Luvas de Ifrit Brasileira

Autor(a): JK Glove


Volume 2

Capítulo 52: Traições e desculpas

Na suntuosa mansão de Bolívar, a maga Steffens estava confortavelmente sentada em uma poltrona de veludo. Várias mulheres habilidosas massageavam seus ombros e pés, enquanto ela olhava para o teto com uma expressão de tédio. A sala estava decorada com cortinas de seda vermelhas e móveis de madeira esculpida, refletindo o gosto extravagante de seu anfitrião.

Bolívar entrou na sala com passos firmes, os olhos fixos em Steffens. Ele pediu com um gesto que todas as mulheres se retirassem, deixando-os a sós. Aproximou-se com um ramalhete de flores nas mãos, tentando esconder sua ansiedade.

— Meu amor, quanta saudade. Ontem você não veio me visitar — disse Bolívar, com um sorriso nervoso, oferecendo as flores.

Steffens estreitou os olhos e respondeu com um sorriso falso:

— Desculpe, meu cachorrinho, mas ontem precisei descansar. O líder disse que hoje teremos um trabalho importante a fazer.

— Steffens, há algo muito especial e importante que preciso pedir a você.

Bolívar puxou uma cadeira e sentou-se ao lado de Steffens, hesitante. Ela acariciou o rosto de Bolívar, seus olhos brilhando com uma mistura de malícia e desdém. A maga sussurrou no ouvido de seu amado com uma voz suave e astuciosa:

— O que quiser pedir, meu doce cachorrinho. Sabe que não resisto aos seus lindos olhos.

Bolívar corou, arrepiando-se com o toque, mas reuniu coragem e, com uma voz preocupada, disse:

— O rei enviou uma carta. A comitiva real, composta pelos três grandes nobres e a princesa Mirajane, chegará amanhã. Eles ficarão três dias em Passafora e se hospedarão em meus aposentos. Preciso saber… você se importaria de passar esses três dias viajando ou fazendo alguma missão? Não quero que o rei ou a princesa suspeitem do nosso... relacionamento.

O sorriso de Steffens desapareceu, substituído por um olhar frio. Ela deu um tapa no rosto de Bolívar, sua voz gélida cortando o ar:

— Agora revelou seu caráter, Bolívar. Seu interesse por mim é apenas confortar sua carência. Suas promessas de casar comigo são vazias. Eu não sairei desta mansão, disso tenha certeza. Contudo, não se preocupe, farei o que for necessário para manter as aparências. Afinal, o dinheiro e o poder sempre foram os seus melhores amantes, não é mesmo, BOLÍVAR?

— Não fale isso, meu amor. — Bolívar ajoelhou-se, seu rosto pálido de desespero. — Sabe que eu...

Antes que pudesse continuar, um zumbido veio do bolso de Steffens. Ela tirou uma runa contendo o emblema da guilda, um tigre dente de sabres nas cores branco, roxo e vermelho.

 

 

— Agora não tenho tempo para suas mentiras, preciso ir. Guinter está convocando toda a guilda — disse Steffens, levantando-se com um ar de irritação e saindo da sala, deixando Bolívar sozinho e de joelhos.

Steffens caminhou pelos corredores opulentos da mansão até chegar a uma enorme porta de madeira, adornada com detalhes folheados a ouro.

Ao abri-la, viu uma sala de reuniões com uma mesa oval de madeira, onde estavam sentados Erina, Nathan e um homem de cabelos longos e vermelhos. Ele usava fones de ouvido amarelos e batia na mesa com baquetas de madeira, como se estivesse tocando uma bateria invisível, cantando alto como se estivesse sozinho na sala.

— Steffens, peça ao seu irmão que pare com esse barulho — disse Erina, irritada.

Steffens se aproximou e, com um toque firme, tirou os fones do ouvido do rapaz.

— Ei, Rafarillo, é melhor se concentrar e parar com essa batucada antes que o líder Guinter chegue. É só uma dica.

Prada Rafarillo, 26 anos, irmão gêmeo de Steffens, tinha cabelos longos e vermelhos, pele branca e olhos azuis. Vestia uma camisa branca, calça preta e botas brancas. Sobre a camisa, usava uma jaqueta amarela.

