Luvas de Ifrit Brasileira

Autor(a): JK Glove


Volume 2

Capítulo 57: Beijinho bobo

Em outra parte da floresta, Uji e Rydia corriam, tentando atravessar o denso bosque. O samurai, ofegante, interrompeu a corrida.

— Assim não dá. Se continuarmos correndo, nunca vamos chegar lá — disse Uji, respirando pesadamente.

Rydia, pensativa, olhou para as copas das árvores e sorriu.

— Quem disse que precisamos ir correndo? Podemos usar a física para nos levar até lá, mas especificamente, a força elástica. Hehe! — respondeu ela, com um brilho travesso nos olhos.

— Como assim?

— Na física, a força elástica atua na deformação de materiais como molas, borrachas e elásticos. Ela age no sentido contrário à força recebida pelo corpo. Se esticarmos minha água elástica ao máximo, uma força igual, mas no sentido oposto, vai nos impulsionar, como um estilingue. — explicou Rydia, animada.

— Você sempre me surpreende com suas engenhosidades. É por isso que, de todas as mulheres da minha vida, você é a minha preferida — brincou Uji.

— Deixe de falar besteira, seu falastrão! Vamos ao trabalho — retrucou Rydia, sem dar atenção ao comentário.

Rydia lançou sua água elástica entre as árvores, amarrando-a no topo de duas delas. Com a ajuda de Uji, começaram a esticar a água ao máximo. Quando soltaram, a força de contração os arremessou em alta velocidade por cima da floresta, como uma bala disparada.

Em um movimento olbíquo, eles avançaram uma distância considerável, até alcançarem a área urbana da cidade. No entanto, começaram a perder altitude antes de chegarem ao destino.

— E agora, Rydia? Como vamos evitar a queda? Faz algo rápido, senão vamos nos espatifar no chão — perguntou Uji, preocupado.

— Calma! Acha mesmo que eu não pensei em um plano para aterrissarmos? — respondeu Rydia, formando uma bolha gigante com sua água elástica, envolvendo ambos.

A bolha amortecia a queda e rolava pela cidade, em direção à mansão de Bolívar. Do alto de uma varanda, um dos capangas de Bolívar observava os cidadãos de Passafora se reunirem em frente à praça principal, protestando contra o ataque no distrito de Carabás e exigindo melhores condições de trabalho.

Bolívar, irritado, bateu na mesa ao ser informado da situação. Ele acionou uma runa de comunicação e enviou uma mensagem ao líder da Sabertooth.

Guinter, Osken e Otto haviam emergido da passagem subterrânea, a luz do entardercer começava a envolver a entrada da cidade. Uma runa de comunicação no bolso de Guinter começou a vibrar. Ele a retirou e ouviu a voz aflita de Bolívar.

— Mestre Guinter, mestre Guinter, onde você se meteu? É urgente! — a voz de Bolívar soava desesperada.

— O que foi, Bolívar? Para que tanto nervosismo? — respondeu Guinter, um tanto irritado.

— Tem um bando de vagabundos protestando na praça central. Preciso que vá lá e ponha um fim nisso! — Bolívar parecia à beira de um colapso.

Guinter franziu o cenho, desdenhando da preocupação de Bolívar.

— Não sei por que está tão nervoso com um bando de trabalhadores falidos. Envie seus capangas e eles cuidarão disso — disse ele, com um toque de desprezo.

— Esses fracotes não conseguem intimidar os grevistas. A comitiva real chega amanhã, e eles precisam ver as consequências reais de se rebelarem contra mim. Não basta apenas conter o movimento; tem que destruir qualquer sentimento de revolta ou esperança. O rei deve saber que tenho tudo sob controle. Caso contrário, ele pode negar o casamento com sua filha, e sem esse casamento, não poderei pagar os seus reajustes — explicou Bolívar, a voz grave e rouca.

