Luvas de Ifrit Brasileira

Autor(a): JK Glove


Volume 2

Capítulo 56: Um aliado retorna

Após atravessarem o lago, Joe, com Baan em suas costas, Uji e Rydia emergiram do outro lado, ofegantes e com os corações acelerados. A água elástica de Rydia os protegera durante a fuga, mas agora estavam encharcados.

Diante deles, uma densa floresta se estendia até onde a vista alcançava, com árvores altas e folhagens vibrantes. Raios de sol filtravam-se entre os galhos, criando padrões de luz e sombra no chão coberto de folhas. O ar estava úmido e fresco, e o cheiro de terra molhada enchia seus pulmões, trazendo um raro momento de serenidade em meio ao caos.

— Estamos na mesma floresta para onde Moara fugiu com minha esposa e o Trace. Se seguirmos para a esquerda, é bem provável que possamos encontrá-los depois de algum tempo — comentou Joe, seus olhos cheios de esperança.

O grupo caminhou por quase uma hora. Nathan, seguindo o rastro do trio, chegou à mesma margem do lago onde haviam atracado e começou a seguir seus vestígios pela floresta. Do outro lado, Moara caminhava com Trace e Catlyn, sendo caçados por Erina, acompanhada por Bruce, seu tigre dente de sabre, e Cubinho, seu urso polar.

Enquanto caminhavam pela floresta, Joe não conseguia esconder sua frustração. Com o semblante abatido, ele desabafou:

— Droga. É frustrante. Justo hoje, quando atacaríamos a mansão do Bolívar, ele veio primeiro e destruiu nossas esperanças. Aquele desgraçado deve estar agora se empanturrando de comida, enquanto nós estamos aqui, fugindo como ratos.

— Ainda há esperança. Podemos aproveitar que ele pensa estar por cima e atacá-lo no conforto do seu lar. Ele não vai imaginar esse contra-ataque — disse Baan, despertando lentamente.

— Baan, você já está bem? — Rydia perguntou, animada, enquanto Joe cuidadosamente colocava o líder da Crossed Bones no chão.

— Minha saúde física tá perfeita, mas meu poder mágico ainda não estabilizou — respondeu Baan, com um leve suspiro.

— Que bom contar com você de volta! — Uji comentou, com um leve sorriso, apertando a mão de Baan.

— Espera.. o que você quer dizer com “não estabilizou”? — perguntou Joe, franzindo a testa.

— Como sua esposa cuidava das minhas feridas, acredito que já saiba do selo que tenho nas costas. Quando ele avança, meu poder mágico zera e, aos poucos, começa a aumentar até alcançar um novo limite. Para exemplificar, imagine que eu tenha 90 de poder mágico. Quando o selo avança, passo um período debilitado. Após recuperar minha integridade física, meu poder mágico começa em zero e vai subindo gradualmente até atingir 80, que se torna meu novo teto de poder até o selo avançar novamente.

— Então isso significa que você está sem poderes mágicos agora? — indagou Joe, preocupado.

— Sim, mas já estou sentindo ele retornar. Por isso quero mudar nossa estratégia. Uji e Rydia, vão até a mansão, recuperem o Decreto Imperial e acabem com Bolívar desprevenido. Eu cuido de Joe. Provavelmente, até que algum membro da Sabertooth nos encontre, meu poder mágico já estará estabilizado. Não é um processo tão demorado quanto minha recuperação física.

— Acho uma boa estratégia. Provavelmente, o líder deles não estará lá. Não há momento melhor para atacar Bolívar — refletiu Rydia, com um brilho de determinação nos olhos.

— Não sei se o Decreto Imperial ainda vai ajudar após o ataque na fábrica. Entretanto, concordo com o ataque. Não sei como vamos reverter a situação, mas podem me deixar com Baan. Vão e acabem com esse monstro — disse Joe, sua voz firme, apesar da situação.

— Não se preocupe, Joe. Sempre há uma maneira de reverter a situação — Baan tentou tranquilizá-lo, dando um leve tapinha nas costas de seu amigo.

Uji e Rydia dispararam em direção a outro caminho, determinados a chegar na mansão. Enquanto isso, Joe e Baan mantiveram a rota original. Alguns minutos depois, Nathan chegou ao local onde o grupo se separou. Vendo dois rastros diferentes, ele hesitou por um momento antes de decidir seguir a rota que continuava indo à esquerda, a mesma de Joe e Baan.

No centro da cidade, Frederico conversava com os moradores de Passafora, incitando-os a se manifestarem contra as atrocidades de Bolívar. O ataque contra os Otogi foi desumano e cruel. Frederico destacou às pessoas que a guilda Crossed Bones tinha força suficiente para derrotarem a Sabertooth, todos alí souberam das vitórias que eles tiveram sobre Nathan e Erina.