 

 

— Não se preocupe, irmã. Vou curtir meu som até o líder chegar. Assim que ele entrar, eu paro. Ele não vai me matar só porque estou ouvindo música. Apenas relaxe — respondeu Rafarillo, recolocando os fones e retomando sua batucada.

Minutos depois, a porta se abriu com força. Guinter, o líder da guilda, entrou na sala. Seu olhar feroz se fixou em Rafarillo, que continuava alheio, cantando alto:

“Whoa, love is ready to win, Oh-oh, follow the prayer, hold my hand and keep the prayer... (Whoa, o amor está prestes a vencer, Oh-oh, siga a oração, segure minha mão e mantenha a oração...)”

Guinter rugiu de raiva e, em um piscar de olhos, transformou-se em um leão imponente. Arrancou os fones de ouvido de Rafarillo e os arremessou contra a parede com tanta força que danificou a parede, mas os fones permaneceram intactos.

— Está me desrespeitando, Rafarillo? Sabe que eu odeio quando alguém não se coloca em seu lugar — rugiu Guinter, aproximando seu rosto felino ao do subordinado.

Steffens suspirou e murmurou:

— Eu te avisei, idiota.

— Desculpa, líder. Não percebi que você tinha chegado. Você sabe que eu gosto de música. Mas não se preocupe, vou compensar meu desleixo durante a missão. — respondeu Rafarillo, tremendo de medo, com voz trêmula.

Guinter puxou a cadeira de Rafarillo com um movimento brusco, fazendo-o cair no chão. Os outros membros da guilda contiveram o riso, temendo a reação de Guinter. Envergonhado, Rafarillo se levantou e voltou a sentar-se, enquanto Guinter escolhia a cadeira mais distante da porta. O silêncio pesado pairava no ar, quebrado apenas na mente de Rafarillo, que ainda ouvia o eco de sua música ressoar em seus ouvidos.

Depois de alguns minutos de tensão, Guinter olhou impaciente para o relógio acima da porta de entrada e perguntou:

— Onde está o Osken?

— Senhor, não tenho notícias dele desde ontem — Erina respondeu rapidamente.

— Espero que ele não tenha deixado passar a reunião geral. Quero logo acabar com isso e derrotar aqueles merdinhas — murmurou Nathan, impaciente.

Guinter voltou-se para Erina e Nathan:

— Como estão as feridas de vocês? Já podem lutar plenamente?

— Eu e Nathan estamos bem, totalmente curados. As runas de cura aceleraram nossa recuperação.

— As runas de cura são as mais caras e raras. Espero que não tenham acabado com todas. Podemos precisar delas — Steffens, preocupada, comentou.

— Não se preocupem. Hoje vamos acabar rapidamente com a Crossed Bones. Não precisamos de runas de cura para vencê-los — Guinter respondeu com firmeza.

Nesse momento, Steffens se lembrou da conversa com Bolívar e acrescentou:

— Líder, Bolívar me disse que o rei chegará amanhã com sua comitiva. Isso é verdade?

— Sim, e é por isso que precisamos resolver tudo hoje. — Guinter, já impaciente, socou a mesa com força. — Afinal, onde diabos está o Osken? Alguem avia a ele que irei trazê-lo pela garganta se for necessário!

A porta se abriu e um homem de longos cabelos pretos entrou apressado. Era Carmine Osken, 35 anos, membro da Sabertooth. Usava uma armadura prateada, com cristais azuis perto do peitoral e botas azuis.

 

 

— Peço desculpas pelo atraso. O sinal da runa de comunicação estava ruim. Consegui novas informações e ainda tive que fazer algumas pesquisas. Contudo, estamos prontos para atacar. Vou repassar tudo imediatamente — disse Osken, tentando recuperar o fôlego.

— Muito bem, Osken. Reze para que as informações sejam boas. Caso contrário, vou arrancar sua cabeça só pela demora.

Osken engoliu em seco e começou a explicar:

— Conseguimos localizar a residência dos Otogi e o plano deles. A casa de Joe Otogi fica no distrito de Carabás, à beira do rio e perto de uma floresta. É uma antiga casa isolada, aparentemente desabitada. Ela tem uma passagem subterrânea que liga a residência a um ponto isolado próximo à entrada da cidade.

