Luvas de Ifrit Brasileira

Autor(a): JK Glove


Volume 2

Capítulo 62: Evolua

Após retornarem à base, Nathan foi para o refeitório para o almoço. Com uma bandeja contendo sopa, frutas e pão, ele procurava um lugar para se sentar. O refeitório era espaçoso, com várias mesas longas e cadeiras de madeira. O ambiente era aquecido, um alívio bem-vindo após o exercício no gelo.

Enquanto caminhava entre as mesas, um soldado ao longe ergueu o braço e gritou:

— Ei, novato! Senta aqui!

Nathan se aproximou e cumprimentou os quatro soldados que estavam comendo.

— Ei, novato, meu nome é Tyr. Todos ficaram impressionados com a sua corrida hoje. Como fez aquilo? Magia? — perguntou Tyr, curioso.

— Sou Nathan Guts. Foi só no físico. Não sei usar magia — respondeu Nathan, um pouco sem graça.

— Guts? — Tyr arqueou uma sobrancelha, intrigado. — Mesmo sobrenome do herói de guerra Sullivan Guts? Se eu não o visse aqui, pensaria que são parentes. Hahaha!

Nathan sorriu, mas havia um traço de tristeza em sua expressão.

— As pessoas sempre pensam isso — murmurou ele, desanimado.

Outro soldado, brincalhão, se intrometeu:

— Não seja tolo, Tyr. Não tem como alguém ser da renomada família Guts e acabar aqui nesse lugar esquecido por Deus. Se ele fosse realmente um Guts, estaria como Capitão ou Major em um local mais ensolarado.

— Tem razão. — Tyr riu e deu um tapa amigável nas costas de Nathan. — O que importa é que o carinha aqui nos deixou para trás comendo poeira, ou melhor, gelo. Hehehe!

Nathan riu, tentando esconder seu desconforto. Em seguida, ele e os soldados começaram a tomar uma sopa quente, que os faziam sentir um calor revigorante se espalhar pelo corpo.

—Já estou quase congelando, isso de manhã e sem nevar. Não sei como vocês resistem correr sem nenhuma proteção. Vocês do interior são malucos — brincou Nathan enquanto tomava outra colherada de sopa.

Os soldados ao redor riram, e Tyr explicou:

— A gente corre desse jeito não por escolha nossa. Novato, você vai aprender que o menor dos seus problemas aqui é o frio. Na verdade, o Major Guinter é o verdadeiro pesadelo desse lugar.

Nathan olhou para Tyr, surpreso, e depois ele e seus novos companheiros passaram a conversar sobre assuntos aleatórios enquanto comiam e riam.

Naquela mesma noite, uma grande nevasca começou a cair sobre Bearfrost. A temperatura despencou drasticamente e alguns soldados começaram a adoecer devido ao frio intenso. Para combater o desconforto, os soldados decidiram acender uma fogueira na área central de treinamento. O pátio, com seu chão de cimento coberto de neve e equipamentos de treinamento espalhados, logo se encheu de soldados em busca de calor.

Guinter, observando a situação de longe, desceu até o pátio, seus passos firmes e determinados.

— Que reunião é essa, soldados? — ele perguntou, sua voz cortando o som da nevasca.

— Senhor, estávamos com muito frio e fizemos essa lareira para evitar que morrêssemos de hipotermia — respondeu um dos soldados, tremendo.

— Entendo. — Guinter olhou ao redor, avaliando a fogueira. — Soldados, essa fogueira está muito pequena. Vamos aumentá-la. Coloquem mais madeira e brasas quentes ao redor, em formato circular.

Os soldados se entreolharam, sabendo que algo mais estava por vir, mas fizeram como ordenado. Guinter, então, tirou suas botas e subiu nas brasas quentes, sua expressão era inabalável.

— Vamos, soldados. Se quiserem se aquecer, esta é a melhor forma. Quem quiser ficar perto da fogueira, deve aguentar em pé nas brasas. Quem não aguentar, volte para o dormitório — Guinter ordenou, desafiando os soldados.

Um a um, os soldados subiram nas brasas, mas muitos não conseguiam suportar o calor e o desconforto, retornando ao dormitório. Nathan, porém, manteve-se firme, suportando a dor e o frio, determinado a provar seu valor.

