Volume 2
Capítulo 54: Não machuquem meu filho
Otto, vendo que não tinha escolha, decidiu lutar. Ele saltou em direção a Joabe, transformando seu braço em uma garra afiada. Joabe, no entanto, desviou facilmente, pegando Otto pela nuca com a mão direita e pelo braço com a mão esquerda. Ele girou o garoto no ar e o arremessou ao chão com força.
— Então você é um mago. Provavelmente um transmorfo. Deve ser uma serpente, já que é um traidor destilando veneno para quem lhe estende a mão. Mas não se preocupe. Vou te aplicar o castigo adequado, o mesmo que fazemos com traidores em Suna. Mas antes, diga-me onde estão Kreik, Joshua e Javier. Espero que não tenha usado seu veneno contra eles.
Otto, com um olhar desafiador e tentando esconder seu medo, respondeu:
— Eu os matei. Principalmente seu amiguinho Kreik.
— Está mentindo, mas não importa. Para responder minhas perguntas você só precisa da sua boca, não dos seus braços — disse Joabe, preparando-se para golpear o garoto.
— Eu sei onde eles estão. Vou te levar lá — disse ele, apavorado.
Joabe soltou o garoto com um sorriso cruel. Otto, por sua vez, mudou de atitude, levantando-se e cooperando.
— Está vendo, moleque xexelento, como é bom cooperar? — falou o mago de Suna, satisfeito.
Do alto, Nathan avistou seu líder e gritou:
— Líder! Aqui em cima!
Guinter, ainda se recuperando da queda, olhou ao redor confuso.
— Oh, Nathan, onde fica a saída? Essa fábrica parece um labirinto.
— Tive a mesma impressão. A saída fica por lá, mas o moleque de Suna obstruiu a passagem. Não tem como eu subir rapidamente para lutar contra os magos.
— Subir rapidamente... — murmuou Guinter por um momento, olhando para a fenda acima. — Nathan, quer realmente subir? — perguntou ele com um sorriso confiante.
— Sim, líder Guinter. No que está pensando? — Nathan estava confuso, mas a determinação em sua voz era clara.
Guinter assumiu uma posição estável, abaixando o quadril e entrelaçando os dedos. Ele pediu a Nathan que tomasse impulso e pulasse na sua direção. Nathan correu, pulou e, com um movimento poderoso, Guinter ergueu seus braços, impulsionando Nathan para o alto. Nathan usou sua língua como um gancho, agarrando-se nos pilares e rochas para ganhar mais altitude, até que finalmente ultrapassou a fenda e caiu ajoelhado, pronto para a luta ao lado de Erina.
— E aí, Erina! O líder me enviou para ajudar. Ele disse que você estava enfrentando três magos. Espera... aqui só tem dois. Droga, você já derrotou um? Que sem graça! — Nathan estava decepcionado, mas sua energia era contagiante.
— Cala a boca, Nathan. A maga que manipula terra fugiu com o marquês e a esposa do Joe. Ela zombou de mim e fugiu — Erina estava furiosa, seus olhos brilhando de raiva.
— Relaxa. Vamos acabar com esses dois aqui e depois acertamos as contas com os outros — Nathan olhou para os adversários, um brilho predatório em seus olhos.
Do outro lado, Rydia analisava a situação com preocupação.
— Rydia, a coisa está complicada. Não podemos enfrentar esses dois enquanto protegemos Baan e Joe. Precisamos recuar. Algum plano? — Uji estava pronto para agir, mas precisava de uma direção.
— Joe, pegue Baan e siga-me. Uji, ataque para criar uma abertura e depois siga-nos. Eu cuido do resto — disse Rydia, determinada.
— Pode deixar! Ei, menina fera e rato narigudo, tomem isso! Aokiji! — Uji desferiu um golpe elétrico horizontal em direção aos vilões.
Bruce, com um salto ágil, e Nathan, usando sua língua para se impulsionar, conseguiram desviar do feixe elétrico. No ar, Bruce lançou estacas de gelo, enquanto Nathan, aproveitando o impulso, seguiu por trás das estacas com um soco poderoso.
