Luvas de Ifrit Brasileira

Autor(a): JK Glove


Volume 2

Capítulo 35: Classes de magos

Uji abriu sua mochila, retirou papel e uma caneta e desenhou um octograma com traços firmes. Kreik, sentado à sua frente, ajeitou-se no assento, observando atentamente o desenho. Seus olhos brilhavam com uma curiosidade quase infantil, enquanto ele aguardava a explicação.

— A primeira classe de magos, os Elementalistas — começou Uji, mantendo o tom didático. — Eles são capazes de criar elementos da natureza, transformando sua energia mágica vital em um dos oito elementos possíveis: fogo, água, eletricidade, terra, vento, luz, trevas e espaço.

 

 

Kreik, com os olhos arregalados e o entusiasmo crescendo, interrompeu sem pensar duas vezes: 

— Nossa, deve ser incrível manipular esses elementos! Já imaginou, Uji, você controlando um raio e mudando sua direção?

Uji deu um leve sorriso, balançando a cabeça. 

— Seria interessante, mas acho que você não entendeu muito bem. — Ele cruzou os braços e continuou, tentando esclarecer. — Os Elementalistas não manipulam os elementos da natureza, eles criam esses elementos. Por exemplo, um Elementalista de fogo pode gerar chamas com sua magia, mas ele não pode controlar um fogo natural, como o de uma fogueira ou uma queimada. Eles criam o elemento, mas não interferem no que já existe.

Kreik franziu a testa, claramente confuso. 

— Mas... isso não faz sentido! — disse ele, insistente. — Eu vi a Moara manipulando a terra várias vezes! Ela fez paredes e pilares de terra surgirem do chão.

Moara, que estava quieta até então, revirou os olhos e decidiu intervir. Ela se inclinou um pouco para frente e soltou um suspiro antes de falar: 

— Kreik, você tá confundindo as coisas. — Sua voz tinha um tom de impaciência, mas ela sabia que precisava esclarecer. — Um Elementalista não reproduz exatamente as características naturais de um elemento.

Uji aproveitou a deixa para complementar: 

— Exatamente. Vamos pegar a Rydia como exemplo. Ela é uma Elementalista de água, certo? O poder dela cria água, mas essa água não tem todas as propriedades da água natural. Ela pode usar a água para atacar ou limpar alguma coisa, mas essa água não serve para beber, entende?

Kreik coçou a cabeça, ainda processando a informação. Moara, percebendo a confusão do amigo, sorriu e decidiu tentar de outro jeito: 

— Krequinho, vou simplificar pra você. Não sei se você notou, mas toda vez que eu “manipulo” a terra, eu dou um pisão no chão ou soco o solo. — Ela fez um gesto simulando o movimento. — Eu não preciso disso pra criar a terra, mas faço isso para canalizar minha magia pelo subsolo, como se fosse um feixe de energia, e depois faço a terra se elevar.

Ela fez uma breve pausa, observando Kreik tentando acompanhar. 

— O que acontece — continuou ela — é que, quando a minha terra artificial se mistura com a terra natural do solo, ela acaba se fundindo, criando algo mais forte. A terra que eu crio por si só não é tão resistente, então eu uso a natural como base. Sacou?

Os olhos de Kreik se iluminaram de compreensão, e ele abriu um sorriso largo. 

— Ahhh, agora entendi! Você mistura a terra que você cria com a natural, e isso torna tudo mais resistente! — Ele olhou para Moara com admiração. — Incrível, Moara! Isso é muito esperto, eu nunca teria pensado nisso!

Moara corou levemente, inclinando a cabeça, um pouco desconcertada com o elogio. 

— Assim você me deixa sem graça... — murmurou ela, com um sorriso tímido, mas seus olhos brilhavam de orgulho. — Imagina quando eu me tornar uma Elementalista de grau superior — brincou, soltando uma risada leve.

Kreik, ainda curioso, levantou a cabeça. 

— Elementalista de grau superior? O que é isso?