— Isso quer dizer que precisaremos atacar nos dois frontes, evitando que eles fujam pela passagem subterrânea — comentou Erina, franzindo o cenho.

— Isso não é tudo. Na entrada subterrânea, há uma fábrica que Taylor construiu, mas desativou antes do início das atividades, após falirem — continuou Osken.

— Uma fábrica subterrânea? Qual o objetivo dela? — perguntou Steffens, curiosa.

— Eles querem aproveitar a vinda do rei e mostrar a fábrica a ele — resopndeu Osken, seu tom carregado de preocupação.

— Isso é loucura. — Erina balançou a cabeça, ainda perplexa. — O rei não tem interesse em ver a fábrica do Joe Otogi, que fica debaixo da terra. Bolívar tem várias fábricas acima da cidade, que juntas valem bem mais do que essa — ela expressou sua confusão, os olhos estreitando-se.

Osken arqueou uma sobrancelha, revelando uma nova camada do enigma.

— Quem disse que a fábrica é de Joe Otogi? Ela pertence ao Marquês de Carabás.

— Marquês de quê? — indagou Rafarillo, intrigado.

— Marquês de Carabás. — Osken suspirou, preparando-se para explicar. — Eu estava investigando. Por isso demorei para vir à reunião. Acho que consegui decifrar o plano deles. Trace Greenwood, de acordo com o Decreto Imperial, é descendente desse Marquês de Carabás, o que o torna o legítimo proprietário das terras do Distrito de Carabás. Além disso, isso o faz ascender à nobreza. Então, com a posse das terras, uma grande fábrica capaz de empregar as pessoas do Distrito e um título de nobreza, ele pode...

— Reivindicar a separação do Distrito de Carabás de Passafora, tornando-o uma cidade autônoma, sem a influência de Bolívar — interrompeu Guinter, a percepção afiada.

— Mesmo com todos esses requisitos, a independência do Distrito vai precisar de autorização real. O rei não vai diminuir os poderes de Bolívar, especialmente com o casamento com a princesa Mirajane em jogo — acrescentou Erina, ainda processando as implicações.

— Isso, se a Princesa Mirajane se casar com ele. Mas se ela se casar com outro nobre... Talvez com o Marquês de Carabás? — Steffens, com um sorriso cínico, argumentou.

— O rei nunca iria preterir Bolívar em favor daquele copeiro maltrapilho. — Guinter gargalhou, desdenhando do plano ousado de Joe e Trace.

— A não ser que eles tenham algum apoiador na corte imperial... O mesmo apoiador que entregou o Decreto — retrucou Osken, relutante, lançando um olhar sério.

— Impossível! — Guinter, alarmado, levantou-se abruptamente da cadeira, a confiança abalada — Não podemos permitir isso. Quanto maior o poder de Bolívar, maior será nosso poder na corte do Reino de Byron — esbravejou, os olhos brilhando de preocupação.

Osken tentou acalmar o líder, mas sua própria inquietação era evidente.

— Líder, isso tudo são conjecturas. Pode ser que eu esteja errado em algumas conclusões, mas uma coisa é certa: devemos destruir a fábrica e a casa dos Otogi antes que a comitiva real chegue a Passafora.

Guinter começou a gargalhar, um sorriso ameaçador e uma aura poderosa dominaram o ambiente ao ponto de fazer todos naquela sala sentirem um arrepio na espinha.

— Chegou a hora de colocar esses merdinhas no lugar devido... Entre as minhas presas. Sabertooth, o plano é o seguinte: eu e Erina vamos atacar a residência de Joe pela frente. Osken e Nathan, vão pela passagem subterrânea para evitar qualquer fuga. Rafarillo e Steffens, fiquem aqui na mansão. Pode ser que aqueles pirralhos tentem alguma investida direta contra Bolívar. Agora vamos. Hora de mostrar qual é a guilda mais forte.

Osken, preocupado, lançou um último apelo.

— Líder, durante o seu ataque, por favor, seja contido. Não precisamo machucar ninguém desnecessariamente, principalmente ele...

— Ele não vai se machucar desnecessariamente. Entretanto, não posso garantir isso para os demais. Grarrarrarra! — respondeu Guinter, com um olhar feroz.

