Volume 2
Capítulo 41: Dor, lágrimas e gratidão
Guinter, sangrando pela boca, levantou-se com um rugido feroz, a raiva queimando em seus olhos. Num piscar de olhos, ele se lançou contra Moara, cravando suas garras afiadas nas costelas da jovem e mordendo seu ombro com uma ferocidade brutal. Moara gritou em agonia antes de cair no chão, inconsciente e coberta de sangue.
— MOARAAAA! — o grito de Uji ecoou pelo vagão, seus olhos cheios de fúria e desespero. Ele ergueu sua katana com uma determinação inabalável e lançou seu ataque elétrico Aokiji contra Guinter.
— Menos um, faltam três. — Guinter jogou o corpo de Moara para o lado e se concentrando para desferir um poderoso soco. — Lion’s Paw (Pata do Leão)! — Guinter rugiu, dissipando o ataque de Uji com um soco devastador, a energia elétrica se dissipando como fumaça.
Guinter avançou sobre Uji com uma fúria incontrolável, desferindo um soco que o samurai tentou bloquear com sua katana. Com a mão direita firmemente segurando a espada e a esquerda apoiando a lâmina, Uji lutava com todas as suas forças para resistir à pressão avassaladora de Guinter. O líder da Sabertooth, com um sorriso selvagem e cheio de crueldade, gritou:
— King’s Roar (Rugido do Rei)!
Um rugido ensurdecedor emanou da boca de Guinter, atordoando e desorientando Uji. Aproveitando o momento de fraqueza, Guinter começou a desferir uma série de socos devastadores em Uji. Cada golpe parecia drenar a vida do samurai, até que Guinter finalmente agarrou a cabeça de Uji e a bateu violentamente contra a parede metálica do vagão.
Kreik e Rydia, horrorizados, entraram no vagão através do buraco deixado por Moara. Seus corações se apertaram ao ver Guinter espancando brutalmente Uji, incapazes de desviar o olhar da cena terrível.
Guinter deu alguns passos ameaçadores em direção a Moara e Uji, ambos inconscientes e ensanguentados no chão. Ele ergueu a cabeça dos dois magos nocauteados, exibindo-os como troféus diante de Kreik e Rydia. Com um sorriso cruel nos lábios, disse:
— Ei, cabelo verde — provocou Guinter, dirigindo-se a Kreik. — Avise ao seu líder que metade de vocês já foi derrotada. O próximo é o ruivinho das luvas.
Kreik tentou voar em alta velocidade para atacar Guinter. No entanto, antes que pudesse sequer chegar perto, o transmorfo soltou a cabeça de seus amigos, deixando-os caírem pesadamente no chão. Em um movimento ágil e brutal, Guinter desferiu um chute violento em Kreik, lançando-o contra a parede próxima a Rydia.
Quando Guinter se virou para terminar o que começara, percebeu que Moara e Uji haviam sido arrastados para perto de Rydia. Ela havia usado sua técnica Web Water para enredar os amigos feridos e puxá-los para um local mais seguro.
Na cabine do maquinista, Joabe apareceu, seus olhos analisando rapidamente a situação. Ele viu Trace consciente, mas amarrado e amordaçado. O maquinista, visivelmente nervoso, continuava a guiar a locomotiva. Com uma expressão ameaçadora, Joabe avançou e ordenou com firmeza:
— Ei, pare essa droga de locomotiva.
— Garoto, não se envolva. A Sabertooth vai me matar se eu...
Antes que ele pudesse terminar, Joabe desferiu uma joelhada violenta no estômago do maquinista, que caiu de joelhos, cuspindo sangue. Aproveitando o momento, Joabe usou suas lâminas afiadas acopladas aos braceletes para cortar facilmente as cordas que amarravam Trace.
— Não tenha medo da Sabertooth. Tenha medo de mim! — rosnou Joabe, segurando o maquinista pela gola e lançando-lhe um olhar implacável.
— Obrigado, Joabe — disse Trace, ainda recuperando o fôlego. — Senhor, por favor, pare esta locomotiva. Meu amigo é mais impiedoso do que qualquer ameaça da Sabertooth, pode ter certeza!
O maquinista, tremendo de medo, concordou em ajudar. Joabe o soltou, mas antes que ele pudesse acionar os freios, um estrondo interrompeu a ação.
Um rugido feroz ecoou pela cabine enquanto um enorme animal, com garras de gelo, arrancava a frente da locomotiva e destruía os controles. Nenhum dos três se machucou, graças aos reflexos rápidos de Joabe, que se abaixou, puxando Trace e o maquinista para baixo, evitando o golpe mortal.