— Isso foi uma ameaça, Bolívar? — Guinter estreitou os olhos, em um tom ameaçador. — Espero que eu tenha entendido errado — continuou ele, sua voz baixa e carregada de perigo.

— Não, mestre Guinter. Foi um equívoco de interpretação. — Bolívar engoliu em seco, que continou a falar, sua voz tremendo de medo: — Quero dizer que preciso de mais recursos para recompensá-lo devidamente, até mais do que o acordado. Hehehe...

— Grarrarra. Bolívar, fico feliz que você saiba onde está seu lugar nessa relação. Não se preocupe, farei como pediu. Irei com Osken e Otto e esmagarei qualquer ímpeto de revolta — disse Guinter, guardando a runa no bolso. Voltando-se para seus subordinados, anunciou: — Temos um novo trabalho a fazer.

Enquanto isso, a bolha de água elástica criada por Rydia se aproximava da mansão de Bolívar. O sol lançava longas sombras sobre a cidade enquanto o samurai, ainda dentro da bolha, sacava sua katana. Com um movimento preciso, ele perfurou a bolha, interrompendo seu movimento e fazendo os dois caírem no chão, encharcados.

— Rydia, nunca mais use essa técnica sem me avisar. — Uji tossiu várias vezes, tentando recuperar o fôlego. — Meu estômago está embrulhado. Era melhor ter vindo correndo — disse ele, tentando esconder a náusea.

Rydia apenas deu um sorriso travesso.

— Deixa de besteira, Uji. Não temos tempo a perder. Chame a atenção de todos. Eu vou invadir a mansão silenciosamente. Quero recuperar o Decreto Imperial e, se possível, matar Bolívar — disse ela, com os olhos fixos na mansão, sacando sua pistola de água pressurizada.

— Pode deixar. — Uji sorriu, segurando sua katana com firmeza. — Vou fatiar quem aparecer na minha frente.

O samurai avançou, segurando sua katana com ambas as mãos, movendo-se em direção à entrada da mansão. Um grupo de capangas armados protegia o local e rapidamente notaram a figura imponente de Uji se aproximando.

— Olhem ali, um samurai loiro vindo na nossa direção. Não sabia que existiam samurais loiros em Endo — disse um dos capangas, perplexo.

— Idiota! Esse é o samurai da Crossed Bones. Ataquem! Matem-no! — gritou outro capanga, tentando organizar os homens.

Antes que pudessem reagir, Uji lançou seu golpe Aokiji, uma onda de energia que eletrificou todos os capangas e quebrou o portão da entrada da mansão. Ele correu adiante, cortando qualquer um que se colocasse em seu caminho com a precisão de um mestre espadachim. Os raios do sol poente lançavam um brilho dourado sobre a cena, criando um contraste quase poético com a violência.

Rydia aproveitou a confusão. Escondendo-se entre as plantas do jardim, ela avançou silenciosamente, alcançando uma janela lateral e entrando no interior da mansão sem ser notada.

Do alto da varanda da mansão, Rafarillo e Steffens observavam a dupla de magos da Crossed Bones. Trocaram olhares e abriram um grande janelão de vidro atrás deles. Ao atravessarem, encontraram-se no escritório de Bolívar. O empresário, sentado em sua poltrona de couro, tremia de nervosismo.

— Já não bastavam os grevistas. Agora isso... Estão invadindo a minha mansão. Será que chegou a minha hora de morrer? — murmurou Bolívar, suas mãos suadas tremendo.

Steffens se aproximou, com um sorriso suave e calculado. Ela inclinou-se para ficar ao nível dos olhos de Bolívar, acariciando suas bochechas com uma doçura enigmática.

— Eu nunca deixaria que alguém fizesse mal a você, meu doce cachorrinho. Vamos acabar com os invasores sem um único golpe nosso. Mas, para isso, preciso que confie em mim e siga o plano. Confia em mim, não é? — sua voz era como mel venenoso, sedutora e letal.

