Luvas de Ifrit Brasileira

Autor(a): JK Glove


Volume 1

Capítulo 9: Enigma

Era o ano de 1579 D.A. (Depois dos Arcanos), vinte e um anos antes dos eventos recentes. O sol do meio-dia iluminava o vilarejo de Lakala, trazendo vida às flores que Florus Gurren cultivava com tanto cuidado. Em uma gleba de terra a cerca de dois quilômetros ao sul do vilarejo, Gurren trabalhava diligentemente, regando suas preciosas flores.

“Nossa, que fome. Espero que ela não demore muito.”, pensou Gurren, enquanto a água fresca revigorava as plantas.

Uma senhora passou pelo caminho de terra com sua filha de aproximadamente cinco anos. Elas pararam para observar as flores coloridas que brilhavam sob o sol. A menina, encantada, não pôde conter sua admiração.

— Que flores lindas! Eu quero uma, mamãe.

— Oh, filha, hoje não trouxe dinheiro — respondeu a mãe, um pouco constrangida.

Gurren sorriu gentilmente e, com um movimento gracioso, colocou uma das flores mais belas na cabeça da criança.

— Uma flor para outra flor — disse ele, seus olhos brilhando de satisfação.

A mãe hesitou, claramente tocada pela generosidade do florista.

— Perdoe-me, Sr. Gurren, mas não posso pagar por essa flor agora.

— Não se preocupe. É um presente para essa pequena florzinha — respondeu Gurren, acenando com a mão.

A menina olhou para cima com os olhos brilhando.

— Obrigada, Sr. Gurren.

— Que gentileza! Muito obrigada. Filha, agradeça ao Sr. Gurren — disse a mãe, puxando a filha para mais perto.

Com um último aceno, a mulher e sua filha se afastaram, tornando-se pequenas figuras contra o horizonte. Gurren ficou observando-as até que um som familiar atraiu sua atenção. Ele virou-se e viu sua filha correndo em sua direção, carregando uma cesta de vime.

—Papai, papai, trouxe seu almoço! — gritou Bella, sua voz cheia de alegria.

Gurren sorriu e se preparou para o piquenique improvisado sob uma árvore próxima. Eles se sentaram na sombra refrescante, desfazendo os sanduíches e frutas da cesta. Bella, então, começou a preparar o almoço enquanto Gurren a observava com carinho.

— Bella, a cada ano que passa, você se parece mais com sua falecida mãe. É uma pena que ela não esteja aqui para ver a linda mulher que você se tornou. Nem consigo acreditar que ontem você completou 20 anos — comentou Gurren, sua voz suave e nostálgica.

Florus Bella, filha de Gurren, quando tinha 20 anos.

 

 

Bella corou, desviando o olhar para as flores ao seu redor.

— Ah, papai, assim você me deixa envergonhada — respondeu ela, sorrindo timidamente.

— Não precisa ficar tímida. — Gurren deu uma risada calorosa. — É apenas a verdade, minha flor.

Bella retribuiu o sorriso, sentindo o calor do amor de seu pai.

— Falando em flor, precisa de ajuda com as flores?

—Não, filha, pode deixar que eu cuido delas. Não esqueça que sou especialista quando o assunto é flores belladinas.

As flores belladinas, nativas de Lakala e regiões vizinhas, eram conhecidas não apenas por sua beleza, mas também por suas propriedades sedativas. Quando aquecidas a altas temperaturas, emitiam um gás que aliviava a dor e induzia o sono por algumas horas.

 

 

— Hahaha! Verdade, papai. Você sempre cuidou muito bem das Bellas — brincou Bella, rindo.

Gurren balançou a cabeça, seu olhar cheio de carinho.

— Quando sua mãe morreu no parto, fiquei aterrorizado com a ideia de criar uma filha sozinho. Mas ao olhar para seu rostinho, só consegui pensar nas flores belladinas que tanto amo.

Bella suspirou, tocada pela lembrança.

— É por isso que meu nome é Bella — murmurou ela, quase como um lembrete para si mesma.

— Exatamente! Bella, de flores belladinas, hahaha! — riu Gurren, com uma nota de orgulho.

— Se você não precisa de ajuda com as flores, posso ir até a biblioteca da cidade? Ouvi dizer que chegaram novos livros hoje e estou ansiosa para conferir — perguntou Bella, seus olhos brilhando com a perspectiva de novos conhecimentos.

— Claro, filha — respondeu Gurren, acenando com a cabeça.

Depois do almoço, Bella voltou para casa, deixou a cesta e saiu para um passeio pela cidade. Enquanto caminhava, as pessoas a cumprimentavam calorosamente.

Vários jovens a cortejavam com gentileza, mas Bella sempre respondia com um sorriso educado, sem dar muita atenção. Ela e seu pai eram muito queridos no vilarejo, e a beleza de Bella atraía muitos pretendentes, embora ela nunca tivesse demonstrado interesse por ninguém.