Uji retomou sua postura mais séria e desenhou novamente no papel, explicando enquanto escrevia. 

— Todos os Elementalistas, como eu disse, criam um dos oito elementos. Isso os torna Elementalistas de grau básico. Mas cada elemento tem um atributo específico. — Ele apontou para o octograma. — O fogo tem a combustão; a água, a forma; a eletricidade, a energia; o vento, o controle; a terra, a solidificação; a luz, a vida; as trevas, a morte; e o espaço, o volume.

 

 

Kreik olhou atentamente para os símbolos enquanto Uji prosseguia: 

— Um Elementalista de grau superior é aquele que não só domina seu elemento, mas também o atributo de outro elemento, criando um novo tipo de poder.

— Tipo... misturar fogo com eletricidade e criar... uma tempestade de raios flamejantes e congelantes? — Kreik sugeriu, os olhos brilhando de entusiasmo.

Uji sorriu de canto, balançando a cabeça levemente.

— Não exatamente. Primeiro, só se pode mesclar dois elementos, mas isso é impossível. Segundo, o Elementalista não domina dois elementos. Ele domina o seu próprio elemento, mas consegue extrair o atributo de outro elemento para criar algo novo — explicou o samurai, fazendo uma pausa para pensar. Após alguns segundos, ele estalou os dedos, como se tivesse tido uma ideia. — Deixa eu te dar um exemplo... A Rydia manipula água, certo? E a Moara, terra. Se a Rydia aprendesse a controlar o atributo de solidificação da terra, ela poderia criar água solidificada, ou seja, gelo. Agora, imaginemos o contrário: se a Moara extrair o atributo da forma da água, ela poderia moldar a forma da terra, criando lama.

Kreik ergueu as sobrancelhas, processando a explicação.

— Então... o que você está dizendo é que, na prática, não existem apenas oito elementos, mas cinquenta e seis, resultantes da mistura de um elemento principal com os atributos dos outros sete restantes? — ele indagou, inclinando-se ligeiramente à frente.

— Exatamente. — Uji sorriu, satisfeito. — Só que isso não é algo que se faça de forma impulsiva. Todo Elementalista nasce com o domínio de um elemento. Eu, por exemplo, nasci com a eletricidade. Isso não muda. Porém, com o tempo, posso escolher qual atributo de outro elemento vou absorver para fortalecer o meu. Mas é preciso muito cuidado com essa escolha.

Kreik franziu o cenho, pensativo.

— Algum de vocês já chegou a esse nível? — perguntou, curioso.

— Tecnicamente, não. — Uji descruzou os braços e continuou. — A Rydia tá mais avançada, usa o atributo controle no seu elemento, mas ainda não criou um subelemento. O Baan recomendou que esperássemos antes de tentar algo assim. Porque, uma vez que criamos um novo elemento, não podemos mais alterar. É uma decisão que precisa ser muito bem planejada, porque, caso contrário, nossa magia, ao invés de ganhar poder e versatilidade, acabe se tornando um revés, como aconteceu com aquela Capitã corredora que enfrentamos em Lakala.

— Entendi... — Kreik assentiu, mas ainda parecia intrigado. — Mas o que você quis dizer com "um revés como o da Capitã"? O que aconteceu com ela?

— Ah, a Capitã que enfrentamos em Lakala. Ela é uma Elementalista de grau superior — Uji respondeu, cruzando os braços. — Criou o subelemento velocidade. Materializava correntes de ar e as convertia em energia cinética para se mover absurdamente rápido. Mas... — ele suspirou, como se lembrasse de algo desagradável — cometeu um erro. Ela não considerou que seu corpo não estava preparado para suportar a pressão do próprio poder. Portanto, ela precisava constantemente desativar sua magia para descansar os músculos, ou eles poderiam explodir com o acúmulo de energia.

Kreik ficou impressionado, seu olhar refletindo tanto fascínio quanto preocupação.