Os moradores estavam apreensivos. Eles não tinham poderes mágicos, mas Frederico os lembrou que Bolívar não poderia matar todos os cidadãos, que a comitiva real viria amanhã para Passafora e a desordem na cidade prejudicaria Bolívar de se tornar um Grande Nobre.

— Não podemos confiar apenas em uma guilda estrangeira e assistir passivamente; precisamos aproveitar o momento, enquanto o poder de Bolívar está abalado. Não podemos deixá-lo se tornar um Grande Nobre — gritou Whole do meio da multidão, ainda machucado pelos socos de Joe, mas liberto por Ferederico que decidiu confiar na integridade do companheiro.

Frederico sorriu para o amigo, que sorriu novamente para ele. Os sentimentos dos cidadãos se afloraram, e eles se organizaram para protestar na praça central da cidade, com cartazes, bandeiras e faixas. Alguns deles levaram armas escondidas, caso fosse necessário enfrentar alguma resistência.

Yep, junto com alguns outros aldeões, correu até os destroços da casa dos Otogi, na esperança de encontrar algum sobrevivente ou entender o rumo do conflito. Ao chegarem, ficaram surpresos ao ver Kreik, Joabe e os filhos de Joe emergindo da fenda na terra criada pela runa de Taylor.

Os quatro aterrissaram no chão, e as crianças correram para abraçar Yep, enquanto Kreik e Joabe se deitaram exaustos no solo.

— Yep, o que aconteceu com a mamãe, o papai, o vovô e resto do pessoal? — perguntou Joshua, ainda tentando recuperar o fôlego.

— Os cidadãos disseram que uma maga da Crossed Bones conseguiu fugir para a floresta levando Trace e Catlyn. O samurai e a Rydia escaparam pelo lago. Além disso, relataram que Erina e Nathan se separaram; provavelmente estão caçando eles — respondeu Yep, sua voz carregada de preocupação.

— E o vovô Taylor? — perguntou Javier, com os olhos cheios de expectativa.

Yep abraçou os garotos com força, as lágrimas escorrendo pelo rosto.

— Ele se sacrificou como um herói. Graças a ele, todos estão vivos. Agora, ele foi morar com as estrelas do céu.

Os garotos começaram a chorar, e Kreik também não conseguiu conter as lágrimas. Joabe, sentindo-se impotente, apenas olhou para o lado, com o coração pesado. Os dois magos se levantaram e pediram a Yep que cuidasse da segurança dos meninos.

— Pode deixar. Vou deixar os garotos aos cuidados da minha esposa e depois vou me juntar ao grupo de Frederico — respondeu Yep, determinado.

— Que grupo do Frederico? Do que você está falando? — perguntou Joabe, confuso.

— A repercussão do embate de ontem e as atrocidades cometidas contra Joe e sua família reverberaram por toda a cidade. Decidimos ser mais do que espectadores; vamos lutar também. Vamos protestar na praça central — explicou Yep, com uma determinação renovada.

Joabe e Kreik se entreolharam, sabendo que precisavam ir até o local. A Sabertooth não hesitaria em promover uma chacina se vissem os trabalhadores protestando. Sem perder tempo, Kreik saiu voando, segurando Joabe com firmeza em um de seus braços.

A cena mudou novamente para a floresta. Moara, Trace e Catlyn caminhavam com cautela, envoltos em um silêncio tenso, seus passos abafados pelas folhas secas. O sol se infiltrava pelas copas das árvores, lançando sombras dançantes no chão.

Trace olhava nervosamente para todos os lados, esperando um ataque da Sabertooth a qualquer momento. Catlyn, apesar de preocupada com seus filhos, mantinha os olhos atentos. Com um gesto firme, ela retirou uma adaga escondida em seu tornozelo.

— Catlyn, não sabia que você carregava uma adaga — comentou Trace, surpreso.

— Claro, sempre ando preparada. Só um idiota não andaria armado, sabendo que os capangas do Bolívar podem aparecer a qualquer momento — respondeu Catlyn, sua voz carregada de seriedade e firmeza.

— Tem razão. Tem que ser muito idiota mesmo para andar desarmado. Hehe! — respondeu Trace com um leve sorriso, tentando disfarçar seu desconforto.

— Falando nisso, seria bom você sacar alguma arma. O que você trouxe? — perguntou Moara, com um sorriso travesso, batendo levemente com o cotovelo no braço de Trace.

— Eu... tinha uma adaga, mas a derrubei enquanto fugíamos — mentiu Trace, visivelmente desconcertado.

— Pelo visto, além de idiota, é mentiroso. Que gosto peculiar esse da princesa — zombou Moara.

— Deixe de ser desaforada, garota. Eu não estou mentindo — retrucou Trace, o rosto avermelhado de vergonha.

— Se eu fosse você, seria mais precavido. Já imaginou se a menina fera aparece montada naquele tigre e faz um ataque surpresa, tipo "Raar!" — brincou Moara, imitando patas de tigre com as mãos.

