Volume 2
Capítulo 61: Exilado no Fim do Mundo
Após encerrar a ligação com o líder da Sabertooth, Baan jogou a runa de comunicação no chão, sua expressão determinada e a respiração pesada. Ele se virou para Joe, que estava escondido atrás de um arbusto, assistindo a luta de longe, incrédulo e com os olhos arregalados.
— Ei, Joe, você tá bem? — Baan perguntou, sua voz firme cortando o silêncio da floresta.
Joe, ainda boquiaberto, mal conseguia processar a vitória de Baan.
— Sim, estou. Ainda não consigo acreditar que um membro da Sabertooth foi realmente derrotado. É surreal.
— Você superestima esses caras. — Baan deu um sorriso de lado, sua confiança inabalável. — Vamos logo, agora nossa prioridade é comer algo e fazer uma fogueira para fazermo tochas para caminhar durante a noite. Precisamos encontrar sua esposa e a Moara. Depois disso, vou lutar com Guinter.
Joe, sentindo uma onda de esperança inundar seu coração, pensou: “Ele fala com tanta confiança. Talvez ainda possamos reverter essa situação ao nosso favor antes da chegada do rei. Papai, seu sacrifício não será em vão.”
— Ei, Joe, pare de ficar parado e venha logo. Não temos tempo a perder — Baan disse, já segurando a lenha que havia recolhido.
— Foi mal. Estou indo. — Joe balançou a cabeça, tentando focar no presente, e se apressou para ajudar Baan, recolhendo as frutas que tinha pego.
Na cidade, Guinter corria desesperadamente com Otto desacordado em seus braços, tentando alcançar a mansão de Bolívar. A paisagem urbana passava como um borrão enquanto ele atravessava ruas e becos, a mente assaltada por pensamentos turbulentos.
“Como o Nathan pôde perder para aquele maldito? Por que isso me afeta tanto? Não consigo parar de pensar nele. De todos os membros da Sabertooth, ele era o mais próximo de mim. Entendia meu modo de pensar, meu modo de agir. Droga, Nathan, eu vou te vingar!”, Guinter refletia, sua mente voltando ao passado.
Dez anos antes, em um campo de treinamento coberto de neve, Nathan, então com 17 anos, fazia flexões com os punhos cerrados no solo frio e duro. Ele estava exausto, mas mantinha-se determinado.
“3383, 3384, 3385... Não aguento mais. Preciso aumentar a quantidade de flexões se eu quiser deixar de ser um estorvo. Não posso descansar agora. Vamos, corpo, levanta!”, Nathan murmurou internamente, sua respiração ofegante criando nuvens no ar gelado.
Um soldado, Juan, entrou no campo, tremendo de frio. Ele observou Nathan com admiração.
— Ei, Nathan, você se superou desta vez. Já fazem quatro horas desde que o treino acabou e você ainda tá aqiu, no meio desse frio. Tá tentando bater o recorde de quem fica mais tempo treinando? — Juan comentou, seus dentes batendo de frio.
— Gostaria que fosse isso. Tenho 17 anos e ainda não manifestei nenhum poder mágico. Se continuar assim, nunca serei mais do que um soldado raso — ele respondeu, a voz carregada de frustração.
Juan suspirou, tentando animar o amigo.
— Ei, não é vergonhoso ser um soldado raso. Muitos nem conseguem se alistar na GPA.
— Não quis menosprezar o cargo. É só que... — Nathan se virou para o lado, o olhar triste sobrepujava sua determinação — sem alcançar patentes mais altas, serei apenas um peso para a minha família... para o meu pai — ele respondeu, apertando os punhos.
— Quem é seu pai, Nathan? — Juan, curioso, perguntou.
— Sullivan Guts — Nathan respondeu, a tristeza evidente em sua voz.
— O quê? Juan arregalou os olhos em choque — Você tá zuando, Nathan? Seu pai é o ex-General Sullivan Guts? Não consigo associar — ele exclamou, sem acreditar.
— Eu sei... Um ex-General com um filho que não consegue manifestar poderes mágicos. É realmente difícil de associar —murmurou Nathan com olhar baixo e a vergonha estampada em seu rosto.