Bolívar, confuso e amedrontado, apenas assentiu.

No exterior da mansão, Uji avançava pelo jardim, sua katana cortando os capangas de Bolívar como se fossem meros obstáculos. Próximo da porta de entrada, ele usou sua técnica Hien, um golpe giratório que dizimou os inimigos ao seu redor. Apenas um deles conseguiu se manter de pé. Uji sorriu e correu em sua direção, esmagando-o contra a porta da mansão com um pisão firme, quebrando-a no processo. Apontando sua espada para o pescoço do homem caído, ele perguntou onde Bolívar estava.

— No... no escritório dele. É no fim do corredor... — gaguejou o capanga, apontando tremulamente na direção certa.

“Isso tá muito fácil. Será que eles deixaram Bolívar sozinho, sem ninguém da Sabertooth para protegê-lo? Não acredito que sejam tão amadores assim. Deve haver alguma armadilha...”, pensou Rydia, mantendo-se escondida enquanto observava o avanço de Uji.

O samurai chegou ao escritório de Bolívar e, para sua surpresa, encontrou apenas uma mulher com um saco na cabeça, amarrada a uma poltrona. Ele rapidamente cortou as cordas e retirou o saco, revelando a bela Steffens.

— Quem é você, senhorita? Onde está Bolívar? Ele deveria estar aqui — perguntou Uji, tentando esconder seu embaraço ao ver a beleza estonteante da mulher.

— Meu nome é Steffens. Sou uma cidadã local. Bolívar se apaixonou por mim e me raptou da minha família para que eu o servisse. Ele estava aqui, mas fugiu com um membro da Sabertooth e me deixou amarrada — disse ela, chorando e se abraçando ao samurai.

“Não julgo Bolívar por ter se apaixonado por ela. Que mulher linda! Meu coração não resiste a tanta beleza. Não se preocupe, senhorita. Vou usar minha técnica mais poderosa, aquela que aprendi com meu quase irmão Trace, a qual nem uma princesa foi capaz de resistir. Hahaha!”, pensou Uji, sentindo o rosto corar.

 “Que samurai idiota. Ele nem desconfia que escondemos Bolívar num compartimento coberto por um piso falso no quarto. Vou usar meus encantos para seduzi-lo e fazê-lo se arrepender de enfrentar a Sabertooth.” Steffens murmurou consigo, suas lágrimas falsas brilhando.

Com as mãos no peito do samurai, ela se inclinou levemente para trás, aumentando seu charme. Contudo, Uji, após embainhar sua katana, segurou as mãos da mulher, olhou fundo em seus olhos e disse:

— Só um minuto, senhorita. Coisa rápida. Mas preciso rever uma informação com certa urgência.

Com um movimento ágil, Uji retirou um caderninho de dentro de seu quimono e começou a procurar uma página específica. Steffens, perplexa e irritada por dentro, observava sem entender, esquecendo de derramar suas lágrimas falsas, prejudicando sua atuação. O contraste entre a sua expressão desconcertada e a sua performance teatral anterior era gritante.

Quando finalmente encontrou a página que procurava, Uji leu rapidamente as palavras inscritas e, com uma expressão surpreendentemente solene, ergueu o olhar e perguntou, confuso:

— Steffens, já parou de chorar?

A mente de Steffens fervilhava. “Que vacilo! Talvez ele estivesse me testando para ver se eu variava meus sentimentos e, assim, descobrir a farsa... Preciso contornar a situação. Ele vai ver que sou uma verdadeira atriz.”, pensou ela.

Em resposta, ela voltou a derramar lágrimas falsas, intensificando seu ato de vulnerabilidade.

— Ainda estou com medo de toda essa situação — disse ela com uma voz trêmula. — Contudo, nobre samurai, sua coragem confortou o meu coração por um breve momento.

