Luvas de Ifrit Brasileira

Autor(a): JK Glove


Volume 1

Capítulo 32: Bem-vindo

Kreik, ainda de joelhos, lançou um sorriso e, surpreendentemente calmo, respondeu:

— Últimas palavras? Na verdade, tenho uma última dúvida. Até agora, quero entender por que o nome da guilda é Crossed Bones (Ossos Cruzados)?

Baan, pego de surpresa pela pergunta, parou o ataque. Os ossos pararam a centímetros da testa de Kreik. O silêncio foi quebrado por risadas nervosas dos membros da guilda. Todos, incrédulos, explodiram em gargalhadas.

— Que garoto burro! — gritaram em coro, enquanto a tensão se dissolvia no ar.

Baan riu tão forte que seus ossos se retraíram instintivamente. Vendo a oportunidade, Kreik usou o osso que tinha arrancado da sua perna e o cravou na coxa de Baan.

— AAAiii! Que merda foi essa? Vou te matar, isso doeu, seu moleque lazarento! — gritou Baan, contorcendo-se de dor.

— Desculpa, senhor — Kreik fitou Baan com um brilho vitorioso nos olhos —, mas você não pode mais me matar — respondeu ele, com um sorriso travesso.

— Por que não? — questionou Baan, ainda se contorcendo de dor.

— Eu ganhei. Olhe para a sua coxa. Ela está sangrando. — Kreik apontou para a coxa ensanguentada de Baan.

Os membros da guilda se entreolharam, perplexos. Uji, com um olhar de surpresa, virou-se para Rydia:

— O Kreik venceu mesmo, né, Rydia?

— Pelas regras impostas, sim. Ei, Baan, o garoto tem razão. Ele venceu — Rydia confirmou, um pouco atônita.

Joabe, balançando a cabeça e colocando a mão na testa, murmurou:

— Não sei se fico mais impressionado com a burrice do Kreik ou com a do Baan.

— Uhul! Kreiquinho agora é um membro oficial! Vamos comemorar! Moara gritava eufórica.

Baan, ainda com os olhos arregalados e o queixo caído, ficou paralisado de surpresa. Lentamente, ele se recompôs e, com um suspiro resignado, estendeu a mão para Kreik:

— Bem-vindo! Agora você é oficialmente um membro da guilda. Parabéns. — Sua voz era uma mistura de frustração e respeito.

Kreik chorava de felicidade enquanto Uji o levantava nos ombros e começava a pular. Moara dançava ao redor deles, Rydia sorria serenamente e Joabe observava com um sorriso discreto. Baan, deitado no chão, contemplava o céu que começava a iluminar com os primeiros raios de sol.

Rydia, com a mão esquerda no quadril e um sorriso malicioso no rosto, parou ao lado do líder da guilda:

— Você nos enganou direitinho, chefe. Mentiu que ia matar o garoto apenas para gerar um clima de tensão e depois extrair todo o potencial de Kreik. Deixando-se ser derrotado com um movimento trivial. Devo admitir, Baan, você se superou. Bem astuto!

— Hahaha! Que bom que percebeu. Rydia, aproveita e pode falar aos demais sobre a minha estratégia — disse Baan, sorrindo nervosamente, passando a mão direita pela nuca, evitando contato visual.

Rydia observou atentamente a expressão do líder, arregalou os olhos e falou, irritada:

— Seu mentiroso! Eu pensando que era uma estratégia, mas foi apenas burrice mesmo. Acho que te superestimei.

— Eu apenas abri minha guarda por um minuto — retrucou Baan, levantando-se e se espreguiçando.

— Espero que o contratante não se incomode de termos ficado com as luvas — comentou Rydia, pensativa, com a mão no queixo.

— Não se preocupe com isso. Eu me resolvo com ele — disse o líder com um sorriso confiante. — Pessoal, já comemoramos o bastante. Hora de seguirmos viagem!

Todos os membros da guilda organizaram suas mochilas e se reuniram, partindo daquele local. Logo no início da caminhada, Kreik começou a gargalhar descontroladamente.

— O que foi, Kreik? Por que começou a gargalhar do nada? — perguntou Uji curioso.

— Ahhh... É que agora eu entendi. Ossos cruzados. Realmente o nome da guilda faz todo o sentido. Hahaha! — Kreik disse com um sorriso inocente.

Todos os seus companheiros, rindo, responderam em uníssono:

— Que garoto burro!

O dia demonstrava seus primeiros raios de sol e a cena se transforma em uma catedral imponente com um relógio no topo, cujo mostrador marca as horas em silêncio. A estrutura é antiga, suas pedras desgastadas pelo tempo e pelo abandono. À noite, a catedral emana uma aura de mistério e melancolia.

