Volume 2
Capítulo 75: Família Prada
Em um flashback, revelando o passado de Rafarillo e Steffens. Há 18 anos, nas ruas estreitas da cidade de Calmeia, no reino de Byron, o vento sussurrava suavemente, agitando as folhas das poucas árvores que enfeitavam corajosamente o bairro humilde.
Rafarillo e Steffens, ambos com oito anos, caminhavam de mãos dadas ao lado do avô. Seus olhos brilhavam com curiosidade e inocência. Apesar das dificuldades, aquele era um dia especial: uma rara saída em família.
A manhã estava clara, e a luz do sol refletia nas vitrines das lojas, revelando mundos de possibilidades e sonhos. Eles pararam diante de uma loja de brinquedos, seus olhares imediatamente capturados pelos tesouros coloridos expostos na vitrine.
Rafarillo fixou os olhos em uma guitarra de brinquedo, imaginando-se dedilhando as cordas com destreza, enchendo o ar com músicas vibrantes. Steffens focou em um microfone prateado, brilhante como um diamante, e quase podia ouvir sua própria voz ecoando através dele, comandando uma multidão de admiradores.
— Vovô, podemos comprar a guitarra? — questionou o menino com entusiasmo.
— E o microfone também? Por favor? — foi a vez da irmã.
O avô olhou para os rostos esperançosos dos netos e depois para a sua própria carteira, quase vazia. Ele suspirou profundamente, a dor em seus olhos refletindo a dura realidade e sua imensa tristeza.
— Sinto muito, meus queridos. Não temos dinheiro para isso.
Os rostos de Rafarillo e Steffens caíram, suas esperanças esmagadas como as folhas secas sob seus pés. Antes que pudessem protestar, a porta da loja se abriu e um menino da mesma idade deles saiu, rindo alegremente enquanto segurava a guitarra e o microfone que eles tanto desejavam. O menino entrou em uma carruagem luxuosa, decorada com detalhes dourados, e foi embora, deixando Rafarillo e Steffens parados, perplexos.
De volta ao casebre que chamavam de lar, Rafarillo e Steffens se sentaram à mesa de madeira gasta. A avó trouxe uma tigela de sopa rala, com apenas algumas batatas e uma folha de couve boiando.
— Hora de comer, crianças — disse a avó, com um sorriso cansado.
— Não quero isso. — Rafarillo empurrou a tigela para longe. — O sabor é muito ruim. Não é justo!
— É verdade, é horrível. Por que nunca temos os brinquedos ou a comida que queremos? — perguntou Steffens, com lágrimas nos olhos.
A avó olhou para os netos, seu coração partido. Ela sabia que a vida era dura, mas não tinha respostas fáceis para dar. A pobreza que os cercava era um fardo que eles carregavam com dificuldade.
— Apenas agradeçam o que têm. Outras pessoas nem isso têm para comer — respondeu o avô, tentando ser firme.
— Mas outras também têm tudo o que querem — retrucou Rafarillo, também chorando, comendo a sopa a contragosto. As lágrimas do garoto caíam dentro da sopa, misturando-se com o alimento.
No dia seguinte, Rafarillo e Steffens estavam andando pela rua novamente, dessa vez sozinhos, tentando esquecer o gosto da sopa que ainda embrulhava seus estômagos. Foi quando viram o mesmo menino mimado, agora quebrando a guitarra e o microfone que havia comprado, como se fossem nada além de lixo.
— Por que você tá fazendo isso? — indagou Steffens, indignada.
— Isso? Eu pensava que ia me fazer um bom músico, mas só consigo fazer barulho em vez de música. Eu não preciso disso. Podem ficar com os restos — respondeu o menino, desdenhando.
— Você deveria ser mais grato! Tem muita gente que desejaria ter esses brinquedos e não tem condição de comprar — esbravejou Rafarillo, furioso.
— Não me comparem a vocês. Vocês dois e esses instrumentos são a mesmas coisas, apenas lixo que jogamos na rua. Agora sumam daqui e aproveitem as sobras, pois é o máximo que podem conseguir — respondeu o menino mimado ao olhar para os irmãos com desprezo, com a voz cheia de raiva e desdém.
As palavras cortaram fundo. Rafarillo e Steffens correram para casa, lágrimas escorrendo por seus rostos. Eles se trancaram em seu quarto, recusando-se a falar com os avós que batiam suavemente na porta, preocupados.