Uma hora antes da reunião entre Guinter e os membros da Sabertooth, na fábrica subterrânea, durante uma brincadeira de pique-esconde, Otto adentrou vários compartimentos internos do local e se escondeu em um canto isolado. Olhando ao redor e certificando-se de que ninguém estava por perto, ele cuidadosamente retirou uma runa do bolso e a ativou.

— Pai, pai, tá na escuta? — sussurrou o garoto, sua voz tremendo de ansiedade.

— Sim, filho. O que descobriu? — respondeu uma voz turva vindo da runa.

Otto revelou a localização da residência da família Otogi, detalhes sobre a fábrica subterrânea e o comentário de Kreik de que o rei iria conhecer o Marquês de Carabás. Durante a conversa, a runa de comunicação se quebrou, indicando que seu poder mágico se esgotara.

O garoto se virou e seu coração parou ao ver Kreik parado atrás dele. O susto o fez cair no chão, e Kreik se aproximou com uma expressão fria e desapontada.

— Whole não era o informante de Bolívar. Era você, Otto. Arrisquei a minha vida e a dos meus amigos por você. Como pode fazer isso? — Kreik questionou, o olhar duro fixo no garoto.

— Eu nunca pedi para me proteger. Você fez isso porque quis. Não me culpe pela sua tolice — respondeu Otto, lágrimas brotando em seus olhos.

Kreik se agachou, olhando nos olhos do garoto. Ele colocou as mãos nos ombros de Otto e o sacudiu suavemente.

— Otto, responda, por que fez isso? Sei que deve ter um motivo. Você é uma boa pessoa, eu vejo isso nos seus olhos.

De repente, a mão de Otto se transformou em uma garra com escamas azuis e unhas roxas. Em um reflexo, ele retirou as mãos de Kreik de seus ombros, arranhando o antebraço de Kreik durante o movimento. O garoto, irritado com a bondade de Kreik, gritou com lágrimas escorrendo pelo rosto.

— Pare de bancar o herói, Kreik. Você não conhece a minha vida. Não preciso de amigos, preciso apenas sobreviver. — Otto cerrou os punhos, olhando para o chão, enquanto memórias traumáticas do passado surgiam em sua mente. — Este mundo é cruel... Eu e meu pai somos membros da Sabertooth. Toda a história dos meus pais terem sido mortos por Bolívar era uma armação. Meu pai forjou tudo. Ninguém suspeitaria de uma criança como informante.

Kreik tentou se mover, mas estava paralisado, incapaz de falar ou agir. “Não consigo me mexer. Preciso avisar os demais sobre o ataque da Sabertooth. Droga. Mexa, corpo, mexa. O que está acontecendo?”, pensou Kreik, sentindo-se impotente.

— O ataque no orfanato foi forjado pelo meu pai. — Otto continuou, recusando-se a olhar nos olhos de Kreik. — Ele sabia do seu jeito inconsequente, que você me salvaria e me levaria para cá. Sem você, nunca teríamos descoberto a residência de Joe Otogi. A ordem era que focassem em você para que seus amigos me trouxessem até aqui. Claro, se algum de vocês morressem, seria um objetivo bônus... — Otto enxugou as lágrimas. — Agora, o líder Guinter vai destruir tudo... — Seu semblante mudou, esbanjando determinação. — E só há uma coisa que ainda posso fazer.

O garoto correu, fugindo pelo interior da fábrica. Kreik, incapaz de se mover, só pôde assistir impotente. Otto correu pelos corredores da fábrica, sentindo um misto de remorso e determinação. Eventualmente, ele encontrou Joshua e Javier. Javier, preocupado, perguntou:

— Otto, você viu o Kreik? Ele estava te procurando e desapareceu. Estamos preocupados que algo tenha acontecido com ele.

Otto hesitou por um momento antes de responder.

— Eu o vi ali, mas já faz alguns minutos. Acho melhor nos juntarmos para procurá-lo.

Os dois garotos correram na direção apontada por Otto. No entanto, Otto, com as mãos agora transformadas em garras, atacou as costas dos garotos, fazendo-os cair paralisados. Em seguida, ele os segurou pelos colarinhos e os arrastou pelo interior da fábrica, pensando: “Desculpem, Joshua e Javier. Sei que vão me odiar pelo resto da vida, mas, mesmo assim, não vou deixar que morram. O mínimo que posso fazer é protegê-los.”

 

 

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