Luvas de Ifrit Brasileira

Autor(a): JK Glove


Volume 2

Capítulo 44: O Passado de Trace

A cena mudou novamente para os protagonistas conversando com a família Otogi. Todos estão perplexos, atônitos, com o que acabaram de escutar.

— Vocês estão zoando com a minha cara. Esse maltrapilho é agora um marquês? Como isso aconteceu? — perguntou Rydia, batendo na mesa, com uma expressão de total incredulidade.

— Ei, senhorita Rydia, não precisa ser grosseira comigo — retrucou Trace, tentando manter a calma apesar do insulto.

— Desculpa, mas é de se estranhar. Só fui sincera — Rydia respondeu, agora um pouco envergonhada por ter se excedido.

Joe, observando a situação, interveio com um sorriso tranquilo:

— Conseguimos isso com a ajuda da princesa Mirajane. Ela pode ser novinha, mas é muito articulada politicamente.

— Qual o interesse da princesa em condecorar o Trace como marquês? — Rydia perguntou, sua curiosidade agora mais apurada do que sua incredulidade.

— O objetivo dela é que Trace seja o próximo Grande Nobre e, assim, eles se casem. Digamos que ela e Trace estão apaixonados, vivendo um romance — Joe explicou, claramente divertido com a situação.

Uji levantou-se da cadeira abruptamente, começando a suar frio. Seus membros tremiam como galhos de uma árvore em meio a uma forte brisa de verão. Ele tentou falar, mas as palavras não saíam. Seu olhar fixo nos olhos de Trace, até que finalmente conseguiu se expressar:

— Co-co-co-co-mo é possível? É impossível. — Uji levantou-se da cadeira abruptamente. — Não tem como, estão mentindo. Eu me recuso a acreditar. — O Samurai, indignado com a situação, virou-se para Trace e apontou o dedo em riste próximo ao seu rosto. — Como este homem malvestido, magricelo, sem carisma, medroso, desinteressante e feio conseguiu conquistar o coração de uma princesa? Seu maldito, que bruxaria você fez? Me conte — continuou Uji, balançando Trace pelos ombros, descontrolado.

— Vão passar a noite me esculachando dessa maneira? Eu tenho muitas qualidades. Fala para eles, Joe — retrucou Trace, meio tímido, mas claramente irritado.

Joe balançou a cabeça, ainda incrédulo com a situação:

— Nós também não entendemos como isso foi acontecer. É meio ilógico, mas aconteceu. O melhor é que isso mudou um pouco o cenário a nosso favor.

— Exatamente... Ei, espera. — Trace lançou um olhar de desaprovação para Joe. — O que quer dizer com ilógico a princesa se apaixonar por mim? Joe, eu pedi para me defender!

Uji, ainda em pé, arrastou uma cadeira lentamente em direção a Trace, que permanecia sentado. Quando ficou de frente ao novo marquês, colocou a mão direita no ombro esquerdo de Trace, e disse:

— Eu reconheço seu poder, Trace. Agora, vamos ao que interessa. Conte-me as estratégias que usou para fazer uma princesa se apaixonar por você. Eu quero... não... Eu necessito saber.

— Por que quer saber como nos apaixonamos? É meio pessoal... — Trace perguntou, relutante e envergonhado.

Uji apertou a mão de Trace com força, seu olhar fixo nos olhos do amigo, e suplicou, suas palavras cheias de intensidade e urgência:

— Trace, meu amigo, não, meu quase irmão. Por favor, eu preciso dessa informação para complementar o meu sonho. Algo que almejo desde criança, o meu maior desejo. — Uji soltou a mão de Trace, respirou fundo, levantou-se, pôs a mão no coração e falou do fundo de sua alma, enquanto todos observavam atentamente para saber quão grandioso era o sonho do samurai — Não importa o que aconteça... Um dia... Um dia... Eu IREI ME CASAR COM UMA PRINCESA! — gritou ele com convicção.

— Cale a boca, seu idiota! — falou Rydia, irritada, lançando sua água elástica no pescoço do samurai, fazendo-o retornar ao seu lugar.

Todos, com exceção de Rydia, Joabe e Trace, gargalharam da cena. Rydia estava perplexa com a situação, Joabe com vergonha alheia, enquanto Trace estava envergonhado pela exposição de sua vida amorosa.

— Trace — Joe virou-se para o amigo, sorrindo — não precisa entrar nos pormenores de como se apaixonaram, mas acho importante falar um pouco sobre seu passado e de como conheceu a princesa Mirajane. — Trace assentiu com a cabeça e Joe pôs a mão no ombro do amigo, reconfortando-o com um olhar sereno. — Pode conduzir a conversa a partir deste momento. Acredito que você seja o mais adequado para explicar como conheceu a princesa Mirajane e como ela te fez marquês.