Guinter ficou impressioanado, observando a determinação do jovem. Este resistiu bravamente, permaneceu em pé a noite toda, de frente para seu Comandante. Ambos compartilhavam um entendimento silencioso, um respeito mútuo que crescia a cada momento.

Após o fim do exercício, Nathan caiu de joelhos. Por sua vez, o Major Guinter apenas caminhou na direção do jovem militar e deu uma leve btida em seu ombro, esboçando um sorriso contido. Mesmo exausto, Nathan sentia-se invencível, aquela atitude silenciosa do Major reacendeu uma chama de esperança em seu coração.

Pela primeira vez, ele estava determinado a não apenas sobreviver, mas a florescer em Bearfrost. Com o apoio e a orientação de Guinter, ele sabia que poderia superar seus limites e encontrar seu verdadeiro poder.

Dias se passaram. Numa manhã gelada, durante um dos treinos matinais do pelotão, Guinter conduziu seus soldados até um lago congelado. A neve reluzia como cristais sob a luz pálida do sol, e o ar estava cortante, prometendo um desafio inigualável.

Guinter, com sua presença imponente e olhar desafiador, posicionou-se à beira do lago. Ele deu um soco poderoso no gelo, quebrando a camada que cobria a superfície. Com os braços cruzados e o peito estufado, ele bradou:

— Ontem, ouvi o soldado Tyr reclamar que sentia saudades das belas praias do Reino de Bram, sua cidade natal. Esse comentário ficou ressoando na minha mente, fazendo-me pensar em como trazer essa experiência a um soldado tão dedicado. Até que vi este lago congelado. — O Major descruzou os braços e estalou o dedo da mão direita, como se tivesse tido uma ideia. — Ora, como uma equipe devemos ajudar a matar a saudade do nosso companheiro. Vamos ter um dia de lazer nessa “praia” congelada. Todos, tirem a roupa e vamos nos banhar neste lago.

Os soldados ficaram indignados, mas seguiram as ordens do Major. Tremendo de frio, eles se despiram e entraram na água gelada. O frio era tão intenso que muitos não conseguiam suportar, saindo rapidamente. Mas Nathan manteve-se firme dentro da água congelante, seus músculos tensos e a respiração rápida.

Guinter, notando a resiliência de Nathan, transformou-se em sua forma híbrida e mergulhou na água. O Major nadou em direção ao soldado e, com um movimento ágil, começou a atacá-lo, impedindo-o de subir à superfície para respirar. Nathan lutava desesperadamente para se libertar, seus pulmões queimando de necessidade de ar.

“Esse homem vai me matar. Não consigo respirar. Desse jeito, vou morrer rapidamente.”, pensou Nathan, o pânico crescendo dentro de si.

Guinter emergiu rapidamente para respirar e voltou para a água, agarrando Nathan por trás e arrastando-o mais para as profundezas geladas. Os outros soldados, assistindo ao redor do buraco de gelo, tentavam vislumbrar o confronto abaixo da superfície turva.

Nathan estava perdendo as forças. Sua visão começou a escurecer enquanto ele era empurrado cada vez mais para baixo. Sentindo-se à beira da inconsciência, ele ouviu a voz de Guinter sussurrar em seu ouvido: “Evolua.”

Em um lampejo de determinação, Nathan lembrou-se de todos os treinos que suportou desde sua chegada a Bearfrost. Seus olhos se encheram de uma nova resolução. Sua mente refletia: “Não posso desistir. Morrer aqui é aceitar que sou apenas um estorvo para o meu pai. Eu vou evoluir. Se meus pés não resolverem, usarei os braços. Se os braços não resolverem, usarei minha cabeça. Se isso não resolver, usarei... usarei... a minha língua.”

Com um esforço final, Nathan abriu a boca e uma língua pegajosa se estendeu, prendendo-se ao pescoço de um dos soldados na margem do lago. Os outros soldados seguraram o companheiro, impedindo-o de ser puxado para a água. Vendo isso, Guinter soltou Nathan e deu-lhe um chute nas costas, impulsionando-o para fora da superfície gelada.