.Juan balançou a cabeça, tentando se recuperar do choque.
— Desculpa, Nathan. Não quis dizer isso. É que... seu pai é uma lenda viva. Dizem que ele quase se tornou Marechal. Você deve sentir muito orgulho dele.
— Sim... — Nathan respondeu, desconcertado.
— Dizem que ele teve uma grande luta em uma missão, onde sacrificou um braço e uma perna. Ele é realmente forte. Eu gostaria de conhecê-lo um dia. — Juan continuou, tentando animar o amigo.
— Ele virá aqui amanhã. Quer falar comigo. — Nathan suspirou novamente. — Provavelmente vai me dizer o quanto sou um inútil.
— Sério? Nathan, me apresenta a ele! — Juan diz entusiasmado, segurando as mãos do amigo. — Eu ficaria eternamente grato.
— Tudo bem. Mas me leva para o dormitório. Não consigo me mexer — Nathan respondeu exausto.
Juan pegou Nathan e o carregou até o dormitório, onde outros soldados já estavam dormindo. Ao colocá-lo na cama, Nathan segurou a mão de Juan.
— Vou te apresentar a ele... Só não crie muitas expectativas. Ele pode não ser como você espera.
No dia seguinte, Nathan e Juan estavam em um corredor que dava acesso ao gabinete. Do outro lado, eles veem Sullivan Guts, um homem de 67 anos, com cabelos curtos grisalhos e áreas calvas devido a queimaduras. Ele mancava, apoiado em uma haste metálica, um braço enfaixado e tem curativos cobrindo metade de seu rosto.
— Bom dia, Ex-General! — Nathan e Juan disseram em uníssono, batendo continência.
Sullivan, sem sequer olhar para eles, respondeu friamente:
— Venha, Nathan. Precisamos conversar.
— Pai... digo, Ex-General, antes de irmos, quero apresentar-lhe o Juan. Ele é um soldado raso como eu e é seu fã — Nathan disse, tentando soar firme.
Sullivan finalmente se virou mantendo um olhar severo.
— É por isso que você ainda é um soldado raso. Perde tempo com gente fraca — respondeu o militar aposentado, desdenhando de Juan.
— Ex-General, não precisa repreender o Nathan. Eu que pedi para conhecê-lo. Gostaria apenas de um autógrafo — respondeu Juan, tentando manter a compostura.
Sullivan deu um passo à frente, seu rosto uma máscara de desprezo.
— Suma daqui e nunca mais me dirija a palavra. Qualquer coisa diferente disso, vou considerar desacato e mandarei prendê-lo.
Juan, com os olhos brilhando de lágrimas não derramadas, bateu continência e saiu apressadamente, humilhado.
— Ex-General, não havia necessidade... — Nathan começou, mas foi interrompido.
— Isso é culpa sua. Venha logo. Não vou repetir! — Sullivan murmurou, voltando a caminhar.
Pai e filho entram no gabinete. Nathan ficou em pé diante da mesa, enquanto Sullivan se sentou atrás dela. O silêncio era cortante.
— Ex-General Sullivan, como estão minha mãe e o Samuel? — Nathan tentou quebrar o gelo.
— Vivos — Sullivan respondeu secamente.
— Senhor, eu...
— Cale-se, Nathan. Mostre-me o quanto ficou mais forte — Sullivan ordenou.
Nathan, tentando impressionar, retirou a camisa e mostrou seus músculos.
— Veja, eu estou bem mais forte.
— Vista-se. — Sullivan balança a cabeça, irritado. — Isso é irrelevante. Quero ver seus poderes mágicos — disse ele com firmeza.
— Eu ainda não manifestei nenhum poder mágico — Nathan murmurou cabisbaixo, a vergonha escorrendo por sua voz.
— Nossa família já esteve no topo da GPA como Marechais por três gerações. — Sullivan se levantou de repente, sua voz cheia de raiva. — Mas, e agora? Perdemos nosso prestígio. Produzimos apenas Capitães e Majors. Você sabe o que isso significa?
— Eu não sei, Senhor — Nathan respondeu, sua voz quase inaudível.