Rydia, correndo na frente, se virou e pulou no lago. No ar, disparou tiros precisos de sua pistola, destruindo as estacas de gelo antes que atingissem seus companheiros. Joe, segurando Baan em suas costas, seguiu para dentro da água, enquanto Uji realizou um salto giratório, usando sua técnica Hien para enfrentar o soco de Nathan. Os golpes colidiram sem um vencedor claro, mas Uji caiu na água enquanto Nathan foi repelido, caindo de pé sobre os escombros da casa.
— Fique atento, Nathan. Eles terão que emergir para respirar. Quando fizerem isso, atacaremos e acabaremos com eles — disse Erina, seus olhos fixos no lago.
No fundo do lago, Rydia, criou uma pequena esfera aquosa com a sua magia, depois sinalizou para que Joe, Baan e Uji se aproximassem. Ela juntou as mãos e concentrou-se, expandindo a esfera e envolvendo todos em uma bolha de água.
— Rydia, o plano é bom, mas logo ficaremos sem oxigênio. Ei, estamos falando dentro da esfera! Como é possível? — Uji estava impressionado.
— Não se preocupe com oxigênio. Eu amplifiquei a tensão superficial da água para criar uma membrana fina e elástica ao redor da esfera. Essa membrana permite a troca de oxigênio com o ambiente externo, mantendo a água contida — explicou Rydia com calma.
“Genial. Essa jovem é muito inteligente. Estamos salvos.”, Joe pensou, admirado.
Dentro da esfera, Uji mandou um beijinho para Rydia, que respondeu fingindo dar um tiro na própria cabeça. Eles nadaram até a outra margem do lago, escapando dos vilões.
Na margem, Nathan e Erina esperaram impacientemente, mas os mocinhos não emergiram.
— Erina, acho que eles morreram afogados. Já faz mais de quinze minutos que estão debaixo d'água — disse Nathan, começando a se preocupar.
— Não fale besteiras, Nathan. Eles não morreriam tão facilmente.
— Vou verificar lá embaixo — retrucou o transmorfo, mergulhando no lago.
Ele nadou por um tempo, mas não encontrou nenhum sinal dos oponentes. Quando voltou à superfície, Erina perguntou se ele havia visto algo. Nathan balançou a cabeça negativamente.
— HAAA! Que ódio! Droga! Já é a segunda vez que eles nos fazem de idiotas. Primeiro aquela maga que manipula terra, agora esses dois malditos! — Erina estava furiosa, quase gritando.
— E agora? O que vamos fazer? — perguntou Nathan, incerto.
— Eu vou para a floresta matar aquela maldita maga que manipula a terra. Você segue pelo rio e vê se encontra Joe e os outros dois fujões.
— Certo. Em uma floresta fechada, vai levar o Bruce ou o Cubinho?
— Levarei os dois! — respondeu Erina, enquanto a dupla se separava.
De volta à fábrica subterrânea, Osken avistou Guinter à distância e gritou:
— Líder! O mago assassino de Suna obstruiu a passagem e levou Otto. Vou atrás dele. Por favor, me ajude. Não posso permitir que Otto se machuque!
— Vá na frente, Osken. Logo eu o acompanharei — Guinter respondeu, também em alto tom.
Enquanto Osken corria pelos corredores escuros e úmidos da fábrica, sua mente fervilhava de preocupações.
“Fique tranquilo, Otto. Papai está chegando. Não vou deixar que ninguém te machuque. Eu prometi para Arila que iria te proteger.”, o barulho dos seus passos ecoava pelas paredes de metal enferrujado, misturando-se ao som de máquinas antigas funcionando.
Mais à frente, Joabe caminhava com Otto, este à frente, com a lâmina de Joabe ameaçadoramente próxima ao seu pescoço. O ambiente ao redor era sombrio, com o brilho fraco de lâmpadas oscilando, lançando sombras longas nas paredes. Otto, em um ato desesperado, moveu seu braço direito suavemente à frente, transformando-o em uma garra, na tentativa de surpreender Joabe.
