Luvas de Ifrit Brasileira

Autor(a): JK Glove


Volume 2

Capítulo 51: Garoto xexelento

Horas depois, já anoitecendo, na luxuosa mansão de Bolívar, o empresário entrou na sala de jantar batendo a porta com força. Guinter estava sentado à mesa, saboreando um prato suculento acompanhado de um bom vinho.

— Guinter! Que merda é essa? Todos na cidade estão falando que vocês apanharam feio de uma outra guilda, a Crossed Bones. Eu te pago para matar meus inimigos, não para apanharem e ainda destruírem parte da cidade. Quando o rei vier, como vou justificar isso?

Guinter olhou para Bolívar com uma expressão de tédio e agitação, colocando a taça de vinho de lado.

— Silêncio, Bolívar. Não consigo apreciar este vinho com tamanha algazarra — falou Guinter, girando a taça e sentindo o aroma do vinho.

Bolívar bateu as mãos na mesa, os olhos brilhando de raiva.

— Está tirando onda da minha cara, Guinter? Não estou de palhaçada aqui.

Sem aviso, Guinter se levantou, jogou a taça no chão e se transformou em sua forma híbrida de leão. Em um movimento rápido, segurou a cabeça de Bolívar com ambas as mãos, suas garras roçando a pele do empresário.

— Ponha-se no seu lugar, Bolívar. Eu deveria te matar só pela sua insolência de agora. Mas hoje foi um grande dia de vitória para nós, então serei misericordioso. Mas qualquer outra gracinha sua e arranco sua cabeça lentamente — A voz de Guinter era um rosnado baixo, cheio de ameaças.

— De-de-desculpa, Mestre Guinter. — Bolívar tremia, o medo evidente em seus olhos. — Eu apenas estava indignado com a forma que as pessoas estavam tratando a honra da sua guilda. Sei que o senhor tem tudo sob controle.

Guinter soltou Bolívar e voltou à sua forma humana, sentando-se novamente à mesa com um sorriso de superioridade.

— Eu sei, Bolívar. Sempre preocupado com a nossa boa forma, como sempre — ironizou Guinter, pegando outra taça de vinho.

— A propósito, Mestre Guinter. — Bolívar, ainda trêmulo, se afastou um pouco da mesa, tentando recuperar a compostura. — Você disse que hoje foi um dia de vitória, mas pelo que soube, Nathan e Erina apareceram machucados depois de perderem para a guilda contratada pelo Joe Otogi, enquanto a população os ovacionava. Poderia me explicar como isso pode ser considerado uma vitória?

Guinter sorriu enigmaticamente, seus olhos brilhando de satisfação.

— Quando o informante mencionou um encontro com um emissário de um Grande Nobre, eu fiquei preocupado, mas confuso sobre como isso poderia se relacionar ao documento que capturamos. Então, quando Steffens repassou a informação de que o emissário era falso, ficou claro que eles estavam criando uma armadilha para descobrir a identidade do informante. Contudo, aproveitamos a fraqueza do garoto ruivo para descobrirmos algo bem mais importante.

Bolívar franziu a testa, intrigado.

— O quê?

— A informação que mais queríamos. Aquela que vai pôr um fim de vez aos seus problemas.

Guinter inclinou-se para a frente, seu sorriso ampliando-se. Bolívar arregalou os olhos, um sorriso lento se formando em seu rosto.

— A localização da residência dos Otogis. Eu não posso acreditar. Hahaha. Devo dizer que você me surpreendeu nessa sua estratégia. Vamos logo atacar e matar todos aqueles desgraçados — o empresário falou, empolgado com a informação.

— Calma, Bolívar — Guinter levantou uma mão para acalmá-lo. — A localização exata da residência de Joe Otogi virá apenas amanhã. Enquanto isso, relaxe e aproveite a noite. Porque amanhã, por volta desse horário, a família Otogi e essa guilda de merda estarão todos mortos.

Bolívar assentiu, visivelmente aliviado e esperançoso.

— Vou confiar em você, Mestre Guinter. Você nunca me decepciona. — disse o empresário, saindo da sala de jantar com um sorriso no rosto.

Quando Bolívar estava prestes a sair, Guinter acrescentou com um tom casual:

— Ah, Bolívar, assim que acabarmos com os Otogis e a guilda que eles contrataram, vamos ter que renegociar nossos termos. Os preços vão sofrer um leve reajuste. Espero que não se importe. Qualquer coisa, você pode cobrar uma taxa a mais da população de Passafora. Grarrarra!

Bolívar parou por um momento, sua expressão endurecendo.