O atacante era Erina, montada em um imponente tigre-dentes-de-sabre de aproximadamente quatro metros de comprimento. As garras, presas e cauda do tigre eram feitos de cristais de gelo, brilhando como diamantes sob a luz. Erina olhou para Joabe com um sorriso maligno, claramente satisfeita com o caos que causara.
— Agora vocês não têm como escapar — disse Erina, suas palavras tão gélidas quanto as garras do tigre.
A locomotiva começou a acelerar descontroladamente. Joabe, com o olhar feroz, virou-se para o maquinista e perguntou:
— Por que a locomotiva tá acelerando?
— O ataque deve ter quebrado a válvula que controla o fluxo de vapor para os pistões, permitindo que eles fiquem totalmente abertos! — explicou o maquinista, a voz trêmula de medo. — Agora a locomotiva vai acelerar até atingir sua velocidade máxima.
— Vai lá e freia a locomotiva. Eu distraio essa fera.
— Impossível. O sistema de frenagem foi destruído. O que nos resta agora é esperar que o combustível ou a água se esgote — respondeu o maquinista.
— Maldição! — rosnou Joabe, lançando um olhar determinado para a fera de gelo. — Vai ser complicado lutar enquanto protejo vocês dois.
Erina, montada em seu tigre, riu enquanto o animal lançava cristais de gelo em direção a Joabe. Ele, ágil, segurou Trace e o maquinista e saltou para o compartimento de carvão, usando-o como escudo.
— Vocês não têm chance. Vão morrer congelados — anunciou Erina, enquanto o tigre lançava um bafo congelante, transformando o depósito de carvão em um bloco de gelo.
A locomotiva acelerava mais, passando por uma placa que indicava a proximidade de Passafora. Erina, preocupada com o tempo, guiou seu tigre de volta pela locomotiva, procurando por Guinter.
No nono vagão, todos sentiram a aceleração súbita. Guinter, percebendo a urgência, segurou a maleta firmemente com sua mão esquerda. Kreik, determinado a proteger seus amigos, se levantou e gritou:
— Maldito! Não vou deixar que machuque meus amigos! Tome meu golpe mais poderoso! Direct Jab Burning Flames!
Guinter, surpreendido pela intensidade do ataque de Kreik, rapidamente lançou uma runa ao ar e sacou seu martelo. A runa caiu sobre o martelo, infundindo-o com poder mágico. Com um movimento ágil, ele gritou:
— Impressionante, mas ainda não é o bastante. Vamos, Mjolnir!
Com um golpe poderoso de baixo para cima, Guinter desviou a esfera de fogo de Kreik, que explodiu no teto do vagão, deixando-o aberto para o céu. No caos, Guinter procurou por Kreik, mas o mago ruivo havia se posicionado estrategicamente abaixo do vilão.
— Me procurando? — perguntou Kreik, aplicando seu golpe Uppercut Ígneo no queixo de Guinter.
Guinter, sangrando pela boca, cambaleou, mas ainda segurava a maleta. Kreik, ofegante, ajoelhou-se no chão, exausto. Guinter, ainda de pé, perguntou, curioso:
— Ei, do cabelo verde, qual o nome de vocês?
— Eu sou Rydia — respondeu a jovem, desafiadora. — A outra garota é Moara, o samurai é Uji e este aí que te socou é Kreik.
Guinter sorriu, quase respeitoso:
— Vocês são mais fortes do que parecem. É uma pena que não façam parte da minha guilda. Eu poderia explorar todo o potencial de vocês. Mas o destino não lhes agraciou com essa oportunidade. Fiquem orgulhosos. Mesmo após a morte de vocês, não irei esquecer seus nomes. Lutaram bravamente. — Guinter se preparou para golpear Kreik com um poderoso soco. — Tome isso, Lion’s Paw!
Então, uma voz ecoou pelo vagão. Antes que o golpe acertasse Kreik, Baan saltou para dentro do vagão. Imediatamente, ele segurou o companheiro com a mão esquerda e, com o braço direito, ergueu um escudo feito de ossos pontiagudos.
O golpe de Guinter atingiu o escudo de Baan, fazendo-os deslizar alguns metros para trás, mas o impacto foi mitigado. O escudo começou a se estilhaçar, enquanto a mão de Guinter sangrava.