Um homem com um manto negro, adornado com detalhes vermelhos e deourado, está parado em frente ao edifício. O capuz cobre seu rosto, lançando sombras sobre suas feições. Ele segura uma maleta com a mão direita, enquanto na esquerda segura um papel amassado. Seus olhos, escondidos sob o capuz, estão fixos no relógio.

“Realmente, é aqui o ponto de encontro. Vindo dele, não poderia pensar em outro lugar...”, refletiu o homem encapuzado, sua voz ecoando suavemente no silêncio da noite.

Ele adentrou a catedral silenciosamente, como um espectro movendo-se pelas sombras. Subiu as escadas em espiral, que pareciam se estender infinitamente, cada passo ressoando como um eco de tempos passados.

No topo do prédio, um segundo indivíduo, também envolto em um manto e capuz, observava a cidade através das fendas do relógio. Ao lado dele, havia dois bancos de madeira envelhecida e uma mesa simples, desgastada pelo tempo.

O primeiro encapuzado suspirou profundamente antes de caminhar em direção ao outro, quebrando o silêncio com sua voz grave e cheia de significado:

— Já faz um bom tempo que não nos vemos. Gostaria de iniciar nossos negócios. Vander Reich! — O nome reverberou nas paredes da catedral, carregado de história e tensão.

Reich, sem desviar o olhar da cidade abaixo, respondeu com uma calma calculada:

— Claro. Não temos tempo a perder. Sente-se, meu amigo, Leif Eibor! — disse ele, indicando um dos bancos com um gesto lento e deliberado.

Eibor sentou-se no banco oposto, colocando a maleta sobre a mesa entre eles. Com movimentos meticulosos, ele abriu a maleta e retirou um tabuleiro de xadrez, montando as peças uma a uma. Cada peça parecia ter um peso especial, carregada de histórias não contadas. Quando terminou, ele fez um gesto para que o jogo começasse.

 

 

Reich assentiu com a cabeça, e Eibor movimentou a primeira peça, lançando uma pergunta enquanto o fazia:

— Tem novidades do arquipélago da Água Negra?

Reich ajustou sua posição no banco, seus olhos focados no tabuleiro como se ele fosse uma extensão da cidade lá fora:

— Os Dawn Knights e os Einherjars estão em constante disputa por territórios dentro do arquipélago. A guilda New Order permanece recuada, apenas observando por enquanto. Precisamos manter esse equilíbrio de poder no tabuleiro até que o rei esteja devidamente protegido.

Eibor, com um leve sorriso, completou:

— Pouco a pouco, vamos organizando as peças até que o rei esteja pronto.

— Minha vez! — disse Reich, fazendo sua jogada no tabuleiro com um movimento preciso. — Você havia me dito que a Invoker do Ifrit estaria sob a proteção da caravana do Major Brihen. Saí do arquipélago apenas para consegui-las, mas tudo o que encontrei foi uma mísera réplica. O que aconteceu? Suas habilidades enferrujaram?

Eibor suspirou, visivelmente frustrado, seus olhos lançando um olhar sombrio ao tabuleiro:

— A informação era verdadeira. Mas algo frustrou nossos planos, e a verdadeira Invoker acabou na caravana que passava pelo vilarejo de Lakala.

— Lakala... — murmurou Reich, seus olhos perdidos no passado. Ele parecia profundamente imerso em pensamentos, sua mente viajando por lembranças distantes.

Eibor aproveitou o momento de distração para realizar sua jogada e comentou com suavidade:

— Esse seu comentário... ainda sente algo pelo seu passado, meu amigo?

Reich respirou fundo, suas palavras carregadas de nostalgia e resignação:

— Deixei um filho e uma esposa. Não vou mentir. Penso neles de vez em quando, mas não com frequência. Afinal, nosso objetivo é maior do que eles. E nada vai mudar isso.

Eibor assentiu, a expressão séria e compreensiva:

— Eu entendo... Também deixei uma família para trás. Aliás, a deixei no caixão. Como você uma vez me disse, Reich, que o fato de fazemos o que é preciso para alcançar o céu exterior, isso é o que nos torna especiais — disse Eibor, focando novamente no tabuleiro com um olhar determinado.

— Agora é minha vez — Reich movimentou sua peça com precisão. — E agora? Onde estão as luvas? Quero encontrar logo um portador ideal para elas. Assim que essa peça estiver posicionada, posso me concentrar nas outras.

Eibor respondeu com um tom de voz que indicava que ele tinha uma carta na manga:

— As luvas estão com uma guilda, a Crossed Bones, geralmente eles ficam em Madrad, no reino livre de Byron. O líder deles é Baan Maverick.