— Que complicado... Então nem sempre vence quem tem mais poder mágico? — comentou, cruzando os braços.

— Exato, Kreik. — Uji o olhou com seriedade. — Ter poder não é tudo. Saber usá-lo, conhecer seus limites e analisar os do inimigo é o que define uma batalha.

Antes que Kreik pudesse responder, Moara, que estava quieta até então, bufou de impaciência.

— Ai, Uji! Já chega dessa explicação longa. Se fosse uma webnovel, qualquer um já teria parado de ler! Vamos logo com isso e focar na viagem de locomotiva! — resmungou, largando os braços sobre a mesa e deitando a cabeça, visivelmente entediada.

Uji deu uma risada leve, balançando a cabeça.

— Certo, vou ser mais breve. A próxima aula é sobre Transmorfos. Em resumo, são magos capazes de modificar o corpo, se transformando em um híbrido com algum animal, adquirindo suas habilidades naturais.

Kreik franziu o rosto em confusão.

— Como assim? — perguntou, intrigado.

Uji, sem perder o ritmo, pegou uma pequena formiga que passava pela mesa e a levantou.

— Imagine que um mago possa se transformar parcialmente em um híbrido entre homem e formiga. Ele seria capaz de suportar até cinquenta vezes o seu próprio peso, assim como esta formiga faz.

— Uau... Isso é incrível! — Kreik exclamou, seus olhos brilhando de novo com entusiasmo. — E o que vem depois? Você já falou sobre Elementalistas e Transmorfos. Agora quero saber sobre os Forjadores.

Moara levantou a cabeça levemente e rolou os olhos, mas não pôde evitar um sorriso divertido ao ver a animação de Kreik.

Uji deu de ombros, assumindo uma postura mais séria, e continuou a explicação.

— Os Forjadores transmigram parte de sua alma para forjar uma arma espiritual única, que se torna uma extensão de sua própria essência — disse Uji, seus olhos cravados nos de Kreik, como se quisesse se certificar de que ele absorvia cada palavra. — Essa arma espiritual é chamada de equipamento de forja.

Ele fez uma pausa, deixando o conceito ser processado antes de prosseguir.

— Cada Forjador imbui seu equipamento com habilidades únicas. No entanto, essas habilidades vêm com restrições proporcionais. Quanto mais refinado for o poder mágico do Forjador e maior a restrição que ele impõe, mais poderosas e complexas são as habilidades que ele pode inscrever em sua arma. Mas... — Uji inclinou-se para frente, baixando o tom — se um Forjador tenta acelerar o processo sem a habilidade necessária, ele quebra o equilíbrio. E aí, as restrições se tornam mais evidentes que as vantagens.

Kreik ouvia em silêncio, absorvendo cada detalhe. Ele parecia fascinado, mas também intrigado. Após um momento de reflexão, questionou:

— E essa sua katana, Uji? Ela não é um equipamento de forja? E a pistola da Rydia?

Uji soltou uma risada suave, balançando a cabeça.

— Não, Kreik — respondeu ele, ainda com um sorriso nos lábios. — Esta katana e a pistola da Rydia são equipamentos rúnicos. Eles canalizam magia, mas não a criam. Pense nos equipamentos rúnicos como uma torneira. Uma torneira não cria água, certo? Apenas libera o que já está lá. Da mesma forma, um equipamento rúnico libera o poder mágico que lhe é transmitido pelo mago.

— Então, quanto melhor o equipamento, mais poder ele consegue canalizar? Como se fosse uma torneira com um cano maior? — perguntou Kreik, claramente pensando em como aplicar o conceito.

— Exatamente. Mas equipamentos rúnicos têm limites. Se você imbuir muito poder mágico em uma arma malfeita, ela pode quebrar. Já uma de boa qualidade consegue suportar mais magia... até certo ponto.

Kreik franziu o cenho, pensativo.

— E os equipamentos de forja? Acredito que eles não têm limites, já que são feitos da própria alma do Forjador.

