Volume 2
Capítulo 40: Trupe de circo
Soljskaer Guinter, líder da Sabertooth, 53 anos, tinha cabelos longos e loiros, pele branca, olhos pretos e uma barba loira esbranquiçada. Seu corpo musculoso e alto, com mais de dois metros de altura, destacava-se. Ele vestia uma camiseta branca, um cordão de prata, uma calça militar verde, um cinto e luvas militares pretas. Usava botas pretas e carregava um pequeno martelo preto, com cerca de 50 cm, geralmente preso à cintura.
O ar ao redor de Guinter começou a vibrar com uma energia invisível que pulsava em ondas concêntricas. Seus olhos, antes de um preto profundo, agora brilhavam com um dourado feroz, refletindo a luz do sol poente. Ele fechou os olhos e respirou fundo, sentindo o poder crescer dentro dele, um turbilhão de força prestes a explodir.
A pele de Guinter começou a se contorcer, quase como se estivesse viva. Seus músculos se expandiram, crescendo em tamanho e força, enquanto seus ossos estalavam e se reformavam, adaptando-se à nova forma. O rosto, uma vez humano, alongava-se agora em um focinho felino. Seus dentes tornaram-se presas afiadas, e uma juba espessa e dourada crescia ao redor de seu pescoço e ombros. Seus ouvidos moviam-se para o topo da cabeça, apontando para cima, mais sensíveis a qualquer som ao redor.
Seu corpo estava agora coberto por uma pelagem dourada, salpicada com marcas mais escuras. A espinha se contorcia e estendia, formando uma cauda longa e sinuosa que balançava de um lado para o outro com uma força ameaçadora. Suas mãos e pés transformaram-se, unhas crescendo em garras afiadas, e almofadas grossas aparecendo nas palmas das mãos e solas dos pés.
Uji observava a transformação, o coração batendo forte.
“Merda. Outro transmorfo. Dessa vez, não é um mero rato narigudo. É um leão enorme!”, pensou Uji, preocupado, enquanto seus olhos se arregalavam com a visão do inimigo transformado.
— Vamos começar. Grarrarra! — rugiu Guinter, com um sorriso selvagem, lançando-se em direção aos protagonistas.
No sexto vagão, Joabe e Nathan corriam um na direção do outro, tentando acertar socos. Nathan, na forma de tamanduá, desviava de todos os ataques com uma agilidade impressionante, enquanto Joabe, com menor velocidade, sofria vários golpes: no rosto, tórax, ombros, costelas e abdômen.
— Pelo visto, os assassinos de Suna não fazem jus à sua fama — zombou Nathan, sua voz cheia de escárnio.
Joabe conseguiu desviar de alguns dos socos do oponente, mas ao tentar revidar com o braço direito, viu a língua do tamanduá enroscar em sua perna direita, derrubando-o no chão com um baque pesado. Nathan ajoelhou-se sobre Joabe, montando no garoto, e com suas garras afiadas começou a arranhar a pele do rival, que só conseguia usar os braços para se defender.
Desesperado, Joabe soprou nas lâminas do bracelete e lançou dois Kamaitachis de menor potência, acertando o peitoral de Nathan e fazendo-o cair para trás com dor, sangrando levemente. Aproveitando a oportunidade, Joabe levantou-se e correu em direção à entrada do quinto vagão. Mas Nathan, determinado a não o deixar escapar, correu em sua direção com toda a velocidade.
— Não fuja! Lute como um verdadeiro guerreiro de Suna!
— Quem disse que eu estava fugindo? Tome isso, maldito! — gritou Joabe, virando-se rapidamente e soprando novamente nas lâminas do bracelete.
“Ele me enganou. Fez-me pensar que ia fugir, mas desde o começo seu objetivo era me fazer persegui-lo para me atacar, eliminando minhas chances de defesa. Pena que eu sou mais rápido.”, pensou Nathan, percebendo a estratégia do oponente.