— Eu odeio isso. Odeio ser pobre — disse Steffens, chorando.
Rafarillo, com um olhar determinado, aproximou-se da irmã.
— Eu prometo, Steffens. Um dia, seremos ricos e ninguém vai nos humilhar.
Steffens enxugou as lágrimas e abraçou fortemente o irmão.
— Irmão, eu também prometo.
Dias se passaram. O sol já se punha quando uma batida firme na porta da frente ecoou pela pequena casa. Rafarillo e Steffens saíram do quarto, curiosos, e espiaram pela fresta da porta da cozinha. Um homem ruivo, bem vestido, ostentando anéis de ouro e uma capa de veludo, estava à porta. Os avós pareciam tensos, trocando olhares preocupados.
— O que faz aqui, Prada Gucci? — indagou o avô, com desconfiança.
— Pai, mãe... vim buscar meus filhos — respondeu Gucci, sorrindo com arrogância.
— Você nunca se importou com eles! Por que agora? — avó, indignada, disse.
— Eu tenho dinheiro agora. Posso oferecer a eles uma vida que vocês nunca puderam.
— Eles não precisam do seu dinheiro sujo. Você foi criado para ser uma pessoa honrada, mas escolheu um caminho diferente — respondeu o avô, furioso.
— Honra não enche barrigas. Venham, crianças, sei que estão me ouvindo. Isso se quiserem sair dessa vida miserável.
— Você é realmente nosso pai? — perguntou Rafarillo, ainda hesitante.
— Sim, e quero levá-los comigo.
Os avós tentaram impedir, mas Rafarillo e Steffens, cansados da vida de privações, decidiram partir com o pai. Eles abraçaram os avós uma última vez, com lágrimas nos olhos, e seguiram Gucci para uma nova vida, deixando para trás a casa humilde e seus sonhos despedaçados.
— Agora, nosso sonho pode se tornar realidade — sussurrou Steffens para o irmão, empolgada.
— Sim, vamos mostrar ao mundo do que somos feitos.
E assim, eles deixaram o casebre para trás, com a promessa de um futuro mais brilhante em seus corações.
Dois anos depois, Steffens e Rafarillo, agora com 10 anos, caminhavam pelas movimentadas ruas de Madrad, também pertencente ao Reino de Byron. A cidade era muito maior e mais vibrante do que Calmeia, com ruas repletas de vida e mercados lotados. Ao lado deles, Prada Gucci, seu pai, observava tudo ao redor com olhos atentos e avaliadores.
— Vocês já têm idade suficiente para entender como o mundo funciona — disse Gucci, com um tom de voz casual.
Os irmãos se entreolharam, curiosos e um pouco apreensivos. Desde que haviam deixado a casa dos avós, sua vida mudara drasticamente. Gucci os havia levado para várias cidades, ensinando-lhes como sobreviver e prosperar. Mas a verdadeira origem de sua riqueza ainda era um mistério para eles.
Gucci parou em frente a uma barraca de frutas.
— Vejam bem... o dinheiro que eu ganho vem de roubos. Eu sou um ladrão profissional.
Rafarillo e Steffens engoliram em seco. A revelação era chocante, mas havia um fascínio no modo como Gucci falava, como se roubar fosse uma arte.
— Você... você quer que a gente roube também? — perguntou Steffens, nervosa.
— Sim, mas não se preocupem. Vamos começar pequeno. Vou mostrar como a distração é a chave para um roubo bem-sucedido — respondeu Gucci com um sorriso, apontando para a barraca de frutas. — Vejam aquelas maçãs. Vou ensinar vocês a pegar algumas sem que o vendedor perceba. Steffens, você vai distraí-lo. Rafarillo, você pega as maçãs. Entendido?
Os irmãos assentiram, nervosos, mas determinados. Eles se aproximaram da barraca, e Steffens começou a falar com o vendedor sobre os diferentes tipos de maçãs, enquanto Rafarillo, com um movimento rápido, pegou duas e as escondeu sob a jaqueta.
Saíram da barraca com as maçãs escondidas, seus corações batendo aceleradamente. Gucci, orgulhoso dos filhos, acariciou suas cabeças.
— Muito bem, vocês foram perfeitos! Isso é só o começo. Teremos muitas outras oportunidades para aprimorar suas habilidades.