“Que homem nojento. Já não aguento mais esses reajustes que ele inventa. Com exceção da minha querida Steffens, o resto deles poderiam sucumbir na luta contra essa guilda.”. pensou o empresário, a raiva borbulhando por trás de seus olhos.

Guinter, observando a reação do empresário, ergueu uma sobrancelha, a voz carregada de um tom perigoso:

— O que foi, Bolívar? Alguma objeção?

Bolívar virou-se rapidamente, forçando um sorriso falso enquanto respondia:

— Não, não. Mestre Guinter, seus trabalhos merecem o reajuste pedido — disse ele, tentando manter a compostura.

Com essa resposta, Bolívar deixou a sala de jantar, murmurando imprecações para si mesmo enquanto se afastava. Sua mente fervilhava com pensamentos amargos e planos de vingança.

Guinter, ainda sentado à mesa, olhava para a porta por onde Bolívar havia saído. Ele sorriu malignamente e pensou: “Esse senso de herói do moleque ruivo foi a sua ruína, Baan Maverick. Hoje vocês se mostraram fortes, eu admito, mas amanhã... Morrerão com seus corpos presos nas presas deste leão. Grarrarra!”

O líder da Sabertooth recostou-se em sua cadeira, satisfeito com os eventos do dia. Ele sabia que o próximo passo de seu plano estava se desenrolando perfeitamente e que, em breve, seus inimigos estariam completamente à sua mercê.

Após o embate com o tigre de gelo, os protagonistas seguiram pela entrada subterrânea. A atmosfera ali era fria e úmida, o som de suas botas ecoando nas paredes de pedra. Kreik, ainda meio grogue, começou a recobrar a consciência, piscando confuso enquanto se levantava.

— Pessoal, cadê aquele urso gigante de gelo? — perguntou ele, olhando ao redor em busca do perigo iminente.

— Conseguimos escapar dele — disse Uji, o samurai, com um sorriso de alívio. — Depois fomos perseguidos por um tigre gigante de gelo. Mas também escapamos. Agora estamos indo para a residência do Joe.

Com cuidado, Uji colocou Kreik no chão. Otto, com gratidão estampada no rosto, se aproximou.

— Kreik! Que bom que você está bem. Muito obrigado pela ajuda. Sem você, eu estaria morto — disse Otto, os olhos brilhando de alívio.

— Não precisa agradecer, Otto. — Kreik sorriu, apesar da dor que ainda sentia. — Amigos se apoiam na necessidade. Não é verdade, pessoal? Aiii! — Antes que pudesse terminar, Rydia, com um olhar severo, aproximou-se e deu um cascudo forte na cabeça dele.

— Kreik, acho bom você parar de bancar o super-herói! — exclamou Rydia, irritada. — Hoje foram duas enrascadas que tivemos que te tirar. Se for para sair ajudando toda criança xexelenta que precisar de ajuda, deixe de ser um mago privado e vire um padre.

— Ei, eu não sou xexelento! Você é que é uma rabugenta mandona! — interrompeu Otto, sentindo-se ofendido.

— Mas que menino boca suja... É melhor calar a boca, senão eu lavo com sabão — retrucou Rydia, seu olhar afiado como uma lâmina.

— Só porque é mais velha acha que pode me intimidar? Você não passa de uma gorila de cabelo de alface! — respondeu Otto, cruzando os braços e lançando um olhar desafiador.

Kreik, Joabe e Uji olharam para os cabelos verdes de Rydia, tentando segurar os risos, mas não conseguiram. Os sorrisos se transformaram em risadas contidas.

Rydia franziu a testa, os olhos faiscando de raiva. Ela estalou os dedos, como se estivesse se preparando para esmurrar o garoto.

— Vou te ensinar a respeitar os mais velhos, garotinho xexelento. Vai se arrepender de ter inventado esse apelido seu... seu...

Antes que ela pudesse terminar, Otto, com medo, apontou para Kreik e disparou:

— Foi ele! Kreik me disse que esse era seu apelido. Eu só repliquei. Não tinha como um garoto xexelento como eu pensar nisso.

— Ah, Kreik! Então você gosta de criar apelidos ridículos nas minhas costas? Espero que goste disso!

— Ei, Rydia, eu nunca dis... Aaaiii! — gritou Kreikk, que recebeu outro cascudo de Rydia, desta vez mais forte.

— É isso mesmo, Kreik, pare de inventar apelidos! — zombou Otto, chorando de tanto gargalhar. — Aiii! — gritou o garoto, que logo em seguida também recebeu um cascudo da maga atiradora.

— Da próxima vai ser bem mais forte, garotinho xexelento.