Nathan emergiu e caiu fora do lago, sua língua recuando para a boca. Ele tremia violentamente, sentindo o frio intenso em cada célula de seu corpo. Guinter saiu da água e se aproximou de Nathan, pegando-o pelo pescoço e começando a sufocá-lo com sua mão direita. Os soldados ao redor gritavam para que o Major parasse, mas ele ignorava, focado apenas em Nathan.

Desesperado, Nathan abriu a boca novamente, e sua língua esticou-se, enroscando-se nos olhos do Major. Guinter soltou o pescoço de Nathan, tentando livrar seus olhos da língua pegajosa. Aproveitando a oportunidade, Nathan começou a se transformar em um híbrido de tamanduá, seus músculos se expandindo com nova força. Com um soco poderoso, ele atingiu o estômago do Major.

Não sei o porquê disso Major, mas não vou morrer tão facilmente. Se quiser me matar, terá que fazer melhor do que isso. Lutarei até o fim – disse Nathan, sua voz vibrando com determinação.

Guinter, rindo alto, desfez sua transformação, sua voz descontraída.

— Grarrarrarra! Então você também é um Transformo. Conseguiu despertar seu poder mágico. Agora só falta te fazer evoluir até a patente de Capitão.”

Nathan, surpreso e exultante, olhou para suas mãos, ainda em forma de tamanduá.

— Eu... despertei meus poderes mágicos? Não é possível. Hahaha! Obrigado, Major. Uhuhu! – ele gritava, pulando de alegria, esquecendo momentaneamente a dor e o frio.

Tyr, observando a cena, comentou confuso com um soldado ao lado:

— Ele quase morreu debaixo do lago para virar um rato?

Nathan, ouvindo o comentário, virou-se irritado.

— Que merda de rato, seu idiota. Eu sou um Tamanduá!

Guinter, com um olhar severo, disse a Nathan:

— Não esqueça, Nathan. Se quiser ficar mais forte, deve superar seus limites. Sempre há um passo a mais na evolução. Muitos podem desprezar, mas um tamanduá é poderoso. A língua desse animal é a maior de todas as armas. Utilize-a para ficar mais forte. Mostre ao mundo que você pode ir além. Evolua!

Três anos e meio se passaram. Durante todo esse período, o treinamento de Guinter continuou extremamente severo. Embora muitos soldados odiassem a liderança implacável do Major, Nathan, por outro lado, desenvolveu uma profunda admiração por ele. Seu sentimento de gratidão por ter despertado seus poderes mágicos e aumentado sua força era inigualável.

Os soldados enfrentavam desafios brutais, e muitos não conseguiam acompanhar o ritmo extenuante de Guinter. Alguns até sucumbiam, incapazes de suportar as provações e eram enterrados no meio do gelo. No entanto, Nathan sempre superava os treinamentos, o que lhe valeu uma promoção a Tenente durante esses anos. Sua força crescente e determinação incansável ganharam o reconhecimento do Major.

Um dia, enquanto Nathan conversava com os outros soldados no refeitório, Tyr se aproximou e bateu continência.

— Tenente Nathan, o Major quer falar com você.

— Obrigado, Tyr. Estou indo.

Nathan entrou na sala do Major, bateu continência e disse:

— Major, o soldado Tyr me informou que o Senhor quer falar comigo.

Guinter olhou para Nathan com um brilho nos olhos e indicou uma cadeira.

— Sim, sente-se, Capitão Nathan.

Nathan hesitou, atônito, quase sem acreditar no que ouvira.

— Ei, o Senhor disse Capitão?

— Exatamente, Capitão Nathan. — Guinter retirou alguns documentos e os jogou sobre a mesa. — Esta é a documentação expedida pela GPA promovendo-o a Capitão.

— Estou sem palavras, Senhor. Não tenho como agradecer.

— Não precisa me agradecer. — Guinter sorriu, demonstrando orgulho pelo seu subordinado. —Foi seu esforço que o trouxe a este patamar. Mas não se contente com pouco. Ainda há uma longa jornada pela frente.

— Eu sei, Major. Mal posso esperar pela nova bateria de treinamentos que o Senhor elaborou – disse Nathan, empolgado.