Todos se calaram e, em meio ao silêncio, olharam fixamente para Trace, curiosos sobre a sua história. O novo maquês engoliu a seco, cerrou os punhos e, mesmo relutante, começou a contar sua história:

— Vou começar bem do início... — começou ele, sua voz era quase um sussurro, quebrando o silêncio. Ele respirou fundo e continuou. — Três anos atrás, na cidade de Passafora, nossa vida mudou para sempre. Depois que o furacão que varreu a cidade, destruindo tudo em seu caminho e Bolívar ressurgiu com uma fortuna inexplicável. Ele começou a comprar tudo ao seu redor, dominando a cidade com toda sua tirania, até que ele me ensinou da pior maneira possível que nunca devemos contrariá-lo...

Cenas do passado de Trace se iniciam, nelas há uma sala de jantar da casa dos Greenwood exalando simplicidade e calor. Uma mesa de madeira robusta ocupava o centro do espaço, sobre a qual um almoço modesto estava servido. Mace Greenwood, com seus 54 anos, um homem de cabelos grisalhos e olhos profundos, olhava com orgulho para seu filho, Trace, de 23 anos. Eles estavam em meio a uma conversa animada quando uma batida abrupta na porta quebrou a tranquilidade.

Mace levantou-se, o cenho franzido em curiosidade e um toque de apreensão. Ao abrir a porta, deparou-se com a figura imponente de Bolívar Brock. Vestido impecavelmente, com um sorriso que não alcançava os olhos, Bolívar irradiava uma aura de arrogância e poder, acompanhado de seus capangas.

— Bolívar, o que faz aqui?  — saudou Mace.

— Mace... — saudou Bolívar, sua voz escorrendo veneno disfarçado de cortesia. — Queria de falar de negócios.

— Agora não é uma boa hora, estou almoçando com meu filho, venha um outro momento — disse Mace, sua voz séria, tentando fechar a porta.

Os homens de Bolívar colocaram a mão na porta, impedindo que ela se fechasse e, com um leve empurrão em Mace, adentraram na casa do velho.

— Para falar de negócios... sempre é uma boa hora — retrucou Bolívar também entrando na casa, olhando para o local com nojo e desdém.

Mace sentou em sua cadeira e Trace colocou os pratos na pia, em seguida, sentando-se ao lado do pai.

— Bolívar, adoraria pedir que vocês e seus bons funcionários se sentassem e tomassem um café, mas sabe como é... sem podermos ter nossos próprios empreendimentos e as vagas de empregos da região pagando tão pouco, não pude comprar pó de café e nem mais cadeiras para visitas — falou Mace com ironia. — Portanto, tente ser breve, não quero te deixar aí em pé esperando, não seria educado de minha parte. — complementou o velho, suas palavras cobertas de acidez e raiva enrustida.

— Não se preocupe, Mace, eu já vim sabendo que um plebeu como você e seu filho nunca saberiam o que é ser educado e fino. — Bolívar pôs as mãos nos bolsos do seu terno, com um leve sorriso falso. — Também não quero ficar esperando. Vou direto ao ponto. — Bolívar sacou do bolso um cheque e jogou em cima da mesa, na frente de Mace e Trace. — Esse é um cheque para comprar todas as suas terras. Embora elas tenham se desvalorizado após o furacão, como sou um homem virtuoso, estou pagando o triplo do valor venal. Apenas assine os papéis da transferência e vá curtir o dinheiro.

Mace ergueu o queixo, a fúria começando a borbulhar em seu interior.

— Minhas terras não estão à venda — o velho falou rasgando o cheque.

— Esses malditos plebeus... Sempre querem mais dinheiro, adoram estoquir algum rico quando podem. Não se preocupe vou lhe pagar o quíntuplo do valor, contudo não pagarei mais que isso. Aproveite que estou de bom humor. — Bolívar apontou para um capanga pedindo uma caneta com uma mão, enquanto tirava um cheque em branco do bolso com a outra.

— Acho que entendeu errado... — Mace riu suavemente. — Não importa o quanto pague, eu não irei vender minhas terras a você. Não é questão de valor, é questão de princípios. Prefiro passar fome a entregá-las a você. Não irei receber seu dinheiro amaldiçoado para compactuar com a sua tirania. Agora, retire-se da minha casa e durma tranquilamente, sabendo que existem certas coisas no mundo que seu dinheiro nunca poderá comprar — o velho retrucou, mantendo seu sorriso irônico e raiva em seus olhos.

