Volume 2
Capítulo 67: Erina e Jack Frost
Andando pelas ruas geladas da cidade de Polaris, um lugar vibrante e coberto de neve, Erina, agora com doze anos, movia-se com a destreza de um gato. Acostumada a viver nas ruas, era uma pequena sombra ágil, roubando carteiras sem que ninguém percebesse.
Com dedos leves e habilidosos, Erina deslizou a mão para dentro de um bolso e tirou uma carteira. Sem levantar suspeitas, continuou sua caminhada pela rua movimentada. Repetiu a ação algumas vezes, sua precisão refinada pela necessidade. Ao longe, um homem de chapéu observava seus movimentos ágeis.
Após acumular alguns trocados, a garota comprou alimentos simples. Entrou em um beco, sentou-se no chão frio e dividiu seu pão e queijo com os gatos e cachorros que vagavam pelos becos. Enquanto comia, um homem irado, que havia sido sua última vítima, apareceu com dois guardas da cidade.
— Ali está ela! Aquela menina roubou minha carteira! — gritou ele, apontando.
Os guardas avançaram, mas Erina foi rápida. Saltou e começou a correr pelas vielas estreitas, jogando latas de lixo e derrubando caixas para atrasá-los. Os guardas a seguiram, mas ela era ágil, movendo-se com facilidade através do labirinto de ruas.
Enquanto corria, passou pelo mesmo homem que a observava de longe, sem perceber. Erina cruzou olhares com ele e depois dobrou para a esquerda, finalmente encontrando um beco estreito onde se escondeu, pressionando-se contra a parede, atrás de umas latas de lixo.
Ela ouviu os passos dos guardas que passaram correndo, mas logo depois eles pararam. Erina espiou e viu o homem que a observava conversando com os guardas.
— Ela foi por aquele caminho — disse ele, apontando na direção oposta.
Os guardas agradeceram e correram na direção indicada. O homem, então, virou-se e começou a caminhar lentamente em direção ao beco onde a jovem se escondia. Com a respiração presa, ela sacou uma faca, pronta para se defender.
— Não se aproxime! — avisou Erina, sua voz carregada de desconfiança.
O homem levantou as mãos em um gesto de paz.
— Calma, garota. Só quero conversar — respondeu ele, com um sorriso suave. — Estou impressionado com suas habilidades. Pode não ter percebido, mas tenho te observado há alguns dias.
Erina estreitou os olhos, ainda desconfiada.
— Por quê? O que você quer? — perguntou, mantendo a faca erguida.
— Eu sou Freud. — Ele se ajoelhou para parecer menos ameaçador. — Sou dono de um circo que viaja por todo o Reino de Frost Garden. E quero te dizer que suas habilidades seriam muito úteis no meu ramo.
Erina franziu a testa, incerta.
— Posso até ser uma aberração, mas não estou interessada em trabalhar em um circo. Procure outra candidata.
Freud sorriu, persuasivo, pegou nos ombros da jovem e se levantou, falando em seguida:
— Soube que você gosta de animais, até fala com eles. No meu circo, temos alguns bem especiais. Você poderia ser a domadora deles. A última domadora abandonou a trupe, e agora eles estão sem serventia, apenas gerando despesas.
A menção aos animais acendeu uma chama de curiosidade em Erina. Relutante, ela baixou um pouco a faca.
— E que animais são esses? — perguntou, sua voz suavizando.
— Apenas me acompanhe sem compromisso. Conheça-os e, depois, decida sobre a minha oferta — respondeu Freud, ainda sorrindo.
Erina hesitou, mas a promessa de estar perto dos animais a convenceu.
— Eu vou. Mas saiba que, se estiver pensando em fazer alguma gracinha, não vou pensar duas vezes em te matar. Posso ser jovem, mas as ruas me fizeram forte — disse ela, com firmeza, emergindo das sombras, ainda desconfiada da proposta.
Freud assentiu com a cabeça, com um sorriso no rosto. Imediatamente, ele a levou ao seu circo, onde Erina foi apresentada aos outros membros. Eles a olharam com suspeita, sussurrando entre si, achando a garota esquisita. Mas Erina não se importava com isso. Seu coração acelerou ao ver os animais: um majestoso tigre dente-de-sabre chamado Bruce, um imponente urso polar chamado Cubinho, uma grande ave exótica chamada Pacopi, e um macaco travesso chamado Aro.
Embora fosse sua primeira interação com aqueles animais, a conexão foi instantânea. De pronto, ela sentiu um amor profundo por eles, e os animais retribuíram com igual carinho, deixando o dono do circo perplexo e entusiasmado com a cena. Convencida pela promessa de estar perto dos animais, Erina aceitou a oferta de Freud.