Reich começou a rir, um som grave e satisfeito que ecoou pela catedral:

— O destino é muito favorável conosco. Logo com ele. Vai ser moleza conseguir as luvas; ele é um conhecido de longa data, alguém que terá um papel essencial para a ascenssão o rei. Vamos tomar as luvas dele e encontrar um portador adequado para o Arcano Ifrit.

Eibor, com um olhar enigmático, respondeu calmamente:

— Acho que não vai ser mais preciso realizar essa sua segunda jogada.

Reich olhou para ele, intrigado, seus olhos estreitando-se com curiosidade:

— O que quer dizer com isso, meu amigo?

Eibor o interrompeu com um tom suave mas firme:

— Respeite as regras, a jogada agora é minha. — Ele realizou sua jogada com um movimento calculado. — Quando poderei retornar ao arquipélago?

— Assim que o rei ascender ou iniciar o processo de sucessão do guardião. Embora já tenham decorrido vinte anos desde a última sucessão, acredito que Tzadeq ainda dure alguns bons anos. Depois do resultado de sua missão com Astrid, você sabe bem que a rainha não aceita seu retorno em condições normais.

Eibor assentiu, um leve brilho de determinação nos olhos:

— Hum. Não importa, nosso objetivo é mais importante. Vamos preparar todas as peças para a ascenssão do rei.

— Agora é minha vez — Reich moveu sua peça no tabuleiro com destreza. — Agora me explique seu comentário. Por que não será mais preciso escolher um portador ideal?

Eibor respondeu, sua voz calma, mas cheia de significado:

— Minhas fontes me informaram que, durante o processo de captura das luvas pela Crossed Bones, um garoto as colocou por acidente e agora ele é o portador do Ifrit. Mas isso não é tudo. Ele lutou bravamente contra o Major que controlava a região, o Major Thorguen Brown. Durante essa luta, ele ficou descontrolado, assumindo uma forma híbrida de Arcano, retornando ao seu estado natural pouco tempo depois. O que significa...

Reich interrompeu, empolgado com a notícia:

— Que ele fez um contrato com o Ifrit e suportou o seu poder. Ou seja, ele tem o potencial para ser o portador perfeito do Ifrit.

Eibor fez mais uma jogada no tabuleiro de xadrez e, com a voz serena, perguntou:

— Quanto tempo até o rei ascender?

Reich ficou pensativo, suas palavras refletindo a complexidade da situação:

— É difícil precisar. Conseguimos localizar o espécime perfeito. Assim que pusermos as mãos nele, vamos conseguir acelerar o processo de transmigração de corpos. Provavelmente, em menos de um ano, contemplaremos o estágio inicial do rei.

Eibor sorriu, uma expressão de expectativa e satisfação em seu rosto:

— Entendi agora o motivo daquela missão. Perfeito... Estou ansioso para conseguirmos o espécime. A balança do mundo está precisando de uma mexida.

Reich esticou os braços, alongando-os e o olhou fixamente para Eibor, antes de fazer sua jogada.

— Eu jurava que você iria perguntar sobre Astrid — comentou ele.

— Não se faz necessário, já que ela está sob sua tutela — respondeu Eibor, concentrado no tabuleiro.

Reich, olhou para o tabuleiro e pensou bem sobre sua próxima jogada. Ele moveu uma peça no tabuleiro, perguntando logo em seguida:

— Estou curioso. Quem é o novo portador do Ifrit?

Eibor arqueou a sobrancelha, sua voz suave carregada de significado:

— Um jovem mago ruivo de Lakala, ele tem 18 anos e você o conhece bem. Vander Kreik, o seu filho.

Vander Reich, com um sorriso irônico, contemplou a situação, refletindo sobre o destino. Ele olhou para seu companheiro e bradou empolgado:

— Eibor, durante a nossa caminhada, pessoas vêm e vão. Somos constantemente separados e abandonados por elas. O interessante é que, tempos depois, essas mesmas pessoas nos são trazidas de volta, como se fossem peças de um complexo jogo de xadrez. É curioso, não é? Neste tabuleiro chamado vida, vamos movendo nossas peças, sacrificando nossos peões, um a um, para salvar o nosso rei. Enquanto isso, os peões apenas acreditam estar seguindo suas vidas baseadas em um ideal fictício de livre-arbítrio. Contudo, o mais irônico disso tudo é que não importa quão bons jogadores nós sejamos. No final, mesmo nós, que controlamos os peões, somos apenas peças de tabuleiro de algo maior. Brincamos de sermos poderosos, de sermos quase deuses caminhando na terra, enquanto, na realidade, somos apenas escravos, acorrentados por um fio invisível chamado destino, cujo senso de humor é bastante peculiar.



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