— Nossa família se tornou fraca, irrelevante, somos apenas motivo de piada para os outras. Só que eu fiz diferente dos demais, assumi minhas responsabilidades e me tornei General, fiz a família Guts voltar a ser relevante. Contudo, as circunstâncias do destino me fizeram ganhar essas lesões e cicatrizes. Agora, te pergunto, o que restou para a família Guts depois da minha aposentadoria?
Nathan apenas olhou para o chão sem responder nada, enquanto Sullivan continuou, sua voz um trovão de desapontamento.
— Quatro filhos. Quatro chances de restaurar nosso nome. Dois morreram como Capitães e um não passa de um soldado raso. Minha única esperança é seu irmão Samuel, que já vai nomeado para o posto de Major. Ele sim tem potencial. — Sullivan pôs a mão no rosto com expressão de cansado. — Logo eu irei morrer e preciso usar minhas conexões para que um Guts consiga novamente alcançar o patamar de Marechal... Precisamos tirar aqueles bárbaros da família Vorkam desse posto.
— Pai, eu vou ascender na GPA. — Nathan cerrou os punhos, sua determinação crescendo. — Eu prometo!
Sullivan o atingiu com um tapa violento, sua raiva transbordando.
— Nunca mais me chame de pai. Nunca mais diga a ninguém que você é um Guts. É humilhante para nossa família ter um descendente que não consegue usar magia.
Nathan, com lágrimas nos olhos, tentou se recompor.
— Ex-General, eu posso ficar mais forte. Só preciso de mais tempo — implorou ele.
— Eu já sabia que você não manifestaria poderes mágicos. — Sullivan suspirou, se virando de costas. — Já tomei providências para sua transferência para Bearfrost.
— Senhor, Bearfrost é um lugar esquecido. Nada acontece lá. Eu vou morrer sem que ninguém saiba. Não ve leve para lá — suplicou Nathan, chocado.
— Já está decidido. — Sullivan manteve-se de costas, sua voz mais fria que o gelo ao redor do acampamento militar. — Talvez em Bearfrost você encontre a força que tanto almeja ou morra tentando. Dispensado.
Nathan, gesticulando desesperadamente, explodiu.
— Você só quer me tirar do caminho. Quer que eu morra lá. Lógico! É muito melhor me isolar naquele fim de mundo do que alguma família contrária me utilizar para prejudicar suas conexões políticas para as futuras promoções do Samuel.
— Eu já disse soldado, dispensado — Sullivan gritou, virando-se e olhando fixamente para seu filho.
— Só tenho uma última coisa a dizer. Vai a merda, PAI — Nathan gritou, saindo furiosamente da sala.
— Volte aqui, soldado! Koff, koff — Sullivan, tossindo, pegou seus remédios do bolso e sentou-se rapidamente, engolindo dois comprimidos.
“Vou deixar esse estorvo para lá. Bearfrost e o Major Guinter serão punição suficiente para sua insolência. Agora, devo me concentrar no Samuel e na suas futuras promoções”, pensou o ex-General, olhando para a porta onde seu filho havia saído.
Alguns dias após sua transferência, Nathan chegou ao posto militar de Bearfrost. O local, isolado e coberto de neve, era cercado por montanhas imponentes e o frio intenso permeava cada canto. Envolto em um casaco e capuz de pele de urso, Nathan caminhava em direção à entrada do posto, totalmente coberto por casaco, máscara, cachecol, luvas e demais acessórios de proteção ao frio.
Antes mesmo de alcançar a grande porta de madeira, esta se abriu, revelando o Major Guinter e um grupo de soldados em formação. Eles estavam de camiseta, calça e botas pretas, contudo, sem qualquer proteção contra o frio extremo.
“Esses caras são malucos. Como conseguem ficar assim nesse frio desgraçado? Eles vão congelar.”, pensou Nathan, observando incrédulo.
Guinter avistou Nathan e se aproximou, sua presença imponente destacando-se contra o cenário gélido.
— Ei, garoto! Quem é você e o que faz aqui? — Guinter perguntou, sua voz grave ressoando pelo pátio.
— Sou o novo soldado, Nathan Guts. Eu era da Capital, mas fui destacado para cá a pedido do Ex-General Sullivan Guts — respondeu Nathan, impressionado com a estatura e o porte físico de Guinter.