A biblioteca de Lakala era um lugar de refúgio e conhecimento, um espaço amplo onde o tempo parecia parar, repleto de livros e mobiliário luxuoso, feito a partir de madeira de excelente qualidade e adornos dourados. A biblioteca de Lakala era um símbolo imponente de orgulho e tradição do reino de Ekala.

Ao chegar na biblioteca, Bella começou a procurar por novos livros. Seus olhos se fixaram em um volume em uma prateleira alta. Sem ninguém por perto para ajudá-la, ela avistou uma escada deslizante extensível e a arrastou até a prateleira. Determinada, subiu na escada e esticou-se para pegar o livro intitulado “Era dos Heróis”, que possuía uma capa vermelha adornada com detalhes prateados.

Enquanto tentava alcançar o livro, ela tocou nele com a ponta dos dedos, mas o livro escorregou e caiu. Bella perdeu o equilíbrio e começou a cair junto com o livro. Em um instante de pânico, ela sentiu alguém segurando seus braços e a colocando de volta em segurança no chão.

Bella olhou para cima, surpresa, e viu um homem de aparência robusta, vestindo um uniforme militar da GPA. Seus cabelos ruivos e curtos, com mechas pretas entremeadas, contrastavam com seus olhos castanhos penetrantes, e ele tinha um cavanhaque ruivo e ralo.

— Tome cuidado, Senhorita. Se você se machucar levianamente, posso até perder o emprego. Se precisar de algo, basta chamar — disse ele, com um sorriso tranquilo.

Bella, ainda com o coração acelerado, corou profundamente.

— Como posso chamá-lo se não sei seu nome? Eu sou Florus Bella, e você?

O homem sorriu e estendeu a mão.

—Sou Vander Reich, mas pode me chamar de Reich.

Vander Reich, militar da GPA, 24 anos.

 

 

Bella apertou a mão dele, sentindo uma estranha conexão. A cena ao redor deles parecia desaparecer, enquanto seus olhares se encontravam.

— Reich… É um nome diferente, não parece ser daqui. De onde você é? — perguntou Bella, seus olhos curiosos brilhando à luz suave da biblioteca.

Reich sorriu, um sorriso enigmático que sugeria segredos guardados.

— É verdade, não sou daqui. Hoje é meu primeiro dia nesta cidade, mas não vou dizer de onde vim — respondeu ele, seu tom brincalhão.

Bella inclinou a cabeça, intrigada.

— Ah, por quê? Seu lugar de origem tem algo de especial?

— Especial? Deixe-me pensar… — Reich refletiu por um momento antes de responder. — Não, nada de especial. Mas você parece muito curiosa. Tente descobrir através deste enigma: O lugar de onde eu vim, meu nome é soberano, embora a tristeza tenha me envelhecido cem anos.

Bella sorriu, sua mente já trabalhando na resposta.

— Fácil. Você veio do reino de Falkur, um reino livre no continente de Sudária, certo? — disse ela, exibindo sua inteligência com confiança.

Reich levantou as sobrancelhas, surpreso.

—Como soube tão rapidamente? Fiquei impressionado.

— Seu nome é soberano e a tristeza o envelheceu cem anos. Você fez alusão a um fato histórico e cômico, onde o rei Reich, fundador do reino livre de Falkur e grande herói de guerra, reinou por anos com uma juventude invejável. Havia rumores de que ele havia tomado uma poção da juventude. Mas quando sua tartaruga de estimação morreu, a tristeza o consumiu e ele envelheceu rapidamente. Os livros dizem que, em um ano, parecia que ele tinha envelhecido mais de cem anos.

Reich riu, encantado com a explicação detalhada de Bella.

—Hahaha, exatamente. Estou impressionado. Você é mais inteligente do que eu pensava.

Bella franziu o cenho, brincando com uma leve indignação.

— Mais inteligente do que você pensava? Devo considerar isso um elogio ou uma afronta?

—Hahaha. Desculpe, não quis dizer que você tem um rosto de alguém não muito inteligente. Perdoe-me, fico nervoso perto de mulheres tão lindas.

—Hehehe! — Bella riu, relaxando um pouco. — Dessa vez vou perdoá-lo, mas só por causa desse último elogio — disse ela, piscando de maneira travessa.

— Que bom. — Reich sorriu, aliviado. — Mas voltando ao assunto, gostaria de testar o quão inteligente você é. Aceita mais um desafio?

Os olhos de Bella brilharam com entusiasmo, abraçando o livro que acabara de pegar.

— Um desafio? Que tipo de desafio?

Reich inclinou-se levemente, tornando a atmosfera ainda mais intrigante.

— Gosto de pessoas inteligentes. Então, aproveite a biblioteca e tente resolver meu enigma. Se acertar, concederei um pedido seu, desde que esteja ao meu alcance. Mas se errar, você não poderá mais vir a esta biblioteca. Topa o desafio ou vai recuar?