Joabe lançou uma Kamaitachi rasteira com seu braço direito, mas Nathan prendeu sua língua na base da cortina de uma das cabines, erguendo-se para evitar o golpe, que passou direto.
— Errou. Agora é minha vez — disse Nathan, soltando sua língua e caindo na direção de Joabe.
— Eu queria que você desviasse. Tome este outro. Desta vez você não vai escapar — respondeu Joabe, sorrindo enquanto preparava um novo ataque com a lâmina do bracelete da mão esquerda.
Com Nathan caindo em sua direção, Joabe balançou seu bracelete em diagonal, da esquerda para a direita, pronto para acertar uma Kamaitachi enquanto o inimigo ainda estava no ar. Mas Nathan foi mais rápido.
Antes que Joabe pudesse completar seu movimento, o transmorfo enroscou sua língua no bracelete esquerdo de Joabe, desviando a lâmina para longe, apenas acertando a parede lateral do vagão.
Joabe ficou perplexo, sem saber o que fazer, enquanto Nathan caía sobre ele. O transmorfo do tamanduá, assim que tocou os pés no chão, começou a acertar vários socos em Joabe, que mal podia se defender, sentindo os golpes sem chance de desviar ou revidar.
Nathan não descansava um segundo, acertando pancada após pancada, fazendo Joabe sangrar profusamente. A visão de Joabe começou a ficar turva, e ele percebeu que estava prestes a perder a consciência.
“Pai... não vou poder cumprir a minha promessa... mamãe, pelo visto não vou conseguir te tirar das mãos dele...”, murmurou o jovem consigo, sua mente, já aceitando a derrota e a morte iminente.
No entanto, Baan saltou pelo buraco no teto do vagão, deixado pelo golpe combinado de Uji e Joabe, caindo atrás do transmorfo. Nathan virou-se rapidamente, mas antes que pudesse reagir, Baan fincou duas estacas de ossos nas costas do vilão e agarrou-o pelo rabo.
— Um mago que pode se transformar em um rato narigudo. Isso é novidade — disse Baan, arremessando Nathan, que gritava de dor, em direção ao sétimo vagão com um movimento forte e decidido.
— Eu não sou uma merda de rato! Sou um tamanduá! — gritou Nathan, enquanto seu corpo batia na área externa do sétimo vagão. Ele prendeu sua língua em uma barra de ferro para evitar cair da locomotiva.
Baan foi para a área de transição entre o sétimo e o sexto vagão e viu Nathan usando sua língua para se segurar em uma barra de ferro, enquanto todo o seu corpo estava preso à parede externa da locomotiva pela pressão do ar.
O líder da guilda Crossed Bone se aproximou da língua, inclinou-se para o lado e observou a situação de Nathan. Este olhou de volta para o mago, exibindo raiva, mas seu semblante mudou para apreensão e medo ao ver uma estaca surgindo na mão de Baan.
O mago ósseo sorriu, seus olhos faiscando de malícia, e piscou de maneira condescendente para o vilão. Num movimento rápido, ele fincou a estaca na língua de Nathan, cortando-a em um golpe brutal. Nathan urrou em agonia, um grito que ecoou no ar antes que uma rajada de vento o lançasse para fora da locomotiva, fazendo-o rolar descontroladamente pelo chão.
— Minha língua! Maldição! — gritou Nathan Guts, sua voz rouca de dor. — Aquele desgraçado... eu vou matá-lo! — Cada palavra era um tormento enquanto ele se contorcia no chão, o sangue escorrendo da boca.
Baan correu até Joabe, que permanecia no chão, o rosto contorcido de dor e frustração. Com um gesto gentil, o líder estendeu a mão para ajudá-lo a levantar. No entanto, Joabe, com um olhar firme e determinado, bateu levemente na mão oferecida, recusando a ajuda. Lentamente, ele se levantou por conta própria, suas pernas tremendo ligeiramente.
— Onde estão os outros? — indagou Baan, sua voz serena, apesar da tensão no ar.