— Você parece mais um ursinho de pelúcia do que um soldado. Tire essas roupas, rapaz — Guinter ordenou, a voz firme.
— Certo, senhor — Nathan respondeu, retirando o casaco, a máscara e os demais acessórios de proteção ao frio, sentindo o ar gélido morder sua pele.
Guinter observou irritado enquanto Nathan se despia de seus acessórios de proteção.
— Outra coisa, lá na Capital esqueceram o que é educação? Não o vi bater continência ainda, soldado.
— Perdão, senhor. Fiquei tão perplexo com a forma como estão vestidos neste frio que acabei esquecendo — Nathan repondeu, batendo continência com rapidez.
Guinter deu um meio sorriso, divertindo-se com a situação.
— Aproveite que estou de bom humor durante o exercício matinal. Faça quinhentos abdominais agora e depois alcance nosso pelotão. Se conseguir, poderá almoçar. Boa sorte, garoto.
— Certo, senhor — Nathan respondeu, começando os exercícios com determinação.
— Vamos, cambada de inúteis. Precisamos correr. Não queremos perder esse lindo amanhecer. Grarrarra! — Guinter bradou, levando os soldados a correrem no gelo.
Nathan, após terminar os abdominais, correu em direção ao grupo. Guinter, ao vê-lo se aproximar, acelerou a corrida, desafiando os soldados a acompanhá-lo. Embora muitos tentassem, poucos conseguiam manter o ritmo.
Surpreendentemente, Nathan não só alcançou os soldados como também os ultrapassou, mantendo-se ao ritmo de Guinter. O Major, impressionado, virou-se para Nathan e gritou:
— Ei, garoto! Você já garantiu o almoço de hoje. Quero te propor algo melhor: me alcance e vou trocar meu almoço contigo. O cozinheiro está me preparando um filé bem saboroso.
Nathan, respirando com dificuldade, mas com os olhos brilhando de determinação, respondeu:
— Aceito o desafio, Major. Só não vá me repreender quando eu estiver comendo o seu almoço. Seja um bom perdedor.
— Grarrarra! — Guinter gargalhou, sua risada ecoando pelo vale. — Esse é o espírito, garoto — ele bradou, acelerando ainda mais.
O Major corria cada vez mais rápido, e Nathan não cedia, mantendo-se firme em sua perseguição. Seus pés começavam a formigar, sua respiração ficava mais ofegante e o frio penetrava cada vez mais em sua pele, mas ele não desistia. Sua determinação impressionava Guinter, que observava atentamente o esforço do jovem.
Nathan, percebendo que estava se aproximando do limite de suas forças, decidiu dar um último sprint. Passo a passo, ele se aproximava do Major, quase sentindo que poderia tocar suas costas. Entretanto, Guinter, percebendo a aproximação, acelerou ainda mais, transformando-se em sua forma híbrida de leão.
As esperanças de Nathan desvaneceram. Ele caiu no chão, rolando na neve, esgotado e sem forças para continuar. Guinter, ainda em sua forma híbrida, aproximou-se de Nathan, admirando sua tenacidade.
— Estou impressionado. Você tem futuro, garoto. É diferente da maioria desses bundas moles. Vou te lapidar! — Guinter declarou, sua voz ressoando com um misto de desafio e encorajamento.
Nathan, lutando para recuperar o fôlego, respondeu com a voz embargada:
— Senhor, eu não mereço esse elogio. Nem poder mágico eu tenho. Estou aqui apenas por ser um estorvo para a família Guts.
Guinter, retornando à sua forma humana, olhou para Nathan com seriedade.
— Não seja dramático, garoto. Farei você despertar seus poderes mágicos. Sob minha supervisão, você sairá daqui como Capitão. Apenas evolua!
As palavras de Guinter tocaram o coração de Nathan. Pela primeira vez, ele sentia seu esforço sendo reconhecido. Lágrimas começaram a escorrer por seu rosto, misturando-se com o frio cortante.
— Ai, ai, minhas lágrimas estão congelando. Isso dói — Nathan murmurou, tentando limpar os olhos.
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