— Deixa eu adivinhar. Você é Baan, o líder da guilda Crossed Bones. — comentou Guinter, com um tom de respeito misturado com antecipação.
— Hahahaha. Não sabia que minha fama havia se espalhado tanto. Só não te dou um autógrafo agora, porque estou sem uma caneta. — respondeu Baan, com um sorriso confiante.
Erina, preocupada, apareceu montada em seu tigre, chamando por Guinter.
— Guinter, precisamos ir agora. Estamos quase em Passafora. Se continuarmos, podemos comprometer os planos do nosso contratante. Eu adoraria ver você trucidando esse maldito, mas realmente precisamos ir.
— Erina? Por que veio montada no Bruce, ao invés da Pacopi? — perguntou Guinter, ainda olhando para Baan.
— Esse maldito de cabelo prateado matou a Pacopi — respondeu a garota, com um mix de fúria e tristeza.
— E o alvo? — Guinter perguntou, mantendo o olhar no seu novo rival.
— Congelei o alvo no depósito de carvão, junto com outros dois — respondeu Erina, ansiosa.
— Entendo — disse Guinter, voltando sua atenção para o líder da guilda rival. — Tá com sorte, Baan. Sua morte será adiada. Mas não se preocupe, deixarei um presente para vocês. Espero que gostem.
Com um chute poderoso, Guinter quebrou o engate que conectava o nono vagão ao décimo. Ele desfez sua transformação e montou na garupa do tigre de Erina, que acelerou, ultrapassando a locomotiva. Enquanto os dois líderes se afastavam, Baan se virou e fez uma lança de osso emergir de uma de suas mãos, arremessando-a nas costas de Guinter. Este, sem olhar para trás, segurou a lança com a mão direita, quebrando-a apenas com a força de seu punho.
“O que será que ele quis dizer com presente?”, pensou Baan, enquanto subia no alto do oitavo vagão, observando a distância.
Erina acelerou com seu tigre até ultrapassar a locomotiva e chegar à ponta de um penhasco. Lá, Guinter usou seu martelo Mjolnir, acoplado a uma runa, para quebrar os trilhos, preparando o terreno para que a locomotiva caísse no desfiladeiro.
— Kreik, Kreik! Ainda pode voar? Consegue ser mais rápido que a locomotiva? — perguntou Baan desesperado ao entender o plano de Guinter.
— Estou cansado, mas posso tentar — respondeu o jovem, lutando contra a exaustão.
— Kreik, não quero que tente, quero que consiga! Ou todos nós morreremos. — insistiu Baan, com um olhar determinado.
Kreik, motivado, começou a voar em direção à locomotiva. Baan se agarrou ao pescoço dele, encorajando-o a ir mais rápido. Kreik se concentrou, lembrando-se de sua impotência no passado e das palavras de Guinter sobre seu potencial. Jatos de fogo começaram a sair de seus pés, dobrando sua velocidade e superando a locomotiva.
— Boa, Kreik! — exclamou Baan — Vou quebrar o engate do terceiro vagão. Você cuida do engate do segundo e descongela o depósito de carvão. Trace e possivelmente Joabe estão presos lá. Depois disso, vou tentar frear o vagão que possui os passageiros inocentes.
— Ok! Mas Baan, não seria mais fácil manter os vagões acoplados e aproveitar o peso dos vagões anteriores para ajudar o processo de frenagem?
A locomotiva continuava sua corrida descontrolada, e Baan olhou para Kreik com determinação.
— Meu objetivo é usar meus braços de ossos como uma âncora. Dessa forma, a força resultante da desaceleração abrupta pode causar um efeito cascata. Os vagões atrás de nós, ainda se movendo a alta velocidade, podem ser lançados para frente devido à inércia. Isso poderia fazer com que eles tombassem sobre o nosso vagão, potencialmente capotando-o. Por isso, precisamos desacoplar os vagões traseiros antes de eu poder agir — Baan explicou, sua voz carregada de urgência.
Eles chegaram ao terceiro vagão, onde os passageiros estavam aglomerados, agarrando-se desesperadamente aos assentos. Baan quebrou o engate de trás enquanto Kreik se concentrava no da frente. Com isso feito, o mago ruivo voou em direção ao segundo vagão, onde o depósito de carvão estava congelado, aprisionando Trace, Joabe e o maquinista, os quais começavam a sentir a falta do oxigênio. O jovem ruivo tenta usar suas luvas para descongelar a parte superior do depósito de carvão.
