Luvas de Ifrit Brasileira

Autor(a): JK Glove


Volume 1

Capítulo 10: A promessa de Reich

Caminhando ao lado de Bella, Reich, intrigado pela cesta, perguntou:

— Para onde estamos indo com essa cesta misteriosa?

— Apenas aproveite o momento. — Bella sorriu, seus olhos dançando com um toque de travessura. — Vamos fazer uma pequena aventura — respondeu ela, guiando-o por um caminho ladeado por árvores.

Durante o trajeto, Bella não pôde deixar de perguntar:

— Como descobriu onde moro? Não me lembro de ter lhe dado meu endereço.

O bibliotecário riu, sua voz carregando uma leveza contagiante.

— Vi no seu cadastro da biblioteca. Lá tem muitas informações.

— Esperto! Mas o que trouxe você para um lugar tão pequeno? Com sua perspicácia, poderia alcançar posições bem maiores na GPA — a jovem comentou, impressionada.

Reich suspirou, olhando para o horizonte.

— Nasci em Falkur, como te contei. Entrei na GPA como soldado e rapidamente fui promovido a Tenente e depois Capitão. Estava a um passo de ser Major.

— Capitão? Então você tem aptidão para magia? — comentou Bella, olhando para ele com admiração e curiosidade.

— Sim, posso usar magia. Mas nem sempre isso é uma bênção.

— Acho que está exagerando. Você está entre o grupo seleto que tem esse dom. Eu mesma queria ter poderes mágicos também.

Reich parou de caminhar e olhou para o céu estrelado, a expressão no rosto mudando para uma melancolia súbita.

— Para muitos, ter poderes mágicos pode ser considerado uma bênção. Entretanto, para outros, pode ser uma maldição. Pode ter certeza! — disse ele, sua voz carregando um tom sombrio.

— O que foi, Reich? Por que parou? — perguntou gentilmente a garota, percebendo a mudança de humor do bibliotecário.

Reich esfregou os olhos, como se quisesse afastar uma lágrima teimosa.

— Nada. É que o céu está tão lindo que me lembrei de uma pessoa.

Bella hesitou antes de perguntar, sentindo-se um pouco envergonhada:

— Era uma pessoa especial? Tipo uma esposa ou namorada?

— Era uma pessoa especial que marcou profundamente a minha vida. Uma mulher! Mas não se preocupe, não era minha namorada ou esposa. Sou solteiro — murmurou ele, sorrindo e retomando a caminhada.

Bella corou de vergonha, passou a balançar a cabeça em sinal de negação e apressou-se em esclarecer:

— Você entendeu errado, eu não estava com ciúmes.

Reich riu suavemente, aliviando a tensão.

— Você mencionou que era capitão e que estava próximo de ser major — perguntou Bella, tentando mudar de assunto.

Reich suspirou, relembrando os eventos passados.

— Mesmo próximo da promoção, acabei clamando por justiça contra uma pessoa bastante influente. Meu superior na época não gostou da ideia. Ele tinha muita influência política.

— Deixa eu adivinhar. Ele conversou com algumas pessoas de alta patente e você foi designado para cá como uma espécie de punição. Já que não podiam demitir você por defender algo certo, mas também não podiam deixar você impune por mexer com a pessoa errada. Acertei? — Bella respondeu apressadamente, com a mão no queixo.

— Sim. Cada vez que falo contigo, você me surpreende mais. — Reich riu, surpreso com a percepção de Bella.

— Hehehe. Obrigada — Bella riu, satisfeita com o elogio.

Reich mudou de assunto, querendo saber mais sobre os sonhos de Bella.

— Agora sabe qual é o meu verdadeiro sonho? Não ter sonhos... Já falamos demais sobre mim... Quero saber de você, tem algum sonho?

— Sim, queria ser uma escritora. Mas não qualquer tipo de escritora. Gostaria de viajar pelo mundo e registrar em livros todos os tipos de animais, culturas e aventuras nos mais diversos reinos.

— Queria? Não quer mais? — perguntou Reich intrigado.

Bella suspirou, sua voz assumindo um tom melancólico.

