Luvas de Ifrit Brasileira

Autor(a): JK Glove


Volume 2

Capítulo 77: Pedido de Desculpas

Osken sabia que a anciã não gostava dele. Entretanto, sua determinação era mais forte, ele foi até a casa da anciã, que ficava no local mais isolado, com os fundos unidos a uma fonte termal, a qual, durante o dia, a idosa permitia o livre acesso dos cidadãos.

Ao bater na casa da velha, ela mesma atendeu e perguntou o que Osken fazia ali naquele horário.

— Senhora Babacoco, quero falar que já colhi toda a lenha e as coloquei no depósito. Além disso, preciso me desculpar pela minha conduta infantil de mais cedo. Amanhã, mesmo não sendo o meu turno, para compensar, estarei pronto para a pescaria ou qualquer outra atividade que a senhora me designar, tudo pelo bem do vilarejo.

— Hum... Estranho, um preguiçoso como você, aparentemente amadurecer tão rápido... Espero que não esteja aprontando algo — falou a velha, desconfiada.

— Não senhora Babacoco, longe de mim fazer algo tão infantel. Ocorre que suas punições são de grande aprendizado, me fizeram refletir durante todo o dia e perceber que eu não estava contribuindo da forma correta — disse o homem com um sorriso falso.

— Hum... Ainda bem que colocou a cabeça no lugar. Agora vá dormir, já é tarde — disse a velha, tentando fechar a porta.

Osken colocou a mão na porta, interrompendo o movimento.

— Espera, Senhora, poderia ao menos me chamar para jantar? Acredito que seria uma cortesia devido ao horário — falou o pescador com tom singelo.

— Desculpe, todos aqui já comeram — disse a anciã também com um falso sorriso.

— Tudo beme, senhora Babacoco. Mas, já que hoje foi um dia cansativo, poderia abrir uma exceção e me permitir ao menos entrar e usar as fontes termais por alguns minutos? Juro que vou ser rápido. É que estou muito dolorido após as atividades de cortar a lenha.

— Infelizmente não posso abrir exceções, Osken. Principalmente nessa hora da noite. Além do mais, temos uma visitante usando as fontes termais neste momento. Venha amanhã no horário adequado e conseguirá aproveitar as fontes termais como todos os outros.

— Ah, velha chata, me deixa ver logo a sereia de Taigyo, ops, a garota que dizem ser a mais linda! — esbravejou Osken, deixando transparecer suas reais intenções.

— Eu sabia que tava escondendo algo. Vá para sua casa e deixe a jovem descansar. Ela teve um dia difícil — gritou a velha, batendo com a bengala, sucessivas vezes, na cabeça de Osken e depois fechando a porta na cara dele.

“Por isso eu odeio essa velha. Ela sempre prejudica meus planos. AAh! Quero ver a sereia de Taigyo. Não posso desistir sem lutar. Eu só preciso dar uma espiadinha na fonte termal e lá eu conseguirei vê-la, ainda no melhor ângulo possível. Hehehe!” — murmurou Osken consigo, corado e com uma cara pervertida.

O pescador deu a volta na casa sorrateiramente, escondendo-se entre os arbustos, até se aproximar da fonte termal, a qual tinha uma cerca de madeira de bambu a rodeando. Ele tentou procurar alguma brecha para espiar a garota, mas sem sucesso. Ele então pulou a cerca e se escondeu por trás de algumas rochas. A jovem, que neste momento estava mergulhando, escutou um barulho e ficou alerta, pensando ser algum inimigo.

Osken foi se inclinando por detrás da perna, tentando ver algum sinal da mulher, mas não viu nada. Ele, sucumbindo por sua curiosidade, deu passos rumo à água, ainda sem ver ninguém, até que uma pessoa apareceu por trás dele. Ao se virar, a jovem acertou um chute nas partes íntimas, antes mesmo que ele pudesse ver seu rosto, fazendo-o cair no chão, com muita dor.

Ela segurou Osken pelo cabelo e apertou seu rosto contra o chão, impedindo sua visão. Com uma voz calma e os dedos da outra mão próximos ao pescoço do pescador, ela disse:

— Quem é você? O que faz aqui? É um soldado da GPA?

— Não. Meu nome é Osken. Sou apenas um pescador da vila. Pode perguntar à Senhora Babacoco.

