, Arila mudou o semblante, ficando com um rosto sério e virando-se rapidamente, sem olhar para trás. Contudo, antes de sair, falou, sua voz fria como de costume:

O ar ao redor pareceu congelar. Arila, que já estava de costas, parou no meio do caminho. Por um momento, seu rosto perdeu toda expressão, como se estivesse processando o impacto daquelas palavras. Sua mente retornou as suas memórias, lembranças de um passado que ela queria esquecer. Ela fechou os olhos por um instante, controlando suas emoções. Quando finalmente falou, sua voz estava fria, distante, como uma defesa automática contra algo que a fazia se sentir exposta.

— Pescador... Você já encontrou seu caminho. Continue a treiná-lo... e a ficar mais forte. Se é isso que você quer.

Sem se virar, Arila se afastou rapidamente, suas passadas firmes, mas silenciosas na grama, deixando Osken sozinho. Ele a observou partir, sem entender por que suas palavras a haviam afetado tanto. No entanto, em seu coração, a determinação de se tornar mais forte permanecia inabalável. Ele ainda acreditava piamente que caso se tornasse muito forte poderia conquistar o coração da sereia de Taigyo.

Após aquele encontro, a postura de Osken mudou rapidamente; ele passou a ser mais responsável, evitava distrações e dedicava seu tempo a se tornar mais forte e próximo de Arila. O mago de luz tentava novas investidas para conquistar Arila, mas ela sempre recusava, sem nunca mais conseguir sentir aquela mesma conexão que ele sentiu durante o treinamento noturno.

A senhora Babacoco via a dedicação e mudança de postura do rapaz. Ela ficou admirada com sua evolução e o chamou para conversar em particular.

Osken, nervoso e ansioso, entrou na cabana da anciã, o local no centro do vilarejo onde ela designava missões e coordenava as atividades dos aldeões. Na referida cabana, a lareira crepitava, lançando sombras dançantes pelas paredes de madeira. A senhora Babacoco, com seus cabelos prateados e olhos sábios, o recebeu com um sorriso.

— Osken, meu jovem, sente-se. Há muito que quero discutir com você.

Osken se acomodou em um banco de madeira, olhando para o chão gasto.

— Obrigado por me receber, senhora. O que deseja falar?

— Meu rapaz, estou impressionada. Olhando para trás, lembro o quanto você era irresponsável, falastrão, fanfarrão e preguiçoso. Mas agora, o que vejo é um verdadeiro homem e guerreiro maduro em mente e palavras.

— Obrigado, senhora Babacoco, embora eu não concorde plenamente com sua afirmação inicial. Hahaha! — falou o mago com timidez.

— Osken, eu passava as noites sozinha, sem ter uma companhia ou alguém para chamar de família. Como você sabe, ninguém mais me restou depois de duros invernos. Então Arila chegou e veio morar comigo. Assim que a vi, senti algo diferente, como se ela fosse um presente do destino para mim. Alguém que pudesse fazer companhia a essa velha solitária. Alguém que eu pudesse chamar de filha. Entretanto, me enganei. Arila era um presente do destino, não para mim, mas para você.

— Sou apenas um amigo de Arila, isso se ela me considerar dessa forma. — Osken suspirou, olhando para o céu. — Um dia, até treinamos junto, eu senti uma conexão entre nós nesse dia... Eu pensava que iámos nos aproximar... Entretanto, nada mudou.

— É transparente o amor que você sente por essa garota. O quanto você se dedica e amadureu por ela. Meu jovem, o destino não movimenta as peças sem um motivo, disso tenha certeza.

Osken cerrou os punhos e olhou profundamente nos olhos da anciã.

— Pois a senhora poderia perguntar ao destino o que ele quer comigo. A Arila apenas me rejeita. Só que o pior não é a rejeição, senhora Babacoco, mas a teimosia do meu coração. Quanto mais ela me rejeita, mais eu a amo. Acredito que o destino quis apenas me pregar uma peça.

Babacoco fechou os olhos e refletiu por alguns segundos. Em ato contínuo, olhou para Osken e lhe respondeu:

— O amor é uma dança complexa. Às vezes, o coração escolhe caminhos inesperados. Arila tem suas próprias batalhas internas, suas cicatrizes invisíveis. Ela não é apenas uma guerreira habilidosa; é uma alma ferida, como todos nós.

— Alma ferida? Estamos falando da mesma pessoa? Arila é a pessoa mais forte e corajosa que eu conheço, ela não tem fraquezas. O que ela busca é um companheiro tão poderoso e inabalável como ela. Alguém que possa fazê-la evoluir como guerreira e maga. Alguém que eu nunca serei — Osken perguntou, totalmente confuso, sem entender as palavras da anciã.

A velha gargalhou da ingenuidade do rapaz.

— Osken, sua mente se tornou afiada como a lâmina de um samurai, mas seu coração continua pueril. — Babacoco levantou-se e se aproximou de Osken, seu rosto iluminado pela fogueira e a voz calma e paciente, revelando toda a sua experiência acumulada por anos. — O amor não é uma batalha que se vence com força ou magia. É uma jornada de paciência e compreensão. Se quiser receber o presente reservado pelo destino, evolua o seu coração e compreenda que é na aceitação das fraquezas que o verdadeiro amor floresce.

Osken balançou a cabeça ainda mais confuso.

— Senhora Babacoco, admito, não entendi o que quis dizer, mas... as suas palavras de alguma forma renovaram minhas forças. Espero algum dia conseguir compreender seu conselho.

— Vai entender. E ainda lhe darei um pequeno empurrão para que isso aconteça logo. Não precisa me agradecer. Hahaha! — disse a anciã, rindo.

— Como assim, senhora?

— Tenho uma tarefa para você e Arila. Um urso polarino selvagem tem ameaçado os arredores da nossa vila.

Osken arregalou os olhos, demonstrando preocupação.

— Ursos polarinos não são típicos dessa região. São feras perigosas; pelo que andei lendo, eles são o dobro de tamanho de um urso-polar comum, andam somente em bando e são capazes de acionar runas.

— Mas isso não é o pior, Osken. — Babacoco estreitou os olhos na direção de Osken, sua voz séria e calma. — Se um urso polarino tá circulando por essas redondezas, existem apenas duas hipóteses possíveis.

— Ou existem mais feras iguais a essa, ou há um mago por perto. — complementou Osken, sua preocupação ampliando ainda mais.

— Exatamente. Por isso quero que vocês dois, os únicos magos do vilarejo, cacem a fera. Talvez, após a batalha, você aprenda mais sobre Arila e o amor. Agora vá, amanhã cedo vocês vão iniciar a caçada.



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