No início, a vida no circo era difícil para Erina. Ela treinava arduamente para se tornar uma domadora, apresentando truques e números com os animais. No entanto, as noites eram suas preferidas. Quando todos os outros iam dormir, ela entrava nas celas dos animais e passava horas conversando com eles. Esse momento para ela era o verdadeiro conceito de felicidade.
— Vocês são meus verdadeiros amigos — sussurrava Erina, acariciando Bruce e Cubinho.
Os outros membros do circo a evitavam, achando-a estranha. Mas a jovem não se importava com o que pensavam. Sua única preocupação era o bem-estar dos seus amigos animais, aos quais ela nutria amor e carinho.
Com o passar dos anos, a ganância de Freud começou a se manifestar. Ele pagava mal os funcionários e era grosseiro. Todos o odiavam. Agora, com dezessete anos, Erina viu muitos dos membros do circo irem embora, cansados dos maus tratos. Em consequência disso, o número de atrações diminuiu, afetando a quantidade de espectadores. Freud se tornava mais irado e recorria ao álcool para afogar suas frustrações.
Numa noite, após uma apresentação com poucos espectadores na cidade de Longclaw, nos domínios do reino de Frost Gardens, Erina ouviu os gritos de dor dos animais e correu para encontrar Freud chicoteando Bruce e Cubinho.
— Pare com isso! — gritou ela, colocando-se entre ele e os animais.
Freud virou-se para ela, seus olhos injetados de raiva e álcool.
— Esses animais inúteis merecem uma lição! Não passam de inúteis, não estão pagando nem a comida que comem — esbravejou ele, continuando a chicoteá-los.
Erina se jogou na frente dos animais, recebendo as chicotadas em seu lugar. Os animais rosnavam, vendo Erina apanhar, mas ela apenas olhava para eles e sorria.
— Vai ficar tudo bem, não está nem doendo. Eu vou protegê-los — sussurrou, tentando acalmá-los.
Ela suportou a dor, protegendo seus amigos a todo custo. Finalmente, Freud a arrastou para um quarto, trancando-a lá dentro. Erina chorava de raiva e impotência, suas mãos se apertando em punhos. Foi então que ela sentiu uma energia estranha dentro dela. Seus dedos começaram a brilhar, e do brilho surgiu uma pequena criatura mágica.
— O que é isso? Será uma besta mágica? Eu sou uma maga! — Erina sorriu, vendo aquela criatura espiritual brincar com seus dedos. — Já sei como chamá-lo, seu nome será Jack Frost.
No dia seguinte, a cena se repetiu. Freud, embriagado, começou a chicotear os animais novamente. Erina, mais uma vez, correu para salvá-los, mas foi acertada com um soco pelo dono do circo, fazendo-a cair de cara no chão. Aro, o macaquinho, tentou defender Erina, pulando em cima de Freud. Este começou a bater no animal, que estava agarrado em sua cara, arranhando-o. Finalmente, Freud conseguiu tirá-lo e arremessou o macaco para longe, que bateu o pescoço em uma pedra e morreu instantaneamente.
— ARO! — gritou Erina, em meio aos gritos dos outros animais.
Com lágrimas nos olhos, Erina viu Jack Frost surgir novamente. A pequena criatura flutuava no ar, com as mãos em seu cachecol.
— Que merda é isso? — perguntou Freud, confuso ao ver Jack Frost.
O fantasma tomou posse de Cubinho, que cresceu de forma espetacular. Sua musculatura se expandiu, e cristais de gelo cobriram seu corpo. Cubinho, agora um urso polar gigante de gelo, quebrou suas correntes e rugiu com fúria.
Freud correu de medo enquanto Cubinho libertava Bruce e Pacopi. Erina montou em Bruce, e, com Cubinho e Pacopi ao seu lado, eles fugiram do circo, deixando para trás a vida de dor e abuso.
Após escapar do circo com seus animais, Erina e seus companheiros encontraram refúgio em uma caverna oculta entre as cidades de Longclaw e Bearfrost. O local era protegido por paredes de gelo espesso e estalactites, fornecendo um esconderijo seguro contra o frio implacável e a perseguição.
Enquanto Erina e seus amigos descansavam na caverna, Freud, o ganancioso dono do circo, não perdeu tempo em procurar ajuda. Enfurecido e desesperado para recuperar seus valiosos animais, ele correu até o posto dos guardas da cidade mais próxima, narrando sua história com fervor.