— Não sei ao certo. — Joabe hesitou, desviando o olhar do líder. — O Bardo apareceu pedindo ajuda ao Uji. Acho que estão enfrentando alguém poderoso nos vagões inferiores. — Sua voz estava carregada de vergonha e raiva, ecoando sua frustração pela própria fraqueza.
Baan pousou uma mão reconfortante no ombro de Joabe, forçando-o a encarar seus olhos. Com um tom suave, ele disse:
— Não se preocupe. Enquanto você estiver vivo, cada derrota é uma chance de se tornar mais forte.
— Eu não preciso de conselhos agora. — A voz de Joabe carregava um toque de irritação. — Apenas me diga o que devo fazer a seguir.
Baan sorriu, notando que, apesar das palavras duras, Joabe estava internalizando seus conselhos, mesmo que à sua própria maneira.
— Pedi ao Trace para ir à cabine do motorista e frear a locomotiva, para que os passageiros possam descer. Mas ele ainda não deu nenhum sinal. Vá até lá e veja se ele tá bem. Eu vou ajudar os outros. — Baan deu as instruções com uma firmeza calma.
Joabe assentiu, sua determinação renovada, e correu em direção à cabine do motorista. Baan, por outro lado, se virou e se dirigiu rapidamente aos vagões inferiores, onde a batalha ainda estava em fúria.
Poucos minutos antes, Trace havia chegado à cabine do motorista. Com urgência na voz, ele pediu para que a locomotiva fosse parado, permitindo que os passageiros descessem. No entanto, o maquinista, com o rosto pálido de medo, recusou-se, explicando que a Sabertooth tinha ordenado que ele continuasse a viagem sem interrupções.
— Não percebeu que uma guilda está do nosso lado e já derrotou um dos membros deles? Podemos vencer essa! Confia em mim! Pare a locomotiva! — implorou Trace, sua voz carregada de urgência.
— Eu não posso! — respondeu o maquinista, sua voz trêmula de pavor. — Se eu desobedecer à Sabertooth, eles matarão a mim e à minha família. Não vou parar e nem deixarei que pare.
Trace, com o coração batendo forte de medo, lançou-se desajeitadamente em direção ao maquinista, tentando derrubá-lo. Mas o homem foi mais rápido, desferindo um soco certeiro no rosto de Trace, que caiu no chão, inconsciente com um único golpe.
Sem perder tempo, o maquinista amarrou Trace com cordas gastas, seus olhos revelando uma mistura de preocupação e arrependimento pela decisão cruel, mas que julgava ser necessária.
No nono vagão, a tensão era palpável. O ar parecia vibrar enquanto Guinter, agora em sua imponente forma híbrida de leão, avançava com os olhos predadores fixos na maleta que Rydia segurava. Kreik e Moara se posicionaram imediatamente à frente dela, prontos para defendê-la a qualquer custo.
Kreik agarrou um dos braços musculosos do transmorfo, enquanto Moara segurou o outro. Mas com um movimento quase casual, Guinter os lançou contra as paredes laterais do vagão com uma força avassaladora. Kreik foi arremessado para a esquerda e Moara, para a direita, ambos sentindo a dor reverberar por seus corpos com o impacto.
Uji não hesitou. Em um instante, ele se posicionou entre Guinter e Rydia. Com um movimento ágil e preciso, ele tentou bloquear o soco devastador do líder da guilda rival com sua técnica Hien. No entanto, a força bruta de Guinter o arremessou violentamente contra a parede frontal do vagão, arrancando um grunhido de dor de Uji. Aproveitando a distração, Rydia começou a correr desesperadamente em direção ao oitavo vagão, segurando a maleta firmemente em suas mãos.
Guinter, no entanto, foi bem mais rápido. Ele agarrou brutalmente os cabelos de Rydia, puxando-a para si com uma força avassaladora. Sem piedade, ele a ergueu e a arremessou para baixo.