O sorriso de Bolívar desapareceu, substituído por um olhar frio e calculista.

— Você vai se arrepender dessa decisão, Mace — ameaçou ele, sua voz baixa e ameaçadora. — Pode até ser que certas coisas o dinheiro não compra, mas você vai aprender que eu tenho outras formas efetivas de persuação.

— Pode tentar o que quiser, Bolívar — respondeu Mace, firme e inabalável. — Você nunca terá minhas terras.

Bolívar lançou um último olhar de desdém antes de se virar e sair.

— Veremos...

O ar na sala ficou pesado, e Trace, embora silencioso, sentiu um frio gelado descer por sua espinha.

Mais tarde naquela noite, a lua estava alta no céu quando os homens de Bolívar invadiram a casa dos Greenwood. A calada da noite envolvia tudo em um manto de silêncio, apenas perturbado pelo som furtivo das botas sobre o piso de madeira. Mace não estava em casa; ele havia saído para visitar Taylor, seu amigo de longa data, para conversar sobre a visita de Bolívar a sua casa.

Trace estava em seu quarto, imerso em pensamentos, quando ouviu um barulho suspeito. Antes que pudesse reagir, os capangas o dominaram, tapando sua boca e amarrando suas mãos. Ele lutou, mas era em vão. Em questão de minutos, estava sendo arrastado para fora de sua casa.

Na mesa da cozinha, deixaram um bilhete. Simples e direto, mas carregado de ameaça: “Venha até a mansão, sozinho, ou nunca verá seu filho de novo.”

Quando Mace voltou e encontrou a casa vazia e o bilhete, seu coração quase parou. Ele correu para fora, sua mente um turbilhão de medo e desespero. Cada passo rumo à mansão de Bolívar era uma luta contra o pânico crescente.

A mansão de Bolívar era imponente, uma fortaleza de opulência que parecia zombar da miséria ao seu redor. Mace viu os portões da mansão abertos, não havia sinal de nenhuma pessoa perto, estava evidente que se tratava de uma armadilha, mas o velho não se importou, queria apenas seu filho de volta.

Ele adentrou na mansão, seus olhos vasculhando freneticamente o ambiente, até que próximo a escada que dava acesso ao andar de cima, finalmente encontrou seu filho. Trace estava deitado no chão, espancado e ensanguentado, com Guinter, plantado como uma sombra ameaçadora sobre ele.

— Pai... — murmurou Trace, sua voz fraca e cheia de dor.

Mace correu para ele, mas foi segurado pelos capangas de Bolívar. Os capangas o fizeram ajoelhar, enquanto Bolívar, emergiu descendo as escadas, aproximando-se com um sorriso de triunfo.

— Assine aqui, Mace — disse Bolívar, estendendo os documentos de transferência das terras. — E eu garanto que pouparei a vida do seu filho.

Mace olhou para os papéis e depois para Trace. Ele não tinha escolha. Com mãos trêmulas, pegou a caneta e assinou seu nome, cada letra uma punhalada em seu coração.

— Eu falei que eu tinha outras formas efetivas de persuasão — zombou Bolívar. — Agora, vamos encerrar esse assunto.

Antes que Mace pudesse reagir, Bolívar sacou uma arma e atirou. O som do disparo ecoou pela sala, e Mace caiu no chão, sua vida esvaindo-se rapidamente.

— Não... — sussurrou Trace, arrastando-se em direção ao pai, enquanto lágrimas quentes escorriam por seu rosto.

— Você é um homem de sorte, plebeu — declarou Bolívar, aproximando-se de Trace com um semblante de falsa benevolência. — Vou deixá-lo viver. Mas, a partir de agora, você será meu copeiro pessoal. Assim, todos saberão que ninguém pode desafiar Bolívar Brock sem pagar o preço. — O empresário gargalhou, estendendo a mão na direção de Trace. — Agora, beije a mão do seu novo mestre.

Trace hesitou, seus olhos fixos no chão enquanto as lágrimas continuavam a cair. A humilhação queimava dentro dele, e o peso da morte de seu pai era palpável.

— Vamos, copeiro imundo. Beije ou morra! — insistiu Bolívar, sua voz carregada de superioridade e desdém.

A ameaça de Bolívar penetrou fundo na alma de Trace, que levantou o olhar para o tirano. Sua expressão era uma mistura de ódio e resignação. Sem alternativa, Trace, mesmo consumido pelo ódio e pela tristeza, dobrou seu orgulho. Com um nó na garganta e lágrimas ardentes, ele se submeteu e beijou a mão do tirano, sabendo que sua vida nunca mais seria a mesma.

 



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