— Aquela garota... Ela fugiu com meus animais! Eles são perigosos e precisam ser recuperados! — exclamou ele.
Os guardas trocaram olhares, e um deles finalmente falou:
— Esta cidade é pequena, os guardas daqui não têm aptidão mágica. Enfrentar um urso gigante como você descreveu será impossível. Tenho um conselho, senhor. Se envolve uma questão de lutar contra uma maga, sugiro que procure os soldados da GPA. Eles estão acampados nas proximidades.
Freud, mesmo irritado, acatou a sugestão e se dirigiu ao acampamento militar. Lá, encontrou o imponente Major Guinter. Freud ficou esperançoso em recuperar seus animais ao ver aquele militar com mais de dois metros de altura, cuja musculatura parecia esculpida em granito.
— Major, preciso da sua ajuda. Uma maga fugiu com meus animais. Ela invocou um fantasma e transformou meu urso em uma besta gigante e poderosa. Eles são perigosos! — implorou Freud, sua voz tremendo de medo e frustração.
O Major Guinter ouviu a história com uma expressão indecifrável e finalmente assentiu.
— Vamos encontrá-la. Até que enfim podemos ter uma luta interessante neste fim de mundo — disse Guinter, com um sorriso predador. — Grarrarra.
Com isso, Freud, o Major Guinter e um grupo de soldados se lançaram na perseguição, seguindo as pegadas dos animais na neve profunda.
Depois de horas vagando pelos bosques congelados, eles finalmente chegaram à entrada de uma caverna. Guinter levantou a mão, sinalizando para que os soldados parassem e permanecessem de guarda do lado de fora.
— Vocês, fiquem de guarda. Você, homenzinho, e o Tenente Nathan, venham comigo — ordenou ele.
— Você quer que eu entre com você e dê de cara com aquela fera terrível? — perguntou Freud, tremendo de medo.
— Claro. Precisa reconhecer a maga e seus animais. Não tenha medo, ela não vai te matar. Acha mesmo que ela tem a capacidade de derrotar dois militares da GPA poderosos como eu e o Tenente Nathan? Não seja ridículo e venha — respondeu Guinter, com um olhar severo.
Eles avançaram cautelosamente pelo túnel escuro e frio da caverna. Quando chegaram ao fundo, viram Erina junto com seus três companheiros animais. Freud apontou com um dedo trêmulo.
— Ali estão eles!
Nathan, com olhos de aço, deu um passo à frente.
— Maga, entregue-se. Não queremos machucar você ou seus animais. — disse ele, com uma voz firme, mas não cruel.
Erina ergueu o queixo, o olhar determinado e desafiador.
— Não vou. Freud maltratava a mim e aos animais. Eles não são dele e eu não vou permitir que ele os machuque novamente.
Com uma expressão resoluta, Erina invocou Jack Frost. A pequena criatura mágica apareceu em sua forma etérea. Com um gesto, Jack Frost tomou posse de Bruce, que imediatamente começou a crescer. Seus músculos se expandiram e sua pelagem mudou de laranja para branco, enquanto cristais de gelo se formavam ao redor de seu corpo, cintilando à luz fraca da caverna.
O Major Guinter observou a transformação com interesse.
— Interessante. Esta luta é minha. Nathan, fique de olho.
Nathan bufou, desapontado.
— Isso não vale, Major. Eu queria lutar com ela.
— É uma pena, Tenente, mas aqui é uma luta entre felinos — disse Guinter, um sorriso predador se formando em seus lábios.
Com um rugido que ecoou pelas paredes da caverna, Guinter começou a se transformar. Seus músculos cresceram ainda mais, sua pele adquiriu um tom dourado, e seu rosto se alongou em um focinho de leão. Ele agora estava em sua forma híbrida, assumindo uma postura aterrorizante de homem-leão.
Bruce, imponente com seus cristais de gelo, rugiu e soprou um bafo gelado em direção ao Major, congelando-o instantaneamente em um bloco de gelo sólido. Erina deu um passo à frente.
— Fiquem longe de nós! Senão terão o mesmo destino! — gritou ela, sua voz ecoando pela caverna.
Freud recuou, aterrorizado, enquanto Nathan apenas gargalhava. O gelo que envolvia Guinter começou a rachar e, em um instante, se estilhaçou, revelando o Major ileso e sorrindo.
— Impressionante! Conseguiram me congelar tão facilmente. Entretanto, terão que fazer mais do que isso para me derrotar. Grarrarrarra! — exclamou ele, seus olhos brilhando com o desafio.
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