O corpo dela caiu pesadamente no chão, e antes que pudesse se recompor, Guinter desferiu um soco devastador em seu estômago, fazendo-a soltar a maleta em um reflexo de dor. Com um sorriso de desdém, ele pegou a maleta com a mão esquerda, abriu-a apenas o suficiente para verificar o conteúdo, e murmurou com desprezo:
— Apenas papéis... — disse ele, com um tom de decepção. — Esperava algo mais... interessante.
Enquanto Guinter ainda segurava a maleta, Kreik, com um grito de pura determinação, lançou-se contra o vilão. Suas luvas mágicas brilharam em chamas enquanto ele desferia um soco ardente nas costas de Guinter. No entanto, o transmorfo, sem sequer se virar, agarrou o braço de Kreik com uma força esmagadora e o arremessou para frente, fazendo-o cair pesadamente ao lado de Uji, que ainda se recuperava do impacto anterior.
Moara, agora de pé, reuniu todas as suas forças e saltou para atacar novamente, desferindo um chute potente. Mas Guinter, com reflexos quase sobre-humanos, agarrou seu pé com a mão inversa da que segurava a maleta. Num movimento fluido e sem esforço, ele a lançou contra o teto do vagão. O impacto foi brutal, e Moara quase desmaiou com a força da colisão.
Rydia, ainda atordoada, rapidamente recobrou os sentidos. Com uma determinação feroz, começou a lançar jatos de água de sua boca, molhando os pés de Guinter e formando poças escorregadias no chão. O transmorfo, segurando Moara ainda pela perna, olhou para baixo, confuso, tentando entender o plano de seus oponentes.
Percebendo a oportunidade, Uji correu em direção ao inimigo. Guinter, sem hesitar, lançou Moara como uma arma improvisada contra ele. O samurai, no entanto, se jogou no chão, deslizando habilmente pela água acumulada e passando por baixo das pernas de Guinter, escapando por um triz.
Moara caiu no chão com um estrondo, mas se levantou rapidamente, a dor evidente em seu rosto. Rydia persistiu em molhar o chão, e por um breve momento, Guinter pensou que eles estavam tentando afogá-lo. No entanto, ao notar as portas abertas e a água fluindo para fora do vagão, ele percebeu que o plano deles teria que ser algo mais astuto.
Com um olhar de entendimento mútuo, Uji sinalizou para Moara. Ela respondeu de imediato, desferindo um poderoso Gaia Punch contra a parede lateral metálica do vagão, criando um buraco grande o suficiente para a fuga. Rydia, sem perder tempo, agarrou Kreik pelo pescoço e, com um grito de urgência, ordenou que ele voasse para fora através da abertura. Kreik obedeceu prontamente, e no processo, Moara segurou Rydia firmemente, permitindo que todos escapassem em segurança, pairando sobre o vagão.
Uji, ainda no chão, firmou suas mãos na empunhadura da katana, erguendo seu corpo com a graça de um acrobata. A lâmina estava cravada firmemente no chão, suportando todo o seu peso, dando a impressão de que ele estava suspenso no ar. Guinter, observando a cena com desdém, zombou:
— Vocês são uma guilda ou uma trupe de circo? — ele debochou, seus olhos brilhando de arrogância.
— Talvez um pouco de cada — Uji respondeu com um sorriso confiante, a faísca de determinação brilhando em seus olhos.
Das mãos de Uji, uma energia elétrica pulsante começou a emanar, correndo pela lâmina da katana e se espalhando rapidamente pelo chão encharcado do vagão. A corrente atingiu Guinter, que gritou de dor, seu corpo se contorcendo violentamente enquanto a eletricidade o atravessava.
Do lado de fora, Rydia, ainda segurando Moara, lançou a companheira de volta ao vagão, assim que o golpe de Uji cessou. Moara desceu com a força de um cometa, desferindo um poderoso Gaia Punch que rompeu o teto do vagão. Ela caiu diretamente sobre Guinter, acertando-o na cabeça com um impacto esmagador. O transmorfo desabou no chão, soltando a maleta e rachando parte do piso do vagão.
— Toma isso, seu brutamontes mequetrefe de merda! — exclamou Moara, triunfante, enquanto se erguia diante do vilão caído.