— Não é que eu não queira mais. Mas com meu pai precisando de ajuda, morando sozinho, não vejo outra possibilidade além de passar o resto dos meus anos neste vilarejo, casar com um bom marido, ter filhos e, no final dos meus dias, com meus cabelos brancos e sedosos, me alegrar por ter tido uma vida pacata, porém feliz. Hahaha.

— Você falou que se viajasse seu pai ficaria sozinho. Onde está sua mãe? — Reich perguntou olhando para a jovem com compaixão.

— Ela... — Bella mordeu o lábio, hesitando antes de responder —morreu durante o meu parto. Desde então, sou tudo para o meu pai, e ele é tudo para mim.

— Entendo. Sinto muito e desculpe por tocar em um assunto tão delicado.

Reich ficou em silêncio por um momento, respeitando a dor da jovem. Esta balançou a cabeça, sorrindo gentilmente.

— Não tem pelo que se desculpar. Eu também te fiz recordar lembranças não muito boas. Estamos quites.

Os dois continuaram a caminhar em silêncio, ambos absorvidos em seus próprios pensamentos, temerosos de tocar em assuntos dolorosos ou constrangedores. Depois de um tempo, Reich tomou coragem para quebrar o silêncio.

— Já me enrolou demais. Agora me conta, como soube a resposta do meu enigma? Quero saber.

Bella sorriu, seus olhos brilhando com entusiasmo.

— Aaah, pensei que não fosse perguntar. Passei muitos dias pesquisando em diversos livros e quase desisti. Até que, quando fui ajudar meu pai no trabalho, vi isso e automaticamente descobri a resposta — disse ela, apontando para um campo de flores de belladinas iluminadas por vagalumes.

— Uau, que campo lindo! Nunca vi essas flores pessoalmente! — exclamou Reich, impressionado com a beleza da cena.

Bella sorriu, satisfeita com a reação de Reich.

— Chegamos ao nosso destino — anunciou ela, levando-o até uma árvore onde costumava fazer piqueniques com seu pai.

Eles se sentaram sob a árvore, a luz suave dos vagalumes criando uma atmosfera mágica. Bella explicou o enigma, olhando para as flores com carinho.

— Sou uma dama diferente, ninguém usa meu vestido. As cores branca e marrom juntas são únicas das belladinas. Quando o calor me abraça, meu sopro é um doce alívio. Ao serem aquecidas, emitem uma névoa que alivia a dor e induz ao sono. De olhos abertos, mostro minha beleza, mas é com os olhos fechados que revelo minha grandeza. Embora muitos as comprem para ornamentação, sua principal utilização e valor é na medicina, exatamente pelo seu efeito anestésico, induzindo os pacientes ao sono.

Reich sorriu, admirado com a inteligência da jovem.

— Exatamente! Estou feliz que tenha acertado. Já te disse, gosto de pessoas inteligentes.

— Obrigada, é bom ouvir isso de você — Bella respondeu timidamente, corada com o elogio.

Reich surpreendeu Bella com um presente, um livro vermelho com detalhes prateados.

— A Era dos Heróis. Que fofo! Espera, você roubou isso da biblioteca? — brincou ela.

— Não, não. Comprei uma cópia para você. Sabia que resolveria o enigma. O prazo de dez dias foi o mesmo do frete deste exemplar.

Bella riu, surpresa e tocada pelo gesto.

— Nossa, não esperava por isso. Eu pensava que estava um passo à sua frente, mas você estava dez passos à minha frente. Estou admirada.

— Não poderia deixar de lhe dar esse presente. Foi por causa desse livro que nos conhecemos. Não consegui pensar em outro presente.

— Pode ter certeza de que não havia presente melhor — disse Bella ao abraçar o livro com força, seus olhos brilhando com gratidão.

— Quando te vi, achei-te muito inteligente, mas você superou minhas expectativas. Não és apenas inteligente, és especial — disse ele, acariciando delicadamente o rosto de Bella e virando-o em direção ao seu.

Reich olhou para ela, seus olhos cheios de ternura, e Bella sentiu o coração acelerar, suas palavras ressoando profundamente.