Bella hesitou por um momento, considerando a proposta.

—Depende, qual é o enigma?

Reich deu um sorriso astuto antes de enunciar o desafio.

— Sou uma dama diferente, ninguém usa meu vestido. Quando o calor me abraça, meu sopro é um doce alívio. De olhos abertos, esbanjo minha beleza, mas é quando se fecham os olhos que mostro minha grandeza.

— Hum… — Bella mordeu o lábio, pensativa. — Essa é difícil… Nada me vem à mente. Aceito seu desafio, mas me dê um prazo de até 20 dias.

— Dez dias, nem um a mais, nem um a menos — retrucou Reich, balançando a cabeça com um sorriso decidido.

— Certo, consigo nesse prazo – assentiu Bella, esbanjando um lindo sorriso e determinação clara em seus olhos.

Com isso, Bella devolveu o livro a Reich e se afastou para outra seção da biblioteca. Ela passava as tardes imersa em livros, buscando pistas e anotando informações, enquanto Reich a observava de longe, seu sorriso sempre presente. Às vezes, seus olhares se encontravam, mas nenhum deles dizia uma palavra.

Cada encontro visual entre eles fazia o coração de Bella bater mais rápido, como se um novo desafio se revelasse a cada dia. Os dias passaram, e a biblioteca se tornou um campo de batalhas silenciosas entre mentes e corações.

No final de uma tarde, a voz de Reich soou pelo microfone da biblioteca, ecoando pelas prateleiras silenciosas.

— Senhoras e senhores, por favor, guardem os livros e dirijam-se à recepção para os procedimentos administrativos. A biblioteca está encerrando suas atividades por hoje.

As pessoas começaram a se dirigir à recepção, e Reich assumiu a tarefa de devolver pertences e registrar empréstimos de livros. Quando Bella, que estava no final da fila, assim que chegou a vez da jovem. Reich ergueu uma sobrancelha, provocando-a.

— Ora, ora, Bella! Parece que perdeu a aposta. Ainda não respondeu ao meu enigma. Uma lástima!

Bella sorriu, com um brilho de triunfo nos olhos.

— Uma lástima? Queria que eu ganhasse?

Reich fez um gesto de silêncio com o dedo sobre os lábios.

— Isso é um segredo.

— Bem, eu sei a resposta do seu enigma — falou Bella orgulhosa e confiante.

— Não acredito. Reich se inclinou para frente, seu interesse visível. — Vamos, me dê a resposta.

— São as flores Belladinas. Acertei?

Reich ficou visivelmente surpreso.

— Estou surpreso, como descobriu?

Bella sorriu misteriosamente.

— Conto no nosso encontro hoje à noite, às 19h. Não se atrase.

— Encontro? Hoje? — Reich piscou, confuso, mas intrigado.

— Sim, você disse que me daria qualquer coisa se eu ganhasse. Quero um encontro, só nós dois.

Reich riu, aceitando o desafio de Bella com um aceno de cabeça.

— Para onde vamos?

— Isso é um segredo. — Bella repetiu o gesto de Reich, tocando os lábios com o dedo.

No horário combinado, Reich, vestido elegantemente e segurando um buquê de flores, bateu à porta da casa de Bella. Quando a jovem abriu a porta, ficou surpresa e corada com o presente inesperado. Seus olhos brilharam enquanto pegava as flores com um sorriso tímido.

— Obrigada, são lindas! — agradeceu Bella, gesticulando para que ele esperasse no sofá enquanto guardava as flores e terminava de se preparar.

Enquanto Reich se acomodava, Gurren, o pai de Bella, observava-o de longe, com um olhar cauteloso e avaliador. Ele se aproximou lentamente, seu semblante carregado com a experiência e a proteção de um pai zeloso.

— Olá, sou o pai de Bella. Nunca o vi por aqui. De onde você é? — Gurren perguntou, com uma voz firme, mas cordial.

Reich levantou-se respeitosamente, tentando esconder qualquer traço de nervosismo.

— Olá, senhor. Sou novo na cidade, venho do reino de Falkur. Fui designado para este vilarejo. A vida militar nos leva a muitos lugares — explicou ele, mantendo uma postura confiante.

Gurren assentiu, sua expressão suavizando apenas um pouco.

— Entendo. Só peço que não faça minha filha sofrer. Há tempos não a vejo tão animada como nos últimos dias.

Reich sorriu, tentando transmitir sinceridade.

— Pode deixar, senhor. Entendi o recado.

Bella apareceu na sala, pronta para sair, carregando uma cesta de piquenique. Ela se despediu do pai com um beijo no rosto e se virou para Reich.

— Vamos? — perguntou ela, com um brilho de expectativa nos olhos.

Enquanto saíam, Gurren observava o casal, pensativo: “Esse rapaz é um enigma. Seus olhos refletem alegria, mas também um vazio profundo. É uma sensação estranha... O que passa na cabeça dele?”



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