— Veremos se você fala a verdade, porque caso esteja mentido, saiba que te matarei rapidamente, em um único instante — falou a forasteira, transformando sua mão em uma garra azul com unhas roxas e fazendo um corte superficial no pescoço de Osken, deixando-o paralisado.

A forasteira saiu da fonte termal e, minutos depois, duas mulheres levaram Osken paralisado a uma sala no interior da casa da anciã, sentando-o em uma cadeira. A idosa e a forasteira entraram nesta mesma sala e, suspirando, a velha falou:

— Não precisa se preocupar, Arila. É apenas o indisciplinado Osken. Desde cedo ele queria te ver.

Arila, 19 anos na época, cabelos curtos com corte chanel na cor azul-marinho, olhos profundos castanhos, calças marrons, camisa cor terracota, luvas, cinto largo e botas, todos na cor marrom. Por baixo de sua camisa, ela vestia uma roupa de frio de gola alta na cor marrom.

 

 

Arila pegou uma faca e se aproximou lentamente de Osken. Ela se inclinou e abriu a boca dele. O pescador ficou apavorado, pensando que iria morrer naquele momento, por uma mulher desconhecida e sem nenhuma intervenção de Babacoco a seu favor. Entretanto, Arila cortou superficialmente seu polegar com a ponta da faca, fazendo com que uma gota do seu sangue caísse sobre a boca de Osken, que a engoliu no processo.

Após engolir a gota de sangue de Arila, Osken retomou os movimentos do seu corpo por inteiro, quase sem acreditar:

— Não acredito, posso me mexer novamente. Isso é um sonho.

— Então, pescador, diga-me, o que quer falar tão urgentemente comigo ao ponto de invadir uma residência que não é sua e me espiar enquanto eu me banhava nas fontes termais? Tenho certeza de que deve ser algo urgente — disse Arila com a voz firme, demonstrando uma presença imponente.

— B-Bom, quanto a is-isso... Como posso explicar... — gaguejava Osken, todo avermelhado, com vontade de fugir daquele local de tanta vergonha e medo que sentia.

— O que foi? O gato comeu a sua língua, pescador? — disse a mulher, erguendo Osken pelo colarinho.

A Senhora Babacoco respirou fundo e decidiu intervir, falando calmamente:

— Apenas o deixe, Arila. Ele não responde porque tá com vergonha da sua reação. Ele apenas queria conferir a sua beleza. As pessoas daqui tão te chamando de a sereia de Taigyo. Não é, Osken?

— Bom... É possível... — falou Osken, evitando o contato visual.

— Que motivo fútil! Eu poderia ter te matado enganado, pescador. Espero que não se repita e que tenha mais respeito — falou Arila, irritada, soltando Osken.

— Sim. Aprendi a lição. Realmente me perdoe. Vou para a casa imediatamente — despediu-se Osken, com vergonha, voltando para casa correndo, querendo enfiar o pescoço debaixo da terra como um avestruz.

— Tem certeza de que esse homem queria apenas isso, Senhora Babacoco? — perguntou Arila, ainda desconfiada, vendo Osken sair rapidamente do local.

— Relaxe, Arila. Sei que é difícil acreditar, mas, mesmo sendo um inconsequente, paspalhão e desajeitado, ele ainda é uma boa pessoa.

No dia seguinte, ainda pela manhã, Arila abriu a porta da casa da anciã, visando ir até o centro do vilarejo. A primeira coisa que viu foi Osken sentado na sombra de uma árvore. O pescador se levantou rapidamente e se aproximou da mulher, com um ramalhete de flores.

— Bom dia,  serei..., ops, Arila! Vim me desculpar por ontem. Fui muito invasivo. Tome essas flores. Espero que me perdoe — Osken sorriu nervosamente, entregando o ramalhete.

Arila pegou o ramalhete e, sem hesitar, jogou-o no chão, continuando a caminhar.

— Não precisa se desculpar. São águas passadas — disse ela com firmeza.

— Por que jogou fora minhas flores assim? Ainda tá chateada? — Osken perguntou, perplexo, acompanhando-a.

— Não estou chateada. Apenas não me interesso por flores. Elas vão murchar e morrer em poucos dias — Arila respondeu, sem desviar o olhar de seu caminho.

Osken, pensativo, de repente sorriu com entusiasmo.