Antes que Uji pudesse responder, Moara interveio com um tom brincalhão:

— Ding ding! Acertou! — Ela fez um sinal de "joinha", rindo. — E não só isso, Kreik. Os equipamentos de forja podem evoluir por mais dois níveis e possuem habilidades específicas que só funcionam para o próprio Forjador. Os equipamentos de forja se iniciam no nível básico e depois podem ser evoluídos para os níveis especialista e mestre. Além disso, os equipamentos de forja não quebram, a menos que o mago morra, já que estão diretamente ligados à alma dele.

Uji, retomando a explicação, complementou:

— Um exemplo claro é o Joabe. O equipamento de forja dele são braceletes com lâminas que lançam foices de vento. A quantidade e a potência dessas foices dependem do ar que ele gera ao assoprar sobre as lâminas. — Uji gesticulou enquanto falava, como se estivesse moldando o vento com as mãos. — As lâminas não estão sempre visíveis, porque existem no plano espiritual, mas ele as materializa quando necessário, consumindo seu poder mágico.

Kreik balançou a cabeça, impressionado.

— Incrível! E sobre os Conjuradores? — perguntou, seus olhos faiscando com curiosidade.

Uji sorriu e continuou:

— Os Conjuradores são magos que invocam bestas mágicas para lutar ao lado deles, ou para controlar o ambiente ou o inimigo. É uma das classes mais perigosas, porque o mago não tem controle total sobre as habilidades de sua besta. Eles precisam construir um vínculo ao longo do tempo para compreender melhor seus poderes.

Moara, ao lado, completou com uma informação crucial:

— Algumas dessas bestas mágicas têm a habilidade de lançar maldições post mortem.

— Maldições post mortem? O que é isso? — perguntou Kreik, sua expressão agora curiosa e preocupada.

— Maldições são limitações físicas ou espirituais que uma besta impõe temporariamente enquanto está materializada — explicou Moara com paciência. — Geralmente quando o conjurador morre, a besta morre junto, e a limitação geralmente desaparece. Porém, há casos extremamente raros em que a besta tem a capacidade de fazer sua maldição persistir mesmo após a morte do Conjurador.

Uji assentiu, reforçando o ponto:

— E nesses casos, a pessoa amaldiçoada fica presa a essa restrição pelo resto da vida, a menos que encontre uma maneira de quebrá-la. Mas, honestamente, nunca ouvi falar de alguém conseguindo remover uma dessas maldições.

Kreik permaneceu em silêncio por um instante, processando todas essas informações. O peso de ser um mago parecia cada vez mais complexo e perigoso, mas também incrivelmente fascinante.

— Espero nunca cruzar com um Conjurador. — ele comentou, esboçando preocupação em seu rosto. — E os Dominadores? A minha classe, segundo o que o Baan disse.

— Os Dominadores extraem suas técnicas e poderes mágicos de outra entidade, como os Arcanos selados. Suas habilidades são reflexos das técnicas desses arcanos. Os Dominadores precisam usar seu poder mágico para extrair e materializar essas técnicas no plano físico. Por essa razão, eles geralmente têm uma quantidade maior de poder mágico e capacidades regenerativas mais evoluídas. Basicamente, essas são as cinco classes de magos.

Kreik ainda tinha mais perguntas, sua curiosidade estava longe de ser saciada.

— E quanto àquelas questões de DNA e monarca, ou a tatuagem rúnica brilhante na testa que o Baan mencionou?

Antes que Uji pudesse responder, a porta da cabine se abriu e Rydia apareceu, carregando a mala de Trace.

— Vamos parar com o papo furado. Chegou a hora de acabar com aqueles homens de preto e finalizar este contrato — disse ela, com um brilho determinado nos olhos.

Moara, com um brilho nos olhos e um sorriso empolgado, estalava os dedos das mãos.

— Uhuul! Até que enfim, um pouco de ação. Essa conversa já tava ficando monótona. Vamos bater nesses mequetrefes! — disse ela, cheia de entusiasmo.



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