Ao terminar a frase, Erina surgiu de repente, montada em Bruce, seu tigre sem o Jack Frost ativado, saltando dos arbustos com intenção de devorar o trio de uma só vez.

Moara reagiu instantaneamente. Com a agilidade de um felino, pisou firme na terra e, utilizando sua técnica Gaia Awakening, fez um pilar de terra emergir do chão atrás dela. A mordida de Bruce atingiu apenas o pilar, enquanto Moara, com um salto, empurrou Trace e Catlyn para fora do caminho.

— Pode ter desviado do ataque de Bruce, mas vejamos se consegue fazer o mesmo com o ataque do Cubinho, combinado com Jack Frost — disse Erina, enquanto sua besta espiritual aparecia na palma de sua mão.

— Cubinho? Hahaha! Vai me atacar com um cachorrinho? — zombou Moara, rindo com desdém.

Do interior da floresta, um urso polar emergiu, correndo em direção a Moara. Confiante, ela preparou um Gaia Punch para acertar a fera, mas Jack Frost apareceu entre eles, sendo rapidamente absorvido pelo urso. A transformação foi instantânea: o animal aumentou exponencialmente de tamanho e massa muscular, cristais de gelo surgiram ao redor de seu corpo.

Moara arregalou os olhos ao ver a transformação e mudou de estratégia. Tentou desviar ao invés de confrontar diretamente o urso, mas ele foi mais rápido. Com uma cabeçada poderosa, o urso arremessou Moara contra três árvores, quebrando seus troncos com o impacto.

Cubinho ficou sobre duas patas e virou-se para Trace e Catlyn. A mulher, aterrorizada pelo porte da fera, deixou sua adaga cair no chão. O urso movimentou suas garras para atacar os dois, mas Moara se levantou rapidamente e assumiu uma postura defensiva. Com os pés firmes no solo, ajustou-os levemente à largura dos ombros, com os joelhos dobrados. Posicionou seus braços: o direito na cintura e o esquerdo levantado à frente do corpo, ambos com os punhos cerrados. Canalizando sua magia, ela materializou um pedregulho feito de terra na altura de seus braços.

Impulsionada por um grito de determinação, a jovem maga desferiu um soco poderoso no pedregulho, lançando-o velozmente em direção ao urso polar.

— Gaia Shoot! — gritou ela.

O pedregulho atingiu o queixo da fera com um impacto surpreendente. O urso cambaleou para trás, suas patas dianteiras cedendo. Erina sentiu a pancada no próprio queixo, quase caindo de Bruce. Trace e Catlyn aproveitaram a oportunidade para correr em direção à mata.

“Ela cambaleou quando ataquei a fera. Entendi, ela é uma conjuradora. Sua besta espiritual concede poderes aos animais, mas o dano sofrido por eles é compartilhado com ela.”, raciocinou Moara.

Sem hesitar, Moara avançou contra o urso. Correndo e arrastando as mãos no chão, ela materializou dois sarrafos, feitos de terra e raízes. Com um movimento ágil, lançou os sarrafos contra a fera, um na altura do peito e outro na barriga. O urso voltou à posição quadrúpede e Jack Frost saiu de dentro dele, fazendo-o reduzir drasticamente de tamanho.

Os sarrafos passaram por cima do urso, e Moara sentiu a frustração de ver seu golpe falhar. Mas ela não desistiu. Continuou correndo, desta vez visando acertar um Gaia Punch em Cubinho. Antes que pudesse desferir o golpe, Jack Frost possuía o corpo de Bruce, fazendo-o saltar para frente e acertar Moara com uma pata dianteira. Ela caiu no chão, com a parte inferior do corpo presa sob a pata do tigre.

— Isso não é tudo, garotinha. Veja o que eu faço com aqueles dois — falou Erina, montada em Bruce, enquanto este lançava cristais de gelo em direção a Catlyn e Trace, que tentavam fugir.

Com as mãos livres, Moara bateu com a mão esquerda espalmada no chão e gritou:

— GAIA WALL!

Um paredão de terra emergiu, interceptando os cristais de gelo e protegendo a dupla. Moara então desferiu um Gaia Punch na pata do tigre, forçando-o a recuar. Bruce e Erina sentiram uma forte dor resultante do golpe. O tigre instintivamente retirou a pata, permitindo que Moara se levantasse e recompusesse sua guarda.

— Moara, aguenta firme. Vamos buscar ajuda! — gritou Trace, fugindo com Catlyn.

— Aqueles dois escaparam. Mas não importa. Depois que eu te matar, eles serão presas fáceis. Preimeiro, vou transformá-la em ração para o Cubinho e Bruce — ameaçou Erina.

“Vai ser complicado lutar contra essas duas feras ao mesmo tempo. Ela vai ficar alternando sua besta mágica entre os dois animais. Preciso eliminar um deles o mais rápido possível”, pensou Moara, avaliando suas opções.

 

 

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