— Bem feito, Otto, seu mentiroso — disse Kreik, coçando sua cabeça dolorida.

O grupo continuou a caminhar pela passagem subterrânea. A iluminação era fraca, apenas tochas antigas presas nas paredes forneciam um brilho pálido que mal iluminava o caminho. Após algum tempo, chegaram à área fabril. Otto ficou admirado ao ver a enorme fábrica sob a terra, suas estruturas imponentes e máquinas paradas em silêncio.

— Que fábrica enorme. O que ela faz aqui? Ela é dos Otogi? — perguntou Otto, seus olhos arregalados de surpresa.

— Sim, os Otogi a construíram para se proteger de novos furacões que atingissem a cidade — explicou Uji. — Eles foram espertos, contudo, as táticas empresariais sujas de Bolívar os obrigaram a suspender as atividades.

— Esta fábrica está impecável! Bolívar não deve saber sobre ela — comentou Otto, ainda fascinado.

— Sim! Vamos apresentá-la pessoalmente ao rei. Mas é segredo — sussurrou Kreik, com um brilho travesso nos olhos.

— O quê? O rei vem pessoalmente para Passafora? Tudo isso por causa dessa fábrica? — Otto estava abismado com a informação.

— Na verdade, não. Ele vem conhecer o Marquês de Carabás. Hahaha! — complementou Kreik rindo.

— Marquês do quê? — Otto franziu a testa, confuso.

— Parem de conversa afiada, já chegamos na casa dos Otogi — interrompeu Rydia, subindo as escadas que levavam à entrada superior.

A equipe subiu as escadas, chegando ao interior da residência dos Otogi. As luzes quentes e os móveis acolhedores contrastavam com a frieza da passagem subterrânea. Moara apareceu de repente, abraçando Rydia e Uji pelas costas.

— Quanto tempo, pessoal! Soube que estavam se divertindo sem mim — disse Moara, com um sorriso largo.

— Hahaha. Vejo que está totalmente recuperada. Isso é bom. Agora me solta, tá apertando — murmurou Uji, tentando se desvencilhar.

— Nossa, que cheiro podre é esse, Uji? Parece até que estava namorando um gambá. Que nojo! Vou precisar de desinfetante para o nariz depois disso — Moara torceu o nariz, recuando um pouco.

— Desta vez, vou concordar com a Moara — falou Rydia, rindo.

— Moara, estava preocupado com você. Ainda bem que está bem — disse Kreik, sorridente, batendo levemente no ombro da garota.

— Não se preocupe, eu não morro tão fácil. —  de repende Moara sentiu o mesmo cheiro ruim vindo do amigo. — Ai, que merda, Kreik! Você também tava namorando com o mesmo gambá que se atracou com o Uji? Seu cheiro também está horrível. Antes de darmos uns socos naqueles mequetrefes, acredito que vocês devam tomar um banho antes — falou a jovem, ainda com o nariz torcido.

— Antes de qualquer coisa, cadê o Baan? — perguntou Joabe, preocupado.

— Se recuperando. Contudo, está melhorando — disse Moara, um pouco desanimada.

Neste momento, Joshua e Javier saíram de um dos quartos, correndo em direção a Otto. Eles o abraçaram com força, os três amigos comemorando a reunião.

— Otto, onde você estava? Que mal cheiro é esse? — perguntou Javier, fazendo uma careta.

— É porque um idiota teve uma ideia de girino de... — Otto arregolou os olhos ao ver do Joabe do seu lado, com a cara de poucos amigos e estralando os dedos, preparando para dar um cascudo nele. — Idiota não, um grande e poderoso sábio de cabelo branco que teve a brilhante ideia de disfarçar nossos cheiros com o lixo e assim conseguimos escapar das garras de um tigre. Uma ideia sensacional! — murmurou Otto, com um sorriso desconcertado.

UAU! — Joshua e Javier, a uma só voz, exclamaram, abismados.

— Vem cá, Otto. Vamos te dar um banho. Depois vamos apresentar nossa casa. Você sempre quis vir para cá para brincarmos — disse Joshua, levando o amigo ao banheiro, com a ajuda de seu irmão Javier.

Moara, observando a cena, virou-se para os outros e perguntou:

— Quem é aquele garotinho?

— É uma longa história. Depois o super Kreik te conta. Agora só quero banho, comer e dormir. Amanhã a gente conversa — murmurou Rydia, exausta.

— Concordo — disseram os outros três protagonistas em uníssono.