— Obrigada, Reich, é muito bom ouvir isso de você. Sempre me perguntei por que nasci em um lugar tão pequeno, sem perspectivas para coisas maiores. Mas quando você me salvou daquela queda na escada, naquele momento, descobri o porquê — falou a jovem, seus olhos nos de Reich, os rostos próximos.

Eles se beijaram, um beijo suave e cheio de promessas. Sorriram um para o outro, sabendo que aquele era apenas o começo de algo especial.

Naquele dia, iniciaram uma história de amor que culminou em casamento meses depois. Em 1582 D.A, o casal deu as boas-vindas ao seu filho, Kreik, trazendo ainda mais felicidade para suas vidas.

O nascimento de Kreik foi um evento muito aguardado. Vander Reich amava seu filho, Vander Kreik, e sua esposa, Vander Bella. Junto com seu sogro, Florus Gurren, viviam felizes como uma tradicional família. Entretanto, a felicidade da família estava prestes a ser abalada.

Reich adorava brincar com o filho; sempre se divertiam após o expediente do pai. O garoto admirava seu pai e queria ser como ele. Bella amava seu marido incondicionalmente, e o casal nunca brigava; pelo contrário, sempre se apoiavam em tudo. Mesmo diante de tanta felicidade, Gurren sempre notava um olhar distante em Reich, como se ele escondesse algum sentimento profundo ou um segredo inconfessável.

A vida pacata da família foi interrompida seis anos após o nascimento de Kreik, quando um novo Major assumiu o posto da GPA na cidade de Lakala. Seu nome era Braga Lanz. Com a chegada desse Major, a interação de Reich com sua família mudou drasticamente.

Primeiro, ele começou a brincar e passar menos tempo com o filho. Depois, conversava e interagia menos com sua esposa. Em seguida, o casal começou a discutir rotineiramente. Bella sentia que, embora seu marido estivesse fisicamente presente, seus pensamentos estavam distantes. Ele começou a chegar em casa muitas horas após o término do expediente.

Alguns meses após a intensificação desses comportamentos estranhos de Reich, Bella decidiu seguir seu esposo para descobrir os motivos de seus constantes atrasos. Ela percebeu que ele se dirigia a uma cabana reclusa na cidade, a mesma cabana onde Kreik e seu avô agora residiam.

Antes de ir trabalhar, Kreik pediu um abraço ao pai e solicitou que ele chegasse mais cedo para que pudessem brincar como antigamente.

— Pai, queria que brincássemos de magos superpoderosos. Se não estiver com muito trabalho, poderia chegar cedo para brincarmos? Mas só se o senhor puder — pediu Kreik, com olhos esperançosos.

Reich, ajoelhando-se para ficar na altura do filho, sorriu e fez cócegas em sua barriga.

— Claro, filho, chegarei mais cedo hoje. — Ele olhou nos olhos do filho, apalpando suas bochechas. — Eu prometo que nós iremos ainda brincar de magos superpoderosos, pode confiar.

— Promete, pai? — questionou o filho, empolgado.

— Prometo, filho. Tem a minha palavra — respondeu o pai, acariciando a cabeça do filho.

Algumas horas depois de Reich ter ido ao trabalho, Bella dirigiu-se à cabana enquanto seu marido ainda estava fora. Ao entrar, ela pensou ter visto uma sombra se mover, mas encontrou apenas uma caixa lacrada e um livro que mais parecia um diário em branco. Decidiu levar a caixa e o diário consigo, certa de que essas coisas guardavam a chave para entender o comportamento de Reich.

Quando Reich chegou em casa mais cedo do que o habitual, a porta se abriu com força, revelando-o ensanguentado e gravemente ferido, cambaleando quase sem forças.

— Bella, onde você está? — gritou Reich, a voz rouca de desespero.

Ao ouvir a voz do pai, Kreik correu para brincar, mas, ao ver o estado do pai, gritou aterrorizado. Gurren prontamente agarrou o garoto, tentando acalmá-lo.

— Reich, o que aconteceu? Por que tanta histeria? Meu Deus, o que aconteceu com você? Vamos procurar um médico rapidamente — exclamou Bella, correndo em direção ao marido.