“Merda, a combustão do carvão produz monóxido de carbono. Se Kreik continuar usando suas luvas para descongelar a parte superior, o carvão pode entrar em combustão antes de conseguirmos escapar.”, pensou Joabe, lutando para respirar. Ele começou a bater freneticamente na lateral de ferro do vagão, uma ideia formando-se em sua mente.
Kreik, ouvindo o som, lançou rajadas de fogo contra a parede lateral. Joabe, usando as últimas reservas de ar, conjurou pequenas kamaitachi, lâminas de vento, para ajudar a romper a parede de metal. Após várias tentativas desesperadas, a parede finalmente cedeu, e uma chuva de pedras de carvão despencou junto com os prisioneiros.
Kreik agiu rápido, segurando Joabe e o maquinista, enquanto Trace se agarrou ao pé de Joabe. Com um esforço monumental, eles voaram até aterrissar em um amontoado de areia macia, longe da locomotiva descontrolado.
Enquanto isso, na parte traseira do vagão, Baan esperava o momento certo para agir. Ele observou a diferença crescente de velocidade entre os vagões, finalmente significativa o suficiente para ele intervir.
“Chegou a hora de agir!”, Baan murmurou consigo. Ele colocou nos olhos os óculos de proteção que tinha sob o boné, respirou fundo e estendeu suas mãos.
Seus olhos se encheram de determinação, de seus braços surgiram duas enormes mãos de ossos. A mão direita agarrou-se ao vagão, cravando seus dedos ósseos no metal como garras, enquanto a mão esquerda se estendeu até o solo, funcionando como uma âncora. A força necessária era imensa. As veias de Baan saltavam sob sua pele, visíveis, enquanto ele canalizava todo o seu poder e concentração. O suor escorria por seu rosto, e seus músculos tremiam com o esforço titânico.
A locomotiva e os vagões dianteiros caíram no precipício, provocando gritos de terror dentro do vagão que Baan tentava salvar desesperadamente. Finalmente, com um rugido de esforço sobre-humano, Baan conseguiu parar o vagão. Ele havia salvo os inocentes, mas o custo foi altíssimo.
Exausto, ele desabou no chão. Um símbolo circular começou a brilhar em suas costas, com letras rúnicas ao redor. Em meio a esse símbolo, uma nova letra rúnica surgia, como se estivesse sendo tatuada a fogo em sua pele. A dor era insuportável. Ele se debatia, gemendo e gritando, enquanto lágrimas rolavam por seu rosto. Após um sofrimento que parecia interminável, ele desmaiou.
Kreik, observando de longe, voltou-se para Joabe com uma expressão de choque e preocupação.
— O que foi aquilo? Por que o Baan sofreu tanto? — perguntou Kreik, sua voz trêmula.
Joabe, com o rosto tenso, respondeu abruptamente:
— Agora não, Kreik. Temos coisas mais urgentes para resolver. Ei, Trace, me diz uma coisa. Qual o ranking daquela guilda?
Trace, ainda ofegante e em choque, respondeu hesitante:
— Eles são ranking “C”.
A raiva tomou conta de Joabe. Ele avançou sobre Trace, pegando-o pelo colarinho e dando um soco no olho direito do contratante, que caiu de joelhos, clamando por perdão.
— Você não achou que deveria ter mencionado que estávamos lidando com uma guilda de nível “C”, seu maldito?! — gritou Joabe, seu rosto contorcido de fúria.
Trace, com os olhos marejados e a voz trêmula, balbuciou:
— Eu... eu não sabia que eles viriam. Eu juro.
Joabe socou o chão com tanta força que rachaduras se formaram no solo, um grito de raiva e frustração ecoando pelo ar. Ele mesclava sua ira contra Trace com a sensação de fraqueza e impotência que sentia. O peso da responsabilidade e a pressão de proteger todos se acumulavam, levando-o ao limite.
Nos vagões finais, que haviam parado sozinhos sem maiores adversidades, Rydia estava deitada, olhando para o céu. Sua mão cobria o rosto, tentando esconder as lágrimas que escorriam. A maga atiradora não conseguia conter o choro que só se intensificava; ela sofria, esmagada pela visão de seus amigos feridos e pelo medo de enfrentar novamente aqueles inimigos terríveis.
Ao final, o cenário era desolador. Restavam apenas dor, lágrimas e a gratidão dos passageiros que haviam sido salvos. A locomotiva, outrora um símbolo de força e movimento, agora era um monumento à sobrevivência e à coragem daqueles que lutaram para protegê-la.