No dia seguinte, logo pela manhã, Joshua, Javier e Otto chamaram Kreik para brincar. Eles se divertiam como guerreiros com espadas de papel, rindo e correndo pela casa. Enquanto isso, Rydia, Joabe, Trace, Taylor e Joe estavam sentados à mesa, próxima à escada. Joe, com uma expressão preocupada, perguntou:

— Vocês têm certeza de que não foram seguidos quando trouxeram o Otto?

— Não se preocupe. Se houvesse alguém nos vigiando, eu teria notado e feito picadinho dele — retrucou Joabe, confiante.

— Não gosto da ideia de trazer qualquer pessoa para minha casa, mesmo sendo um garoto inocente. A Sabertooth não mede esforços para usar técnicas sórdidas para conseguir o que quer — murmurou Joe, inquieto.

— Calma, Joe. Também não poderíamos deixar o Otto morrer daquela forma. Além disso, ele não tem outro lugar para ir. Ficamos sem alternativa — disse Trace, tentando tranquilizá-lo.

— Eu sei. — Joe suspirou profundamente, os ombros caindo um pouco. — Mas minha prioridade são vocês, minha família. Adicionar mais um garoto significa redobrar a segurança para que ele não vaze nenhuma informação. Se Bolívar puser a mão nesse garoto, vai torturá-lo até ele falar onde fica minha casa. Sinceramente, não achei prudente trazê-lo, embora fique feliz que ele esteja bem no final.

Rydia deu um leve sorriso, entendendo a preocupação de Joe.

— Desculpe, Joe, mas Kreik é meio impulsivo — comentou a maga atiradora.

— Não se preocupe. O importante é que capturamos o traidor. Nunca pensei que Whole faria isso. E agora... quais são os próximos passos?

— Eu esperava que Baan já estivesse totalmente curado, mas me enganei. — Rydia suspirou, cruzando os braços. — Sem ele, não podemos enfrentar o líder da Sabertooth diretamente. De qualquer forma, temos ainda alguns dias até que o rei chegue.

Joe ficou em silêncio por um momento, relutante. Então, ele tirou uma carta do bolso e a colocou sobre a mesa.

— Quanto a isso, aconteceu um imprevisto. Eu recebi esta carta hoje da Princesa Mirajane.

Rydia pegou a carta, abrindo-a rapidamente. Seus olhos se arregalaram ao ler o conteúdo.

— O quê? O rei adiantou sua vinda. Ele virá amanhã! Está de brincadeira?

— Queria que fosse. Essa decisão do rei atrapalhou tudo... — comentou Joe, sua voz triste e preocupada.

— Droga! Preciso bolar um plano para tirar o líder deles da mansão do Bolívar, para que outra equipe possa invadir o local e retomar o Decreto Imperial. Vou passar o dia pensando nisso, quero ver se consigo elaborar algumas estratégias.

— Certo. Do que você precisa? — perguntou Joe, disposto a ajudar.

— Apenas de um quarto com silêncio. O resto eu sempre levo comigo. Joe, deixe todos de sobreaviso. Independente do plano, hoje à noite, iremos agir! — falou Rydia, determinada.

No meio da tarde, Joe pediu para Kreik levar as crianças para brincar no andar de baixo, já que o barulho que elas faziam estava prejudicando a concentração de Rydia enquanto ela elaborava os planos.

— Galera, vamos brincar de pique-esconde — sugeriu Otto, animado.

— Sensacional! Vamos sim — responderam Joshua e Javier, entusiasmados.

— Como se brinca disso? — Kreik franziu a testa, confuso.

— Como assim, Kreik? Você nunca brincou de pique-esconde? — perguntou Otto.

— É que a minha infância não foi das melhores... — respondeu o mago ruivo com um sorriso desconcertado.

— É assim: você fica de olhos fechados, contando até cem. Enquanto você conta, nós três vamos nos esconder. Depois, você vai nos procurar. Se encontrar todos nós, o primeiro que você achar será o próximo a procurar. Se desistir antes disso, você conta de novo — explicou Otto, com paciência.

— Entendido. Vou começar a contar — disse Kreik, fechando os olhos e começando a contagem.

Os garotos correram, se escondendo dentro da fábrica subterrânea. Cada um escolheu um local diferente, tentando ser o mais silencioso possível. Kreik terminou a contagem e começou a procurar. Primeiro, ele vasculhou a casa, mas não encontrou nenhum dos meninos. Então, decidiu procurar na fábrica subterrânea.

Durante suas buscas, ele encontrou facilmente Joshua e Javier, que estavam tentando se esconder atrás de algumas máquinas. No entanto, Otto era mais esperto. O local era vasto, cheio de cantos escuros e salas abandonadas. Kreik ouviu um barulho ao longe e decidiu investigar, até que se assombrou com a cena que presenciou.

 

 

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