O samurai, sem dizer uma palavra, ficou encarando-a, com a mão no queixo, criando um silêncio constrangedor. Steffens sentiu a tensão crescer, cada segundo parecia uma eternidade.

“O que ele está fazendo, me encarando desse jeito? Ai, merda, ele está desconfiando do meu disfarce,”, borbulhava a mente de Steffens, cada vez mais preocupada.

Na tentativa de manter a situação sob controle, ela perguntou:

— Aconteceu algo, nobre samurai? Está com medo de mim?

Uji permaneceu imóvel por um momento antes de responder:

— Hum, estava esperando você perguntar. Contudo, não é esta a pergunta que eu esperava. Eu esperava que você perguntasse algo do tipo: “O que faz aí parado, nunca viu uma mulher chorando?”

— Se assim insiste... O que faz aí parado, nunca viu uma mulher chorando? — respondeu Steffens, visivelmente confusa com a situação.

 “Ok, agora é hora de usar a técnica passada de geração em geração pelo meu quase irmão, Trace. Prepare-se para se apaixonar por este samurai.”, pensou Uji, visivelmente empolgado. Ele se ajoelhou diante dela, pegando sua mão direita com grande delicadeza, e falou com uma voz firme e galante:

— Princesa, eu já vi muitas mulheres chorarem. Entretanto, nunca vi nenhuma irradiar tanta doçura ao fazê-lo. Vê-la chorar é como presenciar o cair de um orvalho em uma pétala. Sei que fui rude em apenas te admirar sem oferecer ajuda alguma. Sinto que simplesmente fiquei hipnotizado. Peço-lhe perdão!

“NOOOSSA! Nunca pensei em ouvir palavras tão doces. Isso é um verdadeiro gentleman!”, pensou Steffens, corando involuntariamente. Seu coração acelerou com a inesperada intensidade das palavras do samurai.

Uji se levantou e, em um momento de tensão suspensa no ar, Steffens sorriu e o beijou. Em sua mente, Uji apenas agradecia ao Trace por ensiná-lo tal cantada.

 

 

Durante o beijo, a maga da Sabertooth se inclinou para trás, sentando-se na beirada da mesa, enquanto Uji, ansioso para prolongar o momento, inclinou-se para frente, abaixando completamente sua guarda. A mulher, com movimentos suaves e calculados, puxou de uma das gavetas da mesa um fone de ouvido amarelo.

— O beijo foi bom, gatinho, mas não se mistura amor com negócios! — Steffens sussurrou no ouvido de Uji.

O samurai percebeu a movimentação estranha da maga, mas era tarde demais, ela conseguiu encaixar os fones de ouvido em seus ouvidos.

Com os fones de ouvido acoplados, Uji começou a ouvir uma música em alto volume, um som metalcore que o dominou instantaneamente. Seus olhos ficaram vazios e seu corpo ficou estático. Nesse momento, o janelão de vidro se abriu, revelando Rafarillo vindo da varanda, segurando uma pequena caixa de som com símbolos rúnicos.

— Forja Básica, Boombox, primeira música, Master of Puppets (Mestre das marionetes)! — anunciou Rafarillo, com um sorriso satisfeito.

— Missão completa, um a menos. Agora só falta a mulher dos cabelos verdes — Steffens exclamou, aliviada, passando os dedos entre os lábios.

— Vamos atrás dela, irmã. AAh, uma dúvida: você realmente precisava beijá-lo? — perguntou Rafarillo, erguendo uma sobrancelha.

— Não se preocupe, irmão. Foi só um beijinho bobo. Não podia arriscar que ele percebesse nosso movimento. Agora vamos derrotar a parceira dele antes que ela alcance o balofo, ops, o meu cachorrinho — Steffens respondeu, dando de ombros.

Os irmãos saíram do escritório, e Uji os seguiu pacificamente, como se fosse um companheiro dos magos da Sabertooth. A tensão no ar aumentava, enquanto o trio avançava confiante, prontos para matar Rydia.

 

 

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