— É melhor parar por aí, garotinho xexelento. Não pense que eu não percebi o que fez com seu braço. Se quiser manter o seu braço no corpo, é melhor cooperar — Joabe alertou, com uma voz gélida que fez Otto recuar imediatamente, revertendo seu braço ao estado original.
Eles continuaram caminhando até Otto abrir uma porta que revelava uma sala cheia de cadeiras e mesas metálicas. No chão, Kreik, Joshua e Javier estavam deitados, cobertos por panos. A luz mortiça da sala acentuava a aparência inerte dos corpos, criando uma atmosfera de tensão.
Joabe, ao ver os corpos, empurrou Otto contra a parede, fazendo-o colidir violentamente e cair ao chão. Sua voz estava cheia de incredulidade e raiva:
— Que merda é essa? Você realmente os matou? Não pode ser! Kreik não pode ter sido derrotado por um miserável como você!
— Eles estão vivos. Estão apenas paralisados. É um dos efeitos da minha habilidade mágica — Otto respondeu com uma voz trêmula.
— É bom que esteja falando a verdade. Fique aí, qualquer movimento e eu te mato — Joabe murmurou enquanto se aproximava do trio, verificando a pulsação de cada um.
— Está falando a verdade. Eles estão vivos, mas não se mexem. Faça-os voltarem ao normal imediatamente — ordenou Joabe, seus olhos ainda fixos nos corpos.
Otto respirou fundo, tentando acalmar-se. Com os olhos fechados, ele tentou canalizar seu poder. Alguns segundos se passaram, sem efeito. Joabe, cada vez mais impaciente, rosnou:
— Seu moleque! Já disse para fazê-los voltar ao normal. Está de palhaçada?
— Estou tentando, mas preciso ficar calmo. Não posso produzir um antídoto estressado. Deixe-me relaxar! — Otto respondeu, seu corpo tremendo de ansiedade.
Ele começou a inspirar e expirar profundamente, tentando reduzir suas ansiedades. Lentamente, seu corpo começou a relaxar. Otto transformou sua mão direita em uma garra e fez um pequeno furo superficial na outra mão. Em seguida, abriu a boca de Kreik e despejou uma gota de sangue, forçando-o a engolir.
Instantaneamente, Kreik recobrou os movimentos do seu corpo e disse com voz rouca.
— Maravilha! Eu posso me mover normalmente.
Otto repetiu o processo com Joshua e Javier, resultando na cura de ambos da paralisia. Assim que foram curados, Joshua e Javier correram para Kreik, abraçando-o com medo de Otto, chorando e pedindo que os levassem para sua mãe, Catlyn.
Otto, com um olhar penoso, ergueu a mão na direção dos filhos de Catlyn, como se quisesse consolá-los, mas eles, assustados, se esconderam atrás das pernas de Kreik. Os irmãos olhavam para Otto como se vissem um monstro, intensificando a amargura no coração do garoto traidor, que apenas olhou para o chão e chorou.
Joabe, irritado, ergueu Otto pela camisa com seu braço esquerdo e apontou sua lâmina para o garoto, dizendo:
— Já fez seu papel, moleque xexelento. Hora de morrer.
Ao tentar atacar Otto, Kreik segurou o braço de Joabe, interrompendo o golpe. Com um tom sério, ele disse:
— Eu vi Otto repassando informações nossas à Sabertooth por meio de uma runa de comunicação. Quando o questionei e abaixei a guarda, ele me fez um corte superficial com sua garra. Depois disso, fiquei paralisado, completamente imóvel. Pouco tempo depois, ele trouxe Joshua e Javier. Ele poderia ter nos matado a qualquer momento, mas não o fez. Pelo contrário, ao iniciar o ataque da Sabertooth, ele tentou nos esconder, como se não quisesse que fôssemos envolvidos no ataque. Por isso, Joabe, peço que pare. Eu preciso conversar com o Otto.