Rafarillo e Steffens sorriram, sentindo um misto de adrenalina e realização. Pela primeira vez, sentiam-se úteis ao pai e vislumbravam um futuro onde suas habilidades poderiam levá-los a grandes conquistas.
Ainda na cidade de Madrad, Reino Livre de Byron, dez anos se passaram. Rafarillo e Steffens, agora com 20 anos, tornaram-se adultos confiantes e determinados. Desde que começaram a treinar com o pai, suas habilidades em furtar e enganar haviam se refinado a níveis extraordinários. Porém, algo inesperado aconteceu: ambos descobriram que tinham poderes mágicos.
Os jovens revelaram seus poderes ao pai, que ficou eufórico. Para ele, esse era o momento mais aguardado. Era a chave para o maior roubo de sua carreira. Imediatamente, chamou dois amigos e os cinco se reuniram sob seu comando, onde Gucci detalhou seus planos.
— Vamos roubar o maior banco de Madrad. Steffens, você usará sua voz para criar uma distração. Rafarillo, você usará sua música para desorientar os guardas reais. Enquanto vocês mantêm a atenção dos guardas, eu e meus amigos passaremos por baixo do cofre, por meio de uma passagem subterrânea que venho cavando com meus colegas há anos. Pegaremos todo o dinheiro e, do lado de fora, preparei uma rota de fuga com a ajuda de uma guilda contratada, que servirá de distração para que vocês possam fugir com segurança. Depois desse roubo, seremos definitivamente os mais ricos, sem necessidade de trabalhar ou realizar qualquer outro roubo.
Rafarillo e Steffens estavam radiantes. Finalmente, poderiam usar seus poderes para algo grandioso e se tornarem os ladrões mais ricos do reino. Algumas horas depois, os irmãos estavam deitados em suas camas, incapazes de dormir, apenas sonhando acordados.
— Irmão, depois do roubo, podemos finalmente montar nossa banda! Quem sabe ficamos famosos e podemos dar uma vida digna aos nossos avós. Tenho saudades deles — disse Steffens, empolgada.
— Sim, irmã. Como bandidos eles não nos aceitariam, mas como músicos descompromissados e famosos a história muda. Obrigado, dinheiro, você vai realizar todos nossos sonhos.
Naquela noite, a excitação era tanta que nenhum dos dois conseguiu dormir. Eles desceram as escadas, planejando cada detalhe do que fariam com o dinheiro. Ao passarem pelo corredor, ouviram vozes vindo do escritório do pai. Curiosos, pararam para escutar.
— Então, vamos ter que dividir o dinheiro com a guilda que você contratou? — perguntou um dos amigos de Gucci.
— Deixe de ser idiota. Não existe guilda alguma — respondeu Gucci, rindo.
— Como assim? Como seus filhos vão escapar?
— Eles não vão. Alguém precisa ser preso e levar a culpa. A luta deles com os guardas reais vai dar tempo suficiente para nós fugirmos.
Rafarillo e Steffens sentiram um gelo percorrer suas espinhas. As palavras do pai os atingiram como uma faca. Prada Gucci olhou para os amigos e expôs seus sentimentos mais ocultos.
— Eu nunca fui abençoado com poderes mágicos ou dinheiro. Quando soube que minha esposa estava grávida, não fiquei feliz. Uma criança seria apenas um estorvo para meus objetivos. Mas, após o parto, a situação ruim piorou: minha esposa faleceu e deu à luz a duas crianças gêmeas. Eu não sabia o que fazer, como alcançar meus objetivos e criá-los, então decidi deixá-los com meus pais. Eu nunca iria voltar, mas, ao descobrir que a mãe deles era uma maga, percebi que havia grandes chances de eles herdarem os poderes mágicos. Decidi criá-los apenas para este momento, para este roubo.
Com os olhos cheios de lágrimas e o coração partido, Rafarillo e Steffens subiram de volta ao quarto, sem dizer uma palavra. No dia programado para o roubo, o plano começou. Gucci e seus amigos passaram por baixo do banco.
Tudo parecia correr conforme o plano. Gucci e seus amigos ouviram sons de guardas marchando, Steffens usando seus golpes, a música de Rafarillo e tiros acima deles. Pensando que a distração havia funcionado, eles saíram do buraco apenas para encontrar os guardas imperiais já esperando por eles.
— Sound Transmutation — disse Steffens, do alto de um prédio, com lágrimas de ódio caindo de seus olhos.