Guinter suspirou, buscando uma forma de falar. Ele entrelaçou os dedos sobre a mesa, falando com voz séria e calma:

— Quanto a isso, Capitão Nathan, não será possível...

— Como assim, Major? — Nathan franziu o cenho e perguntou confuso.

— Junto com sua promoção, eu conversei com algumas pessoas e garanti sua transferência para um novo local. É um vilarejo pequeno, mas já é um enorme avanço comparado a este posto — Guinter continuou, seu tom era solene.

— Isso não é justo, Major. Sem você, eu nunca teria despertado meus poderes mágicos. Preciso continuar com seus treinamentos. Só assim chegarei a um maior patamar – Nathan disse, indignado.

Guinter, com um olhar severo, respondeu:

— NÃO SEJA TOLO, NATHAN! — depois, suavizando o tom — Sua força o levou à patente de Capitão. Mas, para assumir postos superiores, você precisa enfrentar novos desafios e realizar grandes feitos. Este lugar não vai lhe proporcionar isso.

— Major, não posso ir para um novo local enquanto você fica aqui. Você me ensinou tudo o que sei. Não seria justo. — Nathan cerrou os punhos, sua voz triste e desanimada contrastava com a sua personalidade.

Guinter olhou nos olhos de Nathan e explicou com voz calma:

— Nathan, já parou para pensar por que temos treinos tão pesados?

— Não...

— Em Bearfrost, não há nada além de gelo. Não posso subir para a vaga de Coronel neste local. Contudo, outra pessoa pode fazer isso por mim. Eu treino esses palermas para que sejam os mais fortes onde estiverem. Com isso, a GPA entenderá que fui o catalisador de tal poder, e me colocando no alto escalão, poderei forjar soldados poderosos como ninguém. O problema é que neste lugar são enviados apenas os mais fracos. Entretanto, você foi diferente, seu potencial é alto. Valorizo isso. Por isso, preciso que alce voos mais altos e leve o meu nome junto. Se souberem que transformei um soldado raso sem magia em um Capitão poderoso, poderei sair daqui. Entenda, o seu sucesso é o meu sucesso.

Nathan corou e sentiu-se entusiasmado com o elogio. Seu olhar tornou-se determinado.

— Entendo, Major. Farei como me pediu. Da mesma forma que me prometeu fazer Capitão, eu lhe prometo fazer Coronel.

— Grarrarra! Esse é o espírito. — Guinter sorriu, apertando o ombro de Nathan.

— Major Guinter, para onde fui destacado?

— Estou há muitos anos isolado neste lugar, logo, não tenho muitos contatos. Contudo, consegui a ajuda de um velho amigo. Será uma viagem longa. Daqui a três dias, você pegará a locomotiva na cidade de Longclaw em direção à Capital. De lá, embarcará em um navio até o Reino de Ekala. De Ekala, seguirá para o interior do reino, para um vilarejo chamado Lakala. Nesse vilarejo, você encontrará seu novo superior, meu amigo, Major Thorgen Brown. Quando o vir, agradeça. Ele que me ajudou com sua transferência.

— Farei conforme ordenado. Só quero uma coisa em troca: que o Senhor possa comparecer à minha despedida — pediu Nathan, aceitando a ideia com mais naturalidade.

Guinter sorriu orgulhosamente:

— Eu não perderia por nada, Capitão. Tem a minha palavra.

— Obrigado, Senhor – disse Nathan, batendo continência e levantando-se da cadeira.

Antes de sair, Guinter acrescentou com um tom de ordem:

— Uma última coisa, Capitão. Vá até as celas e veja como estão os prisioneiros. Embora pareçam fracos estão sendo caçados por um General.

— Caçados por um General? O que eles fizeram, Major?

— Eu não sei, é assunto confidencial, foram liberadas poucas informações. — Guinter jogou uma pasta de documentos nas mãos de Nathan e continou: — Contudo, o General Levi Burgess tá vindo pegá-los pessoalmente e exigiu que eles estejam saudáveis e sem nenhum arranhão. Não confio nesses palermas para garantir isso. Agora vá!

 

 

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