— Já sei, da próxima vez vou lhe dar um presente melhor, talvez algo mais útil, tipo um enorme peixe.

— Não quero seus presentes. — Arila suspirou fundo, claramente começando a se irritar. — Já disse, não estou chateada. Ainda não entendeu?

— Tudo bem. Esquece o presente. Mudando de assunto... Você vai ficar muito tempo aqui no vilarejo ou pretende partir? — Osken perguntou, tentando parecer casual.

— Não é do seu interesse — respondeu Arila sem nem olhar para o lado.

Osken ficou vermelho, sentindo a repulsa de Arila, mas não desistiu.

— Verdade... Não sei se sabe, mas, embora eu seja um pescador, também sou mago. Fico feliz, porque agora não sou o único mago na vila.

— E qual a relevância disso? — Arila retrucou friamente.

— Você sabe... — Osken olhou para o chão, corado. — Podemos treinar juntos.

— Não tenho interesse. Você não tá no meu nível. Caso treine comigo, vou apenas atrasar meu progresso. Encontre outra forma de treinar — Arila respondeu com sua voz gélida.

— Então, pelo menos me treine. Me ajude a ficar mais forte — Osken insistiu.

— Pelo que me conheço, não serei uma boa mestra. Além disso, não tenho motivos para perder tempo te treinando. Fique forte sozinho — disse Arila já sem paciência.

Osken deu uma batidinha de leve com o cotovelo na jovem, falando com um sorriso travesso:

— Não precisa se fazer de durona, você poderia me ensinar como usar aquela garra paralisante. Aliás, como você fez aquilo? Que outros poderes você tem?

Arila suspirou, novamente respondendo negativamente.

— Já falei, não é do seu interesse.

Osken sentiu o tom gélido nas palavras de Arila, mas estava disposto a não desistir. Ficou pensando alguns minutos sobre como iniciar uma nova conversa. Arila, por outro lado, começava a suspeitar das intenções do pescador.

— Então me fale do seu passado. Você veio de onde? Tem família? — perguntou Osken.

Arila segurou a roupa de Osken pelo colarinho e, cheia de raiva, esbravejou:

— Dessa vez quem pergunta sou eu. Por que tanto interrogatório? Quer repassar essas informações para quem?

— Nada. Só quero te conhecer melhor — respondeu Osken, nervoso.

Arila não acreditou, desconfiando de Osken, pensando que ele fosse um agente da GPA.

— E qual o seu interesse em colher tantas informações sobre mim? Desembucha, tenho certeza que você tem algum interesse obscuro.

Osken fechou os olhos, corou o rosto e, tirando coragem de onde não tinha, falou:

— Tenho sim um interesse obscuro...

— Eu sabia! — Arila preparava sua garra para atacar a garganta do pescador.

— Arila... meu interesse.. é saber se... — Osken fechou os olhos e gritou de vergonha. — Você quer casar comigo?

Arila interrompeu seu ataque e arregalou os olhos, não esperando essa proposta. Em seguida, soltou o pescador, suspirou, olhou no fundo dos olhos de Osken e respondeu:

— Não — falou ela, sua voz gélida, como se não tivesse sentimentos, e seguiu seu rumo.

O pescador ficou encabulado com a resposta curta e grossa. Algo veio à sua mente e ele gritou enquanto via Arila se distanciando:

— AAAh! Já sei por que me recusou. Você deve gostar de mulher!

Arila parou subitamente e virou-se na sua direção, aproximando-se com passadas largas. Ela se inclinou, ficando rosto a rosto com o pescador, e apontou o dedo em riste na direção dele.

— O que isso tem a ver, seu idiota? Deixe de ser narcisista. Não é porque eu te rejeitei que vou necessariamente gostar de mulher. Você apenas não faz meu tipo. Procure outra aldeã, vá cortejá-la, sei lá, só me deixe em paz! — gritou Arila, sua voz carregada de irritação, antes de seguir seu caminho, ainda com raiva.

Osken ficou parado, olhando-a, sua mente trablhando a mil, pensando em como fazer para conquistá-la, até que refletindo, ele chegou a seguinte conclusão: “Arila falou que não iria me treinar porque eu iria apenas atrasá-la... Talvez ela busque um homem forte, alguém que faça elevar suas capacidades... Preciso ficar mais forte para que ela aceite meu pedido de casamento.”



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