Os irmãos haviam preparado uma armadilha. Steffens transmutou o som das pedras debaixo do buraco com sons diferentes, enganando completamente o pai. Rafarillo e Steffens observavam enquanto Gucci e seus cúmplices eram presos, sua confiança agora abalada pela traição.
— Estamos por conta própria agora — disse Rafarillo.
— Sim. Mas juntos, podemos conseguir tudo o que quisermos — respondeu Steffens.
E assim, eles partiram, confiando apenas um no outro, determinados a encontrar sua própria fortuna e a nunca mais serem manipulados.
Quatro anos se passaram. Rafarillo e Steffens, agora com 24 anos, estavam na capital do Reino de Byron. Eles se tornaram mestres no disfarce e na manipulação. Estavam sentados em um restaurante luxuoso dentro de um hotel famoso, vestidos de forma impecável. O objetivo deles era fazer contato com um empresário rico, Bolívar Brock, e roubá-lo.
Bolívar estava jantando em uma mesa isolada no canto do restaurante. Rafarillo aproveitou a presença de um piano no salão e começou a tocar uma melodia cativante. Steffens, com um vestido deslumbrante, se aproximou e começou a cantar, sentando-se em cima do piano. Sua voz encantadora prendeu a atenção de todos no restaurante, especialmente de Bolívar.
Após o final da música, todos no restaurante aplaudiram entusiasticamente. Rafarillo e Steffens retornaram à sua mesa, satisfeitos com a resposta do público. Steffens olhou discretamente para Bolívar e piscou um olho para o empresário. Logo, um garçom se aproximou com uma garrafa de champanhe.
— Cortesia do senhor Bolívar Brock, pela belíssima apresentação.
Steffens sorriu e se levantou, dirigindo-se à mesa do empresário.
— Muito obrigada pela cortesia, senhor Brock. Eu vim aqui para agradecer pessoalmente tamanha gentileza.
— Foi um prazer. Mas diga-me, seu namorado não vai ficar enciumado? — perguntou Bolívar com um sorriso encantador.
Steffens riu delicadamente, esbanjando toda a sua beleza.
— Rafarillo não é meu namorado. Ele é só meu irmão.
Eles começaram a conversar, suas cadeiras se aproximando cada vez mais. Bolívar estava completamente encantado com Steffens, que, com destreza, conseguiu descobrir o número do quarto do empresário e discretamente retirar a chave do quarto do paletó dele.
— Está ficando tarde, mas espero vê-lo novamente em breve — disse Steffens astutamente.
Bolívar olhou no fundo dos olhos dela e beijou sua mão delicadamente.
— Com certeza. Terei prazer em vê-la novamente.
Os irmãos se retiraram para o quarto de Bolívar, onde roubaram joias e outros pertences valiosos. Saíram silenciosamente e felizes, mas quando se aproximavam de um beco para fugir, foram interceptados pela guilda Sabertooth, liderada por Guinter.
Nathan transformou-se em um híbrido de tamanduá, enquanto Erina se preparava para lutar montada em Bruce. Steffens usou seu falsete, atordoando todos os presentes, exceto Guinter, que usou sua juba aumentada para proteger os ouvidos.
Rafarillo rapidamente colocou seus fones de ouvido em Nathan, tocando Master of Puppets, e assumiu o controle do homem-tamanduá, forçando-o a atacar Guinter. Guinter, com um soco poderoso, lançou Nathan contra uma parede, fazendo os fones caírem no chão e rompendo o controle de Rafarillo.
Guinter avançou lentamente, um sorriso implacável no rosto.
— Vocês têm potencial. Se não querem morrer, juntem-se à nossa guilda.
Assustados e percebendo a falta de opções, Rafarillo e Steffens concordaram. No dia seguinte, Bolívar, aliviado por recuperar seus pertences, perguntou a Guinter assim que o viu.
— Como recuperou meus pertences tão rapidamente?
— Graças à ajuda dos nossos novos membros — respondeu Guinter.
Das sombras, Rafarillo e Steffens surgiram, sorrindo. Bolívar sorriu para Steffens e beijou-lhe a mão.
— Parece que teremos tempo suficiente para continuar nossa conversa do restaurante.
— Com certeza, senhor Brock — respondeu Steffens com um sorriso malicioso, já maquinando uma forma de tapear o empresário e conseguir sua fortuna.