Ao vê-la, Reich, em um gesto inesperado e violento, deu-lhe um tapa, fazendo-a cair no chão. Seus olhos estavam cheios de uma fúria incontrolável.

— Onde você colocou? Eu sei que foi você que pegou, devolva agora — exigiu ele, o tom de voz carregado de ira.

Gurren soltou Kreik e correu em direção a Bella, mas Reich desferiu um chute no tórax do sogro, fazendo-o cair sobre uma mesa. Kreik, paralisado, chorava copiosamente.

— O que você está fazendo? Enlouqueceu? — gritou Bella, levantando-se aos prantos.

— Não se faça de desentendida. Diga-me onde está a caixa e o diário — vociferou Reich, agarrando a esposa pelo pescoço e jogando-a contra a parede.

Bella sentiu um medo avassalador. Em sua visão, seu marido parecia mais um animal selvagem. Chorando e amedrontada, ela apontou para um piso falso onde havia escondido os objetos misteriosos. Reich, com um olhar de triunfo, pegou o diário e o guardou dentro do uniforme, abrindo a caixa e retirando rapidamente um pequeno objeto, quase invisível aos olhos de Bella.

Reich saiu de casa e foi confrontado pelos vizinhos, que queriam entender a origem da confusão. Um deles interveio:

— Pode parar, Reich. Não sei o que aconteceu, mas antes de prosseguir, é melhor se explicar.

— Vão à merda — respondeu Reich com desprezo, os olhos ardendo de loucura.

Nesse momento, Kreik correu em direção ao pai, e Bella tentou segurar o filho. Do lado de fora da casa, eles viram Reich com a mão direita cobrindo o olho direito, uma risada insana escapando de seus lábios. Surpreendentemente, ele estava totalmente curado de suas feridas, enquanto os vizinhos jaziam mortos no chão, sem nenhum sinal de lesão ou luta.

Bella, incapaz de compreender o que estava acontecendo, cobriu a boca em choque. Kreik, chorando, correu em direção ao pai:

— Pai, pai, o que aconteceu?

Reich, ainda com a mão sobre o olho, se agachou na altura do filho e disse com uma voz estranhamente calma:

— Desculpe, Kreik, mas o papai não vai poder brincar hoje. Um dia ainda cumprirei a minha promessa, mas, infelizmente, hoje terei de fazer algo mais grandioso. Vou criar um novo mundo.

Ao dizer isso, Reich sorriu e, com a mão esquerda, desferiu um soco na barriga do próprio filho, fazendo-o cair inconsciente. Bella, horrorizada, correu em direção ao filho, gritando:

— Seu monstro, o que você pensa que está fazendo?

— Eu já disse, vou criar um novo mundo — respondeu Reich, com uma calma perturbadora.

O bibliotecário correu em direção ao posto da GPA, que ficava ao lado da biblioteca da cidade. Após alguns minutos, ouviram-se inúmeras explosões, e a biblioteca e o posto militar ardiam em chamas. As pessoas que se aproximaram do incidente simplesmente caíam mortas, e Reich fugiu sem deixar vestígios.

— AAAh, então o pai do Kreik era um louco psicopata de merda. — gritou Moara, interrompendo abruptamente a história de Gurren.

Mayumi gritou de um susto, seu coração disparado, parecia que ia lhe saltar pela boca.

— Sua idiota, tome mais cuidado. Quer atrair os guardas gritando desse jeito? — contestou a Tenente, visilvelmente irritada, enquanto Moara apenas bufou de raiva e virou o rosto.

— Louco psicopata de merda... Acredito que não há adjetivos melhores para ele... — concordou Gurren.

— Não ligue para ela, Sr. Gurren. Me fala, depois desse incidente, houve alguma outra notícia sobre Reich? — perguntou Mayumi.

— Infelizmente não. O pior é que Kreik herdou a ingenuidade de Bella e, assim como ela, acredita que Reich, de alguma forma, era inocente. Eles apenas inventam desculpas para a própria consciência, negando acreditar que aquele homem bondoso era, na verdade, um demônio disfarçado — lamentou Gurren.

— Sr. Gurren, o que aconteceu depois? — complementou a Tenente.



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