— Uma garra paralisante... Como eu havia pensado, esse garoto não passa de uma cobra venenosa. Não seja ingênuo, Kreik. Quem conversa com cobras apenas sai envenenado — Joabe retrucou, com desdém.
— Vá à merda, bafo de peixe. Eu apenas fiz meu trabalho como membro da Sabertooth — replicou Otto, tentando manter a compostura.
— Como é? Vou te matar com muita dor, moleque maldito.
— Por favor, Joabe. Não faça isso por mim ou pelo Otto, mas faça pelos filhos do Joe. Poupe-os de presenciarem derramamento de sangue. — Kreik suplicou, com os olhos fixos nos rostos assustados dos meninos.
Joabe olhou para os garotos, seus rostos cheios de medo, e se compadeceu. Soltando Otto, ele se sentou em uma mesa próxima. Kreik se aproximou do garoto e perguntou:
— Essa sua garra paralisante tem efeitos diferentes de acordo com o nível de força e aptidão mágica da pessoa infectada, certo? Com um único arranhão, você paralisou Joshua e Javier por horas, mas, no meu caso, precisou me arranhar várias vezes para renovar constantemente o efeito da paralisia. É isso? — Kreik mostrou os arranhões em seu braço direito.
— Sim — Otto respondeu, ainda olhando para o chão — quanto mais forte for a magia da pessoa em comparação à minha, menor é o tempo de duração do efeito do veneno.
— Ei, traidorzinho, você tem mais habilidades? — Joabe perguntou, cruzando os braços.
— Tenho a habilidade de manipular e sintetizar venenos variados. Atualmente, consigo criar três tipos: a garra paralisante, bombas ácidas e um bafo tóxico. Este último é um veneno potente que mata lentamente quem não manipula magia, mas, para um mago, apenas causa dor intensa e febre por alguns minutos.
— Você é bem mais poderoso do que aparenta — Kreik comentou, sorrindo e colocando a mão no ombro de Otto.
— Por que está querendo ser legal comigo? Ainda não percebeu que eu sou o vilão nessa história? Eu traí e machuquei vocês. Sou de uma guilda rival, um inimigo. É difícil entender? — Otto respondeu, com a voz embargada.
Kreik interrompeu Otto, abraçando-o fortemente e falando com ternura:
— Otto, não sei os seus motivos e não te conheço há muito tempo. Mas eu conheço o seu coração. Ele está machucado. Apenas divida essa dor comigo. Eu te prometo que vai ajudar. Afinal, é para isso que servem os amigos.
As palavras de Kreik penetraram no coração de Otto como uma flecha poderosa, tocando também Joshua e Javier. Os irmãos se entreolharam, deram as mãos e ingressaram no abraço, acolhendo o garoto traidor. Otto começou a chorar copiosamente, suas lágrimas brotando do fundo do coração, expelindo toda dor e arrependimento que ele sentia. Com a voz trêmula, soluçando, ele bradou:
— Parem com isso! Por que, depois de tudo o que eu fiz, vocês me retribuem com amor? Apenas me odeiem! Droga, eu posso amar vocês, mas vocês não podem me amar. Sou um traidor, um garoto xexelento...
Uma explosão abalou a parede. Joabe se levantou e entrou em guarda, enquanto Kreik puxava os três garotos para trás de seu corpo. Do meio dos escombros, uma silhueta emergia, revelando-se ser Osken, que berrou:
— Otto, não vou deixar que te machuquem! Malditos, entreguem meu filho e talvez eu tenha misericórdia.
— Papai, por favor, pa... — tentou responder Otto, mas foi interrompido por Kreik, que segurou os meninos e saiu voando por uma das janelas do local.
Osken, desesperado, correu na direção do garoto ruivo, mas foi interceptado por Joabe, que lhe acertou um chute violento no estômago, arremessando-o para trás. Joabe soprou em suas lâminas e disse com um sorriso sarcástico:
— Até que enfim vou poder me exercitar um pouco. Forja básica, Lâminas do Ceifador!
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